People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 23
Estresse


Notas iniciais do capítulo

hello aqui estou eu enfim vou responder os reviews agora byeeeeeeeeeeee



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/406053/chapter/23

Eu espero ele me mandar calar a boca. Mas ele não manda, e eu começo a tirar as palavras da minha boca, do meu coração de uma vez. 

-Talvez você esteja certo. Talvez eu carregue o coração dele na mão. Mas você deveria ter visto o rosto dele quando eu disse aquelas coisas. Parecia que eu tinha arrancado seu coração e estivesse observando sangrar na minha frente. É horrível. Odeio como ele faz com que eu  me sinta culpada quando quero o odiar. E. E. Cummings não entende a dor que eu sinto no momento. 

-O amor leva um peso maior do que o esquecimento. Caso não saiba, isso é E. E. Cummings também. Ele é seu pai. Você o ama. -Ele diz e eu cubro o rosto, deixando soluços horríveis escaparem de mim. Só percebo que descemos da roda gigante quando Perry dá para o homem que trabalha ali outro ticket para subirmos outra vez. 

-Eu não quero amar ele. Eu não quero. Pelo menos a sua mãe era legal. Ela mostrou que te amava antes de partir. Ele traiu a minha mãe. -Perry não diz nada. Por um segundo, ficamos em silêncio, até eu cair em mais uma rodada de soluços. -Mas que merda. -Seco meus olhos, mas não adianta muito. Não adianta nada. As lágrimas vem em maior quantidade quanto mais eu tento parar. 

-Tenho outro problema também. Não aguento ver pessoas chorarem. Me lembra funerais. Me lembra hospitais. Então, dá pra parar de chorar?

-Não acredito que você é tão egoísta! -Explodo. E a raiva é bem vinda, porque a tristeza se eclipsa. -Eu tive um dia de merda, e você quer que eu pare de chorar porque você tem um problema com isso? 

-É.

-Babaca.

-Entre em um hospital por um ano com uma mãe morrendo pra você ver se isso não vai mexer com você. Vai no funeral de um parente que você amava. Você me chama de egoísta mas é tanto quanto eu. Só pensa nos seus problemas.

-Não é verdade! -Ele me fita, os olhos gelados e toda a magia que veio com E. E. Cummings foi embora. 

-É sim. Se você abrisse os olhos veria. 

-Você nem me conhece, Perry. Não sabe da minha amizade com ninguém. 

-Moramos na mesma casa, temos os mesmos amigos em comum. Acho que isso dá uma ideia, não dá?

-Como você pode ser tão mal? Eu te odeio. Eu te odeio mesmo. -Quero sair. Felizmente, alguns segundos depois, a roda gigante desce novamente. -Você não pode se mostrar pelo menos um pouco humano? -Digo, saindo do brinquedo e em direção ao resto do parque. -Imagine descobrir que sua mãe estava traindo o seu pai. E ela não morreu e você tem que vê-la todos os dias. Isso é tão doloroso quanto o que você está passando, então pare de agir como se você soubesse de tudo e me deixe em paz. -Ele fica parado lá. Com cara de dor. Não ligo. Não ligo mesmo. Devo estar tão vermelha que devem me confundir com um balão. Quero dar um soco em alguém e estou sem ar de andar tão rápido. Ótimo. Parece que eu vou morrer. 

Percebo que estou sozinha quando chamo Mack em voz alta e ninguém responde. Me sinto burra depois -porque, uh, é óbvio que eu estou sozinha -e aproveito para respirar fundo. Só tenho tempo de ficar feliz por ter subido na roda gigante sem ter Dramáticas Reações Relacionadas Aos Pensamentos Indesejáveis quando expiro o ar e olho ao redor. Pessoas felizes andam, comem e riem. Nunca me senti tão pequena, nem tão perdida, nem tão triste, por mais que a roda gigante tenha sido um grande passo. Quero me abraçar e me esconder em um cantinho, onde nada dói. Olho para trás. Perry ainda está lá, parado no mesmo lugar.

Qual o problema dele?, é o que vem na minha cabeça. 

Eu sou o problema, minha própria voz responde. 

Legal. Agora eu falo comigo mesma também. Como se eu não tivesse motivos o suficiente para ser maluca. Mas paro pra pensar na minha resposta. Ele está certo? Não. 

Mas eu nem liguei para o que aconteceu com Liana. 

Nem tento fazer um esforço para me aproximar de Dover. 

O que tem de errado comigo? Porque minha cabeça está girando? 

Quero falar com meu pai. 

Mas eu odeio ele.

E quero a minha casa. 

Porém não tenho a menor ideia de onde me refiro. Eu estou tonta. Minha cabeça ataca, dolorida. Aperto os olhos. Quando abro, Perry não está mais no lugar. Quero minha mãe. Quando essa confusão vai acabar? 

Essas luzes estão me deixando louca. 

Ha.

Ha, ha. 

As coisas que Perry disse remoem na minha cabeça. As coisas que aconteceram também. Meu pai deve me odiar agora. Minha mãe está magoada. Mack está uma pilha de nervos. Alguém me tire daqui.

Já mencionei que estou tonta? 

Não consigo respirar. 

O que tem de errado comigo? Sério.

Não tenho tempo de descobrir, porque eu caio no chão, e tudo fica preto. 

Então, quando eu acordo, a tontura passou. Mas não estou no mesmo lugar. É uma ambulância. Sei disso porque já estive em uma ambulância antes. 

-Ela abriu os olhos.

-Pode ser alarme falso, ela fez isso três vezes nos últimos quinze minutos mas voltou pro estado zumbi depois.

-Zumbis são mortos vivos. Ela só está dormindo.

-Não estou dormindo.

-Ela não está dormindo. -É a Kristin.

-Vamos soltar fogos de artifício. -Danny. 

-Preferia ela dormindo. 

-Vai se foder, Perry. 

-Acordou com tudo, hein. -Kristin está do meu lado, e aperta minha mão. Danny aparece com um médico. Pânico corre por mim.

-Onde está Mack? Por favor, me diga que não estou indo pra algum hospital. -Minha mãe não ia ver isso com bons olhos. Mack ia pirar. Pausa. A ambulância está parada, e dá pra ouvir o barulho do parque.

-Nem saímos do parque. Só estamos na ambulância.

-O que aconteceu? -Pergunto ao médico, quando ele me ajuda a levantar. Estou sem o casaco, e o quero de volta. Escondo meu rosto com as mãos, por causa da claridade. 

-Suponho que a causa do desmaio foi o estresse. Sua adrenalina estava altíssima, os batimentos também e dando pequenos espasmos. Eles podem me confirmar que você estava passando por uma situação estressante, então pode ser isso. Sugiro que vá pra um hospital...

-Não. -E minha voz é firme o suficiente para silenciar o médico. O ruim é que eu não me sinto firme. Me sinto... estressada. Com medo. Não como antes, mas algo parecido. Eu desmaiei por causa do estresse, tenho certeza, e quando minha mãe descobrir, vai me mandar pra China ou algum lugar do tipo praticar yoga ou meditação. 

E eu não gosto de nenhum dos dois. Encaro Danny.

-Minha irmã. 

-Com Chris, lá fora, explicando tudo pra sua mãe. 

Merda.

-Mack estava chorando. -Kristin diz. 

Merda dupla.

-Mas Chris está acalmando ela agora. E a sua mãe também. 

-Estou ferrada. 

-É melhor você deitar... -O médico começa a falar, mas eu já estou em pé e saindo da ambulância, sendo recebida pelo caos organizado que é um parque de diversões. Mack está do lado da ambulância com Chris, e eu corro para abraçá-la. 

-NÃO FAÇA MAIS ISSO. -Ela me dá um tapa. -QUANDO EU VI PERRY LEVAR VOCÊ NOS BRAÇOS, EU ACHEI QUE VOCÊ TINHA MORRIDO, SUA VADIA IDIOTA. VOCÊ NÃO BRINCA COM AS EMOÇÕES DAS PESSOAS ASSIM. 

-Ei, calma. Não consegui evitar. Eu só estava tonta. -Chris olha pra mim. Trocamos um olhar secreto, que eu entendo como: vá acalmar sua irmã enquanto eu lido com a sua mãe. 

E eu faço isso, puxando Mack para o lado. 

-Mack, pare de chorar. 

-Você me assustou. -A voz dela sai fina, fraca e frágil, e nesse momento quero dar um tapa em mim mesma. 

-Eu sei. Me desculpe. 

-Não.

-Tudo bem, mas pare de chorar.

-Cala boca. -Ela resmunga, infantil, mas não consigo ficar brava. Ela está mesmo assustada. Chris aparece. 

-Falei com a sua mãe. Ela está calma, mas quer que você volte para o hotel agora. Vou deixar vocês lá. Só vou chamar eles. -E então sai, para dentro da ambulância. 

O caminho para o hotel é silencioso, e piora quando sento do lado de Perry. Dá pra sentir o cheiro dele de tão perto, mas não encontro seus olhos nenhuma vez. Quando paramos no hotel -um chique, que minha mãe adora -quase pulo para fora do carro. Para minha surpresa, eles saem também. 

-O quê...? -Não consigo terminar. Avisto minha mãe no lobby. 

Meu pai também, e eu congelo no lugar. Eles estão conversando, mas param quando nos veem. Parecem amigáveis, por mais que as expressões estejam sérias. 

Eles vão na minha frente. Mas eu tenho que ir junto, então acompanho. Chris é o primeiro a apertar a mão do meu pai enquanto minha mãe me abraça, soltando um som aliviado. 

Quando Perry vai apertar a mão do meu pai, ouço ele dizer:

-Muito prazer. Meu nome é Perry, e eu estou na mesma casa que a sua filha. A propósito, sou viciado em...

-Oi! -Corto Perry, olhando feio para ele.  Ele ergue a sobrancelha. Olho para o meu pai, que está surpreso. Claramente, não era a animação que ele esperava de mim, e não sabe que eu estou fazendo isso só pra evitar que ele mate Perry pelo que ele diria a seguir. 

-Em. -Volto ao meu estado normal. 

-Meu nome ainda é o mesmo. Emerson. 

-Como você está? -Isso prova que ele é um péssimo pai. Óbvio que eu não estou bem. 

-Bem. -Mentirosa. Mas ele não percebe que eu estou mentindo e isso causa uma reação estranha no meu coração. 

-Vamos subir. -Minha mãe diz. -Estou exausta. Boa noite. -Minha mãe diz, para o grupo em sua frente. Meu pai olha como se quisesse falar mais. Mas eu estou sendo puxada pela minha mãe, graças a Deus. 

-Tudo bem, falamos mais tarde. Boa noite, filhas. 

-Boa noite. -Só Mack responde. 

-É. Boa noite. -Perry diz, antes de dar um soco no meu pai. 

Espera. 

Um soco no meu pai? 

Me certifico que não vi errado, e estou certa. Meu pai cambaleia para trás, olhando chocado para Perry, enquanto Chris fica entre os dois, falando com Perry e meus amigos soltam suspiros de surpresa. Do meu lado, Mack aperta meu braço, e minha mãe suspira. 

-Ah, senhor. Só quero subir. Eles que se resolvam. -Um porteiro chega.

-Tenho problemas de raiva. -Perry explica, seguido por Chris. Entramos no elevador rapidamente, mas não consigo parar de olhar a cena do lobby. 

Meu pai parece se acalmar diante da explicação, apesar de Perry não demonstrar remorso. O elevador começa a se fechar, e meus olhos se prendem nos de Perry um último segundo, mas o suficiente para ele erguer a sobrancelha, e um sorrisinho aparecer. Então, começamos a subir. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!