Um homem alto de cabelos bem negros e pele bem clara andava por uma floresta fechada tão suavemente como se andasse por um plano e amplo gramado a céu aberto. Ele parecia procurar alguma coisa entra as árvores bem juntas. Bem atento aos sons que enchiam a mata, tentando detectar qualquer sinal de movimento.

Ele foi surpreendido, no entanto, quando uma mulher apareceu entre as arvores caminhando de costas e tombou com ele. O homem emitiu um ruído alto e deu um pulo para trás se assustando. Recuperado do choque ele olhou um tanto mal-humorado para a recém-chegada. Era uma mulher de longos cabelos loiros e grandes e brilhantes olhos azuis, que pareciam estar sempre arregalados, lhe dando um permanente ar de surpresa.

– Ah, pensei mesmo ter ouvido alguém por perto. – Ela disse em uma voz distante. – Até pensei que talvez fosse um Bufador-de-Chifre-Enrugado, mesmo que eles não vivam aqui.

– Um o que? – O homem perguntou.

– Um Bufador-de-Chifre-Enrugado. – Ela respondeu sem dar nenhuma explicação adicional.

– Ah. Er... claro. – Ele confirmou sem ter a mínima ideia de que a mulher falava.

– Mas como eu disse, eles não vivem aqui.

– É... claro.

– Sou Luna Lovegood, a propósito.

– Rolf Scamander. – Ele falou sorrindo um pouco.

– Animais Fantásticos e Onde Habitam. – Ela falou suavemente.

– É. – Rolf sorriu. – Então isso quer dizer que você é bruxa também?

– Claro. – Luna sorriu de volta. – Você é parente de Newt Scamander então?

– Meu avô.

– É um bom livro. – Ela falou com a voz ainda meio distante. – Embora não tenha animais como os zonzóbulos ou bufadores-de-chifre-enrugado, mas acho que isso é porque a maioria das pessoas não acreditam neles. Deve ser ruim para as vendas.

– É, deve ser. – Rolf falou rindo um pouco. – Er... está procurando algum animal por aqui? Podemos procurar juntos. - Ele sugeriu.

– É podemos.

– Então... o que está procurando?

– Nada. – Ela respondeu simplesmente.

– Ah... nada?

– É. E você?

– Billywig. – Rolf respondeu rapidamente. - Mas o que está fazendo aqui se não está procurando nada?

– Estou procurando por qualquer coisa.

– Como assim? – Ele sorriu.

– Não me importo se vou achar alguma coisa. Se achar vai ser magnifico, se eu não achar nada, bem... foi uma viagem interessante.

Ele abriu um grande sorriso olhando para ela e ficou a observando por algum tempo, enquanto Luna olhava sonhadora para a mata em volta, procurando ao mesmo tempo por nada e por qualquer coisa.

– Er... já que não está procurando nada em especial, quer me ajudar a achar billywigs?

– Mas é claro!

– Ótimo! Sabe como eles são?

– Sei sim.

– Bom... então vamos. Eu estava indo para esse lado e... ah... o que você está fazendo? – Ele perguntou quando Luna sentou no chão e começou a desamarrar as botas.

– É melhor irmos descalços. Tentarmos não fazer nenhum barulho para podermos acha-los mais fácil.

Luna tirou as botas, guardou na mochila e se levantou, enfiando os pés na terra e mexendo os dedos. Rolf a observava encantado com sua simplicidade e autoconfiança combinadas.

– Não vai tirar os sapatos?

– Vou, claro. – Ele se sentou no chão também e arrancou as botas. – É uma ótima ideia, na verdade, quanto menos barulho melhor.

– Exato.

Ela saiu andando na frente e Rolf prontamente a seguiu, ainda sorrindo. Os dois andaram cada vez mais floresta adentro, no silencio, atentos a qualquer barulho, qualquer pequeno movimento e intimamente torcendo para não serem picados por nenhum billywig. Andaram por horas e horas até que a noite começou a cair e o tempo a esfriar gradativamente.

– Luna, acho melhor voltarmos logo.

– É. Também acho. Aposto que isso aqui fica cheio de narguilés à noite.

– É. Deve ser. – Ele riu baixo. – Acho melhor aparatarmos. Você está hospedada em algum hotel aqui?

– Estou em um pub. Podemos aparatar lá.

– Ok. Onde fica esse pub?

– Eu te mostro, vem. – Ela lhe estendeu a mão, que Rolf segurou prontamente e com um estalido forte no meio da floresta eles desapareceram.

A pequena rua em que aparataram já estava escura e relativamente silenciosa em comparação com os zumbidos e zunidos da floresta. Andaram mais um pouco até a porta de um pequeno pub escuro e não muito limpo, iluminado por uma fraca luz elétrica.

– Hum... é seguro você ficar aqui? – Rolf perguntou quando entraram, depois de observar alguns homens grandes e corpulentos no bar.

– É sim. Está perto da floresta, mas como eu disse, acho muito improvável encontrar bufadores-de-chifre-enrugado aqui.

– É. – Ele concordou. – Mas também tem essas pessoas meio... estranhas. – Completou se virando para Luna e olhando diretamente para os olhos arregalados dela. Ele soltou uma curta risada.

– Não tem problema. Eles não parecem perigosos. E se forem eu posso me defender. Eles são todos trouxas, sabe. Onde você está hospedado?

– Num chalé perto da praia.

– Uma vez eu fiquei em um chalé perto de uma praia. – Ela disse vagamente.

– Mesmo? Onde? Aqui na Austrália ou... aliás, de onde você é?

– Inglaterra. Você também.

– É, eu também. – Ele sorriu. – Então... gostou do chalé perto da praia onde ficou?

– Ah, o Chalé das Conchas era bem agradável. Bill e Fleur são bem legais também.

– Quem?

– Bill e Fleur Weasley, os donos do chalé. Nos receberam bem.

– Ah... ficou lá para alguma outra viagem?

– Ah não, fiquei lá quando conseguimos escapar do porão dos Malfoy.

– O que? – Rolf perguntou arregalando um pouco os olhos.

– É. Durante a guerra. Eu fiquei alguns meses presa lá junto com o senhor Ollivanders, mas Harry, Ron e Hermione apareceram e conseguimos fugir com ajuda do Dobby.

– Harry... o Harry Potter?

– É.

– Você o conhece?

– Sim. É meu amigo. Ele, Gina, Ron, Hermione, Neville.

– Legal! Ei... Luna Lovegood... Lovegood... você não invadiu o Ministério com eles anos atrás? Saiu no Profeta, aquela coisa com “O Eleito” e tudo mais.

– É. – Ela sorriu.

– Então você realmente fez parte da guerra!

– Bom... sim.

Rolf a olhou ainda mais impressionado do que já estava antes. Ele não imaginava que alguém que parecia tão sonhadora e desatenta como ela pudesse ter feito parte ativa da guerra de anos atrás. E, sem perceber, ele passou a admirar mais e mais, se encantando por sua personalidade, sinceridade e força.

– Luna, já está bem tarde, eu preciso ir. – Ele falou depois de horas de conversa com a mulher. – Mas o que acha de nos juntarmos amanhã de novo para entrar na floresta?

– É uma ótima ideia. Você é uma companhia maravilhosa. Parece até que somos amigos.

Ele sorriu feliz, se levantou da mesa que ocupavam e se despediu dela.

– Então até amanhã, Luna.

– Até, Rolf.