(Petrus)

Revi aquela cena vezes e vezes sem conta na minha cabeça.

“Como é que puder ser tão estúpido?” – pensei.

Caí numa armadilha de uma Red Voice, fui apanhado desprevenido, a dormir, fui enfeitiçado pelo seu canto e tinha ficado sem a mulher que amava. Decidi sair de casa, era o melhor para os dois, mas Valéria não ia esperar pela demora. Iria aconselhar-me com a minha Rainha e vingar-me. Tinha de provar a Isabella que estava inocente, mas não me perdoava pela ferida que lhe tinha causado na nossa tatuagem. Quando cheguei a casa disse a Simão para ir ter com Isabella à praia e embora ele me tivesse pedido explicações, só lhe disse para depois mandar as minhas coisas para o hotel onde ia ficar hospedado. Eu não podia ficar muito longe de Isabella, se algo se passasse com ela, eu tinha de estar por perto para a ajudar.

“E se ela não quiser a minha ajuda?” – pensei.

Ela devia estar muito magoada comigo, embora eu não tivesse culpa de nada, o que aconteceu nunca devia ter acontecido. Provavelmente nunca mais me iria aceitar de volta. Eu, se fosse ela, não aceitava. Doía muito estar sem ela. O sentimento de culpa voltou, lembrei-me de tudo o que já lhe tinha feito. Só pensava na estupidez que tinha cometido.

Decidi então ligar ao melhor amigo de Isabella. Embora a nossa relação não fosse das melhores, ele de certeza saberia o que deveria fazer.

— Fábio, sou eu o Petrus.

— Então, olá Petrus! Como estás?

— Nada bem…

Expliquei tudo pormenorizado a Fábio e o que ele disse era o que eu já esperava.

— Tens de esperar Petrus, é a única solução. Mas pelo que tu me disseste e mesmo que não tenhas culpa, a Isabella deve estar muito magoada. Mas eu vou ser sincero contigo: já conheço a Isabella há muitos anos, sei muito bem como é a sua personalidade e penso que ela não te conseguirá perdoar.

— Sim, já pensei nisso… Mas queria pedir-te para que, quando falares com ela, não lhe contes que eu falei contigo, por favor.

— Farei o que puder, mas não posso prometer nada. Tens de tentar entender, somos os melhores amigos e pouco é o que conseguimos esconder um do outro.

— Eu sei… Obrigado Fábio e desculpa estar a incomodar-te.

— Não tens que pedir desculpa, mas olha que tens uma tarefa difícil entre mãos.

Poucas hipóteses tinha, mais valia voltar para casa.

De repente, o meu quarto de hotel transformou-se numa sala cor violeta, toda ornamentada com rosas roxas, nas suas colunas de granito estavam gravadas notas musicais e à minha frente encontrava-se um lindo e grande trono violeta. Lá estava sentada a minha Rainha. Fiz uma vénia e sem me aperceber comecei a chorar.

— Eu sei porque choras, Petrus. Foste vítima de mais um dos planos maléficos de Luther.

— A Isabella nunca mais me vai aceitar, pois não? Ela nunca mais me vai perdoar! – caí sobre os joelhos.

— Em breve saberás.

— Mas como, se ela nem me quer ver à frente?

— Espera e lembra-te: vocês são como almas gémeas, não podem estar muito tempo separados. – e pronunciadas estas palavras, o quarto de hotel voltou a aparecer.

Fiquei a pensar nas palavras da Rainha da Música, mas não me alimentaram esperanças nenhumas. Sabia que ia ficar sem ela… Mas agora eu tinha de me focar em encontrar Valéria e confrontá-la. Embora Isabella pudesse vir a saber a verdade, ela provavelmente não me iria perdoar por ter sido tão descuidado.