P.O.V Autora

A porta de mareira escura rangia levemente enquanto Merida a abria devagar, de certa forma com medo do que encontraria atrás dela, mas tudo que viu a principio foi a escuridão e então ouviu um som, outros rangidos, de outras portas, ela estava com o arco preparado, se prevenindo para mirar e atirar uma flecha no que quer que surgisse á sua frente, mesmo que não visse nada, mas de repente o lugar escuro se acendeu, uma luz sombria irradiava o lugar, não sabia bem de onde essa luz vinha, mas não era uma luz comum, não era só alguma chama, era como se a luz viesse das paredes, deixando o lugar inteiramente iluminado, e levemente azul.

As paredes eram negras, escuras como um céu sem lua ou estrelas, o teto era alto, bem alto, e nele havia um lustre feito de metal escuro, com velas cuja chama era num azul obscuro e tenebroso, o chão parecia ser feito de rocha sólida, o lugar parecia um grande salão sombrio, no final dele havia algo parecido com um palco, chegava a ter quase quatro metros de altura, atrás dele havia mais uma porta, mas está não era de madeira escura como as outras, era de ferro, seus cantos estavam claramente enferrujados, assim como suas dobradiças, alguns metros na frente da porta havia um grande caldeirão negro, perecia ser feito de ferro, assim como a porta, e encostadas nas parede haviam prateleiras de aço, repletas de frascos com líquidos coloridos, havia vários potes também, mas seus conteúdos eram piores que os líquidos dos frascos, nestes potes havia desde animais mortos - como morcegos, cobras, aranhas, lagartos e outros répteis - até a coisas estranhas como gosmas, que Merida percebeu, pareciam se mexer, haviam também duas escadas encostadas nas paredes, uma de cada lado, levavam ao topo deste "palco", ambas negras e prateadas, como praticamente tudo naquele lugar, a caverna inteira era composta por ferro, aço ou terra, mas não terra comum, era uma terra escura, uma terra negra e morta, como se a essência do lugar extraísse toda a vida que algum dia existiu naquela terra, como o local se mantinha de pé era um mistério, muito provavelmente era magia, que era outra coisa que transbordava do lugar, tão repleto de magia, mas uma magia tão obscura, tão ruim, quase fazia Merida se sentir mal e fraca de estar ali.

Merida, após ter observado o local seguiu de onde havia vindo o som de outras portas, em uma porta, á alguns metros de distância estava ele, Soluço estava parado em frente a porta, parecia não ter percebido sua presença, matinha uma postura tensa, e na mão direita carregava sua adaga, pronto para atacar se assim fosse necessário, Merida queria correr até ele, gritar seu nome, poder abraça-lo e agradecer a todos os deuses por ele estar vivo, mas ela ainda não sabia se estavam seguros, tinha quase certeza que não.

Merida olhou para o outro lado, de onde havia ouvido o som de outra porta, Jack estava na porta observando atentamente o local, como se procurasse algo, talvez algum sinal de Rapunzel, pensou Merida. Ele mantinha a mão no cabo de sua espada, a apertando fortemente, como se de alguma forma isso o ajudasse a se acalmar um pouco. Merida ficou preocupada com a expressão dele, não era uma expressão que Jack costumava ter, então Merida percebeu, já o tinha visto com aquela expressão, aquela postura rígida antes, fora apenas nas vezes que Rapunzel ficou em perigo.

Soluço finalmente percebeu a presença de Merida e de Jack, ao contrário de Merida, ele não hesitou em adentrar na sala e ir na direção de sua ruiva arqueira, estava mais do que feliz em vê-la bem, ver que aqueles olhos azuis ainda brilhavam, ver que estava "segura", mas claro, seguros era a ultima coisa que estavam, ainda estavam no esconderijo da Gothel afinal. Ao chegar perto de Merida a primeira coisa que perguntou, é claro foi:

– Você está bem? - Ele disse passando as pontas dos dedos em um dos cachos rebeldes de seus cabelos.

– Sim, mas temos que ter cuidado... - Ela respondeu, um pouco de preocupação saia junto com sua voz.

– Eu sei mas, pelos deuses, não conseguia parar de pensar, se acontecesse algo com você - Soluço foi despejando as palavras, sem jeito como sempre, mas para Merida isso era um charme que a divertia as vezes. Merida esboçou um sorriso.

– Olhem, não quero estragar o momento de vocês, mas não é hora para isso! - Disse Jack, ainda com a expressão tensa e preocupada - Vocês dois estão aqui, mas onde está Rapunzel?!

Merida olhou em volta, não havia sinal algum de Rapunzel, as portas pelas quais entraram estavam abertas, mas além da porta de ferro em cima do "palco", havia uma quarta porta, de madeira escura, quase negra como as outras, a única diferença é que está estava fechada, Rapunzel não estava perto dela, Rapunzel não estava em lugar nenhum.

De repente, ouvem o som de uma porta rangendo, um rangido que atravessava o lugar inteiro, ao olharem para o palco, viram a porta de ferro enferrujada se mover devagar, tornando tudo mais parecido com um filme de terror, quando a porta finalmente se abriu por completo, viram uma grande gaiola ao fundo do cômodo para onde a porta levava, e na gaiola havia uma forma estranha e negra, de certa forma até assustadora, mas não para Soluço, para Soluço, aquela "forma" que tantos tinham medo, era tão importante quanto a própria vida.

– Banguela! - Soluço gritou, com uma esperança repentina na voz.

O Fúria da Noite levantou a cabeça e abriu os grandes olhos verdes, por um momento pareceu feliz, mas então olhando ao redor o dragão rugiu, como se tentasse avisa-los de algo, como se pedisse para irem embora, para fugirem, Banguela continuava a rugir, mas eles não iam fugir, não agora. Mas de qualquer forma era tarde demais, pois uma figura surgiu do cômodo, levando consigo uma corrente, lutando para enxergar, Merida percebeu quem era.

Gothel.

– Ora, ora... Estão um pouco atrazados, nós ficamos esperando um bom tempo, se bem que, foi até divertido - Ela disse calmamente.

– Nós? - Perguntou Jack

Gothel sorriu maliciosamente e olhou para o fundo do comôdo.

– Vamos querida, saia deste canto escuro, deixe que eles te vejam.

Por mais que tentasse, Merida não conseguia ver nada além de sombras no fundo do quarto.

– Eu disse, deixe que eles te vejam!

Gothel puxou a corrente com uma força incomparável, arrastando para perto de si ninguém mais que uma garota cujos cabelos loiros compridos se embaraçavam cada vez mais enquanto era arrastada, quando conseguiu se sentar do chão, Jack, Merida e Soluço ficaram quase em choque. Parte do rosto de Rapunzel estava arranhado, seu vestido sujo e rasgado, uma das mangas havia sido arrancada, a boca amordaçada, os olhos estavam vermelhos, ela estava completamente presa as correntes que Gothel segurava.