Sentado naquele banco, Daniel se lembrou do dia em que arruinou o encontro entre Julie e Nicolas.

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Julie estava exageradamente feliz em ter o primeiro encontro com Nicolas. Tão feliz que Daniel não pôde conter o impulso de segui-la, espioná-la e fazer o possível e o impossível para transformar aquele encontro em um fiasco.

– Nossa, Nicolas, eu nunca ia adivinhar que você é o tipo de menino que gosta dessas coisas! - exclamou Julie, sorrindo, após alguns minutos de conversa. Eles estavam sentados à mesa, em uma festa barulhenta.

– Pois é. Esse é o tipo de coisa que eu nunca falo pra ninguém. Mas eu confio em você, Julie. Você é diferente de todas as meninas que eu já conheci. - respondeu Nicolas, olhando para ela penetrantemente.

Daniel revirou os olhos e pensou que, se fosse vivo, com certeza estaria vomitando. Quando ele viu que Nicolas estava se aproximando para beijar Julie, decidiu recorrer ao bom e velho método de derramar suco na roupa dele.

Pronto. O problema tinha sido temporariamente resolvido. Daniel tentou conter uma risada, quando percebeu que tinha cortado completamente o clima entre os dois. Nicolas saiu apressadamente para ir ao banheiro e tentar se livrar da mancha enorme que tinha sujado sua camiseta nova.

– Daniel? - Julie sussurrou, sozinha na mesa - Daniel, se você tiver sido o responsável por isso, eu te mato. E faça o favor de lembrar do nosso acordo: na minha frente, você sempre tem que ficar visível. Sempre.

Daniel continuou rindo. Arruinar aquele encontro com certeza seria a coisa mais divertida de sua morte.

Como ele não apareceu para Julie, a garota chegou a pensar que talvez estivesse sendo injusta, culpando o Daniel. Talvez ele nem estivesse ali, talvez o suco tenha caído acidentalmente, mesmo, ela pensou.

Nicolas retornou, um pouco sem graça com o ocorrido. Mas ele e Julie continuaram conversando tranquilamente e rindo, e Daniel observou, chateado, que os dois infelizmente se davam muito bem. Depois de algum tempo, Nicolas chamou Julie para dançar.

Eles levantaram da mesa e andaram, de mãos dadas, até a pista de dança. Uma música lenta começou a tocar, e Daniel sentiu que estava sendo torturado por aquela cena. Nicolas e Julie dançando juntinhos, suas testas quase coladas, ao som de uma música romântica, no mais perfeito clima de casalzinho apaixonado.

– Argh. - resmungou Daniel - Isso parece uma cena melosa de algum filme tosco da Disney.

Rapidamente, um sorriso surgiu no rosto dele. Daniel teve uma ótima ideia pra acabar com aquela cena que ele considerava absolutamente ridícula. O fantasma foi até a mesa de som, deu uma olhada na lista de músicas que estava na tela do computador e escolheu uma delas, sorrindo.

– Agora sim. - disse Daniel, satisfeito - Eles precisam de uma ótima música, que combine com esse momento tão especial.

Nicolas estava no meio de sua segunda tentativa de beijar Julie, quando a música romântica foi bruscamente interrompida.

"Pocotó, pocotó, pocotó, minha eguinha pocotó!", foi o refrão que ressoou, a um volume absurdamente alto. Daniel começou a ter crises de riso, quando Julie e Nicolas se afastaram um do outro, ao som daquela trilha sonora nada agradável.

– Então... Acho que essa festa já deu, né? - disse Julie, rindo.

– Concordo. - assentiu Nicolas, constrangido. - Eu te acompanho até a sua casa.

Daniel os seguiu , enquanto eles andavam pela calçada, a caminho da casa de Julie. Eram nove horas da noite, e eles caminhavam tranquilamente, conversando sem parar. Quando os dois chegaram à casa da garota, pararam em frente ao portão. Eles ficaram em silêncio, olhando nos olhos um do outro. Nicolas, finalmente, se inclinou em direção a Julie.

– Esse cretino não se enxerga, mesmo. - murmurou Daniel, frustrado com a persistência de seu concorrente. O pior é que o fantasma não conseguia pensar em nenhuma forma criativa de impedir o beijo dos dois, afinal, sua capacidade de arruinar encontros já estava esgotada.

Daniel acabou apelando para a única coisa que conseguiu pensar no momento. Segundos antes que os lábios deles se tocassem, Nicolas despencou repentinamente no chão.

– Ah, meu Deus! Você está bem? - perguntou Julie, enquanto Nicolas se levantava rapidamente.

– Sim. Acho... Acho que tropecei. - disse Nicolas, olhando em volta, um pouco assustado. - Melhor eu ir embora. Boa noite, Julie. - acrescentou, envergonhado, pensando sobre como ele tinha conseguido tropeçar, sendo que estava parado em pé. Nicolas acelerou o passo e saiu dali, sem esperar uma resposta.

Nada como a incrível sensação de dar uma rasteira em um otário, pensou Daniel, rindo.

– Muito bem, Daniel. - disse Julie, furiosa. - Apareça. Agora.

O fantasma não apareceu, mas uma senhora que estava caminhando apressadamente pela rua arregalou os olhos para Julie.

– Estarei te esperando na edícula. - sussurrou Julie. - E é bom você aparecer por lá!