E então,como foi o seu dia?
O Joel sempre me faz as mesmas perguntas e eu sou obrigada a lhe dar a mesma resposta de sempre.

Não quero falar sobre isso. Repito o meu discurso corriqueiro, no tom seco e indiferente que ele já está acostumado a ouvir. Às vezes penso que quer me vencer pelo cansaço.Apesar de me aborrecer com esses tipos de perguntas,não me importo quando feitas pelo Joel, outra pessoa e eu o deixaria ali na rua sozinho, mas o Joel é o meu amigo,meu irmão e eu o amo.

O que vai querer comer? Mudo de assunto como sempre.
ah,bom,eu não sei... Do que você gosta?
Inclino-me pro seu lado, forçando-o a parar. Olhando agora para ele, eu lembro de casa...
Retorno a caminhar a seu lado.

O que você escolher pra mim tá bom. Respondo meio sem graça. Sempre cuidando de mim,Joel.

Que tal a Mc?
Ah,não! Mc não!Rejeito a ideia articulando negativamente com as mãos. Engraçado que logo quando cheguei aqui, fiz da Mcdonald's a minha segunda casa. Eu to evitando ao Maximo essas coisas gordurosas. Tenho um trabalho na quinta e o cliente exigiu uma garota magra.
Cliente? Achei que não fosse modelo, alias,foi você mesma quem me disse isso.
Ah...!Bom...Bem,eu... Droga!Minha nossa! Mas que merda eu devo dizer a ele agora?
Bom,Joel eu não sou bem uma modelo... As pessoas pedem para tirar umas fotos minhas e bem,você sabe.
Sei,acho que entendi, você tem vergonha de contar que é modelo por que teme o assedio das pessoas é isso? Pergunta-me num tom divertido.
É quase isso. Olha! Miro para um restaurante japonês, bem ao lado do supermercado.
Comida japonesa? Da uma pausa. É serio? Ele ergue uma das sobrancelhas que me faz sorrir encantada. Ele é realmente um rapaz adorável, e atrevo-me a dizer também que ele é muito bonito.
É serio. Respondo temendo não estar corada, pois olhando em seu rosto agora, sinto minhas bochechas queimarem.
Okey... Ele olha novamente para o estabelecimento com cara de espanto e retorna a me olhar. Vamos então! Me pega belo braço e retornamos a caminhar lado a lado.

Amigo, o que vocês tem de bom pra mim? Ele pergunta ao garçom em pé ao seu lado.
Não entendo o porquê dos homens serem sempre os primeiros a serem atendidos, podemos estar na mesma mesa, mas foi ao Joel que ele entregou primeiramente o cardápio e apesar de ter me dirigindo um breve sorriso,foi para o Joel que ele direcionou a pergunta “o que desejam?”
Temos todos os itens do cardápio senhor. Apesar de sua resposta séria, consigo notar que se diverte ao tentar me mostrar o quão estúpido o meu companheiro é por perguntar algo tão obvio! Mas a verdade é que eu sei e ele também sabe que muitos cometem esse mesmo errinho bobo. Mesmo assim, não consigo prender o riso, e o garçom não consegue disfarçar seu contentamento. E antes que ele pense que sua jogada surtiu algum efeito em mim,mostro a ele quem é que eu escolheria, se eu tivesse que escolher,tocando de leve o rosto do meu querido amigo.

Ele se assusta um pouco e fala as pressas e meio embaraçado.
Sabe o que é amigo, eu não curto essas coisas, essa coisa de peixe cru e porções minúsculas de coisas igualmente cruas... to aqui por causa dela. Ele olha pra mim.
Podemos ir a outro lugar se preferir.

Não, vamos ficar. Se você quiser é claro.

Dou um longo sorriso para ele e dirigindo me ao garçom digo.

Querido,me vê o prato maior da casa,sim? Joel sorrir e sinto vontade de tocar seus cabelos.Não resisto e passo meus dedos de forma a deixá-los totalmente desalinhados.

O quanto gosta de comida japonesa?
Eu não sei, por que a pergunta? Desço meu braço em torno de seu ombro.

Por nada, é só que eu acho muito ruim e se a gente for sair de novo, bom...

Relaxa Joel. Dou risada. Da próxima vez, você escolhe o lugar ok?

Da próxima vez quando?

Não consigo resistir e caio no riso, um riso bem alto que acabo por chamar um pouco atenção de outros no estabelecimento.

Joel, está tentando me manipular?

Não,estou apenas tentando me dar bem. Sua fala parece desprovida de segundas intenções,mas não consigo esconder o desconforto e espanto que elas me causam.

O que foi? Ele toca meu rosto tentando recuperar novamente a proximidade.

Nada,é que esta demorando não acha?

E isso é ruim?

E não é?

Bom, por mim ele pode demorar o tempo que quiser... todo tempo contigo é pouco. Viro o rosto,não consigo mais olhar em seus olhos agora.

não sei distinguir se o que vi neles foi dor ou paixão,mas seja o que for, tem o poder de machucar a nos dois.

Temos muito tempo,você trabalha no meu prédio,Joel.

Tento desconversar.
Ainda sem olhar pra ele. E não sei quanto a você,mas eu estou morrendo de fome.

Não é preciso olhar seu rosto para saber o quanto está sofrendo.

O garçom chega com um barquinho repleto de iguarias, eu pego um dos palitinhos ao lado e me sirvo. Mas o Joel continua de cabeça baixa. Sou uma imbecil e me odeio por isso.

Não vai comer? Ele olha em meus olhos como se procurasse por algo que estivesse dentro de mim. Um coração talvez, penso.

Joel?

Eu não sei comer de palitinho... Ele diz num tom inocente e meio debochado que me faz ri bem alto novamente.

Vem cá,eu te ensino. Reaproximo-me novamente dele. Ele me olha e sorri, está feito, somos um só novamente. Como dos amigos que se gostam muito. Penso.