People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 28
Futuro e Passado




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Uma semana se passou desde que a carta foi entregue para Danny, uma semana se passou desde o dia que ouvi o que meu pai disse, no gravador, e uma semana se passou sem que eu e Perry brigássemos, eu chorasse, ou algo de muito grande acontecesse. Todo mundo ficou meio quieto, no seu canto, até a hora em que Chris nos obrigava a fazer exercícios ou algo assim. Conversei mais com Liana sobre o marido dela, e ela está pensando em sair da Orientação para fazer uma viagem, ao estilo Comer, Rezar e Amar, e eu estou a apoiando. Agora que ela está magra, sozinha, vai ser bom pra ela, eu acho. E isso me fez pensar no que todo mundo aqui vai fazer depois que for embora. Quer dizer, Rose vai embora? Quando Kristin vai sair? E Perry? Não podemos ficar pra sempre, e minha mãe avisou que minhas aulas começam em um mês, então também serei obrigada a sair.

Obrigada a sair. Nunca pensei que diria isso. Quase dá um aperto no coração só de pensar que tenho que voltar ao caos da vida na cidade -sem a comida da senhora Kowki -em menos de dois meses. Tenho que conhecer um lugar completamente novo, um ambiente diferente e pessoas novas, e só de pensar nisso, a dor de cabeça vem. Não estou preparada. Mas, pensando nisso, perguntei a Chris um dia a noite quando ninguém estava por perto o que iria acontecer com Rose quando ela fosse grande o suficiente e quisesse sair pelo mundo (ou pelo menos até a civilização).

–Vou ter que deixar ela ir, é claro. E contar para ela sobre mim. Mas ela já deve desconfiar. -Ele deve estar certo, já que ela o trata como se fosse seu pai. -As escolas daqui não são tão boas, e eu quero o melhor ensino para ela. E pode não parecer, mas temos dinheiro para mandá-la para uma boa escola, então, no ensino médio, ela vai pra cidade, provavelmente. -Ele não pareceu hesitante. Acho que ele já sabia que isso acontecer, mas deu pra ver que ele estava triste.

Depois, perguntei pra Kristin, mas ela disse que não fazia ideia, porque ia demorar pra ela sair desse lugar, principalmente porque os processos com a assistente social são complicados e longos. Ela também não quer sair, porque tem um professor particular durante os anos letivos. Quando eu perguntei para o Perry, ele disse que tinha se inscrito em algumas faculdades, mas não sabia qual ia.

–Qual a matéria? -Ele me olhou, cansado. Até porque ele tinha acabado de perder uma partida de xadrez de uma hora com Rose e provavelmente queria assistir o filme que estávamos vendo na sala, mas eu estava curiosa, e agora que Perry não parecia mais esse cara amedrontador e durão, a vontade de falar com ele sobre qualquer coisa aumentava.

–Poesia. -Quase cai do sofá. Ele não tem cara de uma pessoa que faz faculdade de poesia, mas resolvi esconder minha surpresa.

–Onde? -Ele começou a falar das cinco faculdades em que ele tinha sido aceito, mas que ia para a de Nova York, porque era a que ele sempre quis. Depois, me mandou ir dormir porque ele queria ver o filme, e eu calei a boca. Nem perguntei o que eu queria fazer, nem nada.

Então, conforme os dias passaram, comecei a pensar constantemente no futuro, para evitar pensar tanto no passado, e em Danny e Dover. Comecei a pensar para onde eu iria, e o que eu faria, já que eu não escolhi ainda o que quero fazer. Ninguém está me pressionando para escolher, a não ser eu mesma. O pior, é que eu não faço a menor ideia. É como se eu não estivesse mentalmente pronta pra faculdade ainda. Mas eu espero fervorosamente que a visita de Mack me ajude com alguma coisa, me dê uma luz.

No dia seguinte, Perry acorda chorando.

Pelo menos ele está chorando quando eu chego na mesa do café da manhã, assustada.

–Perry, respire... -Mas ele não consegue, o que não impede a senhora Kowki de tentar acalmá-lo. Estão todos com uma cara preocupada, enquanto ele tenta levantar para sair da mesa, mas a senhora Kowki não deixa, e a cena seria perturbadora se não fosse tão triste. A expressão de Perry é cortante. Eu fico parada, em pé, observando, até que finalmente tomo a coragem de fazer alguma coisa que ajude. Ou que piore tudo, não sei até fazer. Pego a mão de Perry, tiro ele da mesa sobre os protestos da senhora Kowki, e vou com ele até o seu quarto. Empurro ele para dentro, bato a porta com tudo para a senhora Kowki saber que não é uma boa hora entrar, e encaro Perry, me olhando totalmente confuso, mas pelo menos sem a expressão torturada em seu rosto. Então minha pose de corajosa foge e eu me pego espelhando o olhar confuso dele sem nem saber porque eu fiz isso.

–Nem pergunte porque eu fiz isso, porque eu não sei. Mas você pode chorar em paz agora. -Os olhos dele ainda estão vermelhos das lágrimas. Esse é um Perry novo para mim, apesar de tudo e ainda não sei como lidar com isso. -Você parecia sob tortura naquela mesa. -Respiro fundo, caminhando até a porta. -Então, não saia caso tenha certeza que não vai começar a chorar porque a senhora Kowki vai pegar no seu pé e você já sabe como isso é. Não sei porque estava chorando, mas vai ficar tudo bem, e eu vou te deixar sozinho agora. Tudo bem? -Ele ainda me olha, perplexo, mas senta na cama.

–Tudo bem. -Apenas concordo com a cabeça, e saio, fechando a porta mais delicadamente agora, e olhando para a senhora Kowki. Óbvio que ela está furiosa, mas está surpresa também e eu aproveito para começar a falar antes dela.

–Ele precisa de um tempo sozinho. -Algo vem sobre mim, e subitamente eu pareço mil vezes mais confiante do que eu sou. -Então é melhor deixamos ele sozinho por um momento, todos concordam? -Olho para Liana, Kristin, Rose, Chris e por fim volto a olhar para a senhora Kowki. -Não vamos pressionar ele, quando ele estiver pronto, vai vir falar com a senhora. Obrigada. -E então eu escapo para o meu quarto, para trocar de roupa e evitar uma explosão da senhora Kowki, mas tudo que eu ouço é Rose e Kristin explodindo em risadas. Um segundo depois, elas entram no quarto, enquanto eu, no banheiro, troco de roupa.

–O que foi isso, Emerson? Mal reconheci você. -Elas desatam em risadas. -Aquilo foi a melhor cena que eu já vi em todo o meu tempo aqui. Sério. -Kristin diz, sem fôlego e eu também solto umas risadas, vestindo minha regata. A situação foi mesmo esquisita, mas pareceu uma coisa certa a fazer.

–Ela está muito brava? -Elas sabem que eu estou falando da senhora Kowki.

–Não muito. -Rose diz. -Mais chocada que brava.

–Isso é bom.

–Continuo não acreditando que você fez aquilo. -Quando saio do banheiro, as duas estão sentadas na cama, limpando algumas lágrimas que não saíram dos olhos. Arrumo meu shorts, prendo o cabelo, e então saímos do quarto, indo até onde Chris está, lá fora, do campo de grama atrás da casa da senhora Kowki, conversando com Liana.

Vamos escalar montanhas. Perry não vai conosco, claro. Eu e Kristin ficamos juntas, na parte mais íngreme da montanha enquanto os outros ficam mais para a superfície. O dia é bonito, ensolarado e limpo, e apesar da dor em todos os meus músculos, até naqueles que eu nem sabia que tinha, quando chegamos lá no topo, suadas e cansadas, sentamos e esperamos os outros tomarem coragem de subir até onde nós estamos. É a vista mais bonita de St. Mara, com certeza. Dá pra ver TUDO. Todas as casas, todos os rios, a praia, até o barco abandonado, e a estrada principal, que leva até a cidade também. É um dos únicos momentos onde eu tenho que lembrar que preciso respirar. O ar é fresco, puro e dá a sensação plena de liberdade. Sinto como se pudesse voar.

–Isso é tão lindo.

–É por isso que eu não quero sair daqui. Não tenho coragem de trocar isso aqui por nada. -Kristin comenta.

–Dá pra ver tudo.

–Até a caverna que a gente foi aquele dia com a sua irmã. Isso aqui é como se fosse um mapa, só que de verdade. -Sorrio.

–Nunca pensei que isso fosse tão grande. Dá pra acreditar que a gente já conhece todo esse terreno?

–Nah. A gente não conhece nem metade. Parece que fica maior a cada ano.

–Parece Natal todo dia.

–Dá quase pra fazer uma propaganda com esse slogan. -Rio, então, quanto todo mundo sobe, a Conversação é ali mesmo no topo da montanha, e por fim, descemos de novo. Chego em casa e corro para o chuveiro, ganhando a corrida de Kristin, e passo uma boa meia hora lá, deixando os músculos relaxarem, até Kristin bater na porta, impaciente.

Em seguida, já na hora do almoço, me sinto renovada. Nada que um bom banho não ajude. E um estômago vazio também. A comida da senhora Kowki chega até a mesa fumegante, e meu estômago ronca. Mas na hora em que vou comer, Perry abre a porta do seu quarto e diz que precisa falar comigo. Primeiro eu fico vermelha, depois intrigada e depois mais vermelha ainda quando minhas amigas fazem sons insinuantes enquanto a senhora Kowki me manda um olhar de: não façam coisas que não deveriam. Morro de vergonha, mas eu vou. Perry já está sentado na cama, com uma camiseta branca e bermudas, e com milhares de fotos jogadas no chão. Espalhadas é uma palavra melhor, porque estão por todo o quarto.

–O que foi? Está tudo bem? -Paro na porta, fechando ela atrás de mim, sem saber pra onde ir e como não pisar em alguma fotografia. Depois de analisar, percebo que são fotos da mãe dele. De Perry, principalmente, e sua mãe.

–Preciso de ajuda.

–Pra...? -Ele respira fundo e fecha os olhos.

–Hoje faz um ano que minha mãe morreu. Eu quero ajuda, pra montar uma homenagem pra ela. Lá no barco do outro lado da praia. Isso é tudo que eu tenho pra montar. -Ele aponta para as fotos. ISSO faz parecer que são poucas, mas tem muita, muita coisa. A voz dele ainda está rouca do choro, e tenho um monte de perguntas, mas resolvo ir com a que mais martela minha mente.

–Por que eu? -Não somos próximos. E ele fala mais com Kristin do que comigo. Seus olhos voltam para os meus.

–Porque você é a única aqui que eu consigo suportar mexer nas coisas da minha mãe. Deu. Sem mais perguntas. Quer me ajudar ou não? -Ele pergunta, ríspido. Sei porque está fazendo isso. Tentando agir frio porque liga demais e não quer mostrar. No fundo, ele é tão ferrado quanto eu. Então resolvo ajudar.


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Notas finais do capítulo

POR FAVOR EU PRECISO SABER SE VCS ESTÃO GOSTANDO OU SE TÁ UMA DROGA ETC ENTÃO POR FAVORRRRRRRRRRRR ME DIGAM SE TÁ BOM OU NÃO não precisa nem ser nos comentários podem mandar mp ou qualquer coisa mas é que feedback é super importante gente e eu preciso então k byeeeee espero que tenham gostado