Ao Som Do Vento escrita por Valz


Capítulo 1
Único (dançando)


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste e comente



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Ela assim dançava: ao som do vento, na ponta dos pés sobre o concreto da praça abandonada. As sapatilhas de balé já gastas mal cobriam seus dedos que a essa altura sangravam como se chorassem de dor.
     E ainda assim ela dançava, corpo para um lado e para o outro, dedos dos pés sagravam e sangravam, mas não mais doíam. Só a liberdade de dançar naquela praça poderia a satisfazer. E o que ela mais queria era satisfação. E tinha! E tinha também muitos machucados infeccionados nos pés quase descalços. Quando a noite caia e o vento aumentava ela dançava mais entregue, rodopiava, balançava, pulava.

Era como uma caixinha de musica esquecida aberta. Não pararia de dançar até que a pilha acabasse. Dançava, dançava. Como se não fosse mais ter a oportunidade de mexer o corpo depois daquela noite. E provavelmente não teria. Seus pés há horas sangravam sem descanso faltava pouco, muito pouco para a sapatilha velha não mais suportar sua dança.

E ela continuava dançando. Com frio, com fome, com o vento cantando em seu ouvido a seduzindo a continuar dançando sem errar nenhum passo.
Pensou em parar, mas até seus pensamentos dançavam. Levados pelo vento. Vento este que agora gritava agoniado. Talvez até a pedindo para parar. E ela tentou, mas não podia. Queria dançar até o fim do mundo e o mundo estava ali ainda em pé. As grades da praça davam plena visão dos carros passando, da vida correndo. E como se ela cumprisse uma terrível maldição continuava com seu balé interminável.
     Procurou em sua mente alguma lembrança de quando entrou ali naquela praça no centro. Não tinha lembrança e logo não tinha nem mais a dúvida.
Às vezes, quando o vento soprava mais calmo ela sonhava que nascera ali e logo começara a dançar. Se era verdade ou não ele nunca saberia. Não havia tempo o suficiente para se perguntar, o vento voava e dança sem fim não podia parar.

Na madrugada de uma noite fria das grades dava para ver alguns jovens saindo de um estabelecimento que conhecemos como boate, mas para a dançarina incansável era a morada das luzes coloridas. Ela viu algo semelhante a uma dança e sorriu pensando não estar sozinha, não ser a única a dançar. Mas como todos os seus pensamentos esse também voou, logo sons confusos invadiram sua cabeça impedindo-a de ouvir o vento e um dos supostos dançarinos caiu e dele escorreu um líquido vermelho que encantou seus olhos.
Ouviu alguém gritar que ele estava morto que seu mundo havia acabado. A dançarina viu ali seu objetivo, mundo acabou para o "dançarino" e para ela.

O vento parou de cantar e ela deixou de existir. Seu corpo magro, digamos esquelético, caiu com um baque sem som. Visto de longe pareceria um belo fim para um magnifico balé, mas ninguém nunca viu.


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Notas finais do capítulo

Texto dedicado a Kamila Félix, Adriana e Amanda Mudo.



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