(Valéria)

Naquele dia ia ser noite de Lua Cheia. As coisas já não iam ser fáceis para Isabella e eu tencionava complica-las ainda mais. Depois de ter falado com Inugami, dirigi-me para a planície onde tinha encontrado Petrus. Estava a anoitecer… A noite ia ser linda. A lua ia estar completa, o céu estrelado. Bem, eu via-me obrigada a estragar essa beleza. Ia ser divertido. A brisa do anoitecer estava serena. Já se conseguia ver a lua. Com a brisa morna a balançar os meus longos cabelos, comecei:

Oh Deusa, sombras da escuridão
Espíritos obscuros dos confins do Inferno
Eu, que possuo o poder da vossa Deusa
Obedeçam-me! Vinde e cubram este céu com um manto negro
que esta Terra fique submersa na escuridão
que esta barreira obscura cubra a bela luz da Lua
que estes reles seres não a possam mais ver!
Tenebris! Ouve o pedido da tua fiel súbdita e vem!

Antes de partir do palácio, Agnes tinha-me ensinado esta invocação. A Lua ficou negra e um fumo preto dirigiu-se a mim, parando diante de mim e de seguida, entrando na minha clave de sol. Gemi devido à dor que senti. A dor, que se encontrava só na minha cicatriz, alastrou-se por todo o meu corpo. O fumo espalhou-se por todas as minhas tatuagens. O meu corpo ficou frio, paralisado, mal conseguia respirar. Dentro de mim, na minha mente, ouvi uma voz fria e sem piedade que me disse:

Tu, que me invocas e chamas

Tu, que pedes o meu poder

Vais obedecer-me por toda a eternidade

A mim, Tenebris!

Caí exausta de joelhos no chão. A minha tatuagem doía-me. Não me importava com a dor. Não me importava que tivesse feito um contrato com a escuridão. Eu queria vê-la ou destruída ou do meu lado. Ela merecia-o.

“Black Voice…” – pensei.

A Isabella ia ficar muito surpreendida. Sentia um poder inimaginável percorrer todo o meu corpo. Olhei para o céu novamente. A Lua continuava a ficar negra.

(Isabella)

Algo estava errado. Sentia uma presença estranha que me rodeava. Olhei para o céu. A Lua estava estranha, estava a ficar negra.

“Estranho,” – pensei. – “devia ser noite de Lua Cheia, não de Lua Nova”.

O Punhal que estava preso à minha coxa pulsava. Vendo-me muito pensativa, Petrus veio para o meu lado, puxou-me para ele e perguntou-me:

— Isabella… está tudo bem?

— Não sei… – disse encostando a cabeça no seu peito. – Olha para a Lua…

Petrus observou a Lua por alguns minutos, preocupado.

— Estranho… Hoje deveria ser Lua Cheia…

Kiba não estava connosco naquele momento. Ele e Yuki tinham ido para a sua casa. O abraço de Petrus era preocupado, sentia uma enorme pressão. Olhei para ele e estava pensativo, desconcentrado. O seu olhar mostrava que estava distante. Coloquei a minha mão esquerda na sua face, o que fez com que ele me olhasse.

— Petrus… Desculpa-me se tenho sido fria contigo, mas eu sinto que algo não está bem…

Ele olhou-me preocupado, o seu olhar estava cheio de receio.

— Tens razão… Tu consegues sempre ler-me tão bem Isabella…

— Tu és parte de mim, eu sinto o que tu sentes… Mas agora deixaste-me preocupada, o que se passou?

Sorrindo, deu-me e um beijo ao de leve nos lábios e disse:

— Não é nada de grave. – estava mentir. – Deixemos para depois do combate.

Não conseguia “arrancar-lhe” nada, não tinha outro remédio senão esperar. Aproximou um pouco mais a sua face da minha e pediu-me:

— Posso? – a sua expressão era dolorosa.

Não conseguia perceber porquê. Aliás, ele nunca me tinha pedido para me beijar. Um beijo com tantas emoções. Ele nunca me tinha beijado daquela maneira. Um beijo cheio de amor, dor, tristeza, preocupação… Eram tantas, que não conseguia descrever tantas emoções. Foi um beijo longo, mas leve, suave. De repente, pareceu-me um beijo de despedida.

“Despedida?” – questionei-me. – “Não consigo compreender”.

— Petrus… – sussurrei.

Colocou o seu dedo indicador nos meus lábios e encostou-me ao seu peito com força. Colocou a sua testa no meu ombro e sussurrou-me ao ouvido:

— Isabella, aconteça o que acontecer, eu amo-te…