People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 18
Conversas, Conversas.




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É um santuário ou um templo. Você decide. O importante é como ele é. Primeiramente, as luzes de LED dão uma atenção especial a estrutura interna do barco, então eu fico de queixo caído só de ver isso. Depois, tem luzes separadas guiando até uma mesa e na parede, em cima dessa mesa. Tem fotos. Tem cartas e papeis de jornal e muita coisa. Objetos em cima da mesa e no chão, espelhados por aí. 

-COMO isso veio parar aqui? -É surreal. É um ambiente lindo demais pra ser criado dentro de um barco naufragado. 

-Ninguém sabe. Estava aqui muito tempo antes de nós e Chris não explicou sobre isso. Chego mais perto, hipnotizada. Pego uma das cartas, e leio que a data no final é 1986. Isso está há mais de vinte anos aqui. Isso deve estar aqui há mais tempo que CHRIS está aqui. Não leio a carta, pois parece que eu vou abusar da privacidade da pessoa ou algo assim, deixo-a lá. Mas continuo observando. As fotos, crianças, adolescentes, homens velhos, mulheres grávidas. É como se fosse um anuário, só que colado na parede. 

-Quem foram essas pessoas?

-Eu suponho que foram pessoas que passaram aqui. A senhora Kowki não é tão nova, trabalha há um tempo, todas essas pessoas podem ter achado esse lugar enquanto estavam na Orientação. 

Vou observando o resto do barco, e a madeira range conforme piso, mas não sinto medo. 

-Será que elas já morreram?

-Algumas. Acabei de achar a foto de um cara sem dente nos seus setenta anos, e essa foto é de vinte anos atrás. Ia ser esquisito se ele ainda estivesse por aqui.

-Tem uma foto com a data de morte da menina. -Kristin diz, analisando um pedaço de papel. -Será que ela morreu aqui?

-Vocês nunca perguntaram para Chris? 

-Ele disse que isso eram histórias do passado e que não deveríamos tentar saber qual a finalidade de tudo isso. Mas eu suponho que eram clientes da senhora Kowki. 

-E se eu perguntar pra ELA, será que ela sabe me responder? 

-Ela nunca fala disso, também. -Tomo a decisão de perguntar para a senhora Kowki mais tarde,  mas não falo isso pra eles.

-Foram vocês que trouxeram as luzes? 

-Não, elas também já estavam aqui, a gente só trouxe pilha.

-Acham que essas pessoas sabiam que nós veríamos isso vinte anos depois? 

-Nem brincando. -Perry responde. 

-Isso é meio triste. 

-É tão... profundo. -Parece que o peso da vida dessas pessoas está nesse lugar. Não o espírito dela, ou algo assim, mas a importância da vida delas está aqui. Dá pra imaginar essas pessoas tendo filhos e se casando. Ficamos conversando sobre isso por umas duas horas, então é hoje de voltar, para o almoço. Ficamos jogando um joguinho onde temos que tentar adivinhar o que aconteceu com cada pessoa. Ninguém perde ou ganha, porque ninguém sabe o que aconteceu mas consegui rir um pouco e afastar a tristeza pela ida da minha irmã por um tempo. O resto do dia é silencioso e vazio, e eu fico quieta lendo ou costurando a maior parte do tempo, ou jogo cartas com Danny ou Kristin. É de noite que eu vejo minha oportunidade de conversar com a senhora Kowki, mas antes disso, procuro Chris. Devem ser umas nove da noite e todos eles estão dormindo menos ele e a senhora Kowki, que estão conversando na cozinha. Termino de escovar o dente e botar meu pijama então vou até a cozinha.

-Posso falar com vocês? -Eles parecem surpresos. 

-Claro que sim, querida. 

-O que é aquele barco do outro lado da praia? -Revezo entre olhar para Chris e a senhora Kowki. Ela respira fundo. 

-É o barco que me trouxe até aqui quando a guerra acabou. -Ela diz, e é evidente que isso é difícil para ela, mas ela continua. -Atracou, depois afundou em uma tempestade. E anos depois os moradores locais me ajudaram a retirar da praia. Ficou por lá mesmo. -A senhora Kowki dá de ombros. 

-E aquelas fotos? 

-Pessoas que passaram aqui, e tem algumas fotos e documentos das que vieram para cá comigo. 

-Quando vocês iam contar isso para nós? 

-Eu ia levar vocês lá. -Chris diz. -Vocês foram apenas mais rápidos. -Mistério resolvido. Hora de passar para o próximo assunto. 

-Tudo bem. Obrigada. -Digo para a senhora Kowki. 

-Vou dormir, boa noite. -Então ela sai e eu fico sozinha com o guru. 

-Enfim, quero falar com você. -Sento na sua frente do outro lado da mesa, e isso me lembra aquelas salas de interrogatório.

-Estou ouvindo.

-O que vamos fazer para Rose? -Ele parece surpreso por eu saber disso, mas responde normalmente. 

-Pode ajudar a senhora Kowki com a comida. Comprei para ela uma bicicleta e vou chamar os outros para uma decoração. 

-Os pais dela não vem? -Pergunto, e ele levanta os olhos para mim. Olhando para ele, algo me ocorre. Estou incrédula. -Ela é sua filha, não é? 

Não sei como não pensei nisso antes. Faz todo o sentido. Me pergunto se ela sabe. Parece que retirei um peso do seu ombro. 

-Sim. 

-Como aconteceu? -Ele fica quieto por um minuto, depois volta a falar. 

-Vamos fazer um trato, você fala do seu pai e eu falo sobre Rose. 

-Não é justo. 

-É o trato mais justo que consigo pensar. E está na hora de você falar. -Fico três minutos em silêncio, olhando para ele. Sei disso porque contei. Ele não hesita, nem dá um pé atrás na oferta, então eu respiro fundo.

-Não é tarde? 

-Nunca é tarde para conversar. 

-Tá. Que seja. O que você quer saber?

-Tudo, desde o início. 

Então eu conto pra ele. Eu conto sobre como meu pai era meu melhor amigo, como foi o dia em que eu peguei ele aos beijos com outra mulher, como foi o dia em que me contaram sobre a separação, o soco e tudo que veio depois daquilo. O sentimento de fúria, ódio, raiva, tristeza até chegar no que minha mãe achava ser depressão. Eu conto pra ele que eu não saia do meu quarto, que eu parei de sair com meninos e não falava com ninguém exceto minha mãe, minha irmã, e às vezes minhas amigas. Falo pra ele que não consigo mais confiar completamente em ninguém e como é ruim os dias em que a dor é insuportável, o sentimento de troca, como se eu não valesse mais nada pra ele. Eu digo sobre minha mãe e como ela está agindo tão séria e fria sobre isso e digo que eu odeio homens porque eles sempre parecem nos decepcionar uma hora ou outra. Meu coração dói. Revirar essas emoções causa aquela dor inicial quando o choque passa e conviver com isso é regra. Dói e eu choro, bastante. Até não ter nada pra falar, nem nada pra chorar, até eu estar cansada. Ele me traz remédio de dor de cabeça e outro pra dormir. Chris não fala nada sobre o que eu acabei de falar. Ao invés disso, ele diz:

-Minha vez. -E começa a falar sobre a mãe de Rose, uma hippie local que acabou fugindo depois que teve a filha. Não tem muita história pra contar porque eles não se conheceram por muito tempo. Ele conta que ela, Lana, ela bonita, jovem e queria ser professora então fugiu pra procurar um futuro melhor sem a filha. Ele diz que ela não vai voltar, mas que isso não é problema. Ele pode garantir que consegue criar Rose perfeitamente e posso concordar com ele. Estou tão exausta quando ele termina que também não digo nada sobre isso. Só agradeço por ele ter me contado. 

-Boa noite. -Digo, depois levanto. 

-Durma bem. -E eu durmo mesmo, porque parece que acabei de coletar todos os meus demônios interiores, botá-los na minha frente e dar um soco em cada um deles. E o cansaço é mais uma prova da minha batalha, então caio na cama e não espero nem um segundo antes de começar a dormir. 


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Notas finais do capítulo

ta gente eu prometo p r o m e t o que eu vou botar romance tá fkdjhfdksjhksjh é tão estranho porque nas outras fics eu tinha que parar de botar tanta coisa pra não ficar demais mas nessa eu tenho que pensar o dobro em onde botar romance ou conversas dela com o perry porque se não não ia ter absolutamente nada ai meu deus fksdjfhksdjskjfsdh sou patetica desculpa