People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 6
Conversas


Notas iniciais do capítulo

oieeeeeeeeee



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–Tá, -digo -pode jogar. -Danny aperta a pressão da mangueira, e água gelada vem na minha direção, fazendo com que eu solte um gritinho, e uns gemidos de irritação/sofrimento. Tudo bem que está quente, mas a água está muito gelada, já que está vindo do rio. Mas eu estou cheia de lodo, por ter caído da minha canoa e indo direto pra plantação de arroz, e preciso me limpar. E não posso entrar dentro da casa da senhora Kowki desse jeito (porque assim que chegamos na porta, ela me mandou dar meia volta e ir direto pra mangueira). Então estou atrás da casa, na parte que vai para os campos e depois pra floresta, e Danny, Rose e Perry estão aqui, tentando não rir. Idiotas. Minha regata fica toda ensopada, depois minha bermuda e Danny levanta um pouco a mangueira pra água vir direto pro meu rosto. -PARA. -Grito, quando a água muda de direção. Depois que eu cai na água, foi como se lá tivessem jacarés com algo assim, porque Rose, os gêmeos, e Chris vieram na hora me puxar pra cima. Não era fundo, mas eu podia ficar presa no lodo e tinham sim alguns peixinhos ali, e eu podia pirar (o que aconteceu). Perry veio mais tarde e começou a rir da minha cara quando viu meu corpo cheio de lama marrom. Naquele momento quis jogar ele na água e afogá-lo. Talvez as plantinhas de arroz prendessem ele no chão como quase fizeram comigo.

–Acho que já está bom. -Chris comenta, saindo pela porta da casa, e Danny desliga a pressão da água. Rose traz uma toalha pra mim e eu agradeço, meio mal humorada. Seco meu corpo e finalmente entro na casa pra trocar de roupa. Ótimo. Em três dias nesse fim de mundo eu já fui sufocada pela minha colega de quarto e afogada em uma PLANTAÇÃO DE ARROZ. Quão ruim isso pode se tornar? É melhor nem duvidar.

Boto outra regata, e uma calça jeans, e começo a secar meu cabelo. O banheiro daqui é estranho: nada pontudo, que possa machucar. Então uma coisa vem na minha cabeça: esse é o lugar pra onde vem aquela gente maluca, antes de ir pra algum tipo de hospital. O que é que eu estou fazendo aqui? Jogo a toalha no cesto de roupa suja roxo do meu quarto, e vou em direção a lavanderia, passando por todo mundo que está na sala vendo tevê.

–Senhora Kowki? -Chamo alto, da porta. Ela está botando roupas na máquina de lavar.

–Sim?

–Posso ligar pra minha mãe? -Faço a melhor cara de coitada que eu posso, sabendo que alguma coisa isso vai me ajudar. Estou desesperada, preciso de alguma coisa familiar, pra não voltar até a plantação de arroz e simplesmente me afogar, ao invés de fazer isso com Perry. Eu sinto falta da minha irmã. E da minha mãe. A senhora Kowki levanta o olhar e vem ao meu encontro.

–Tudo bem, mas são só quinze minutos por dia. -Ela avisa. Faço que sim, e eu sigo ela pela cozinha, onde tem um telefone da era pré-histórica. -Pode usar. -E então sai, para me dar privacidade. Olho para trás. Dá pra ver Dover e Danny sentados no sofá, e Perry no chão. Rose e Liana devem estar ali em algum lugar. De alguma forma, parece que todo mundo opera como formigas: sempre juntos. E não sei o que pensar sobre isso, mas me deixa inconfortável. Eles parecem amigos. E eu não quero fazer amigos. Quero ir embora. Isso me lembra que eu tenho o telefone na mão.

–Mãe? -Pergunto, quando ela atende.

–Emery! -Minha mãe e o pai eram os únicos que me chamavam assim, mas há um tempo não escuto alguém me chamando assim.

–Mãe. -Um alívio percorre meu corpo. -Mãe, me tire daqui. Eu estou bem. Eu estou mesmo, só me tire daqui. -Lágrimas caem dos meus olhos.

–Filha... -Ela parece preocupada, ou com pena. -Aconteceu alguma coisa?

–Por que você não acredita em mim?

–Você tem tomado os remédios?

–Mãe! -POR QUE ELA NÃO ME ESCUTA?

–Emerson, eu estou falando sério. Você tem dormido?

Não vou dizer a ela sobre Kristin. Não mesmo.

–Sim.

–Você está mentindo?

–Mãe. Por favor.–Eu não peço muitas coisas, e ela sabe disso, então por que não me leva a sério?

–Me desculpe, docinho. Mas é pelo seu bem. Acredite em mim.–Ótimo. Sou obrigada a acreditar nela, e ela não vai acreditar em mim.

–Cadê a Mack? -Mudo de assunto, furiosa. Foi um erro ligar. Mas já que estou ligando, quero fazer bom uso dos meus -olho pro relógio- sete minutos restantes. Ouço ela gritar o nome da minha irmã. Agora devem ser umas dez da manhã em casa, e minha irmã ainda deve estar dormindo.

–Em! Como estão as coisas? -Ela parece animada. Ela não pode animada. Estou presa e ela está feliz. Quero desligar, afundar no chão e chorar. Mas a voz dela me impede. -Em?

–Oi. Horríveis. Fale com a mamãe. Fale pra ela que eu preciso voltar.

–Não dá, Em. -Ela parece hesitante.

–Por?

–As coisas estão complicadas. E também: você não ficou nem uma semana aí. Não vai desistir tão fácil, né?

–Desistir do quê? -De virar hippie?

–De gostar. De usar isso pra alguma coisa boa. Mamãe te mandou por alguma razão.

–Você não está ajudando.

–Bem, nem você. -Ela retruca.

Desligo na cara dela. Ela não sou eu. Ela não sabe como é esse lugar. Ela não sabe como é solitário e esquisito e eu me sinto estranha cada minuto que eu fico aqui. Quero ir embora.

Mas minha ligação já foi gasta, então vou em direção ao meu quarto.

–Emerson. -Chris me chama, justo quando vou entrar.

–O que foi? -Não quero que ele veja meus olhos vermelhos, então não me viro.

–Nós não terminamos as atividades ainda.

Que se dane suas atividades.

–Acho que já tive o suficiente por um dia. -Entro no quarto. Mas um segundo depois, ele aparece na porta, com uma expressão severa.

–Eu disse que nós não terminamos. Nós temos Conversação agora.

Ele fala assim mesmo. Com a letra maiúscula e eu percebo -oh oh - isso é tipo uma aula.

–Sou obrigada?

–É.

–Ugh. -Resmungo, mas vou até a porta. -Eu odeio esse lugar.

Ele me leva pra sala de novo, onde todo mundo está. Boto meu cabelo molhado em um rabo-de-cavalo e sento no chão, na frente de Perry. Ele me encara com aquela cara que diz que eu estou atrapalhando a visão dele, e eu reviro os olhos pra ele. Não conversamos nenhuma vez, mas só por esses olhares, decido que nem quero.

–Muito bem. Abra as janelas, Rose, por favor. -A garotinha faz e senta de novo. -Obrigada. Então, Emerson, bem vinda a Orientação das Borboletas.

–Tá. -Falo, seca.

–...Uma vez ao dia, nós nos sentamos para conversarmos sobre nossas vidas, como eu avisei que fazíamos, quando te trouxe para cá. -Ele senta no chão, completando uma rodinha de pessoas. Isso é ridículo. -Já que você entrou agora, por que não conta um pouco sobre você?

Parece que eu estou na escola, no primeiro dia de aula, tudo de novo. Pensando nisso, sinto falta de Nora e Hillary. Sinto falta até da escola.

–Meu nome é Emerson. Tenho dezessete anos. -Termino e Chris me olha, esperando por mais. Ele até se inclina para frente. -Tenho uma irmã um ano mais nova, Mackenzie.

–Quanto aos seus pais? -O guru pergunta. Cretino.

–Eles estão se separando. Meu pai é babaca.

–Por que? -Liana pergunta, se ajeitando no chão. Ela está usando uma regata enorme e rosa que faz ela parecer maior do que já é.

–Ele traiu minha mãe.

–No seu ponto de vista. -Chris adiciona.

–Não. No ponto de vista de qualquer um.

–Eles estão se separando.

–Ainda são casados.

–Não estão mais juntos.

–Hora de mudar de assunto. -Replico.

–Tudo bem. Agora conte para nós como você está se sentindo.

Começo a rir.

–Algum problema?

–É só que... essa pergunta é muito, muito evasiva. E pra falar a verdade, eu não sei o que eu estou sentindo. Não dá pra perguntar isso pra uma pessoa e esperar que ela te responda honestamente. -Ele parece considerar minha pergunta.

–O.K. Vou fazer outra, por que está aqui?

–Minha mãe acha que eu tenho que ver a vida com outros olhos.

–E como você vê a vida? -Perry pergunta, pela primeira vez, e não parece amigável.

–Como um monte de merda. -Chris engasga, Rose se segura para não rir, e Perry ergue uma sobrancelha. Os gêmeos riem e Liana parece concordar comigo.

–Como é?

–É que nem Shopenhauer disse: a gente só sofre.

–Isso não é verdade.

–Shopenhauer é um babaca. -Perry contradiz.

–Ele era um gênio. Ele disse que nossa vida toda é regida por desejos e vontades, e que o prazer só é momentâneo. Eu concordo. -Algo muda na expressão de Perry, mas não sei identificar o que nem por que.

–Acho que ele estava certo, desde que esteja falando só sobre a vida dele.

–Quê? -Pergunto a Danny (ou Dover, vai saber).

–Tá, então, eu li sobre ele na aula de filosofia do ano passado. O cara era miserável.A vida dele era miserável. Isso explica porque ele era tão negativo.

–A vida de todo mundo é miserável. -Explico.

–Discordo. -Chris diz.

–O fato de todo mundo estar aqui comprova o que eu disse. O fato de um monte de gente ter passado por essa casa pra se recuperar de alguma porcaria comprova também. A vida de todo mundo é miserável.

–Mas deve chegar uma hora que as coisas ficam melhores. Que você aguenta a dor ou ela vai embora. -Um dos gêmeos diz. Esperançoso demais.

–A taxa de suicídio desse país diz o contrário.

–Merda acontece. -Perry diz. -Não dá pra ignorar, mas tem coisas que podem deixar a vida melhor.

–Como o quê? -Ergo uma sobrancelha.

–Sexo. -Ele ergue uma também em resposta, e eu fico vermelha.

–Já chega. -Chris bate palmas, chamando a atenção. Depois, ele olha para a senhora Kowki que passa pela sala. -Tudo bem, você falou muito bem, Emerson. Temos muito o que trabalhar, mas é um começo. Agora, um presente. Vou levar vocês pra cidade, precisamos ir no mercado. Perry, Emerson e Rose. Se troquem.


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Notas finais do capítulo

então, os próximos capítulos vão ser pra conhecer um pouco a rose e o perry e os outros vão ser mais pra conhecer os outros.
o que vocês estão achando? Tem alguém lendo isso? mds fskdjfhs