– Ron! - Hermione chamou chacoalhando o marido no meio da noite. - Acorda!

– Hum... mais cinco minutos. - Ele resmungou.

– Não! Ron, a...

– Eu já vou, Hermione. Prometo que não vou me atrasar. - Ele disse puxando mais para cima o cobertor.

– Merlin, Ronald!

– Bloody hell, Hermione! O que foi? - Ele disse se sentando na cama.

– Acho que está na hora.

– Na hora de que? Eu só tenho que ir para o trabalho depois do almoço hoje!

– A Rose, Ron! Acho que ela vai nascer...

– Bloody hell! - Ele pulou da cama e correu para o lado de Hermione. - Tem certeza?

– Acho que sim.

– E agora? - Ele exclamou arregalando os olhos.

– Agora a gente vai para o Saint Mungus, Ron.

– Ok. Ok. Como?

– Ah, o que acha de irmos nos rastejando até lá?

– Hermione! Me ajuda aqui!

– Ron, é você que tem que me ajudar! - Ela disse e começou a rir.

– Hermione!

– Pega a bolsa que eu deixei pronta dentro do armário. E depois vamos pela rede de flu.

– Ok. Espera, vou pegar a mala.

– E pega qualquer roupa para eu pôr. Tira o pijama também.

Ele voltou dois minutos depois, trocado, com uma grande bolsa e um vestido na mão. Hermione se trocou rápido e Ron a ajudou a descer as escadas e entrar na lareira.

– Oi! - Ron disse para a recepcionista com cara de sono no balcão no saguão do hospital enquanto Hermione esperava em uma cadeira um pouco mais atrás.

– Hum? - A bruxa resmungou.

– A minha mulher! Nossa filha vai nascer.

– Ok. Já vou chamar alguém para levar vocês para um quarto.

– Ok. - Ele disse e ficou a encarando enquanto ela lia uma revista. - Você não vai chamar ninguém?

– Vou.

– Er... Então... Hum... Chama...

– Eu vou chamar.

– Mas...

– Ron... - Hermione o chamou.

– Já vou Hermione eu só...

– Ron!

– Já vou! Eu só...

– Ronald!

Ele se virou para ela. Hermione estava branca e com o rosto contraído. Ron correu até ela e se ajoelhou ao seu lado segurando a mão da morena.

– O que foi?

– Contração. - Ela resmungou e enterrou as unhas na mão dele. - Por que você está demorando? - Hermione perguntou olhando feio para Ron.

– A recepcionista é uma... espera, eu já venho.

– Não demora!

Ron voltou para o balcão onde a mulher continuava lendo sem nem olhar para frente.

– Oi! Será que você pode logo chamar alguém ou prefere que eu chame, sei lá, o Ministro da Magia! Por que eu conheço ele! Eu posso chamar!

– Aham.

– Aham o que? - Ele disse aumentando um pouco a voz.

A bruxa finalmente levantou a cabeça e instantaneamente o reconheceu.

– Será que pode chamar alguém para levar minha mulher para um quarto? - Ele perguntou levantando a sobrancelha.

– Tudo bem. Tudo bem. – Disse de má vontade e depois gritou por cima do ombro. - Mary!

Uma bruxa jovem e sorridente caminhou até o balcão e parou na frente da recepcionista mal-humorada.

– A mulher dele está em trabalho de parto. Leve eles para um quarto.

– Tudo bem.

Ron foi até Hermione, pegou a bolsa no chão e ajudando caminhou até o balcão mais uma vez.

– Ela geralmente não é tão mal-humorada. - Mary disse enquanto os três andavam pelos corredores do hospital.

– Mesmo?

– Não. Ela é insuportável o tempo inteiro.

Mary levou os dois até um quarto claro e fresco provavelmente devido à janela aberta para a noite arejada. Hermione se acomodou na cama e Ron sentou-se em uma poltrona e ficou a observando fixamente.

– Merlin, Ron. O que foi?

– Você está bem?

– Por enquanto sim.

– Como assim, “por enquanto”?

Hermione sorriu, balançou a cabeça, se aconchegou melhor no travesseiro e fechou os olhos.

– Mione?

– Hum?

– O que nós estamos esperando aqui?

– O curandeiro vir, Ron.

– Ok. – Ele disse confirmando com a cabeça e esfregando as mãos. – Mione?

– Hum?

– Eu acho que... que acho que eu vou pedir alguma poção lá fora para alguma enfermeira.

– Para que, Ron?

– Er... me acalmar. – Ele resmungou.

– Tudo bem, Ron. – Hermione disse rindo um pouco. – Mas não demore!
Ele saiu do quarto apressado e fechou a porta quando passou deixando Hermione tentando conter o próprio nervosismo no quarto. Menos de dois minutos depois que ele saiu sua voz encheu outra vez o quarto vinda do corredor.

– Eu só quero uma poção! Só isso! Não leva nem dois minutos para você me dar uma!

– Eu não tenho dois minutos! Eu preciso atender um paciente agora! O homem acabou de estrunchar.

Hermione suspirou fechando os olhos, se levantou da cama e foi em direção a porta.

– É só você me dar uma poção! – Ron continuou falando alto no corredor. – Isso não...

– Ron! – Hermione chamou saindo no corredor, mas não foi ouvida pelo marido que continuou discutindo com a enfermeira. – Ronald Weasley!

Ron se sobressaltou e virou para Hermione.

– O que foi? Está tudo bem? Você está bem? – Perguntou correndo até ela.

– Não! Não está nada bem, Ronald Weasley! Entra nesse quarto agora e para de gritar no meio do corredor!

– Mas, Hermione... – Ele começou, mas parou sob um olhar severo da esposa e entrou no quarto.

– Desculpe. – Hermione murmurou para a enfermeira que saiu apressada pelo corredor depois de um pequeno sorriso.

– Ronald! Qual é o seu problema? – Ela perguntou fechando a porta e voltando para a cama.

– Eu... eu só estou nervoso, Hermione.

– Eu também, mas não estou gritando com as enfermeiras no corredor!

– Ainda. – Ron resmungou e se jogou na poltrona mais uma vez.

Ele continuou encarando Hermione, esperando qualquer sinal de qualquer mudança nela para prontamente correr para seu lado, mesmo que a única coisa que pudesse fazer realmente por ela fosse segurar sua mão.

Com o passar do tempo era como se a relativa calma de Hermione fosse sendo transferida para Ronald e o nervosismo e agitação dele para Hermione, que ficava a cada segundo mais irritada e nervosa.

– Eu vou matar você, Ronald Weasley! – Ela berrou algumas horas depois quando os dois já estavam na sala de parto com um curandeiro e duas enfermeiras.

– Por quê?

– A culpa disso é toda sua! Eu vou matar você, seu legume insensível!
– Mas eu...

– Cala a boca! Eu não quero ouvir a sua voz!

Mas a pequena e rotineira discussão não demorou muito. Em poucos minutos a sala foi preenchida por um som que fez todos os outros sons morrerem. Um choro fino ecoou pela sala, um choro que foi capaz de arrancar, instantaneamente, lágrimas dos olhos de Ron e Hermione.

Rose tinha o pequeno rosto bem redondo com bochechas gorduchas. Ainda bem suja e chorando ela foi colocada no colo de Hermione, onde pouco a pouco foi se acalmando e ficando em silêncio.

E foi assim que os três ficaram por alguns minutos: Ron e Hermione com os olhos marejados, fazendo carinho na filha deitada sobre o busto de Hermione. Em silêncio, apenas sorrindo, sorrindo muito ante a perspectiva de viver nessa nova família que acabava de se formar.