Just Say Goodbye escrita por WaalPomps


Capítulo 1
Just Say Goodbye


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu reescrevi essa one-shot que eu havia escrito há muuuuito tempo. Como eu disse no Aviso, eu peguei detalhes de todas as versões conhecidas.
Espero que gostem.



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A velha casa de número 14 permanecia intocada em meio ao mar de edifícios. Todas as manhã, George Darling saia de manhã para trabalhar no velho banco. Na verdade, o banco fora vendido muitos anos antes, e hoje era um banco multinacional, mas o velho senhor de cabelos brancos ainda tinha o mesmo cargo de antigamente.

Ao fim da tarde, voltava para sua casa, cruzando com inúmeros desconhecidos na rua. Já se fora o tempo em que se preocupava em impressionar os vizinhos, já que agora, os mesmo mudavam com tamanha frequência e eram tão numerosos naquelas torres gigantes, que sequer sabia quantas pessoas moravam no arredor.

Ele então entrava e subia as escadas até o quarto que outrora fora de seus três tesouros, seus filhos, que há quase 50 anos, haviam partido. Ele entrava apenas para encontrar Mary Darling sentada em sua cadeira, ainda encarando a janela, a espera do momento em que os filhos entrariam por ela. Não importava a estação ou temperatura, a janela deveria permanecer aberta.

Liza, a empregada que eles nunca souberam a idade ao certo, permanecia na casa, limpando e arrumando o quarto das crianças todas as manhãs, enquanto via a patroa bordar ou tricotar, sempre com a cachorra aos seus pés. A verdadeira Nana já havia morrido há décadas, porém o Sr. Darling sempre a substituía por um da mesma espécie, apenas para fazer companhia à sua esposa.

A saúde da sra. Darling estava cada vez mais frágil. Ela se recusava a sair do quarto dos filhos, se recusava a venderem a casa, se recusava a desistir de esperar. Há quase cinquenta anos, criara raízes naquela cadeira e de lá não saia por nada.

_ Boa noite querida. – cumprimentava o marido, lhe beijando a testa com carinho. Ficava algum tempo deitado no chão, dentro da casinha de cachorro. Por alguns meses havia conseguido se manter na casinha, como prometera, esperando a volta dos filhos. Porém, havia perdido a fé (e conseguido problemas no emprego e na coluna), e desde então, ficava poucas horas dentro da casinha de madeira, conversando com a esposa.

E foi assim todos os dias, até àquela manhã de inverno em particular. O Sr. Darling foi para o trabalho, Liza arrumou o quarto das crianças e saiu para fazer as compras da semana, levando o novo filhote, que não tinha mais que seis meses. Mary Darling ficou com os olhos focados no bordado em suas mãos, cantarolando uma velha cantiga de ninar, envolta em inúmeros cobertores, esperando que algo mudasse.

E algo mudou.

Um vento incomum, até mesmo para o alto do inverno, soprou, revoando as cortinas e os fios grisalhos que caiam em frente aos olhos da mulher. Ao erguê-los, ela se deparou com aquilo que há décadas sonhava.

Ali estavam seus três tesouros, intocados pelo tempo, porém tão diferentes do que ela se lembrava nas fotos de sua mente.

_ Mamãe. – a voz doce de Michael era como uma música, enquanto ele dava um passo a frente. Observou-o, vendo vestido com a pele de um tigre, que ela sequer gostaria de imaginar como e onde ele havia conseguido, já que não parecia ser algo comprado, de tão rústico que era.

_ Meu anjinho. – ela o chamou para seus braços, observando como ele parecia não ter crescido um centímetro sequer em todos esses anos. Era o mesmo menino de quatro para cinco anos, com um sorriso doce, porém não infantil.

O seguinte foi John, e ela se surpreendeu com os trajes indígenas que ele usava, além do bronzeado de sua pele e as pinturas pelo tronco do garoto. Ele arrumou os óculos, como sempre havia feito, e sorriu para ela, lhe dando um carinhoso beijo no rosto.

Porém sua maior atenção foi para Wendy. John e Michael podia parecer mais velhos em seus corpos infantis, mas nada se assemelhava a ela. Seu corpo de menina de quinze anos parecia mais torneado, as pernas mais demarcadas no vestido de folhas e frutinhas que ela usava, porém ainda tinha aquela cara de menina que sua mãe tanto gostava. Quando ela falou, foi a mesma voz inocente e doce de sempre.

_ Como vai mamãe? – perguntou ela, se aproximando lentamente da mulher mais velha.

_ Bem. Melhor agora, que vocês estão aqui. – garantiu a velha senhora, sua voz mais baixa e rouca que outrora, mas ainda, o som delicioso que qualquer criança gosta – Eu sempre disse ao papai que vocês voltariam.

_ Nós viemos mamãe, mas para lhe dizer adeus. – explicou John, com um sorriso – Tinker andou passeando por aqui, e nos disse que sua saúde está pior. Então viemos nos despedir.

_ Onde vocês estiveram esse tempo todo e... Quem são eles? – a atenção da mulher recaiu em duas figuras paradas na janela. Três na realidade.

_ Mamãe, essa é a Tiger Lily, ela é a princesa dos peles vermelhas da Terra do Nunca. –John apresentou, pegando a jovem morena pela mão. Mary tentou se levantar, e precisou da ajuda Wendy e Michael, que a livraram dos cobertores.

_ É um imenso prazer conhecê-la. – disse a mais velha, apertando a mão da jovem, que parecia não habituada àquele tipo de cumprimento.

_ Mim também muito prazer em te conhecer. – retrucou a princesa, assustando a mulher com seu dialeto. Porém parecia não surpreender os demais presentes no local.

_ E você, quem é? – a sra. Darling dirigiu-se a outra figura na janela, que segurava o terceiro desconhecido nos braços. Quando ele deu um passo a frente para a luz, ela lembrou-se dele, de sua própria Terra do Nunca – Peter Pan.

_Wendy falava muito sobre a senhora. – foi só o que ele disse, parecendo acanhado. Ela assentiu, admirando a pequena figura em seus braços.

_ Mamãe, este é Charlie. – Wendy caminhou em direção ao menino, que lhe sorriu com carinho, enquanto falava algo no ouvido da criança em seu colo. Ela parecia ter dois anos, e tinha olhos bem claros – Peter o encontrou alguns meses atrás, perdido em um parque. Ele é nosso, bom, nosso filho. Ou algo próximo a isso.

_ Wendy e Peter são pais de todos os meninos perdidos. – contou Michael – Menos John, porque ele mora com Tiger Lily. Mas eles são para Charlie exatamente o que você e papai eram para nós.

_ Dói tanto ouvir vocês falando sobre nós no passado... – chorou a senhora, acariciando o rosto do filho mais novo – Porque nunca voltaram?

_ Foi a escolha mais difícil que fizemos. – garantiu John – Quando começamos a esquecer de vocês, quando nossa vida lá começou a parecer a única possível... Mas nenhum de nós queria crescer e abrir mão de aventuras.

_ E como se lembraram agora? – perguntou ela, e Wendy apontou um ponto brilhante voando – Ela é uma... Fada?

_ Sim. – concordou Peter – Eu a pedi que ficasse por aqui, sempre de olho. Quando ela disse que você estava doente, achei que você merecia vê-los uma vez mais.

Por mais que o tom de voz dele não a agradasse, ela sabia que seus filhos haviam “crescido”, mesmo que não fisicamente e em seus braços. Sua Wendy era mãe, de diversos filhos, sem ela achar que algum dia ela tivesse experimentado o que era preciso para se ter um filho. Seu John era um guerreiro que conquistara sua princesa, e seu Michael seria para sempre um pequeno aventureiro e explorador.

_ Quanto tempo podem ficar? – perguntou ela, e as crianças sorriram.

_ Algumas horas. – garantiu John, e ela sorriu.

Pelas horas seguintes, nas quais nem Liza, nem George apareceram, ela teve um bom tempo com os filhos. Viu-os vestirem suas roupas antigas, e vestiu Peter, Tiger Lily e Charlie também, apesar de eles parecerem desconfortáveis. Tocou piano e flauta, e contou algumas novas histórias que havia conhecido pelos livros ao longo dos anos.

_ Então vocês nunca crescem? – perguntou a mulher a Wendy, enquanto os meninos tiravam as roupas engomadas e preparavam alguns sacos com coisas que queriam levar para a Terra do Nunca, como brinquedos para Charlie e coisas que a sra. Darling fizera para eles.

_ É algo relativo, na verdade. – Wendy explicou – Nem nós mesmos entendemos. A maior parte das crianças chega lá ainda bebê, e cresce até a idade do John, no máximo. Alguns ficam pequenos, como Michael. Peter foi o único que chegou a mesma idade que eu, apesar de conservar a mente e algumas características de uma criança mais nova.

_ E você o ama? – perguntou a mulher, surpreendendo a filha. Ela corou por um instante, antes de assentir timidamente – Gostaria que você tivesse encontrado a Terra do Nunca antes, para ter continuado para sempre aquela menininha pequena e meiga.

_ Sempre serei ela no coração mãe, o mundo nunca poderá me corromper. – Wendy prometeu, beijando o rosto da mãe – Mas agora, precisamos ir.

_ Vocês não podem ficar mais? Talvez passar a noite? – pediu a sra. Darling, os olhos em súplica. Wendy sorriu, porém negou.

_ Nossa casa é longe mamãe, bem longe. – garantiu Wendy – E Charlie não gostava de ficar muito tempo longe de lá.

_E como vocês chegam lá? – ela perguntou, tirando a dúvida que a dominava desde que eles haviam aparecido na janela.

_ Voando, mamãe. Voando. – Wendy contou, enquanto os demais chegavam ao quarto. Os três filhos a abraçaram muito apertado, assim como o pequeno Charlie, a pedido de sua mãe. Peter e Tiger Lily apenas acenaram de longe, antes de saírem os seis pela janela, Charlie no colo do pai, que tinha a mão dada com Wendy.

Ela olhou a cadeira em que ficara por anos e sorriu, enquanto fechava a janela. Desceu as escadas com cuidado, sentando ao piano da sala e começando a tocar. Não tardou para que George chegasse, acompanhado de Liza e do cachorro. Os dois estranharam ao vê-la ali, mas evitaram comentar.

Naquela noite, o casal Darling jantou na sala de jantar a décadas inutilizada, e conversaram sobre sutilezas e amenidade, especialmente a venda da casa.Mary afinal concordou, dizendo que gostaria de se mudar para o campo.

Pela primeira vez no que pareceu uma vida, dormiram na mesma cama, porém seria também a última. Naquela noite, Mary Darling se foi para sua própria Terra do Nunca, já que cada um tem a sua própria. Lá, ela encontrou seus três anjinhos e suas vidas perfeitas, e pode afinal, fazer parte delas. 


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Notas finais do capítulo

Não sei exatamente se alguém vai ler, mas né...
Espero que tenha gostado, se você leu.
Beijos da titia Waal.