– James?

Lily entrou no dormitório e olhou ao redor, o lugar parecia estar vazio, mas ela viu uma parte do colchão mais funda em uma das camas.

A ruiva revirou os olhos e ficou encarando o ar diretamente acima da parte afundada.

– James eu sei que você está ai.

Nenhuma palavra.

– Quer fazer o favor de parar com isso?

– Vai embora. - Uma voz meio emburrada ecoou pelo quarto.

– Como é que é, Potter? - Ela levantou uma sobrancelha e cruzou os braços sobre o peito, ainda olhando para o ar acima da cama.

– Lily, me deixa aqui.

A mulher bufou impaciente e se sentou na cama bem ao lado da parte mais baixa do colchão. Ela estendeu os braço no ar e por alguns segundos parecer tatear o vazio, mas logo um homem começou a aparecer sentado com os joelhos encostados no peito, bem ao lado dela.

– James foi só um jogo. - Falou olhando diretamente para o namorado, que, por sua vez, olhava para baixo fixamente.

– Não, Lily! É um jogo que perdemos! Isso não devia acontecer!

– Vem. Vamos lá para baixo. Todo mundo está lá no salão comunal.

– Exatamente! Eu não posso ver todo mundo!

– Ja...

– Eles vão me olhar com aqueles olhares de "A culpa é sua! Você é o Capitão! Não podia deixar isso acontecer! Nosso time era melhor que o da Corvinal! Nós iriamos ganhar, mas ai você errou tudo, James Potter!”.

– Um olhar pode dizer tudo isso? - Lily perguntou tentando não rir.

James apenas olhou irritado para ela, que logo suspirou e acrescentou:

– Até quarta feira ninguém mais vai lembrar disso...

– Seiscentos e cinquenta a duzentos e vinte, Evans! - James exclamou jogando os braços para o alto.

– Ok, ok, talvez leve até sexta feira para as pessoas esquecerem.

– Lily! As pessoas vão lembrar disso para sempre! Nunca mais vão esquecer! Isso vai entrar para a historia de Hogwarts!

– Você está parecendo o Sirius. - A ruiva mais uma vez revirou os olhos. - Ainda estamos na frente no Campeonato, James. Porque você fez um ótimo trabalho como capitão, esse jogo não mudou nossa posição!

Ele parecia não ter ouvido. Murmurava algo incompreensível olhando para baixo.

– Lily! - Ele exclamou de repente. - Os sonserinos nunca vão me deixar esquecer isso! Vão falar disso toda vez que me virem!

– E dai? Azara eles igual você sempre faz... - A garota deu de ombros.

Por breves segundos James sorriu para a resposta dela, mas o efeito foi rápido. Logo ele abaixou a cabeça novamente.

– James? - Lily chamou depois de alguns poucos segundos de silencio.

– Hum?

– Vamos descer.

– Não quero.

– Sirius conseguiu firewhisky em algum lugar. - Ela argumentou pousando gentilmente a mão no braço dele.

James levantou a cabeça e olhou nos olhos dela, mas logo depois a abaixou de novo.

– Traz uma garrafa para mim.

– Nem pensar.

– Você não faz nada para me animar. - James resmungou parecendo incrivelmente com uma criancinha.

– O que você quer, James? - Questionou Lily unindo todas aa suas forças para não bater no namorado.

– Voltar no tempo.

– Ok, vou ser mais especifica: o que você quer, que eu possa fazer?

– Você poder ir até o Ministério, conseguir um vira-tempo e...

– Eu vou lá embaixo buscar uma garrafa de firewhisky para você. - Ela interrompeu.

– É... É, isso ajuda.

Lily se levantou, a cada segundo mais irritada e impaciente, e desceu para o anormalmente silencioso Salão Comunal da Grifinoria.

– E ai? - Sirius perguntou assim que ela desceu as escadas.

– Pode me arrumar uma garrafa de firewhisky?

Sirius apenas acenou com a cabeça e saiu para o outro lado da sala.

– Sabia... - Remus comentou em voz baixa.

– Ele bebe uma garrafa de firewhisky toda vez que perde um jogo? - A mulher levantou as sobrancelhas.

– Ah, não! - Respondeu Peter. - Às vezes ele divide com a gente.

– Ah, ótimo. Isso me conforta muito.

– Ele vai ficar bem, Lils. - Remus falou rindo um pouco.

– Eu acho que sim. - Lily respondeu com o olhar meio vago.

– Toma. Eu trouxe duas. - Sirius voltou e empurrou as garrafas para as mãos de Lily.

– Por quê? - Ela indagou arregalando um pouco os olhos.

– É o primeiro jogo que ele perde como capitão. - Os três responderam juntos.

Lily simplesmente balançou negativamente a cabeça, deu as costas e subiu as escadas.

James estava exatamente na mesma posição que Lily o havia deixado. Ele meramente levantou os olhos em direção à garota quando ela entrou no quarto e estendeu as duas garrafas para ele.

– Promete que não vai beber tudo? – Ela perguntou meio insegura.

– Não.

– James... – Pediu em um tom, de certa forma, doce.

– Tudo bem! – Respondeu enquanto abria a garrafa e tomava um grande gole.

Lily o observava mordendo levemente os lábios.

– O que foi?

– Nada...

– Lils...

– Eu estou preocupada com você. – Confessou.

James entortou a boca e colocou a garrafa aberta em cima da mesa de cabeceira.

– Eu prometo que não vou beber tudo. – Ele disse de modo bem mais brando do que o que estava usando até o momento.

– E para de ser grosso também.

– Ok. – Ele sorriu minimamente por um segundo. – Desculpe.

– E vamos descer para o Salão Comunal. Sai desse quarto.

– Não. – James retrucou categoricamente balançando a cabeça. – Não vou sair desse quarto até todo mundo esquecer desse jogo, ou seja: nunca!
– E como é que você vai vencer o próximo jogo se não treinar? Vai marcar os treinos aqui?

Ele ficou parado olhando para o nada por um tempo, demorou alguns segundos até que dissesse:

– Ok. Então vou sair só para os treinos.

– James...

– Não vou mudar de opinião, Lily.

– Você não pode viver aqui.

– Tem muitas coisas que posso fazer aqui.

– Você não pode assistir aulas daqui.

– Você fala como se eu ligasse. – Ele falou depois de soltar um muxoxo de impaciência.

– Droga, James! – Lily exclamou e se levantou abruptamente da cama. – Porque você tem que ser tão idiota? – Completou já saindo do quarto e batendo a porta atrás de si.

Ela desceu as escadas a passos firmes e se jogou pesadamente no sofá, os braços fortemente cruzados e uma expressão dura no rosto.

– E ai? – Sirius perguntou se sentando ao lado dela com um descarado sorriso torto no rosto. – Nosso amiguinho está legal?

– O amiguinho de vocês é um idiota!

– Todo mundo sabe disso. – Peter falou. – Achei que você, especialmente, soubesse também.

– É só uma droga de um jogo! – Ela praticamente gritou, atirando os braços para cima.

O time de quadribol, quase todo reunido ali próximo olhou feio para ela.

– Falaria mais baixo se eu fosse você, Evans. – Sirius aconselhou rindo baixo.

– Ele sempre faz isso quando perde um jogo?

– Bom, ele não fazia quando entrou no time... – Remus disse.

– Ele tinha uns doze ou treze anos quando entrou no time.

– Exatamente, e naquela época eu ainda não sabia como conseguir firewhisky. – Informou Sirius.

– Ok, tudo bem sobre o Firewhisky! Bom, mais ou menos... Enfim! Eu quero dizer... ele sempre fica tão... irritante e dramático quando perde um jogo?

– Sim. – Mais uma vez os três amigos responderam juntos.

– Merlin!

– Mas nós quase nunca perdemos. – Sorriu Sirius. Não podia se deixar de notar um quê de orgulho na expressão dele. – E para ser justo com o Prongs, você fica exatamente assim quando vai mal em uma prova.

Ela estreitou os olhos e lançou um olhar irritado para ele.

– Amanhã ele vai começar a voltar ao normal, Lily. – Remus falou tentando não rir.

– Ele é tão idiota. – Ela resmungou mais para ela mesma do que para os outros.

– Ruiva, ruiva, você só está namorando o Prongs há uns dois meses. – Sirius disse.

– E...?

– E, com o tempo, você vai descobrir que ele é muito mais idiota do que você imagina.