Menina dos Olhos escrita por Spaild


Capítulo 1
Visita Inesperada




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Chapter one: Visita Inesperada.

 

"Starless night kako no kage furi kaeranai

(Nesta noite sem estrelas, não irei olhar para trás nas sombras do meu passado )
Kanjitai anata no nukumori

(Quero sentir o seu calor)
Tears are falling down mayotte mo hanashi wa shinai

(Lagrimas estão caindo, mesmo quando me sinto perdida)
Tsunaida anata no te wo
(Não irei soltar a sua mão)"

(Starless Night)

(Olivia Lufkin.)

 

 

Uma névoa gélida flutuava sobre o rio sujo que corria entre pequenos declives cobertos de refugos e mato alto. À penumbra da noite, pouco poderia ser reconhecido, algumas casas mal acabadas, uma cerca quebrada e com aparência precária fora o que aparou uma mão pequena e alva, de cair subjugada ao chão sujo, tão logo ouve um deslocamento de ar. Os olhos pouco acostumados ao escuro pode apenas gravar em suas retinas a imponente chaminé que se erguia da noite, cheiro de restos de comida embolorado e animais mortos preencheram suas narinas. Como havia sido instruída, percorreu sobre a grama, seus tênis afundando-se na maciez típica daquele tipo de terreno. Não tardou a encontrar o dito gradil que separava o rio das casas, uma ruela de pedras se estendia e sumia entre as casinhas. Poucas daquelas moradias pareciam ser habitadas, transpôs o gradil e começou uma caminhada leve, não queria ser percebida antes da hora, andou por becos escuros e mal cheirosos, nenhum deles diferiam-se uns dos outros em muita coisa. Parou a entrada de um beco particularmente mais escuro e sombrio que o outro. Seus passos tornaram-se mais lentos e incertos, limpava algumas teias de aranhas que atrapalhavam o caminho. Assustou-se quando pisou em vidros espatifados de uma das janelas quebradas, soltou um suspiro aliviado por ver a tal casa que procurava. Uma luz fraca vinha de uma das janelas da casa.

Aquele devia ser o momento mais complicado de sua vida, respirou tão fundo que sentiu as gotículas do ar frio carregado de umidade. Subiu os pequenos degraus de madeira que rangeram reclamando seu pouco peso. Levou a mão a porta escurecida pelo tempo e bateu levemente com os nós dos dedos. Ouviu um pequeno movimento dentro da casa, prendeu a respiração quando ouviu as dobradiças oxidadas rangeram quando a porta abriu.

Do outro lado da porta, podia-se ver um homem alto, os cabelos negros cobriam-lhe o rosto ocultando-o da jovem que permanecia parada a sua porta. Ainda mantinha o hábito de vestir-se de negro dos pés a cabeça, os muitos botões também eram parte de seu figurino.

- Professor Snape? – ousou com sua voz naquele típico tom mandão.

O homem ergueu a cabeça e seus cabelos afastaram-se o suficiente para poder ver sua face marcada, a sobrancelha estava erguida, olhava a jovem de cima.

- Se o senhor não se importa, poderia entrar? – Ela parecia decidida dando um passo a frente ficando cara a cara com o homem. – Porque mesmo em um local como este, suponho que o senhor não gostaria de ter as respostas de porque o procurei aqui fora!

Snape se afastou e a jovem entrou, uma vez dentro da casa, ele pode reparar melhor nela, decididamente crescera, estava apenas alguns centímetros mais baixa que ele próprio. Os cabelos outrora revoltosos haviam sido dominados, mas nem de longe era o exemplo de cabelo perfeito. Estavam mais luminosos e lisos, os cachos pouco difusos, como se tivesse feito uma longa corrida.

- Senhorita Granger, o que faz aqui? – perguntou sentando-se na poltrona em que estivera antes e tomando novamente o jornal em suas mãos.

Hermione andou até a poltrona oposta e de costas para o homem forçou-se a ignorar momentaneamente todos aqueles livros, deslizou os dedos sobre o tecido grosso de sua sobrecapa, e começou a desabotoá-la. Abriu o grosso casaco e o depositou sobre a poltrona puída.

Snape deu um de seus sorrisinhos enviesados ao ver a pequena luta que a Sabe-Tudo estava travando dentro de si mesma. Com o jornal erguido como se fosse ler, alguma reportagem interessante, observava a jovem despir de sua pesada capa de viagem bege. Quando a menina virou-se, abaixou os olhos para uma reportagem qualquer.

- Vamos Granger, estou esperando, e ao tenho toda a noite! – disse em seu tom arrastado que sabia meter medo.

- O Professor Dumbledore... – Começou Hermione e o viu erguer os olhos debochados. – O quadro dele no gabinete da Minerva me pediu para procurá-lo.

Hermione se aproximou da luz que vinha de um abajur ao lado de Snape, suas formas destacaram-se a claridade, a blusa verde ajustava-se ao seu corpo, os jeans escuros e os tênis da cor de seu casaco ajudavam a moldar a silhueta esbelta da jovem. Snape baixou novamente os olhos ao jornal, há quanto tempo não via aquela menina? Dois anos? Sim, decididamente o tempo fizera bem para a jovem Senhorita Granger.

- Ele quer que eu o faça voltar a lecionar... – Começou ela bem próxima dele agora. - ...muito embora, eu saiba perfeitamente que o senhor jamais voltaria, e não seria por meu pedido que o faria.

Snape deixou o jornal descobrir seu rosto, mirava fixamente a frente e segundos depois encarou Hermione que percorria o dedo indicador por um livro empoeirado sobre uma mesinha redonda.

- Sabe Professor Snape, Eu entendi tanto quanto o senhor o fato de Dumbledore me pedir isto, nem parte do corpo docente de Hogwarts eu faço parte.

Hermione ainda não havia perdido aquele dom que irritava Snape, quando ela começava a falar, não parava. Snape levantou-se jogando o jornal contra a poltrona e caminhou passando por era para organizar as idéias. Observou-a sacudir os cabelos que desprenderam uma essência perturbadora. Era um perfume fresco, juvenil, a essência floriental combinava perfeitamente com ela, sentia cada uma das notas, Toranja vermelha, Orquídeas e Âmbar. Afastou-se daquele demônio em formas femininas e postou-se do lado escuro e sombrio do recinto, apenas observando ela enquanto andava tranqüila passando o dedo pelas lombadas empoeiradas dos livros.

- Ele disse que eu sou uma pessoa muito persuasiva e que saberia o que fazer e dizer para que o senhor voltasse. – desta vez ela o procurou e encarou-o.

A luz do abajur deixava sobras no seu corpo delgado.

- Eu não sei o que falar e nem o que fazer senhor, mas...

- Senhorita Granger?

- Sim Professor Snape?

- O que levou a Senhorita a vir aqui? – perguntou curioso. – Não foi apenas o pedido do quadro de um velho que a motivou.

- Não senhor, Foram Minerva e Harry quem me obrigaram. – ela deu de ombros. – Eu sei perfeitamente bem que não sou muito bem vinda a sua casa senhor, mas, sei também que não gosto de ver meus amigos decepcionados comigo. – Ela voltou a sua atenção aos livros. – E como eu sei perfeitamente bem, que vim aqui para nada, e que ao sair daqui não mais o encontrarei, talvez, valha a pena o risco de ver o senhor uma ultima vez por que...

- Porque? – Snape indagou com o seu tom de arrastado.

Hermione pareceu congelar, havia falado demais, como sempre falava demais, o que o Professor Snape pensaria dela? Virou-se sorrindo.

- Por que... – procurava palavras em sua mente. – porque eu ainda tenho a tola ambição de ganhar alguns pontos do senhor... – respondeu parecendo divertida.

- Não sou mais Professor e nem a Senhorita aluna. – Caminhava para perto de Hermione lentamente. – E mesmo que fosse eu jamais concederia pontos a uma Sabe-Tudo-Irritante e ainda Grifinória!

Hermione ainda tinha o sorrisinho no rosto, encarava os olhos negros do Mestre de Poções. Snape percebeu exatamente há quase quatro anos, ela não mais tinha medo de suas ofensas, menos ainda de seu tom de voz. Ele sabia, ela criara uma imunidade ao carrasco professor, morcego das masmorras.

- O que devo dizer?

- Como assim Senhorita?

- O que devo dizer ao quadro de Dumbledore? – perguntou encarando o homem a sua frente.

Antes que Snape pudesse responder o óbvio, um estrondo fora ouvido, do lado de fora da casa, uma chuva pesada caia. Hermione começou a passos lentos, caminhar para seu casaco esquecido sobre a poltrona.

- Não voltarei!

- Entendo. – Vestida do casaco, abotoava-o enquanto voltava para perto de Snape. – Informarei a Dumbledore que não obtive sucesso. – arrumou o casaco sobre os ombros e caminhou para porta abrindo-a.

Uma rajada de vento entrou fazendo os cabelos de Hermione chicotearem contra seu rosto.

- Boa Noite Professor... – e pos um pé para fora, antes que pudesse por o outro pé, Snape a segurara pelo braço. – Mudou de idéia senhor?

- Não vai sair nesta chuva!

- Como?

- Não se faça de idiota Senhorita Granger! Não vai sair nessa chuva, vai acabar gripada, e não quero o peso de ter deixado a Princesa Grifinória resfriar-se.

Hermione soltou uma audível gargalhada, puxou o braço do aperto de Snape e projetou-se para fora, recebendo os pingos da chuva em seu rosto.

- Princesa...

O que quer que ela tenha dito depois disso, Snape não pode ouvir, apenas percebia ela descer os degraus de madeira enquanto a chuva encharcava o corpo jovem. Snape respirou fundo e se lançou a chuva segurando ambos braços dela e encarando a mulher a sua frente.

- Falo sério Senhorita!

- Eu não preciso de ajudinha do Professor Snape!

- Não que eu realmente queira, mas não agüentaria Minerva buzinando no meu ouvido sobre como a Menina de Ouro dela...

Um clarão cortou o céu e um grande estrondo mascarara o que Snape disse. No susto Hermione jogou-se contra Snape e enfurnou seu rosto no peito dele e fora questão de segundos, havia se separado novamente, os dedos de Snape afrouxaram. Ele passou a mão pelas costas molhadas dela e a guiou novamente para dentro.

Entraram na casa molhados até os ossos, Snape fechou a porta e começou a desabotoar a sobrecasaca. Hermione não havia reparado em como aquelas roupas assemelhavam-se com as de professor de poções, diferentes apenas no corte.

- Não adianta ficar aqui com essa roupa molhada Granger!

- E o que quer que eu faça? Que me dispa na sua frente?

- Sinceramente Granger, achei que fosse mais inteligente! – Snape jogou a sobrecasaca para o lado e apontou a varinha para suas roupas que soltavam um grande vapor e secaram-se.

Hermione despiu-se do grosso casaco depositando-o sobre a poltrona. Suas roupas estavam ensopadas e com um aceno de varinha, voltaram a ficar secas e quentes. Hermione soltou um ruidoso suspiro e levou a mão aos cabelos que pingavam água.

- Não pretendo ficar aqui... – falou mais para si mesma do que para Snape. – Poderia me emprestar uma toalha?

Snape parecendo ignorá-la entrou um uma porta que estava oculta por livros deixando Hermione sozinha. Ele recostou a porta e levou a mão ao rosto apertando a ponte do nariz de gancho. O maior dos motivos que fizera Snape deixar o magistério fora as lembranças que tinha de uma jovem grifinória por entre os corredores do castelo. Sentia-se um pervertido cada vez que se lembrava que tinha adquirido uma obsessão pela garota que estava do outro lado daquela porta. O que o confortava era que sabia que no fim daquela maldita guerra pereceria e levaria aquele sentimento egoísta com ele para o esquecimento, mas seu amaldiçoado corpo tinha de resistir o suficiente ao veneno para que Minerva o encontrasse com um fio de vida e junto com aquela gralha velha que era Papoula Pomfrey conseguissem salva-lo.

Conjurou uma toalha branca e abriu novamente a porta, Hermione estava debruçada à janela fechada, embaçando o vidro frio com a sua respiração quente.

- Senhorita Granger, a toalha!

Hermione pegou a toalha oferecia e sentou-se a fim de secar seus cabelos, Snape percebeu que no vidro embaçado estava uma pequena inscrição, havia um ‘H’ e um ‘G’ juntos, um pequeno coração e algo que lembrava um ‘C’. Snape certamente havia interrompido-a no momento em que escrevia com o indicador, pois o tal ‘C’ mal feito tinha um risco em sua base. O frio da chuva apagava lentamente a inscrição.

- Obrigada Professor!

- Agradeceria se parasse de me chamar de Professor Senhorita Granger.

- Eu, Eu... Desculpe-me... Snape.

O Homem esperava a audaciosa Grifinória soltar um “Severo”. Apoiou à janela que ela estava e cruzou os braços sobre o peito observando-a secar os cabelos cuidadosamente com a toalha limpa. Ela estava descalça, seus pés brancos destoavam do piso escuro, havia algo escrito sobre os tendões do pé direito.

“Não espere esperando, espere vivendo.” Ele leu aquilo era muito significativo. Tentou puxar da memória o nome de todos os grifinórios que estudara com ela cujo nome começava com ‘C’, Colin Creevey? Não, muito novo e pouco espeto para ela. Seu cérebro deu um estalo e o nome Córmaco McLaggen formou-se em sua cabeça. Ela havia estado com ele em uma das festas dada por Slughorn.

- Snape?

- Pois não?

Hermione estava com a toalha estendida para ele, Snape a pegou e seus dedos tocaram a mão de Hermione. Puxou bruscamente a toalha e jogou-a contra o ombro.

- Muito trabalho no ministério? – perguntou com um tom entediado.

- Não exatamente, o trabalho lá é prazeroso... – Hermione falou cruzando a perna deixando a tatuagem em seu pé oculta pelas sombras. – A única luta é regularizar os Elfos Domésticos!

- Ir contra a natureza de um ser é difícil Senhorita Granger, eles nasceram para servir e fazem isso porque gostam mesmo que não pareça.

Hermione resmungou em concordância e olhou para fora do vidro. Parecia que o céu despencava lá fora.

- E como vai o McLaggen? – perguntou tentando fazer aquela pergunta parecer aleatória.

Hermione franziu as sobrancelhas e encarou Snape curiosa, segurou um pouco o riso e forçou-se a falar com sua voz normal.

- Córmaco vai bem, ultimamente tem viajado bastante, sabe, por causa do Quadribol.

Snape contorceu seu rosto em uma fúria contida, queria azarar-se por ter perguntado sobre o rapaz, agora dera abertura para que Hermione falasse abertamente sobre o tal. Viu um sorriso no rosto de Hermione e se odiou mais ainda, aquilo era uma tortura.

- Mas, Snape, creio eu que não sou a pessoa certa para falar sobre Córmaco. – disse em tom de riso. – Eu nunca tive paciência para o Ego inflado dele, não o vejo desde o sexto ano.

Snape soltou o ar que prendia nos pulmões. Virou-se para olhar o outro lado, mas mantendo sua visão periférica em Hermione.

Hermione puxou a manga da blusa descobrindo o relógio de pulso que usava, e encarou os ponteiros parecendo ligeiramente desconfortável. Seu olhar vagueou pela sala e parou em um ponto aleatório quando ela mordeu o lábio inferior. Snape simplesmente achava aquilo a coisa mais sexy que ele já teve o prazer de ver.

- Algum problema Senhorita?

- Não... na verdade é que... – suspirou. – esquece!

Snape ergueu a sobrancelha formando uma enorme duvida no olhar, projetou-se para frente e entrou guiou-se para um corredor.

- Venha Senhorita Granger, vou preparar um chá...

Hermione o seguiu a meia distância. Fechou os olhos e inspirou o perfume masculino, um Amadeirado verde, conseguiu distinguir duas notas claramente, lima e especiarias. Aquele era para ela o cheio mais instigante do mundo, abriu os olhos e viu os cabelos negros, sempre tão bem cortados. Não sabia desde quando os sentimentos de aluna tornaram-se sentimentos de mulher. Mas, sabia que Severo Snape era um inalcançável. Quando viu as presas de Nagini cravando na jugular de Snape, Hermione sentiu algo dentro de si queimar em chamas infernais, mas as lágrimas não surgiram. E então depois de alguns dias, a noticia que salvara sua alma do abismo, Ele estava vivo. Uma esperança boba encheu seu coração, voltou a Hogwarts para cursar o sétimo ano com a esperança de que ele estaria lá para ela, mas não o encontrou, nunca mais o encontrou. A esperança ainda existia, sempre existiria, mesmo que ela nunca tivesse coragem suficiente para verbalizar o que sentia.

A cozinha era um cômodo pequeno, havia um fogão, uma pia e um armário de comida. Uma mesa pequena com três cadeiras tortas. Snape apontou a varinha para o fogão, e uma chaleira apareceu juntamente com o fogo, começando a ferver a água dentro.

- Verde ou Preto?

- Verde! – Hermione recostou-se a pia enquanto ouvia o fogo crepitar.

- Do que adianta Granger, eu a ter livrado daquela chuva, se a Senhorita continua descalça? – Snape apontou para os pés dela.

- Costume trouxa! – resmungou.

- Interessante o que tem ai! – apontou com a cabeça a tatuagem enquanto retirava a chaleira do fogo e a colocava em um bule de porcelana que havia sido posto sobre a mesa.

- Ah sim, isso é o que me motiva! – Disse consultando as horas. – Ao invés de apenas esperar pelo que eu desejo, eu vivo a minha vida até conseguir!

- Uma Boa filosofia, limão ou creme?

- Limão, duas gotas! – disse cobrindo o relógio.

- Algum problema com o seu relógio Senhorita Granger? – puxou uma cadeira e sentou-se servindo o chá em duas xícaras.

- Não, problema algum... Só que, Ronald está me esperando. – E sentou-se na cadeira ao lado tomando a xícara quente entre as mãos.

Snape pode finalmente ver a aliança dourada no dedo anular da mão direita. Então o homem que havia arrebatado o coração da Senhorita Granger era um Weasley? Ótimo, primeiro perde-se para um Potter, depois para um Weasley! O que mais faltaria na sua vida?

- O noivinho...

- Noivinho?

Snape encarou a aliança no dedo de Hermione, a garota jogou os cabelos para trás e gargalhou. Snape preocupou-se, será que havia deixado transparecer a sua irritação? Encarou a garota com uma duvida curiosa no olhar.

- Não Snape, Ronald não é meu noivo... – ao menos não por falta de insistência da parte dele. – Depositou a xícara sobre a mesa e rodou a aliança, que se mostrou um anel com uma pedra azul clara onde o símbolo do Ministério da Magia brilhava magicamente dentro.

Aquele era um conhecido anel de honra do Ministério, normalmente usado pela elite aristocrata, como ministros e chefe de departamentos. Snape tomou a mão de Hermione entre as suas e puxou-a para perto de seus olhos. Havia dois M’s floreados entrelaçados no anel que brilhavam em tom prateado.

Hermione adquiriu um tom rubro quando sentiu as mãos frias de Snape tomar a sua, estava inclinada contra a mesa, encarando a midríase de Snape, era quase imperceptível, mas aquela pouca distância distinguia-se perfeitamente a pupila da íris. Sentia o hálito quente com teores de limão vindo dos lábios entreabertos, finos e secos. Hermione umedeceu seus próprios lábios, a miose de Snape foi repentina, naquele momento eram apenas obsidianas em topázios. Olhos nos olhos, e ela se viu refletida naquela imensidão negra.

Estava próximo demais dela, e sua inspeção no anel, desejando que não fosse mesmo um anel de compromisso o fez esquecer-se de onde estava o som de lábios sendo umedecidos acordou-o de seu devaneio e ver aqueles olhos castanhos pregados em si fizeram suas defesas caírem por terra tão facilmente. Inconseqüente, acariciou a mão entre a sua com o polegar, a ouviu suspirar lentamente. Aproximou-se mais, levou uma das mãos ao rosto corado e o envolveu. Os lábios estavam a centímetros de tocaram-se, quando ela, assustada separou-se ficando pregada ao respaldar da cadeira.

- Não Professor! – sibilou ela. – Ronald!

- Desculpe-me Senhorita Granger, mas não disse que não tinha nada com ele?

- Eu disse que ele não era o meu noivo... Por favor, Professor, não torne difícil, estou tentando viver a minha vida!

- Erro crasso, eu deveria saber.

- Professor?

- Senhorita Granger, a Senhorita poderia me responder uma pergunta?

- Claro Professor...

- A Senhorita o ama? Digo, a Senhorita ama verdadeiramente Ronald Weasley?

Aquela resposta não era em nada difícil ou complicada, era simples, não, ela não o amava, não como mulher, mas escolhera-o para ficar junto, enquanto não tivesse o que tanto ambicionava. Ela levantou-se da mesa e encarou Snape com os olhos brilhantes.

- Não, não o amo como ele merece... Mas antes de tudo o respeito e não é assim que as coisas devem caminhar...

Saiu em direção à sala, correndo, apenas foi, os pés descalços batendo na água gelada, as lágrimas misturando-se com a chuva forte, o corpo tremendo com o frio noturno. Snape parou a porta, a vendo afastar-se com o vento, corria para longe, longe de si e repentinamente parou, parecia decidir-se por algo e quando se virou para olhar para trás desaparatou.

 

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Longe dali, Hermione agarrou-se a uma árvore e respirou fundo, retomando sua compostura, infantil como era, deixou os tênis e o casaco na casa do Professor, revirou os olhos, andou lentamente, a chuva ali era fina e fraca, levou a mão a fechadura encantada e a porta abriu-se revelando o interior aconchegante de sua casa. Ignorando o barulho vindo da cozinha Hermione subiu as escadas e uma vez dentro do quarto que a alguns meses dividia com Ronald Weasley começou a despir-se.

- Mione?

- Oi Ron?

Ronald entrou no quarto sorridente com uma caneca de cerveja amanteigada nas mãos. Olhou as roupas molhadas no chão. Hermione jogou-se sobre a cama, calcinha a soutien brancos.

- Ele continua o mesmo Ron, o mesmo arrogante, prepotente!

- Esqueça o Morcego Hermione, se vista, Harry e Ginny estão lá em baixo.

O Ruivo aproximou-se da mulher e depositou um beijo casto em seus lábios gelados. A verdade era que Ronald havia se transformado em um homem digno depois da guerra, A perda de tantas pessoas queridas o fizera amadurecer. Era carinhoso e estava encorpado. Havia feito um furo na orelha o que lhe dera certo charme másculo.

Harry continuava aparentemente a mesma pessoa, um moreno franzino com olhos extremamente verdes, cabelo em desalinho, óculos redondos e a famosa cicatriz em forma de raio. Ginny assim como Hermione havia crescido e tomado à forma de mulher, trabalhava em St. Mungus desde que se formara. Junto com Hermione.

O casal Potter ainda estava em lua de mel, havia apenas algumas semanas que haviam casado, Ron os encontrou aos beijos recostados na bancada da cozinha.

- Ei ei, procurem uma cama! – resmungou Ron para os dois. – Mione já vem...

Hermione descera com um suéter gêmeo do de Ron, presente dado pela Senhora Weasley. Abraçou o rapaz pela cintura e sorriu para os amigos enquanto Ginny servia um copo para a cunhada.

- Harry, Ginny, como foi a Lua de Mel?

- Quente Hermione, o Harry aqui ele...

- Ginny, por favor, poupe a mim e a seu irmão dos detalhes sórdidos de sua relação com ‘O Eleito’. – Hermione piscou para a ruiva. – Seu irmão ainda acha que você cunhada é a pequena e virgem caçula Weasley.

A isso Harry e Ginny riram abertamente.

 

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Em casa, Snape afundava-se na sua poltrona, seu desejo era que o objeto o tragasse. Os olhos estavam fixos nas peças que Hermione havia deixado para trás.

- Não espere esperando... – sussurrou. – espere vivendo!

Snape levantou-se a porta oculta por livros abriu, caminhou lentamente pelo corredor e subiu as escadas que rangeram, uma vez em seu quarto, jogou-se contra a cama e lembrou-se do perfume que ela exalava. Estaria agora ela nos braços do Weasley? Snape não tinha a resposta.

- Porque sempre as inatingíveis? Porque sempre elas?

Fechou os olhos e deixou a escuridão absorve-lo. O som da chuva caindo embalaram o sono conturbado, porque sempre que dormia, recordava-se daqueles olhos castanhos tão alegres, tão cheios de vida. O que um homem como ele tinha a oferecer a uma jovem como Hermione? Mas ao mesmo tempo que se sentia frustrado, uma vontade crescente de conquistar e mostrar a ela que os brutos também amam surgia.

Não sabia se ela tinha algum apreço por si, apenas sabia que ela ficara balançada de algum modo naquela pequena interação entre eles. E era com isso que contava para conseguir conquistar a mulher que sonhava. Hermione Granger, não deveria adotar o nome Weasley e sim Snape. Dormia tranquilamente agora.

 

 

 


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