Circunstâncias escrita por Noni, Yorihime Frances de Libra, Vênus Salerinean


Capítulo 1
Parte um – Ação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/405295/chapter/1

~ Circunstância ~

+ Parte um – Ação +

§ Lady Abel Oblivion Araghon §





— Cloue Balconni — chamou a professora baixinha, de grandes óculos "fundo de garrafa" —, você poderia responder o exercício 11 da página 237? — questionou com voz autoritária, afinal, aquilo era mais uma ordem do que um pedido.

Levantando com o livro em mãos, a aluna logo pôs-se a responder a questão citada. Era uma matéria relativamente fácil, já que era praticamente decorar: História. Assim que a resposta foi dada ela sentou-se, recebendo como resposta da professora um sorriso satisfeito. Cloue era a aluna favorita dos professores, uma das melhores do colégio, disciplinada e educada.

Ao lado da moça, Helena Rocchie, sua melhor e única amiga, riu. Aquela era uma situação tão típica que já estava acostumada. Conhecia Cloue há dois anos, embora só conversassem há seis meses, depois de fazerem um trabalho juntas. Sempre achara a moça estranha e deslocada, aliás, todos achavam.

Era verdade, Cloue era muito discriminada na escola por causa de seu temperamento. Inteligente e quieta, rapidamente fora tachada de nerd, embora Helena realmente não conseguisse entender aqueles alunos.

Cloue era legal, um pouco quieta, mas divertida. É claro que ria muito com a amiga, principalmente quando ela desenrolava uma conversa "técnica demais", mas reconhecia que era apenas o jeito dela. Afinal, os Balconni era uma família tradicional, criada em ambiente fechado e repleto de religião, uma religião estranha, sim, mas muito rigorosa.

Helena foi retirada de seus pensamentos pelo som da campainha anunciando a troca de salas. Mal havia guardado suas coisas e já estava sendo arrastada por um grupo de alunos, colegas seus, que lhe questionavam sobre a sua festa de aniversário, que aconteceria no final daquele mês. Olhou para trás, à procura da amiga, mas ela acenou-lhe que fosse na frente, sorriu agradecida.




Cloue suspirou, resignada. Lentamente pôs-se a guardar seu material, indiferente a tudo ao seu redor. Não era uma garota popular, tão pouco vaidosa. Gostava de ler, de rock, de silêncio. Só possuía uma amiga, uma bem popular, por assim dizer, então imaginava que, a qualquer momento, ela poderia afastar-se de si. Não que não confiasse nela ou possuíssem uma amizade complicada, não, apenas reconhecia que, uma hora ou outra, as circunstâncias as afastariam.

Levantou-se, caminhando na direção da porta da sala. Sua próxima aula era de literatura, e o professor estava sempre lendo, esquecendo das horas, por isso não havia motivos para ter pressa.

Um rapaz apressado bateu em seu ombro e fê-la derrubar o livro que carregava nos braços: um romance histórico envolvendo um sheik forte e mandão. Pensou em xingá-lo, mas parou, contou até dez suspirando e abaixar-se-ia para pegar seu livro, mas uma mão masculina pegou-o primeiro. Ele olhou a capa e franziu o cenho ao ler o título, provavelmente não entendendo nada, já que o livro estava em alemão.

— Você não podia ser ao menos um pouco normal? — questionou com o cenho franzido, arrogante. Cloue esticou a mão, pedindo o livro, mas ele não se mexeu, esperando uma resposta.

— Ser normal é para os fracos — murmurou indiferente, dando de ombros para o livro. Iria passar ao lado dele, mas, bufando, ele jogou-o no chão e deu a volta, deixando-a sozinha.

Eu sempre me senti deslocada, literalmente vivendo aos tropeços. Nunca me senti normal, porque não sou normal. Não quero ser.¹ Pensou ela irritada, pegando o livro do chão e andando rapidamente para a sala 19. Não gostava de atrasos, por isso não se atrasava.

Ao chegar à sala de literatura, abriu a porta rapidamente e entrou, pensando em fechá-la, mas não deu tempo. Mal deu um passo para dentro e já sentia a gravidade puxá-la para baixo. Havia tropeçado em algo e não conseguiria evitar a queda. Tudo o que pôde fazer foi jogar seu livro para frente e cair em cima dos braços, ouvindo o riso dos alunos na sala.

Ergueu os olhos, sentando no chão. O rapaz ao lado da porta – quem provavelmente causara sua queda – dirigiu-lhe um "bem feito!" e acompanhou a risada da sala, caminhando com as mãos no bolso até o seu lugar. Cloue massageou os joelhos, mas a voz do professor chamou sua atenção.

— Cloue? O que houve? — perguntou, recebendo a atenção da aluna. Quando ela levantou a mão para tirar a franja da testa, o professor arregalou os olhos. — Você está sangrando! — disse apontando para a mão dela.

Fitando seu próprio punho, Cloue mordeu o lábio, irritada, tentando conter-se. Contou até dez e suspirou.

— Eu estava distraída e tropecei — explicou indiferente, vendo-o arregalar os olhos para o sangue. — Estou indo para o banheiro, não se preocupe — queria acrescentar com um "não desmaie!", sabendo que ele possuía fobia a sangue, mas apenas apressou-se em levantar e sair da sala, indo ao banheiro no fim daquele corredor.

Na realidade estava acostumada com aquele tipo de situação, o que era frustrante, claro. Aqueles alunos portavam-se de modo muito rude, feio e mal-educado. Filha de pessoas muito conservadoras, não conseguia aceitar aquele comportamento rebelde.

Ao entrar no banheiro, a primeira coisa que fez foi jogar a mochila em um canto. Aproximou-se da pia e molhou o rosto, fitando-se no espelho enquanto molhava as mãos e passava no cabelo, logo após soltá-lo.

Os fios encaracolados e negros caíram rebeldes em seus ombros, e ela tentou arrumá-los com as mãos como pôde. Passou-as também nas roupas para limpá-las, por reflexo tocou os joelhos, sentindo dor, mas não havia como ver a situação em que estavam, teria que esperar até chegar em casa.

Estava distraída consigo mesma e não notou a movimentação atrás de si. A risada de duas garotas tomou o local e, enquanto uma segurava-a pelos cabelos, puxando-a para trás, outra jogou algo em sua blusa, uma coisa gosmenta e grudenta.

Cloue amaldiçoou-se, contando mentalmente até dez e esperando pacientemente as garotas cansarem-se daquilo. Ao verem a expressão indiferente dela, elas soltaram-na, chutando-a antes de sair da sala gargalhando.

Novamente olhou-se no espelho, fitando a expressão indiferente que tanto irritava-a. Seus olhos violáceos faiscavam no rosto pálido, as sardas pareciam muito evidentes em seu rosto sofrido. Queria ser apenas mais uma aluna, mas parecia algo tão impossível... Desde que estudava naquele colégio vivia sendo atacada e aguentava tudo quieta, incapaz de responder às provocações.

Suspirou, tirou a blusa de frio suja e enrolou-a, prendeu o cabelo armado e bagunçado em um rabo-de-cavalo e pescou da bolsa outra blusa de frio. Sim, já estava preparada para aquelas situações. Sua sorte era que, ao menos daquela vez, haviam a poupado de ter que trocar a calça.




Saiu do banheiro com a cabeça baixa, pensativa, lembrando que havia deixado o livro para trás quando correra. Ao abrir a porta da sala, o professor fitou-a com interesse, acenando positivamente ao ver sua aparência e logo voltou a falar, comentando algo sobre o livro que deveriam ter lido naquela semana. Era o debate sobre ele e Cloue caminhou até o único lugar disponível, na última fileira, mas, ao chegar lá, viu no banco seu livro.

Achara que talvez o professor houvesse guardado, franziu o cenho, sentindo uma sensação estranha. Algo estava estranho, os alunos estavam muito quietos, observando-a com muita insistência quando, geralmente, nem sequer ligavam para ela.

Deu de ombros, pegou o livro, sentou. Abriu-o e não foi nenhuma surpresa quando encontrou-o completamente rasgado, com coisas cruéis escritas e desenhos obscenos e maldosos desenhados. Fechou o livro e os olhos, contando até dez, abriu-os. Fitou o professor, notando que todos sorriam satisfeitos pela "travessura".

— Odeio os homens, eles me repugnam. Nem os animais se comportam como eles² — sussurrou Cloue para si mesma a frase que lera em algum lugar, logo voltando sua atenção para o professor.

Tudo aquilo era uma tormenta que, sinceramente, preferia ignorar – e tentava fazê-lo ao máximo.






Era a hora do intervalo, Cloue sentiu um longo arrepio passar por todo o seu corpo. Aquele era, sem dúvida, o pior momento do dia. Em plena sexta-feira, dia de comemorações pelo fim de semana por vir, e os alunos, em vez de estarem satisfeito por todas as "brincadeiras" – como eles mesmos chamavam o que faziam –, eles escolhiam fazer a pior das piores naquele longo dia – como eles mesmos alegavam: "para que você lembre-se de nós em nossa ausência".

Sorriu com escárnio, aquilo era tão ridículo. Para que iria querer lembrar-se deles? Todas as lembranças que possuía daquela escola eram horríveis, não possuía nem mesmo vontade de assistir às aulas, mas aguentava porque gostava de estudar e porque os professores eram legais. O problema é que eram legais demais, não importando-se com o modo como os alunos tratavam uns aos outros – ou como tratavam ela.

Atravessou o portão do pátio já preparando-se mentalmente para o que viria. Independente do que fosse – sabia que algo viria –, não deixar-se-ia abalar. Pegou a bandeja e foi ao refeitório, entrando na fila e esperando sua vez. As mesas estavam lotadas e ela sentia os olhares curiosos sobre si. Todos aguardavam ansiosos pelo momento em que a diversão começaria, o evento principal do dia e da semana seria anunciado assim que ela estivesse completamente visível – ou vulnerável.

Contou até dez, inspirou, virou-se, caminhando cuidadosamente para não derrubar nada da bandeja – nem o suco de goiaba do copo nem a pera suculenta. Procurava uma mesa vazia com os olhos quando esbarrou em alguém, pedindo logo desculpas, já imaginando o pior.

Quem virou-se para vê-la foi o rapaz que pegara seu livro no corredor, um moreno alto, de belos olhos verdes e um corpo esguio e forte. Membro do clube de kung fu, aquele era um aluno conhecido por todos por sua impaciência. Cloue amaldiçoou-se, aquele não era o seu dia de sorte.

Ele mediu-a de baixo a cima, franzindo as sobrancelhas para sua blusa cor de vinho – que por mágica mudara de cor, já que antes vestia uma igual, só que preta. Quando ele ficou apenas olhando-a como se esperasse que ela sumisse de sua frente, Cloue já pensava que talvez não fosse acontecer nada ruim. Ledo engano. Alguém atrás dele riu, uma risada feminina e, passando na frente dele, Aline, uma colega de Helena, bateu em sua bandeja, fazendo tudo voar em sua direção. Cloue literalmente "tomou um banho".

O riso foi geral, até o rapaz sorriu diante da cena. Sentindo que era impossível continuar ali, virou-se, colocando a bandeja em cima de uma mesa e caminhou rapidamente na direção da saída do colégio. Atrás de si as risadas dos alunos reinavam, à sua frente o porteiro tentou barrá-la, mas ao ver a expressão furiosa dela, hesitou, pegando o celular para relatar algo a alguém – sabia que ele faria aquilo, afinal era sua obrigação. Talvez ele fosse dizer para a diretora que uma aluna estava saindo da escola no meio do período, mas, no fundo, não ligava, estava cheia de tudo aquilo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Circunstâncias" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.