Insicurezza escrita por Suehime


Capítulo 1
Capítulo 1




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Caminhava sobre as secas folhas em tons marrons, não sabia para onde ia, muito menos como chegara ali. Estava com roupas de dormir e os emaranhados fios ruivos soltos contra o vento, olhou para o triste céu estrelado, tão frio e distante demais para ser alcançado por ele, os pés lhe doíam devido a grande caminhada, as pernas já estavam demasiada cansadas, mas não parou, continuou a seguir sem rumo, perdido entre a escuridão daquela imensidão de árvores. Parecia-lhe que estava nos campos perto de casa, ou seria nas montanhas longe dela? Teria eu uma casa para onde regressar? Questionou-se, e não tinha nenhuma resposta para essa pergunta. Sentiu os olhos arderem, e sabia o que viria a seguir, e dessa vez não se segurou, parou diante de uma árvore e sentou-se, deixou que as lágrimas lhe corressem pelo rosto, gordas e necessitadas, agarrou os joelhos e deitou-se ali, sentia-se angustiado, deprimido, um dia jurei que nunca mais choraria, lembrou-se daquela promessa que fora quebrada antes mesmo que se tornasse verdadeira, chorou até soluçar, e chorou até cair em sono.

Sonhou que tinha asas, lindas e brancas asas. "Você é um anjo." Escutou a voz de Damien sussurrar-lhe ao ouvido, aquelas palavras que um dia foram proferidas por aqueles finos e rosados lábios que tantas vezes beijara, o seu amado Damien, que agora já não era tão seu. Se lembrar disso fez o coração se apertar no peito. Doía. E sempre iria doer. Aquelas doces lembranças que agora pareciam estar se tornando apenas tristes recordações iriam para sempre machucar-lhe o peito. Tentou afastar esses sentimentos de si, olhou para o céu e agora ele parecia tão lindo, tão sereno, agora tenho asas, pensou, e agora posso ser livre. Um sorriso brotou no rosto doentio que carregava há dias, sentiu os pés deixarem o chão, o corpo parecia leve, como se fosse feito para aquilo, as asas bateram espalhando as folhas ao seu redor, bateram mais uma, duas, três vezes até que finalmente ele estava viajando pela vasto céu estrelado.

Sentia a brisa batendo suave no rosto, fechou os olhos para aproveitar mais daquela sensação, estava feliz como nunca estivera em meses. Abriu os olhos e percebeu que estava em um lugar diferente agora, olhou para trás e onde minutos estivera não poderia ser visto dali. Olhou para baixou e viu um velho chalé em tons de marrons, um estábulo e um córrego de águas cristalinas, logo se lembrou daquele lugar, ficava a vinte milhas da cidade em que morava, fora nesse pequeno chalé que conheceu Damien, quando passava suas férias de verão. Era apenas um jovem rapaz, naquela época ainda estava na universidade, aparentava ser mais saudável, os cabelos estavam mais compridos do que agora e tinha um sorriso tímido nos lábios. Tinha ido para aquele chalé em busca de um pouco de sossego, mas acabou por se apaixonar pelo belo rapaz que recepcionava a todos que chegavam ali com aquele sorriso fácil, e olhos azuis como o mar, estes mostravam confiança a quem quer que o olhasse.

Lembrava-se dos encontros escondidos pela floresta, as horas de cavalgada pela mesma, as carícias que trocavam, que por vezes foram mais ousadas do que deveriam ser. "Acho que estou apaixonado por você, Louis" segredou-lhe um dia antes de sua partida, sentiu o coração dar palpitadas de alegria em seu peito, batia tão forte que achava que iria morrer ali mesmo. No momento não soube o que responder, estava envergonhado demais para isso, apenas sorriu sem graça, e lhe abraçou depositando um beijo na face. Não muito depois de seis meses os dois começaram a dividir o mesmo teto na cidade, não se importavam com o que os outros pensavam sobre dois homens que dividem uma casa como se fossem marido e mulher. Afinal, eles não eram marido e mulher, eles eram dois homens que dividiam a mesma cama, que se amavam, e sempre seria assim.. Ou era como tinham planejado sê-lo.

Pousou perto dos estábulos e se sentiu feliz ao estar ali. Tinha alguns cavalos, mas fora isso não viu uma alma sequer, os raios que anunciavam a chegada de mais um dia agora se revelavam. Ele estava agora na varanda, a porta que dava acesso a pequena sala onde era a recepção do chalé estava entreaberta, sentiu medo, estranhou esse sentimento, por que diabos teria medo? Engoliu em seco e empurrou a porta. Vazio. Estava do mesmo jeito que se lembrava: o pequeno balcão, um sofá velho que um dia fora vermelho, e uma mesa de centro na frente deste, tinha umas tulipas que um dia estiveram bonitas, mas agora estavam murchas, mortas. Ouviu um ranger vindo de um cômodo no segundo andar, sons parecidos com passos, subiu as escadas e olhou de quarto em quarto. Seguiu até o fim do corredor, chegando ao último quarto, encarou a porta por um instante, aquele quarto lhe pertencera por um mês, sentiu um arrepio na espinha, mas não vacilou, abriu-a e viu uma figura olhando pela janela que virou-se abruptamente quando sentiu a presença de sua companhia. Ele estava vestido em roupas de montar, com botas de canos altos marrons, uma calça escura e uma camisa azul que combinava com os olhos da mesma cor, os desgrenhados cabelos negros caiam-lhe a face jovem que carregava, não era o seu Damien de agora, mas sim o Damien de anos atrás.

Sorriu-lhe daquele jeito que sempre fizera desde a primeira vez que o vira, aproximou-se devagar enquanto o fitava com uma intensidade como nunca antes, Louis não conseguiu fazer o mesmo, simplesmente não conseguia se mover. Damien tocou a face com ternura, sentiu o lugar ferver e o rosto avermelhar.

- Agora está tudo bem, Louis. - O escutou dizer, sentiu o peito apertar e a respiração falhar uma vez. Sabia que não estava nada bem, sentia. - Está tudo bem. - Repetiu mais uma vez e outra. Sentiu as mãos deslizarem pela sua costa e só agora notara que não tinha mais asas. Fechou os olhos e escutou mais uma vez "está tudo bem", não, não está tudo bem pensou em falar, mas a voz desaparecera. Abriu os olhos e agora Damien estava bem mais perto de si, levantou as trêmulas mãos e tocou o rosto do parceiro, sentiu a pele dos dedos esquentar, e esquentar mais e mais. Retirou a mão e agora aquele lugar que um dia fora a branca pele pálida, estava vermelho, não, estava queimando. De repente viu Damien coberto em chamas laranja e amareladas. As chamas pareciam dançar em volta dele "Não!" tentou gritar "Não, não, não.. por favor" mas a voz estava presa na garganta, sentiu os olhos arderem, tentou alcançá-lo, mas ele estava se distanciando rápido demais "Está tudo bem" o escutou dizer, agora não era só ele que queimava, mas sim todo o lugar. Louis estava desesperado, Damien estava se desmanchando em cinzas, tentou em vão agarrá-lo, mas as chamas agora também o consumiam. Gritou por socorro, mas ninguém iria escutá-lo, as chamas tocavam ardentes em sua pele, mas não doía. Damien agora era apenas cinzas, que também estavam desaparecendo, tentou voltar ao corredor para fugir dali, mas esse já não existia, se desesperou mais ainda, queria ter asas novamente, sabia que era o único meio de sair dali, mas elas já haviam o abandonado, sentiu agora o fogo mais quente e em questão de pouco tempo sua existência também havia sido apagada.

Acordou em um salto, estava suado e assustado com o sonho que tivera, percebeu que ainda estava escuro. Estava em um penhasco "quanto eu andei?". Levantou-se e foi até a beira deste, sentiu uma dor na cabeça e levou as mãos ao rosto enxugando o suor. Sentiu o vento cortante e gelado, olhou para baixo e lá podia ver as águas do rio que batiam com força contra as rochas. Lembrou-se da sensação de voar, queria provar daquilo novamente, podia tentar, não podia? Vislumbrou o horizonte a procura de respostas das perguntas que muito lhe perturbavam os pensamentos.

Queria saber o porquê da mudança de comportamento de Damien, teria se cansado dele ou talvez se apaixonara por outro? Uma mulher talvez? Talvez agora ele quisesse uma criança. Sentiu a cabeça doer mais ainda e sabia que não encontraria as respostas que queria ali. Escutou um barulho de motor de carro e se virou, os olhos foram ofuscados por uma luz incandescente vinda da estrada atrás dele "havia uma estrada aqui?" O carro veio ao seu encontro parando próximo a ele. Dele saiu um homem alto com um moletom que este sabia que usava para dormir.

- Por Deus Louis, o que está fazendo aqui? - A voz estava carregada de ira e de um pouco de preocupação, observou Damien, parecia exausto demais - Estou te procurando há horas! O que aconteceu? O que pensa que está fazendo? Por um momento achei que não iria lhe encontrar.

Ficou pensativo por um tempo, nem ele mesmo sabia por que diabos teria saído à noite sem dar nem um aviso, descalço e mal vestido. Apenas disse:

- Eu estou cansado, quero ir pra casa.

Recebeu um suspiro cansado do outro.

- Me deixou preocupado, Louis. Por agora iremos para nossa casa, também estou cansado e quero dormir, mas amanhã quero saber o porquê dessa atitude louca.

- Me desculpe, mas não acho que não há nada para saber, apenas me leve de volta. - Seguiu para o carro. Damien lhe disse alguma coisa que não entendera e apenas o ignorou. Sentou-se no banco de passageiro e logo em seguida o moreno se ajeitou ao seu lado tomando o lugar do motorista.

- Louis, - começou com uma voz demasiada mansa que Louis há muito não escutava. – eu apenas quero saber se está tudo bem, sinto você se afastar cada dia mais. Vejo-o apenas construindo muros, tentando se proteger de algo, do que está tentando se proteger tanto? Eu estou aqui com você e sempre estarei. Não tente resolver o quer que lhe atormente sozinho, conte-me, conte-me o que está acontecendo e tentarei de todas as formas ajudá-lo, por favor, não se enclausure em sentimentos dolorosos sozinho. - Sentiu as mãos do moreno lhe afagar os cabelos ruivos, tocou-a e a beijou sentindo o calor dele - Eu te amo, Louis, e sempre irei te proteger, está tudo bem agora. - "Está tudo bem" lembrou-se da face de Damien queimando no sonho, e se sentiu angustiado. Mas ele estava ali, vivo, e aquilo fora apenas um sonho.

Tomaram partida em direção à casa que lhes pertencia, Louis encostou a cabeça na janela do carro e fechou os olhos. Dessa vez sonhou que cavalgava por verdes campos à luz do sol. Acordou apenas quando sentiu os braços do amado lhe deixaram na larga cama, e depois se deitando ao seu lado, Louis o abraçou recebendo um beijo no topo da face. Pensou por um instante no que o amado lhe dissera, "Será que eu apenas estou enlouquecendo de vez? Imaginando coisas e me afastando por contra própria de Damien?" Não sabia dizer e talvez nem quisesse mesmo saber, Damien mesmo dissera que estaria sempre ali, e quis acreditar nisso. "Está tudo bem" disse a si mesmo. Fechou os olhos e dormiu nos braços do amante, e dessa vez, quando adormeceu, não tivera sonhos, apenas pairava leve, intocável, ali nada o afligia, nada o preocupava, era apenas uma existência em meio à escuridão.


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