Wake Me Up escrita por Rhyenx Seiryu


Capítulo 12
Por Trás da Máscara


Notas iniciais do capítulo

Olá, não deu tempo de sentir a minha falta, mas já voltei. Aproveitem o capítulo XD
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/406674/chapter/12

Aaron se dirigiu com raiva para a reitoria na manhã seguinte. Usava uma blusa de frio preta com capuz e óculos escuros para tentar esconder o hematoma arroxeado que havia em seu olho esquerdo, mas não pode fazer muita coisa em relação a seu lábio inferior, que continha um corte e estava um pouco inchado por causa da joelhada que Vlad lhe dera.

Sabia que estava numa grande encrenca agora por ter causado tamanha confusão na festa de boas vindas, mas o que realmente lhe incomodava não era isso e, sim, o fato de ter apanhado e, de forma alguma, ele deixaria as coisas terminarem daquele jeito.

Ao chegar à reitoria, a secretária pediu que ele aguardasse na sala de espera até que o reitor o chamasse e Aaron atravessou as grossas portas de madeira que separavam a secretaria da sala de espera, encontrando Vlad já sentado em um dos sofás ali.

– Belos óculos. – disse Vlad com um sorrisinho debochado – Gostaria de saber o que esconde por baixo deles.

Aaron fechou a cara para ele, mas não disse nada, apenas sentou-se no sofá mais afastado. Ainda faria Vlad pagar por aquilo, mas não seria ali na reitoria, onde ele poderia ser facilmente punido por começar outra briga.

– Qual é o problema, Greed? O gato comeu a sua língua ou você só banca o valentão com garotas indefesas?

Aaron abriu um sorrisinho para ele.

– Continue falando enquanto ainda pode. – disse apenas.

Antes que Vlad pudesse retrucar a porta da reitoria se abriu e o reitor apareceu por ali.

Andrew Hamilton¹ era um homem estranho. Era alto, esguio, bastante calvo e pareceria muito o avô de alguém – com seus óculos e, o que restava de seus cabelos, já esbranquiçados – não fosse por suas feições duras e pelo terno preto bem alinhado, com uma gravata azul perfeitamente arrumada, que lhe dava um tom altivo.

Ele olhou para os dois rapazes com uma expressão séria e, sem nem mesmo cumprimentá-los, fez um gesto indicando que eles entrassem em sua sala.

Vlad foi o primeiro, sendo seguido por Aaron a quem o reitor lançou um olhar de reprovação por causa de seus óculos escuros e do capuz. O reitor fechou as portas assim que eles entraram e depois lhes indicou as duas cadeiras a frente de sua mesa, pedindo-lhes que se sentassem.

– Muito bem. – disse Andrew assim que se sentou, encarando Aaron e Vlad com seus olhos atenciosos – Quem será o primeiro a falar?

Como nenhum dos dois se prontificou, Andrew entrelaçou as mãos sobre a mesa e escolheu por conta própria aquele que deveria ser o primeiro a dar explicações.

– Sr.Zhirkov. – disse Andrew olhando para Vlad – Poderia nos dar a honra?

Vlad olhou para o reitor e depois soltou um suspiro pesado.

– Aaron e eu temos algumas divergências, senhor. – ele disse cauteloso.

– E pode me dizer quais são essas divergências?

– Vlad apenas ficou bravo porque eu beijei a garota de quem ele gosta. – Aaron respondeu, adiantando-se – Ele não sabe perder.

– Esqueceu-se de mencionar que você a beijou a força. – Vlad retrucou enraivecido.

O reitor encarou Aaron por um segundo, semicerrando os olhos para ele.

– Isso é verdade, Sr. Greed?

– Isso é um mero detalhe. – Aaron deu de ombros despreocupado.

Andrew Hamilton respirou profundamente.

– Senhores, tais condutas não são toleradas nessa universidade. Oxford é um local de aprendizagem, não de brigas e confusões. – disse ele – Sabem que nossa política é bastante rígida quanto a isso e que, em tais condições, recomenda-se a expulsão de ambos os envolvidos na confusão.

Os dois permaneceram calados, então o reitor continuou:

– Dessa vez, entretanto, apenas lhes darei uma advertência e exigirei o ressarcimento de todas as coisas que os senhores danificaram na festa de boas vindas.

– E ele me acorda às oito da manhã num sábado para falar isso... – disse Aaron em voz baixa.

– O que disse, Sr. Greed? – indagou o reitor, olhando-o com seriedade.

Aaron abriu um sorriso falso.

– Eu disse que está usando uma bela gravata hoje... Senhor.

O reitor o encarou durante alguns segundos e Aaron fez a melhor cara de paisagem que conseguiu até que, por fim, ele desistiu de encará-lo.

– Muito bem, senhores, isso é tudo. – Andrew Hamilton disse com um suspiro cansado – Passem na secretaria para assinar a advertência.

– Sim, senhor. – Vlad se colocou de pé.

Aaron também se levantou, mas antes que pudesse dar um passo em direção à porta o reitor voltou a falar:

– Sente-se, Sr. Greed. Ainda temos alguns assuntos a resolver.

Aaron voltou a se sentar, emburrado e Vlad se retirou da sala abrindo um pequeno sorriso satisfeito para ele. Assim que ele saiu o reitor olhou para Aaron com uma expressão séria.

– Aaron, será que algum dia eu poderei me sentar em minha cadeira para trabalhar sem receber reclamações ao seu respeito?

Aaron deu de ombros.

–Como posso saber? Não sou eu quem vem aqui reclamar.

Andrew bufou.

– Não me tire do sério, Aaron! – exclamou irritado – Estou cansado das suas brincadeiras.

– Então porque você, simplesmente, não encerra esse assunto e me deixa voltar para o meu quarto? – ele questionou.

Andrew o encarou e Aaron retribuiu, encarando-o de volta com uma completa expressão de tédio, então Andrew se levantou e caminhou até a janela, observando a paisagem lá fora, rapidamente, antes de voltar-se para Aaron novamente.

– Há quatro anos tenho suportado sua má conduta, Aaron. Até imaginei que, com o tempo, você se tornaria mais maduro, mas vejo que eu estava completamente enganado. Não sei como é possível, mas aos vinte e dois anos, você está ainda pior do que era aos dezoito, quando começou a estudar aqui.

Andrew esperou que Aaron dissesse algo em sua defesa, mas ele apenas permaneceu calado encarando os enfeites que havia sobre a mesa, indiferente.

– Não é difícil entender porque meu irmão não o suporta. – Andrew resmungou e Aaron olhou para ele, desfazendo-se de sua expressão de indiferença.

– O que disse? – perguntou de forma séria.

– Disse que não é difícil entender porque meu irmão não o suporta. – Andrew repetiu em um tom mais alto – Você é pior que o seu pai.

Aaron se colocou de pé no mesmo instante.

– Retire o que disse! – ele exigiu, encarando Andrew, furioso – Retire o que disse agora!

Andrew Hamilton abriu um pequeno sorriso para ele.

– A verdade dói, Aaron?

– Cale a boca! – Aaron avançou sobre ele, segurando-o pelo colarinho com força – Você não sabe nada sobre o meu pai e não sabe nada sobre mim.

Andrew sustentou o olhar de fúria que ele lhe lançava.

– Seu pai era um inútil e você é igual a ele. Tem sorte de o meu irmão ter aturado você todo esse tempo.

– Erick é um desgraçado! – Aaron gritou para ele – E você é um imbecíl!

– Seu moleque, insolente. – Andrew o empurrou para longe, cada músculo de sua face vibrando com a raiva – Como ousa falar assim comigo?

– A verdade dói, Andrew? – Aaron perguntou com sarcasmo.

Andrew fechou a cara para ele.

– Saia daqui! Saia daqui agora, seu infeliz. – disse ele apontando para a porta – E hoje mesmo telefonarei para o meu irmão e pedirei que ele venha até aqui dar um jeito em você.

– Dane-se você e o Erick! – disse Aaron derrubando, de cima da mesa de Andrew, o prisma de vidro em que se lia a palavra “Reitor”, fazendo-o se estilhaçar em mil pedaços pelo chão.

Os olhos de Andrew se estreitaram e ele ficou tão vermelho quanto um pimentão de tamanha fúria.

– Você vai se arrepender disso, Aaron. – ele gritou, enquanto Aaron se encaminhava para a porta – Juro que vai se arrepender amargamente disso.

Aaron o encarou uma ultima vez e chutou um pedaço do prisma que encontrou em seu caminho, retirando-se da sala em seguida. Passou pela secretaria, onde alguns funcionários e alguns alunos o encararam assustados – provavelmente por terem ouvido toda a gritaria que ocorrera na reitoria – e dirigiu-se ao seu dormitório batendo a porta com força ao entrar.

– Não quebre a porta, Aaron. Precisaremos dela outras vezes. – disse Ty enquanto terminava de amarrar o cadarço de seu tênis.

Aaron apenas o encarou com raiva e depois retirou os óculos e a blusa de frio, jogando-os sobre sua cama.

– Nossa! – disse Ty apalpando o ar – Quase posso tocar a aura negra que emana de você.

– Vá para o inferno, Ty! – Aaron esbravejou e Ty olhou para o rosto dele e abriu um sorriso.

– Eu continuaria de óculos se fosse você. – disse ele encaminhando-se para a porta – É só uma dica.

Aaron arremessou nele o frasco de perfume que havia sobre sua cômoda, mas Ty correu para fora do quarto e tudo o que ele conseguiu atingir foi a parede, fazendo o frasco se quebrar e um forte cheiro de perfume se espelhar pelo quarto.

Ele soltou um palavrão em voz baixa, depois seguiu até o espelho e encarou seu reflexo por um instante, avaliando os hematomas que havia ali. Meio segundo depois, atirou o espelho no chão, gritando de raiva.

O espelho se partiu preenchendo o chão do quarto com milhares de caquinhos brilhantes e adicionando algumas centenas de libras a mais na enorme conta que Aaron teria de pagar por danificar objetos da universidade, mas ele nem se importou. Apenas pegou a chave de seu carro e saiu do quarto, batendo a porta mais uma vez, sem se preocupar em trancá-la.

Seguiu até o estacionamento, entrou em seu carro e ligou o som – aumentando o volume até que não conseguisse ouvir nenhum outro barulho além da batida da música – e depois dirigiu em alta velocidade em direção a South Oxfordshire, para a mesma cabana em que havia levado Cadence alguns dias antes.

Não se preocupou com as possíveis multas que pudesse levar, muito menos com um possível acidente que pudesse sofrer por dirigir assim. Tudo o queria era se afastar o mais rápido que conseguisse de Oxford e apagar as palavras de Andrew Hamilton de sua cabeça antes que elas o enlouquecessem.

Estacionou o carro no fim da estrada de terra e andou pela trilha até alcançar a tão conhecida cabana que havia ali. Lançou um ou dois olhares para a construção, sendo bombardeado por algumas recordações e seguiu pela trilha que levava à cachoeira.

Ao chegar lá, retirou a camiseta que usava e os sapatos e escalou algumas rochas até alcançar uma parte consideravelmente alta da cachoeira e então, sem pensar duas vezes, fechou os olhos e mergulhou.

A queda não durou mais que três segundos e logo o corpo de Aaron chocou-se contra a água gelada do riacho. Ele afundou alguns metros e depois voltou à superfície, puxando o ar para recuperar o fôlego.

Seu corpo inteiro tremia com a adrenalina, mas a sensação não podia ser melhor. Há muito tempo não se sentia tão vivo quanto naquele momento.

***

Rebecca acordou sorridente. Praticamente ainda podia sentir o gosto dos lábios de Vlad em sua boca e lembrar-se daquele beijo fazia-a se sentir como se estivesse flutuando.

Levantou-se e dançou de olhos fechados pelo quarto, animada para mais um dia em Oxford e para mais um dia em que poderia ver o sorriso bonito de Vlad. Estava tão absorta em seus pensamentos que nem notou quando Cadence surgiu logo a sua frente, ainda enrolada em sua toalha, e quase se chocou com ela.

– Ei, mais cuidado, Cinderela. – Cadence se desviou dela.

– Desculpe. – disse Rebecca envergonhada.

– Está desculpada, mas o que acha de ir escovar os dentes, tomar um belo banho e sair para tomar café comigo?

– Acho perfeito. – Rebecca a abraçou apertado – Afinal, o dia está maravilhoso hoje, não é?

– Claro. – disse Cadence sorrindo – Vou fingir que acredito que o clima é realmente o motivo de toda essa felicidade.

Rebecca sorriu e se dirigiu para o banheiro, onde escovou os dentes e tomou um banho rápido, cantando como nunca havia cantado embaixo do chuveiro antes, fazendo Cadence revirar os olhos enquanto a escutava.

Depois de se arrumarem, as duas se dirigiram ao Tick Tock Café, um pequeno restaurante na Cowley Road a 100 metros do St. Hilda’s College e tomaram seu café da manhã, enquanto Rebecca contava a Cadence tudo o que havia acontecido na festa de boas vindas.

– Mas que cachorro! – Cadence exclamou quando Rebecca lhe contou que Aaron a havia beijado a força na festa – Você pelo menos o chutou depois disso? Por favor, diga para mim que você o deu um bom chute naquele lugar.

– Não tive tempo. – disse Rebecca, mas ela não acreditava que teria conseguido chutá-lo mesmo se tivesse tido tempo para isso.

– Ele te beijou e saiu correndo? Que safado covarde!

– Não. Ele não saiu correndo. – Rebecca a interrompeu – O Vlad bateu nele.

Cadence soltou uma risada e bateu a palma da mão na mesa.

– Sério? Que maravilha! Eu deveria ter ido a essa festa. Ganharia meu dia se tivesse visto o Aaron apanhar.

– Acho que ganharia mesmo. – disse Rebecca tristemente.

– Ei, porque essa tristeza? O Aaron teve o que merecia. Você devia estar comemorando assim como eu. – disse Cadence sem entender a reação dela.

Rebecca olhou para ela desanimada.

– É que por conta da briga o Vlad pode até ser expulso da universidade. – explicou.

– Ahhh. – Cadence parou de rir – Isso seria mesmo uma droga.

Rebecca assentiu.

– Mas pense positivo. Talvez a vida decida ser justa pelo menos uma vez e o Aaron seja expulso ao invés do Vlad. – Cadence tentou animá-la.

– Estou contando com isso. – disse Rebecca cruzando os dedos.

Elas tomaram o café da manhã e voltaram para Oxford. Rebecca cogitou a ideia de ir até o dormitório de Vlad, mas logo a descartou. Era provável que ele ainda estivesse dormindo e, mesmo que não fosse esse o caso, ainda não tinha coragem suficiente para procurá-lo. Então ela e Cadence decidiram fazer uma caminhada pelo campus já que num sábado de manhã na universidade não havia nada melhor para fazer.

Atravessavam uma praça próxima a St. Clement’s Church, quando um Range Rover azul passou por elas em alta velocidade.

– Nossa, onde será o incêndio? – disse Rebecca sorrindo.

Esperou que Cadence também aderisse a sua brincadeira e fizesse algum comentário cômico, mas ela permaneceu calada, encarando a esquina em que o carro havia virado com uma expressão confusa.

– Algum problema? – perguntou, notando que Cadence parecia incomodada.

– Aquele me pareceu o carro do Aaron. – disse Cadence pensativa – Será que era ele?

Rebecca também encarou a esquina por um instante, depois deu de ombros.

– Se era, ele estava com muita pressa.

– Ou com muita raiva. – disse Cadence.

– Ou as duas coisas. – Rebecca completou – Seja como for, fico feliz por ele não estar me perturbando nesse exato momento.

– É um argumento válido. – Cadence concordou, voltando sua atenção para a caminhada que faziam – Quer apostar corrida até a St. Clement’s?

– Mas você não aguenta correr nem mesmo um quilômetro. – disse Rebecca rindo.

– Eu sei. Mas não estamos a mais que cinquenta metros de lá. – disse Cadence já correndo – Então, advinha quem vai pagar o lanche amanhã?

Rebecca a encarou com um sorriso no rosto.

– Você é muito trapaceira, sabia? – disse correndo atrás da amiga, em direção a St. Clement’s.

Ainda estava preocupada por não saber se Vlad seria ou não expulso, mas estava contente por ter recuperado a amizade de Cadence. Esperava apenas que Aaron não estragasse tudo outra vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas Explicativas:
1) Andrew Hamilton é o atual reitor da universidade, mas, obviamente, todos os fatos e parentescos relatados nessa história são fictícios.

***
Aaron revelando sua alma pela primeira vez nessa história *-* E vem muito mais por aí.
Até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wake Me Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.