Cartas De Romeu E Julieta escrita por ariiuu


Capítulo 1
O Montecchio prepotente


Notas iniciais do capítulo

Como já disse nas notas da história, são quatro capítulos. Então espero que gostem de ler algo acima de quatro mil caracteres, por que eu realmente tenho problema em escrever coisas curtas...
Divirtam-se.



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Cartas de Romeu e Julieta


O Montecchio prepotente


Já era onze e dez da manhã e Nami assistia à penúltima aula na sala de matemática, que também era a sala de química, física e biologia. A matéria dada se resumia a Equações Polinomiais, porém, aquela explicação pouco lhe interessava. Estava exausta por causa das últimas semanas trabalhando no projeto de Geografia, e prova disso era o quanto se sentia tentada a dormir ali mesmo, afinal... Por que se sentaria na última carteira no canto direito da sala ao lado da janela se não fosse para tirar um cochilo...?

E foi o que ela institivamente fez, porém... O professor Smoker já havia lhe pegado em seu suposto cochilo.

– Senhorita Nami...?

– Sim...? – A ruiva respondeu automaticamente enquanto manteve os braços cruzados em cima da carteira, apoiando a cabeça por cima. Os olhos estavam perfeitamente fechados.

– Precisa de um travesseiro...?

– Seria ótimo... – Replicava sonolenta, porém logo despertou inesperadamente após ouvir as risadas de todos os alunos que observavam a cena.

– Aah...! – Olhou ao redor constrangida, a ponto das bochechas enrubescerem espontaneamente.

– Que isso não aconteça mais... – O professor paciente advertiu e logo se afastou.

Nami se encolheu na carteira, ainda se sentindo envergonhada por ter cochilado, mas um pouco indignada, afinal... Quem nunca dormiu em sala de aula...?

A ruiva apanhou o lápis que se encontrava ao lado de seu estojo e passou a escrever coisas na carteira.


“Eu odeio essa escola!”


O sinal bateu logo em seguida e todos arrumaram seus respectivos materiais em suas mochilas.

Nami foi a última a sair da sala e chegando no corredor, se infiltrou no meio daquela aglomeração de alunos, indo na direção de outra sala.

– Nami!!! – Uma voz feminina se sobressaiu na multidão.

– Vivi!? – A ruiva automaticamente respondeu à garota que estava bem à sua frente, mas sendo empurrada abruptamente pela multidão.

– Me encontre no final da aula lá no pátio perto da cantina! Precisamos arrumar algumas do projeto! – A azulada redarguiu em alto tom, se sentindo espremida.

– Ok. Me espere lá!


******


– Cara, que mania que você tem de se sentar na última carteira... Isso tudo é medo das suas fangirls...?

– Não. Apenas acho que este é o lugar mais calmo de todas as salas. Minha capacidade de concentração aumenta quando sento aqui. E não diga isso como se fosse o único que tivesse fangirls aqui. –Trafalgar Law respondia friamente a pergunta de um de seus colegas de classe, o esverdeado Roronoa Zoro. Os dois haviam chegado à sala antes dos outros alunos.

– É muito simples se livrar de todas elas... – Zoro retorquiu ousado.

– É mesmo...? Como...? Saindo correndo e se perdendo no caminho como você sempre faz...? – Law rebatia incivil enquanto ajeitava o material que usaria nas aulas de sua matéria favorita: Biologia.

– Não. É só arrumar uma namorada.

Trafalgar o encarou seriamente de canto. Ele estava mesmo dizendo aquilo...?

– Queria entender por que você mesmo não usa seus próprios métodos...

– Por que não preciso uma namorada. – O esverdeado redarguiu amargo.

– E o que faz pensar que eu preciso...?

– Só assim essas dementes te darão um tempo...

– Eu não creio que uma namorada as afaste. Então seria perda de tempo, fora que não estou interessado em relacionamentos. – Replicou ríspido.

– Você é bem esquisito... – Zoro o criticou com um sorriso petulante.

– Esta não é uma exclusividade só minha... – O moreno finalizou, para logo depois terminar de ajeitar os livros em cima da carteira, porém... Algo lhe chamou atenção. Uma frase estava escrita de forma rasurada na carteira, cuja caligrafia era péssima...


“Eu odeio essa escola!”


Law sorriu de canto ao ler a frase idiotamente estúpida.

Então o mesmo abriu o estojo, apanhou uma lapiseira e respondeu a tal frase.


“Peça transferência.”


– Perfeito.– Ele pensou ao escrever e observar sua grafia, comparando com a da pessoa que escreveu aquela frase. Logicamente a sua letra era simetricamente melhor. Quem teria uma letra tão horrível como aquela? No mínimo devia ser um daqueles jogadores do time de futebol da escola, cujo futuro se resumiria em ser reprovado e ter de trabalhar numa loja de ferragens para ganhar um salário mínimo após não se formar no ensino médio. Então ele se casaria com a namorada que provavelmente é uma das líderes de torcida piriguetes do time e ambos teriam uma porção de filhos catarrentos e problemáticos. E então a vida sem graça e amarga faria com que o mesmo virasse um alcóolatra que viveria num boteco, reclamando para o garçom sobre a enorme barriga de Chop e a mulher que se casou tendo relações extraconjugais com seus colegas da época de colégio.

Um futuro totalmente diferente do dele, que em poucos meses entraria para a melhor Universidade de Medicina do Estado e se especializaria na área de Cirurgia. Tudo o que ele sempre sonhou.

Após tal raciocínio, todos os alunos entraram na sala quase juntos e muitas garotas começaram a gritar histericamente após notarem o moreno.

– Traffy-Kun! Você sempre chega primeiro!!! – Uma loira chamada Kaya gritava.

– O Senpai fica tão lindo quando está concentrado!!! – Margaret, outra loira dizia enquanto corava de vergonha.

– Eu posso sentar do seu lado!!? – Camie, uma garota de cabelos curtos esverdeados indagava de forma atirada.

– Não! Quem vai sentar do lado dele sou eu!!! – Outra loira, mas que se chamava Conis protestava.

– Não! Eu é que vou!!! - Outra garota, mas de cabelos negros chamada Tashigi gritava de volta.


E todas as garotas começaram a se pegar, fazendo um redemoinho de fumaça na briga pela carteira ao lado da que Trafalgar Law se encontrava sentado.

O moreno apenas ignorou o suposto pandemônio e voltou a estudar.


******


– Hã...? – Foi a única coisa que Nami disse ao ver que alguém havia supostamente respondido sua queixa do dia anterior. A ruiva acabara de chegar à sala e automaticamente procurou pelo último lugar novamente, afinal, odiava matemática.

– Peça transferência...? Quem escreveu isso...? – Ela olhou ao redor, porém todos os seus colegas de classe pareciam dispersos demais para terem feito algo como aquilo.

– Deve ter sido alguém de outra turma... Mas... – A ruiva abriu a mochila, retirou o estojo do local, o abriu e pegou o lápis logo em seguida, respondendo ao que haviam escrito.

“Eu estava ironizando. Burro foi quem não entendeu.”

E que letra tão perfeita era aquela...? Provavelmente o dono daquela caligrafia tão impecável devia ser de uma daquelas típicas nerds feiosas que usam óculos para miopia no estilo fundo de garrafa e provavelmente aparelho ortodôntico para nivelar os dentes. Elas são tão mal amadas que não admitiam ser derrotadas por nenhum aluno nas provas e trabalhos, sempre tirando dez em tudo e fazendo com que seus nomes ficassem estampados no topo das listas de melhores notas no final dos bimestres. O futuro de uma nerd como aquela, provavelmente seria prestar uma prova para a melhor faculdade do Estado e pegando o primeiro lugar na área de Exatas. Então ela teria de viver para o trabalho, sem direito a curtir a vida, ficando para titia, assistindo filmes de romance sozinha nos fins de semana, sonhando com um príncipe encantado que nunca chegaria e encomendando cremes para rugas com as colegas de trabalho durante o expediente.

Diferente dela que estava há poucos passos de ganhar uma bolsa de estudos no curso de Meteorologia e aprender a coisa que mais amava: A ciência que estuda o tempo. Ela iria para a faculdade, faria novos amigos, participaria de todos os projetos em grupo e de vários clubes, além de curtir a vida do seu jeito, aproveitando tudo o que tinha direito.


******


– Ironizando...? – Law arqueou uma sobrancelha ao ver que a pessoa de antes respondeu a sua resposta.

O moreno não aguentou e acabou escrevendo:

“Fracassados sempre se queixam sobre o colégio. Por que você não larga os estudos de uma vez e poupa trabalho para os professores e a frustração para si mesmo?”


******


– Fracassados...? – A ruiva franziu o cenho em resposta, completamente irritada com aquela resposta arrogante.

“Por que não se muda para uma escola de padres e freiras e poupa o constrangimento da futura solteirice? Assim seus parentes se sentiriam menos envergonhados por terem alguém tão mal amado como você na família.”



E automaticamente, ambos passaram a se corresponder diariamente, com as siglas GL e CM na frente.

GL = Gata Ladra. É um apelido que Nami tinha desde criança por pegar coisas rapidamente sem que fossem vistas.

CM = Cirurgião da Morte. É o apelido que Law tinha desde criança por ser pego dissecando sapos perto do lago que havia próximo da casa de seus pais no interior.



CM: “Solteirice...? Alguém que provavelmente vai acabar numa clínica de reabilitação se lamentando com outros dependentes sobre gordura localizada e as traições do cônjuge não pode argumentar sobre ser mal amado, não acha...?”


GL: “Gordura localizada!? O mínimo que um ser humano dentro dos padrões pode fazer é ter uma dieta saudável e manter exercícios físicos constantes para manter o corpo sadio e ter mais disposição! Aah, mas você deve ser o tipo de pessoa que se preocupa mais com os estudos do que com a aparência, não é mesmo...?”


CM: “Daqui há alguns anos o seu sedentarismo falará por si mesmo.”


GL: “Só pra constar, eu não tenho tendência a engordar. E se quiser tirar a prova, faço questão que venha no vestiário feminino depois da aula de Educação Física da turma do Terceiro ano B, ok?”


CM: “Vestiário feminino? Quer dizer que além de burro e fracassado ainda é um retardado que espia garotas tomando banho...?”


GL: “Do que você está falando sua idiota!? Eu sou MULHER!”


CM: “Por que disse ‘sua’? Está pensando que sou mulher? Espere aí... Você é mulher...? Eu estou discutindo com uma mulher, é isso...?”


GL: “E eu estou discutindo com um homem!?”



No momento em que ambos souberam que o tal jogador fracassado era um mulher e a tal nerd mal amada era homem, a coisa mudou de totalmente de rumo.


CM: “Quanta futilidade... O que garotas como você fazem nessa escola além de se exibir...? Aliás... Você deve ser um verdadeiro cavalo, já que a forma como escreve é agressiva e desaforada, por que normalmente garotas agressivas são feias e descontam suas frustrações de baixa autoestima e problemas antissociais em tudo e todos. Aposto que você já foi rejeitada pelo cara mais feio da escola, então desde o início a mal amada aqui sempre foi você.”


GL: “O quê!? Como você pode fazer todo esse pré-julgamento sem ter me visto!? O que faz você pensar que apenas com o que escrevo é capaz de adivinhar minha aparência!? Mas eu já saquei tudo... Na verdade tem ódio das mulheres, não é...? Com certeza você é gay! Eu estou perdendo meu tempo discutindo com um gay frustrado que foi chutado por todos os caras e acha que a culpa é das mulheres, não é!?”


CM
: “Eu não sou gay, mas se você fosse a última mulher da face da terra seria obrigado a ter que virar...”


Após ler a última frase que o misterioso ogro lhe deixara, Nami sentiu sua face esquentar a ponto de sair fumaça.

Vivi havia acabado de entrar na sala.

– Nami estamos atrasadas para o... – A garota alargou o olhar ao notar o quanto a ruiva estava vermelha e soltando fogo pelas ventas.

– O que aconteceu...? E por que a sua carteira está toda rabiscada...? – A azulada indagava duvidosa. Porém Nami apenas articulou frases sem sentido naquele momento.

– Quem esse sujeitinho atrevido pensa que é...? Não vou mais escrever nada aqui, por que a partir de agora... – Ela deu uma pausa sombria. Uma gota pôde ser vista na testa de Vivi ao ver a cena e não entender nada.

– A partir de agora eu lhe enviarei bilhetes! Muitos bilhetes! O meu supremo dom em nunca perder uma discussão será usado diariamente!!! Ahahahahahaha, eu vou humilhá-lo todos os dias, a ponto de o mesmo perder sua autoestima e pedir transferência dessa escola!!! Ahahahahahaha!!! – Ela ria freneticamente de forma horripilante e cada vez mais Vivi achava que o projeto de Geografia estava interferindo seus neurônios.



******


Quando Law havia chegado para o começo da aula de química, percebeu que a carteira estava limpa, porém, havia uma única frase.

“No final da aula vá ao último armário do lado direito no fim do corredor entre as salas e abra a porta debaixo. A chave está embaixo da carteira. Não a perca!”

Law estranhou aquilo. Se perguntou o que aquela garota maluca que nunca viu em sua vida estava planejando. Mas... Ele confessava para si mesmo que aquele joguinho estava ficando interessante...



******



Por semanas os dois se corresponderam através de bilhetes que automaticamente viraram cartas... Cartas compridas e cheias de ofensas, recheadas de sarcasmo e ousadia. As cartas eram secretamente deixadas dentro do armário do corredor entre as salas de aula. Os dois continuaram se correspondendo sem parar.

Nami estava disposta a manter seu orgulho intacto, ainda que fosse com um desconhecido que não merecesse suas palavras. Estranhamente ela se sentia instigada a escrever todos os dias para ele, ainda que fosse para discutirem. Mesmo sendo um gay idiota e frustrado, ele parecia ser extremamente inteligente... E de certa forma um sujeito bem engraçado...

Law estava vendo naquelas cartas a forma perfeita de se divertir no meio das aulas. Sua rotina era cansativa, mas era extremamente excitante brigar com aquela garota através das cartas, e algo que não estava disposto a parar, pois 99,9% das garotas do colégio eram fangirls que corriam freneticamente atrás dele, mas... O cavalo desaforado era uma garota que não estava nem um pouco interessada em correr atrás dele e sim dar seus coices através de palavras.


******


GL: “Hoje não terei tanto tempo de dizer o quanto você é um maldito idiota insuportável. Tenho que terminar meu projeto, pois meu futuro depende disso...”


CM: “É mesmo...? E o que você fará no futuro...? Será a dona de um salão de beleza cuja especialidade é fazer escova progressiva em mulheres que sonham ter cabelos lisos...?”


GL: “Isso mesmo! Você acertou! Quando inaugurar, eu te dou o endereço pra que você venha fazer depilação a laser com desconto. Imagino que seus parceiros sexuais agradeceriam...”


CM: “Seria ótimo, mas isso se eu tivesse parceiros sexuais, contanto, tenho uma porção de candidatas. Eu poderia leva-las no seu futuro salão. Assim você teria uma ótima clientela, sem correr riscos de falir logo no primeiro mês...”


GL: “Não... Definitivamente isto não está nos meus planos... Mas não se preocupe. Quando me formar aqui, irei para a melhor faculdade do estado, cursar o que sempre sonhei... Depois de alguns anos sairei imediatamente do país para trabalhar com o que mais amo, então a memória das cartas servirá apenas como uma lembrança ruim do último ano do ensino médio.”


CM: “Eu pensei que estava sendo especial para você, já que provavelmente eu sou o único homem com que você conversa intimamente, não é mesmo...? Mas para onde você vai...? Voltar para o seu planeta...?”


GL: “Acredite... Você não é o único homem com quem eu converso intimamente. Eu irei para um instituto de meteorologia na Austrália e pegarei muita experiência por lá. Então voltarei para cá para trabalhar como apresentadora meteorológica numa emissora de TV e com o passar dos anos conhecerei meu futuro marido. Nos casaremos e construiremos uma casa do lago no interior, onde criaremos nossos filhos e seremos muito felizes para sempre.”


CM: “Isso foi muito profundo, e você como sempre, muito irônica...”


GL: “Não é ironia. É a verdade. São os meus planos... Por que não me conta os seus...?”


CM: “Certo... Eu também sairei daqui e irei para a melhor faculdade do estado. Vou estudar medicina pelos próximos sete anos e provavelmente terei emprego em qualquer lugar que escolher para viver. Nesse meio tempo acabarei me reencontrando casualmente com você e então me convidará para um encontro. Você dirá nesse encontro que a brincadeira das cartas foi divertida e que acabei balançando o seu coração naquele tempo, o que fez com que se apaixonasse por mim. Então você irá se declarar e eu logicamente irei recusar seus sentimentos, já que você não tem modos e provavelmente é feia...”


GL: “Você fala de beleza física como se ela fosse a mais importante. Seria irônico se você se casasse com a pessoa mais linda do mundo e fosse infeliz... E por que raios acha que algo em você me balança...? Onde é o ponto que estão vendendo LSD nessa escola? Por que no mínimo você deve ter passado lá hoje de manhã...”


CM: “Se realmente vendessem LSD aqui, eu diria propriamente que você é uma usuária assídua, mas acho que o LSD já está presente no seu sangue, já que você está drogada na maior parte do tempo em que escreve essas cartas... E você mencionou ‘balança’ no presente? Quer dizer que isto já está acontecendo...? Interessante...”


GL: “Você não acha que se realmente estivesse apaixonada, eu não teria dado um jeito de descobrir quem você é...?”


CM: “Não sei, mas talvez você queira manter o mistério por que gosta disso...”


GL: “E você não...?”


CM: “Quem sabe...”


GL: “Já chega por hoje. Tenho que ir para o anfiteatro experimentar a roupa de ‘Morte’ da peça de teatro.”


CM: “Certo, então até amanhã, mulher das cavernas...”


GL: “Por que você insiste tanto que sou feia...?”


CM: “Você é mesmo muito devagar...”


GL: “Como assim...?”


CM: “Eu estava sendo irônico...”



Ao terminar de ler a carta, Nami se surpreendeu. Já havia se passado três meses que os dois se correspondiam e era inegável que de certa forma...

Ela havia se apegado à ele mesmo sem conhece-lo.

– Idiota... – A ruiva praguejou baixinho, porém com um leve sorriso nos lábios.



******


No outro dia, Nami estava empenhada nos ajustes finais de seu projeto de Geografia junto com Vivi. As duas estavam no pátio arrumando tudo, juntamente com outros alunos que também faziam seus respectivos projetos. Mas ela estava vestida de uma forma completamente diferente, já que participaria de uma peça de teatro na escola onde faria o papel da Morte. A tarde haveria um ensaio.

Os trajes basicamente eram: Um sobretudo negro com capuz largo, uma blusa preta um pouco decotada, short jeans curto e coturnos na tonalidade preta. A maquiagem levemente sombria. Os longos cabelos ruivos estavam soltos e envolvidos pelo capuz, fazendo com que seu rosto não ficasse muito exposto. A foice da morte estava encostada na parede logo atrás das duas. Antes de partir para o ensaio, ela e Vivi ajustavam uma maquete que parecia ser o projeto de Geografia.

– Hey Trafalgar, aqui está a pesquisa que havia me pedido antes. Acabei de sair da biblioteca. – Zoro se aproximava do moreno que acabara de chegar no pátio para trabalhar em seu projeto. Porém... Quando o mesmo olhou para frente, notou algo que lhe chamara completamente a atenção.

A figura de uma garota vestida com trajes negros e o mais intrigante...

A foice logo atrás dela... O objeto principal que caracterizava a Morte.

GL faria o papel da morte numa peça de teatro... E naquele momento havia uma garota vestida totalmente de preto, acompanhada de uma foice logo atrás... Foi então que ele concluiu que...

Aquela era a misteriosa garota ao qual trocara cartas por três meses.

A observou cautelosamente de longe, quando repentinamente ele ouviu algo que fez com que uma forte onda de eletricidade percorresse por todo o seu corpo... Mais forte e intenso do que qualquer outra coisa que já havia sentido...

A voz dela... Tão fina e graciosa como a de um anjo...

Por um momento ele precisou se conter. Conter o impulso de se locomover rapidamente e encará-la com mais precisão e certeza...

Completamente espantado, era como ele se encontrava naquele momento... Por que ela...

Era muito mais do que ele havia idealizado...

Teve de matar violentamente a imensa vontade de cerca-la e dizer quem ele era, porém...

Ainda não era a hora...

O moreno sorriu de canto, satisfeito por ter contemplado aquela imagem tão perfeita, mas insatisfeito por ter de sufocar o forte anseio de correr e abraçar intimamente a sua misteriosa...

GL...



******


CM: “Eu adoraria discutir com você hoje, mas ficarei ocupado nas próximas três horas com o maldito projeto de um amigo. Ele quer fazer uns testes com aparelhos aeróbicos e precisarei ceder metade do meu corpo para isso... Mas não fique com ciúmes... Logo estarei aqui de novo... Pra você...”


A ruiva terminou de ler a carta e ao mesmo tempo que sorriu, sentiu uma constrição no estômago. Aquela ousadia e atrevimento havia completamente lhe envolvido... Era nítido o quanto estava se sentindo atraída por ele, apenas com aquelas cartas... E internamente ela se perguntou...

Se ele também sentia o mesmo.

Ela amassou o bilhete e jogou na lixeira mais próxima que encontrou. Após isso, passou a subir as escadas para o terceiro andar. Havia alguns acessórios do cenário da peça para levar para o anfiteatro. Logo ela passou a andar pelo corredor rumo à sala onde tudo estava guardado.

Nesse tempo, Nami ouviu ruídos.

Havia algumas salas naquele andar onde as janelas do corredor estavam com as frestas abertas. Um barulho de máquinas pôde ser ouvido perceptivelmente e duas pessoas estavam ali.

Curiosa, ela se aproximou e afastou as dimensões de uma das janelas.

Foi então que bizarramente, um garoto com um capacete na cabeça pôde ser visto e vários fios estavam grudados em seu torso.

Ele estava sem camisa.

Havia uma porção de tatuagens nele. No peitoral, ombros, antebraço e até as mãos... Ela nunca havia visto nada igual...

– Já terminou...?

– Pare de reclamar e apenas faça o que eu te peço! Essas máquinas estão há um tempo na academia do meu irmão e ele cedeu para o meu projeto! Esse capacete serve para medir ondas cerebrais que captam o nível de adrenalina liberado em seu corpo. Você quer ser médico, mas não sabe que é o cérebro que controla o corpo!?

– É claro que eu sei que é o cérebro que controla o corpo... Só não sei se o seu cérebro faz isso com você... – O rapaz replicou sarcástico e Nami se espantou com o que ouvira por cinco motivos:

1- Um rapaz estava cedendo seu corpo para o experimento de um projeto e somente metade dele estava sendo analisado... Exatamente como CM havia escrito no bilhete.

2- Aquela frase soou muito como uma resposta que somente ele daria...

3- O garoto quis dizer que o outro quer ser médico...

4- A voz dele... Céus... Era tão sexy, rouca e sedutora, que só de ouvi-la uma única vez, a ruiva sentiu um arrepio percorrer por toda a sua espinha a ponto de sentir todos os pelos eriçarem.

5- Embora não pudesse ver seu rosto por que estava envolto de um capacete, o seu porte físico era extasiante e... Ela não estava conseguindo raciocinar muito bem e aos poucos começou a ficar nervosa... Mas não havia dúvidas... Aquele com toda a certeza era...

Seu misterioso e irritante...

CM...



******


CM: “Faz poucos meses que trocamos bilhetes, mas nunca perguntei sobre o que você gosta e não gosta... Por que não me diz...?”


GL: “Bem... Se for para falar do que não gosto, é fácil... Eu não gosto de você! Mas há uma lista gigante sobre coisas que gosto... Por exemplo... Hmmm... Passar pelo parque que fica atrás da escola de manhã. Os raios solares mais delicados contornam as folhas das árvores em tons neutros e a vista se torna tão incrível como o de uma linda pintura num quadro. Também gosto do vento em manhãs de primavera... A brisa acaricia as delicadas pétalas, fazendo com que as flores soltem seu perfume... É tudo muito mágico e perfeito... Mas há coisas mais simples que também gosto, como a minha matéria favorita que é biologia... Embora também ame geografia... Também gosto de laranjas, barras de chocolate, filmes de terror, jogar fliperama, andar de bicicleta, fazer compras, nadar, jogar cartas, acampar com os amigos, dançar, ir à praia em dias de verão e jogar frescobol, colecionar cartões postais, pegar o metrô vazio nos fins de semana, música ao vivo, TV à cabo, internet rápida, pegar um cinema e ganhar dinheiro... Ou ficar em casa sozinha ouvindo Led Zeppelin, Pink Floyd, Motörhead e Rush no último volume... Uffa... Será que disse tudo...?”


CM: “Você fica em casa sozinha dançando aos solos do Jimmy Page...? Isso deve ser interessante...”


GL: “É claro que eu não danço! Eu imito meus guitarristas favoritos, mas fazendo Air Guitar, por que acho feio imitar com a vassoura...”


CM: “Eu devo te dizer que uma garota que faz tudo isso é classificada como uma raridade nos dias de hoje... Tem certeza que você existe...?”


GL: “Eu existo. Acredite...”


CM: “Se você existe, por que não nos encontramos de uma vez...?”


GL: “Não acha que é muito cedo pra isso...? E em vez de comprovar minha existência, por que não me diz do que você gosta e não gosta...?”


CM: “Certo... Eu não gosto de tumultos e garotas fúteis e atiradas. Também não gosto de pão, pessoas inconvenientes e fracassadas, programas sensacionalistas, filmes de comédia, dicionários, dias quentes, piscinas e trânsitos congestionados.”


GL: “Esqueceu de me incluir na lista de coisas que odeia...? Mas afinal... Do que você gosta...?”


CM: “Eu gosto do inverno, principalmente quando a temperatura fica abaixo de zero. Gosto de sentir o vento gelado invadindo meu espaço e batendo no meu rosto. Ou quando os flocos de neve desfocam a paisagem e pintam o chão de branco, junto com a neblina densa... Gosto de dias chuvosos... Adoro o barulho da chuva quando as gotas batem no vidro do meu carro... Também gosto de dirigir em estradas desconhecidas, fazer trilhas, escalar montanhas, contemplar o pôr do sol no alto de um penhasco... E sobre coisas mais simples... Minha matéria favorita também é biologia... Também gosto de ursos polares, sorvete, ler, dissecar anfíbios, jogar sinuca, esgrima, colecionar quadrinhos e objetos estranhos, roupas largas, RPG, shows de heavy metal, videogame, café, motocross, palestras sobre medicina, tatuagens, e por último e mais importante... Você...”



GL: “Muito engraçado. Seu sarcasmo alcançou as alturas da estratosfera... Mas não vai levar o óscar. Para tal você precisaria virar ator. Mas já pensou em desistir de medicina e cursar artes cênicas...? A primeira peça de teatro que te colocariam seria em Romeu e Julieta. Acho que você leva jeito pra isso...”


CM: “Por quê...? Está insinuando que secretamente virei o seu Romeu...?”


GL: “Mas é claro! Tendo você como Romeu, eu me mataria igual a Julieta!”


CM: “E de Julieta você evoluiria para a Noiva Cadáver.”


GL: “Antes noiva cadáver do que ser a Julieta de um Romeu sádico e oportunista.”


CM: “Como sabe que sou oportunista...? Estou mesmo esperando a melhor oportunidade para te mostrar que tudo o que digo é verdade...”


GL: “Verdade do tipo em que você diz gostar de ver o pôr do sol do alto de um penhasco...?”


CM: “Verdade do tipo em que não consigo mais suportar a imensa vontade de te encontrar...”


GL: “Você não pode se apaixonar por mim por que pode se machucar, sabia? Mas talvez se você tiver um seguro de vida...”


CM: “Quem poderia se machucar é você, já que possui centenas de concorrentes...”


GL: “O que me torna uma concorrente...? E o que faz você pensar que estou interessada...? E eu não acho que tenha centenas de concorrentes, por que pra gostar de uma pessoa com um gênio tão ruim, só estando louco ou muito necessitado... Ou drogado... Ou bêbado... Ou ter batido a cabeça... Ou tudo isso junto... Mas de qualquer forma, eu te odeio e isso seria impossível de acontecer.”


CM: “Esse suposto ódio se deve à um único motivo...”


GL: “E qual seria...?”


CM: “Você me odeia por que me ama...”


GL: “Ahahaha!!! Essa piada foi muito boa! Agora te aconselho a trabalhar num circo!”


CM: “Em vez de sempre escrever algo pra disfarçar o constrangimento, por que não nos encontramos logo...? Que tal o baile de máscaras da escola...? É uma ocasião perfeita...”


GL: “Ia responder que iria pensar, mas depois de me desafiar eu aceito! Vou te provar que não estou disfarçando nenhum constrangimento. Sugiro uma aposta!”


CM: “Uma aposta...? Um encontro que virou uma aposta...? Ótimo. Se eu provar que está apaixonada por mim, eu ganho a aposta...”


GL: “Certo. E se eu ganhar, você me pagará mil pratas. O que acha...?”


CM: “Feito. Mas se eu ganhar, você terá que me pagar outra coisa...”


GL: “Que coisa...?”


CM: “Um beijo...”


GL: “Um beijo!? Mas isso é ridículo! Tem certeza que sou eu quem está apaixonada...?”


CM: “Já parou para pensar que você pode ser apenas mais uma garota com quem eu sairia nessa festa...? Posso estar curtindo com a sua cara até agora apenas para aumentar a minha lista de mulheres com quem já fiquei. Mas isso é apenas uma possibilidade...”


GL: “Isso... Você perdeu três longos meses curtindo com a cara de uma garota com quem você quer sair só para aumentar a lista de ficantes... Faz muito sentido... Mas isso também é ótimo! Posso arrancar as mil pratas sem dor na consciência!”


CM: “Ou perder a aposta ao se apaixonar...”


GL: “Mas eu já não estava apaixonada...? Quer dizer que ainda vou ficar...? Nossa... Suas afirmações são tão sólidas quanto as propostas de campanha de um político...”


CM: “Isso não importa. Vai aceitar ou não...?”


GL: “Feito. Já vou começar a planejar o meu fim de semana do final do mês, pois terei mil pratas para gastar!”


CM: “Eu não teria tanta certeza... Julieta...”


GL: “Isso é o que nós vamos ver... Romeu...”


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Notas finais do capítulo

E no próximo o tão esperado encontro dos dois. Isso ainda vai render muita discussão, mas um envolvimento único :)
Até o próximo ^/