Na saída do elevador, dou de cara com o Mauricio, vizinho do andar de baixo. Guri mimado, pensa que sabe tudo da vida. Me dá mais nojo do que o pai! 

  Boa Noiiite! Diz com aquele seu sorriso saliente. Finjo  não perceber e sigo até a guarita da portaria para encontrar-me com o Joel.
     Tem um cigarro? Pergunto ao ver aqueles olhos esbugalhados e um tanto inocentes, me espreitando da fresta da janela.
     Tem, tenho sim. Ele se atrapalha um pouco na hora em que vai me entregar o cigarro e quase o deixa cair, mas consigo segurar. Ele me oferece o isqueiro, e sabendo eu que o mais prudente seria eu mesma acender, deixo que ele o faça. afinal, o mínimo que posso fazer é dar a ele o prazer de acender o cigarro pra mim. Vejo sua expressão ao aproximar o isqueiro dos meus lábios, como se pudesse com isso tocá los com os seus... É o Máximo de prazer que ele já chegou a ter de mim e fico feliz ao ver que apenas isso o satisfaz, quem sabe um dia eu não possa dar a ele algo mais, afinal ele sempre foi um cara legal e gentil.
       
        Tá a fim de jantar fora? Dou uma tragada em meu cigarro.
        Tá me chamando pra sair? Tua expressão me assusta um pouco, quase engasgo. Ele sai da guarita as presas e  me ajuda com tapinhas nas costas.
        
       Não, estou perguntando se quer jantar. Eu ainda não comi nada e estou com fome... Quer vir comigo? Sua expressão vai de surpresa á decepção. Mas não dou a mínima, não quero que crie expectativas, sinto que devo ser sincera com ele, gosto dele e sei que se não o fosse, isso o deixaria infeliz amanhã ou depois, e também não tenho pretensão alguma de sair ou chegar a ter qualquer coisa com o Joel a não ser a tua amizade, que tem sido todo esse tempo, a coisa que mais tenho de valor.
     
    Se não quiser vir tudo bem, eu janto sozinha. Termino por fim dizendo ao reparar a sua cara de tristeza. Não teria feito o convite se soubesse que ficaria assim.
     Não, eu quero sim jantar com você, quero dizer, eu também estou com fome, com muita fome na verdade. Solto uma gargalhada e ele rir junto.
 
    Lanço meu olhar esguio para o alto da escada e vejo da sacada do prédio que Mauricio nos observa.

Joel pede licença a Severino, que lhe jura não ter incomodo algum e que ele pode se demorar a vontade. Fico feliz, pois não queria ter que voltar tão cedo. Apago meu cigarro no parapeito da guarita, puxo o Joel pelo braço e seguimos.