Posso ser sincera? Eu odeio gente popular, principalmente garotos que tem um monte de garotas ao redor e que fica se achando o maior gostoso – o que na maioria não era – para cima dos outros. E o que estava acontecendo comigo nesse exato momento? Um deles veio puxar conversa, o que mais me falta acontecer...?

– Er... Oi. – respondo por mera educação, não quero boatos estranhos sobre eu não ser educada se espalhando pelo colégio como se fossem vírus se reproduzindo. O melhor a fazer é: responder de forma calma não prestando muita atenção nele.

– É a primeira vez que está aqui no colégio, certo? – ele pergunta tentando lançar um olhar sedutor para cima de mim. Perda de tempo, eu não sou como as outras garotas, isso não tem efeito nenhum contra uma pessoa como eu.

– Sim – respondo apenas o que ele queria saber, não havia mais motivos para complementar a resposta com frufrus como outras garotas fazem, tipo: “Você poderia mostrar para mim, por favor?” – olhinhos brilhando como se fossem diamantes, para chamar ainda mais a atenção. Eca, só de pensar nisso me deixa arrepiada.

– Eu já estudei aqui antes, quer que eu mostre o local para você? – outra tentativa de sorriso sedutor para cima de mim, quando será que ele vai parar de tentar me seduzir? Será que minhas respostas desinteressadas não estavam fazendo efeito nesse cabeça oca? Certo, eu deveria tentar de outra forma...

– Ahn, não obrigada. Os lugares básicos eu sei onde estão localizados, acho que por enquanto não precisarei de um guia. Obrigada pela proposta. – dessa vez eu olho em seus olhos avermelhados, dando um sorriso bem falso. No momento em que visualizei melhor seu rosto, uma certa agonia cresceu dentro de mim, aquela franja sobre seu olho direito começou a me irritar.

– Ah, ok então – seu tom de voz era de decepção, pelo visto eu consegui o que queria. Agora me deixe livre, por favor, que não quero mais saber de garotos populares dando em cima de mim! Principalmente quando há garotas em volta com olhares ameaçadores sobre si.

Certo, o assunto acabou, sai de perto de mim antes que eu queira cortar essa franja com minha tesoura. Se eu falasse isso em voz alta, tenho certeza que choveria garota querendo me matar. Não quero que minha vida já fique arruinada logo no começo do ano, isso não pode acontecer nunca!

– Ah! Eu não me apresentei antes, que falta de educação da minha parte – ele dá uma pausa, tive quase vontade de concordar em ele ser um mal educado, mas deixa quieto... – Sou Lupus Wild, como se chama, gata? – será que ele poderia não ter adicionado esse adjetivo para a minha pessoa? Já estava começando a irritar.

– Sou Lin Mirinae, prazer em conhecê-lo. – falo com tom de desinteresse na voz, voltando minha atenção para minha bolsa, procurando achar algo interessante nela mesmo sabendo que continha apenas um estojo e um caderno de vinte matérias.

– Bem, se precisar de ajuda é só me chamar que virei rapidamente. Até depois, Lin – sabe, tive vontade de rir quando ele tentou dizer meu nome com um tom de voz sedutor, calma, respira Lin... Eu até esqueci de responder dizendo que não precisaria de ajuda, mas sei que seria inútil.

Vejo ele voltar para o grupinho de garotas que agora comemoravam a volta do ídolo. É, como pensei, eu nunca serei como elas, não tem como. Prefiro morrer de overdose do que cair de amores por um cara popular, credo. Em meio de meus pensamentos, ouço uma voz vindo do corredor ao meu lado.

– Com licença... Posso me sentar do seu lado...? – a garota loira de antes pergunta, apontando para a carteira ao meu lado. Por que eu iria recusar? Melhor uma menina ao meu lado do que um garoto como o Lupus de antes.

– Ah, claro. Fique a vontade – dou um sorriso de leve, vendo a garota acenar com a cabeça enquanto se acomodava ao meu lado. – Meu nome é Lin Mirinae, posso saber o seu? – pergunto no momento em que ela se sentou.

– Sou Lire Eryuell, prazer em conhecê-la! Espero que possamos nos dar bem daqui para frente como companheiras de carteiras ou como amigas. – ela deu um largo sorriso enquanto colocava a bolsa sobre suas pernas. Depois dessa pequena apresentação, começamos a conversar sobre coisas aleatórias.

Nem percebi que a sala começou a encher e o sinal já havia tocado, só me dei conta na hora em que um velho barbudo e estranho entrou no local com um olhar sério sobre a classe. Parecia que ele fitava cada um de nós com intensidade, quando entrei em seu campo de visão quase não consegui respirar de tanta pressão que seu olhar fazia.

– Alunos, vocês devem ir à quadra principal. O diretor quer dar uma palavrinha antes da aula começar. Dirijam-se em fila até o local e não empurrem um ao outro. – a voz dele era rouca e parecia vibrar na minha cabeça. Agora fiquei tensa, o que será que o próprio diretor quer falar com os alunos? Acho que não seria coisa boa...

Todos formavam uma grande fila, saindo pela porta acompanhados pelo olhar do professor que vigiava se alguém descumpria sua ordem de não empurrar. Eu e Lire fomos umas das últimas pessoas a saírem da sala, percorrendo o longo corredor até as três quadras que tinha na escola.

Em um palco improvisado na quadra principal havia um homem de cabelo comprido e loiro, o modo em que estava vestido – brega, por sinal – tinha um ar impotente e superior ao seu redor, o que eu soube na hora que era o diretor. Como não havia muitas cadeiras por conta da quantidade imensa de alunos, eu e minha nova companheira de classe ficamos de pé no final da quadra.

– Sejam bem-vindos alunos. Eu sou Grandiel, o diretor desse colégio e darei um pequeno discurso... – correção, longo discurso. Nunca em minha vida eu vi um diretor falando pouco. Bem, como eu sei que isso vai demorar, melhor eu colocar meus pensamentos e outras coisas em dia, boa noite Lire e pessoas em minha volta...