The Host: Amalgamados escrita por Absolutas


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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Fitei Peregrina por alguns segundos, prestando total atenção no que ela dizia a Sunny e então, de repente, eu entendi tudo. Entendi o seu plano. Por um segundo, me permiti ficar pasmo comigo mesmo por não ter notado isso antes, estava claro o tempo todo! Eu deveria saber que havia algo por traz da sua mudança de comportamento desde que a buscadora chegara. Eu não havia dado atenção a isso, mas agora parecia tão óbvio! Ela planejara ir embora. Planejara me deixar... Para que Melanie pudesse ter seu corpo de volta.

Eu já estava mais que acostumado com suas atitudes altruístas, sempre pensando na felicidade dos outros acima da sua própria. Mas isso foi demais para mim.

- O quê? – falei. A voz áspera de incredulidade e raiva, uma raiva impressionantemente forte, ameaçando romper meu autocontrole.

Peregrina não me respondeu apenas me fitou com olhos angustiados. Eu devolvi o olhar furiosamente e Sunny tremeu de pavor ao seu lado – talvez pela minha expressão homicida, talvez pelo ódio explícito em meus olhos. Mas eu mal notei. Nem me importei. Nada mais importava, a não ser o fato de que Peg estava prestes a me abandonar.

- Ian? – ouvi Kyle chamar e o ignorei. - Qual é o problema?

- Peg. – Falei, quase rosnando e estendi a mão para ela, usando todo o meu controle para não fechá-la em punho.

Peg continuou apenas me olhando, aflita.

Depois de alguns segundos, cansei de esperar e agarrei seu braço com força, levantando-a do chão e sacudindo-a quando Sunny, que estava agarrada a ela, veio junto.

- O que há com você? – perguntou Kyle quando deixei Sunny cair.

Mas ele não percebeu que eu não estava com paciência para perguntas. Muito menos, para perguntas idiotas vindas dele. Ele que tentou matar Peregrina. Ele que quase a tirou de mim.

Essa lembrança fez com que uma onda ainda mais forte de raiva me inundasse e, antes que minha mente pudesse acompanhar meus atos, dobrei o joelho e dei-lhe um chute no rosto. Com toda a minha força.

- Ian! – protestou Peg, vendo-me bater no idiota do meu irmão. Teria batido mais, só que no momento, tinha assuntos mais urgentes para discutir.

- Venha cá – gritei para Peg, dando as costas à Kyle.

- Ian... – ela tentou argumentar e eu a puxei, fazendo-a se calar.

Enquanto atravessava a sala se Doc, arrastando Peg atrás de mim, notei que as pessoas me olhavam com espanto. Elas nunca me viram assim. Eu nunca perdera o controle na frente delas antes, sempre fora gentil e equilibrado emocionalmente. A mulher sem nome, cuja alma fora retirada do corpo há poucos dias, me olhava ainda mais apavorada. Mas, de novo, eu não me importei. De novo, nada mais importava a não ser Peregrina ameaçando fugir do planeta... Fugir de mim.

E então, parei. Jared estava bloqueando a saída.

- Você ficou maluco, Ian? – perguntou ele aturdido. – O que vai fazer com ela?

- Você sabia disso? – gritei de volta, empurrando Peg na direção dele e sacudindo-a.

- Você vai machucá-la! – exclamou Jared.

- Sabe o que ela está planejando? – insisti.

Jared calou-se, me encarando com uma expressão impenetrável. Mas isso foi resposta o bastante para mim.

Fechei uma das mãos em punho, e dei um soco naquela cara nojenta dele, que cambaleou para traz, dando-me o espaço que eu precisava para sair dali.

- Ian, pare – implorou Peg. Mas isso só me deixou com mais raiva. Ela o estava protegendo! Aquele idiota que nunca se importou com os sentimentos dela!

- Pare você – rugi em resposta.

Eu a puxei pelo arco e entrei no túnel, puxando-a para o norte. Ela parecia ter dificuldade para me acompanhar.

- O’Shea! – ouvi Jared gritar atrás de nós.

- Eu vou machucá-la? – respondi por cima do ombro – Eu? Seu corpo hipócrita!

O silêncio e a escuridão inundaram o espaço a nossa volta. Peg tropeçava constantemente no escuro.

Eu a empurrava e puxava aos solavancos, e ela soltou um gemido, quase um grito de dor.

Isso me fez parar. Apavorei-me com a idéia de está-la machucando.

- Ian, Ian, eu... – ela se interrompeu. Não dei á ela chance de começar novamente. É claro que precisávamos conversar, mas aqui não era o melhor lugar para isso.

Abaixei-me, segurando suas pernas e erguendo-as, depois agarrando seus ombros antes que ela pudesse cair. Comecei a correr adiante novamente, agora com ela nos braços.

Eu teria adorado carregá-la em outra ocasião. Amava sentir seu corpo junto ao meu, amava protegê-la. Mas agora, não havia nada de romântico, gentil ou protetor no ato... Apenas pressa. Pressa de impedi-la de ir embora.

Cruzei rapidamente a praça principal, ignorando os rostos desconfiados que passavam voando por mim. E então eles ficaram para trás.

Continuei correndo, parando apenas quando estávamos de frente para a porta vermelha do meu quarto. Chutei-a, – em parte por que minhas mãos estavam ocupadas e em parte para descontar o ódio que tomava conta de mim nesse momento – e joguei Peg sobre o colchão no chão.

Fiquei em pé na sua frente por alguns segundos, tentando normalizar minha respiração ofegante. Depois me lembrei que a porta ainda estava no chão e voltei para colocá-la no lugar. Rapidamente me virei e andei em direção ao colchão em que Peg estava deitada para encará-la furiosamente.

Ela respirou fundo e ficou de joelhos estendendo as mão vazias para mim.

- Você. Não. Vai. Me. Deixar. – Eu disse com os olhos ardendo pelas lágrimas que ameaçavam escorrer a qualquer momento.

- Ian – ela sussurrou. – Você tem de entender que...que eu não posso ficar. Você tem de entender.

- Não! – eu gritei minha voz cada vez mais tomada pelo ódio. Ódio de mim por não ter percebido antes o que ela planejava fazer. Ódio dela por querer ir embora e acabar com a minha vida para sempre. Ódio desse mundo injusto. Ódio do amor irracional que eu sentia por ela.

E então, não consegui mais segurar as lágrimas. Afundei, caindo sobre os joelhos, caindo para ela. Enterrei o rosto em sua barriga, e meus braços envolveram sua cintura. Eu tremia e soluçava alto, desesperado para arrumar um meio de convencê-la a ficar. Desesperado para mantê-la perto de mim.

- Não, Ian, não – implorou ela, assustada com minha crise de choro repentina. – Não. Por favor, não faça isso.

- Peg – gemi.

- Ian, por favor. Não fique assim. Não. Eu sinto muito. Por favor. – ela estava chorando também. Tremendo. Assim como eu.

- Você não pode ir embora – falei inutilmente.

- Eu tenho de ir, eu tenho – soluçou.

E ficamos os dois, chorando sem palavras por um longo tempo.

Uma dor imensamente insuportável tomou meu peito, e por um instante pensei que morreria. Pensei que aquela dor me mataria. Tamanha a sua intensidade.

Minhas lágrimas, enfim secaram e eu me endireitei no colchão puxando-a para meu peito, tentando inutilmente preencher o vazio que inundou meu coração só de pensar em perdê-la.

- Sinto muito – cochichei. – Eu fui mesquinho.

- Não, não. Eu sinto muito. Eu devia ter falado, quando você não percebeu. É que...eu não consegui. Eu não queria lhe contar, machucar você...me machucar. Eu fui egoísta...

- Nós precisamos conversar sobre isso, Peg. – Falei, tomado por uma determinação absurda. Eu não podia simplesmente deixá-la ir. Não podia. - Não é um assunto fechado. Não pode ser.

-É – ela disse simplesmente.

 Sacudi a cabeça e cerrei os dentes. A raiva estava prestes a romper-me novamente.

- Há quanto tempo? Há quanto tempo você vem planejando isso? – “Há quanto tempo está planejando me destruir?”, era o que eu queria dizer.

- Desde a Buscadora – sussurrou.

Assenti. Eu sabia!

- E você achou que tinha de revelar seu segredo para salva-la. Eu posso entender. Mas isso não significa que você tenha de ir a algum lugar. Só porque agora o Doc sabe...isso não significa coisa nenhuma. Se por um minuto eu tivesse pensado o que significava, que uma ação equivale à outra, eu não teria ficado parado lá, deixando você mostrar a ele. Ninguém vai obrigar você a deitar-se nas macas estragadas dele! Eu quebro as mãos dele se ele tentar tocar em você! – eu estava furioso novamente.

- Ian, por favor.

- Eles não podem obrigar você, Peg! Esta m ouvindo? – gritei.

- Ninguém está me obrigando. Eu não mostrei ao Doc como fazer a separação para ele salvar a Buscadora – sussurrou – A presença da Buscadora aqui só me obrigou a decidir mais rápido. Eu fiz isso para salvar a Mel, Ian.

Eu não disse nada e ela continuou:

- Ela está presa aqui dentro, Ian. É como uma prisão...mais que isso; não consigo sequer descrevê-lo. Ela é como um fantasma. E eu posso libertá-la. Eu posso devolvê-la a si mesma.

Peg estava usando todos os seus argumentos para me fazer aceitar. Mas eu também usaria todos os argumentos possíveis, para fazê-la ficar.

- Você também merece viver, Peg. Você merece ficar.

- Mas eu a amo, Ian.

Fechei os olhos e usei o meu melhor argumento. O mais importante para mim...o mais verdadeiro.

- Mas eu amo você – e então me lembrem de quem ela amava e acrescentei: - Isso não importa?

- Claro que importa – respondeu – Muito. Não pode ver? Mas isso só torna a idéia mais...necessária.

Meu coração se contraiu em meu peito e fui tomado por uma angustia e uma dor imensa. Meu amor por ela era uma das razões pela qual ela iria embora? Isso a incomodava? Eu não podia deixar que eu fosse culpado por sua partida. Abri meus olhos.

- É tão insuportável assim eu amar você? É isso? Eu posso ficar de boca calada, Peg. Não vou repetir isso. Você pode ficar com o Jared se é isso o que você quer. Só quero que fique. – eu não me importava de sofrer se fosse esse o preço para que ela ficasse. Eu sofreria minha vida inteira se fosse preciso.

- Não, Ian! – Algo como uma corrente elétrica atravessou todo o meu corpo quando ela tomou meu rosto entre suas mãos. Seu toque incrível, fazendo-me esquecer por alguns segundos a dor em meu coração. – Não. Eu...eu amo você, também. Eu, a pequena lacraia prateada no fundo da cabeça dela. Mas meu corpo não ama você. Não pode amar você. Nunca poderei amar você nesse corpo, Ian. Ele me puxa em duas direções. É insuportável.

 Fechei os olhos, apreciando seu toque e as palavras que aqueceram meu coração. Ela me amava! Ela, a alma. Peregrina me amava!

Uma sementinha de esperança brotou em meu coração, eu me senti feliz. Feliz por ter meu amor retribuído.

De repente, senti seus braços envolverem meu pescoço. Ela se moveu no colchão até estar perto de mim. Perto o suficiente para que seus lábios pudessem tocar os meus. E foi o que ela fez.

E então, nada mais existia. Nada, a não sermos nós dois. Nós dois e o amor que sentíamos um pelo outro.

Eu a envolvi em meus braços e apertei-a contra o meu peito, ansioso por eliminar qualquer espaço entre nós. Nossos lábios moviam-se juntos, fundindo-se como se nunca fossem se separar, e eu pude sentir o gosto salgados das nossas lágrimas.

Esse beijo foi diferente dos outros. Não foi superficial e platônico, como eu já estava acostumado. Dessa vez, mesmo com o corpo relutante de Melanie entre nós, Peregrina se entregou ao beijo. Sentiu-o de verdade. E isso me deu a certeza de que eu não a deixaria ir. Não permitiria que ela me deixasse. Nunca.

Ela começou a chorar novamente. E eu não suportei vê-la triste. Não suportei ver que aquilo a machucava tanto quanto me machucava. Movi meus lábios para seus olhos, e tentei consolá-la.

- Não chore, Peg. – murmurei – Não chore. Você vai ficar comigo.

- Oito vidas inteiras – sussurrou encostada em meu queixo, a voz cansada – Oito vidas inteiras, e eu nunca encontrei ninguém por quem ficasse num planeta, ninguém a quem seguisse quando os outros fossem embora. Nunca encontrei um companheiro. Por que agora? Por que você? Você não é da minha espécie. Como pode ser meu parceiro?

- É um estranho universo.

- Não é justo – ela se queixou. – Eu te amo – sussurrou após alguns segundos.

- Não diga isso como se estivesse dizendo adeus. – desesperei-me.

- Eu, a alma Peregrina, amo você, humano Ian. E isso nunca vai mudar, não importa o que possa acontecer. – disse ela. – Fosse eu um Golfinho, um Urso ou uma Flor, pouco importaria. Eu sempre o amaria, sempre lembraria. Você será meu único parceiro.

Meus braços se enrijeceram, e a apertei ainda mais contra mim. A raiva inundando-me outra vez.

- Você não vai peregrinar em parte alguma. Vai ficar aqui.

Ela ainda não havia entendido que eu não conseguiria viver sem ela. Que eu não suportaria acordar todas as manhãs e me lembrar que ela estava a anos-luz de distância? Que eu me culparia todos os dias por não tê-la impedido? Ela não entendia?

- Ian...

- Não é justo para mim. Você faz parte desta comunidade e não vai ser excluída antes de uma discussão. Você é importante demais para todos nós...mesmo para aqueles que jamais admitiram isso. Precisamos de você. – minha voz era brusca, zangada.

- Ninguém está me excluindo, Ian.

- Não – respondi – Nem sequer você mesma, Peregrina.

E eu a beijei de novo, um pouco mais rude agora, com o retorno da raiva. Minha mão se fechou em volta do seu cabelo e afastei seu rosto um pouquinho.

- Bom ou ruim? – confirmei.

- Bom – disse ela, sem hesitar.

- Foi o que pensei

Eu a beijei de novo, meus braços apertados sobre suas costelas, minha boca impetuosa contra a sua e logo estávamos ofegantes. Afrouxei o aperto em sua cintura deixei que meus lábios escorregassem até sua orelha.

- Vamos – disse, uma idéia se formando em minha cabeça. Se eu convocasse um tribunal, e fizesse todos verem o quanto ela era importante para a comunidade... Talvez eles a proibissem de ir embora. Pois, ela nos proporcionou uma vida de verdade. Graças a ela, temos garantia de comida, roupas e remédios. E eu tenho minha sanidade garantida...o que não aconteceria se ela estivesse longe.

- Aonde? Aonde vamos? – perguntou curiosa.

- Não me crie problemas quanto a isso, Peregrina. Eu já estou um pouco fora de mim. – informei.

- Aonde? – repetiu.

- Vá pelo túnel sul, passe pelo campo, até o fim.

- A sala de jogos? – perguntou confusa.

- É. Então espere lá até eu reunir o restante deles.

- Por quê?

- Porque esse assunto vai ser discutido. Eu estou convocando um tribunal, Peregrina, e você vai ter de se submeter a nossa decisão.


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Notas finais do capítulo

Mereço Reviws?



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