Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 33
Caro adeus


Notas iniciais do capítulo

[ Não é o último capítulo da fic :v ]
Boa leitura



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Após catar e jogar os cacos de espelho no lixo, lavei o rosto; quando alguém entrasse, levaria um susto com tamanho estrago que eu havia feito naquele banheiro. Peguei alguns papéis e enxuguei a face, posteriormente saindo do cômodo e me deparando com um cara alto e de cabelos grisalhos, aos seus aparentes quarenta anos. Ele me olhava confuso e assustado, por provavelmente ter ouvido os estrondos, e eu apenas passei a mão pela nuca, com as sobrancelhas arqueadas.

– Espero que não se importe. – Dei duas batidas em um de seus ombros, me direcionando para o corredor.

Sem algo em mente sobre o que fazer, parei em frente à porta do quarto da Anne, cogitando se entraria. Levantava uma mão, pronto para abri-la, mas abaixava, e foi assim durante aproximadamente quatro minutos, até tomar a talvez egoísta decisão de ir a algum lugar menos deprimente. Porém nada parecia menos deprimente.

Adentrei o carro e fiquei sentado, observando minhas mãos sobre o volante. Em cima do banco ao lado, vi meu celular, e logo pensei em ligar para a Anne. Sabia que atenderia. Digitei seu número, ansioso para ouvir sua voz pronunciar o “oi” que eu não recebera naquela tarde.

– Quem fala? – disse a voz do outro lado da linha.

– É o Brandon. E oi, Sra. Mitchell.

– Anne está dormindo.

– É, eu... sei – porém esqueci. – Eu só queria... – Suspirei. – Deixa pra lá. Mais tarde eu ligo de novo.

– Não, Brandon – discordou pensativa. – Me encontre no café mais próximo daqui a trinta minutos, ok?

Fiquei pensando sobre o que ela queria conversar, e isso me deixou um tanto assustado.

– Tudo bem – respondi, breves segundos depois.

Embora devesse de ir em trinta minutos, optei por ir naquele exato momento. Eu não tinha planos para aquele dia e provavelmente uma conversa com a tia da Anne seria bom. O café ficava a dois quilômetros dali, mas era sexta-feira e, como sempre, a cidade estava agitada, as pessoas exaustas indo e voltando de seus trabalhos, imaginando o que fariam ao chegarem em suas casas. Não que isso fosse acontecer rapidamente, pois o trânsito estava um inferno.

Deixei o carro no estacionamento do próprio café e, ao entrar, escolhi a mesa mais próxima da porta. O local era rústico, mas um tanto elegante, e estava quase vazio. Uma garçonete infeliz veio até mim, com um bloco de notas.

– O que vai querer? – Sua expressão facial estava tão animada quanto a música que tocava ali; era Daughter, e eu estava quase dormindo.

– Nada, obrigado. – Forjei um sorriso, tentando parecer mais simpático do que a moça. E consegui.

Checava o relógio verde da parede a cada quarenta segundos, cujos pareciam minutos. Talvez se eu fingisse estar me divertindo o tempo passasse rápido. Todavia, não funcionava bem assim.

Vi uma mulher alta e loira entrar e dei graças. Joana sentou-se à minha frente, colocou a bolsa sobre o canto da mesa e deixou o queixo apoiado sobre as costas das mãos entrelaçadas enquanto eu quebrava alguns palitos de dente.

Sra. Mitchell cutucou a garçonete ao lado.

– Um expresso, por favor. Digo – virou-se para mim –, Brandon, o que vai querer?

Somente balancei a cabeça, tentando dizer que não queria nada, o que significava que eu não queria nada por estar preocupado e focado em outra coisa, como com o que ela queria dizer a mim.

– Certo. Somente um expresso.

Esperei a funcionária se dirigir ao balcão para falar alguma coisa.

– O que aconteceu? – indaguei, tendo a certeza de que minha testa estava franzida.

– Não é nada de mais. Tentarei ser direta.

Gesticulei para que continuasse.

– Sabe que a Anne está piorando. Que, embora eu tenha esperanças, sei que o que não esperamos pode acontecer, certo?

– Tudo o que você está prestes a falar eu já sei. – Segui sério, pensando que tudo o que eu estava pronto para ouvir seriam mais besteiras.

– Isso não é tudo que quero dizer, Brandon. Conversei com sua mãe há alguns dias. Ela disse que você estava indo muito bem nos estudos. Notas altas como nunca. Entretanto, isso descontinuou a partir do momento em que a Anne teve de ficar no hospital.

– Foi uma promessa a ela. Quer dizer, sobre estudar mais.

– No entanto, agora suas notas estão abaixando, foi o que sua mãe disse. Você falta algumas provas para poder vir visitá-la, não é?

– Eu tenho mesmo que ouvir isso? – disse a mim mesmo, me inclinando um pouco mais em meu assento. – Está dizendo que...

– Não deve mais ir vê-la no hospital – completou.

Soltei uma risada abafada e irônica, desacreditando no que acabara de ouvir.

– É uma piada, só pode ser. “Não é nada de mais”. Ah, com certeza.

– Brandon, estou falando sério. Você tem apenas dezessete anos de idade, uma vida inteira pela frente! Não pode estragar seu futuro com outra adolescente, até porque ela está em muito boas mãos. Você está estudando para uma boa faculdade, e Anne, naquela cama de hospital.

– Com todo respeito, eu não ligo para o que você diz. Me desculpe, mas não... não aceito essa ridícula proposta, ok? Sei cuidar de mim mesmo. E se eu quiser “estragar” meu futuro com ela... bem, é explicitamente o meu futuro. – Apontei para meu peito, me indicando rigidamente.

– Não sabe o mal que isto está fazendo a você! – retrucou ela.

Balancei a cabeça, revoltado, e me dirigi até à entrada ao passar pela porta dupla. Pelo canto dos olhos, já pelo lado de fora, a vi pagando o café sequer consumido e vindo até mim, apressada. Entrei no carro, girei a chave e dei à ré. Repentinamente, duas mãos surgiram sobre a janela do veículo.

– Por favor, pense nisso – insistiu.

E sua imagem diminuía ainda mais quando virei à esquerda, desaparecendo totalmente, instantes depois.

Tentei não pensar naquelas palavras enquanto dirigia, o que foi inacessível. E após cruzar a porta da minha antiga casa, minha mãe, sem dizer uma palavra, veio em minha direção, me abraçando em seguida, como se soubesse o que tinha acontecido. E, de fato, sabia. Mesmo assim não fiz perguntas, afinal, fazia tempo que não nos abraçávamos daquela maneira.

– Ela vai ficar bem – afirmou, acariciando meus cabelos.

– Tenho que vê-la. – Me distanciei. – Anne tem que saber do que Joana me falou. – Fui até à mesa e me sentei em uma das cadeiras, não tendo um foco físico.

– Mas ela sabe. Joana não te contou? – Minha mãe se sentou à minha frente.

A encarei.

– Como assim?

– Anne é quem deu a ideia. Até mandou que excluíssem seu número do celular dela. Apagaram as mensagens, excluíram seu contato do Skype. Tudo.

E foi por isso que sua tia perguntara sobre quem estava no outro lado da linha quando liguei para ela.

Naquela hora, eu não sabia se o que sentia seria raiva ou amargura, mas era horrível. Nunca havia sentido tanto desprezo vindo de quem amava.

– Isso tudo é pra quê? Piorar ainda mais as coisas? – Me ergui. – Sei que parece egocêntrico, mas... eu não vou conseguir!

– Anne não tem mais esperanças, Brandon, tente entendê-la. Me desculpe o termo, mas ela não quer que você venha para Nova Iorque apenas para vê-la em um caixão.

– Isso será ruim. Não. Será péssimo. Mas estou disposto a admitir isso.

Tentei me acalmar, e então subi as escadas e entrei em meu quarto. Não que isso fosse resolver a situação, mas me deitei para dormir. Há tempo não sonhava, ou até conseguia dormir direito. E quando me despertei, peguei as chaves do carro e fui ao hospital; Anne precisava me ouvir, e talvez, assim, mudasse de ideia. Ela tinha que mudar de ideia.

Perguntei a uma enfermeira se Anne já estava acordada e se podia visitá-la. A mesma me respondeu que ela não gostaria da minha visita.

– Prometo que será a última vez. Eu necessito falar com ela – argumentei, arqueando as sobrancelhas.

A funcionária felizmente deu permissão e, então, a agradeci até exageradamente.

Quando adentrei o quarto, Anne estava lendo um livro e não percebera minha presença até eu fechar a porta. Ela posicionou o objeto ao lado do seu corpo e se sentou na cama, o semblante fechado.

– Por quê? – perguntei, enquanto balançava a cabeça em gesto negativo e me recostava na parede.

– Vá embora.

– Sabe que isso só vai piorar as coisas, não é?

– Vá. Embora. – Fechou os olhos, apertando-os.

– Olha, se eu estou fazendo isso, é porque quero. Ninguém pensa com meu cérebro ou anda com minhas pernas. Se eu estou com boas notas, hoje, se estou bem com meu pai, é por culpa sua, portanto, isso é como um quebra-cabeça: se eu não vir mais, não terei nenhum dos três.

Ela me fitava, provavelmente pensando em uma resposta. Rapidamente, me aproximei da cama, me abaixei um pouco e a beijei, seu rosto entre minhas mãos. Contudo, Anne me empurrou um tanto forte.

– Saia daqui. – Suspirou. – Eu encontrarei você, então não venha atrás de mim, porque simplesmente não estarei ao seu alcance.

– Não... – minha voz falhara. – Pelo amor, eu... eu imploro. – Me abaixei e segurei suas mãos. – Me perdoe por nunca dizer, mas eu amo você e... e eu choro. Lembra quando me perguntou se eu chorava? Eu choro, eu... – Engoli em seco. – É a primeira vez que sinto algo muito bom por alguém além da minha família.

– Só faça o que eu pedi. Por favor, Brandon. – Seus olhos se encheram de lágrimas, mas que ainda não haviam caído. – Talvez minha tia dê notícias sobre mim, mas será ela quem vai escolher se fará isso ou não, então não é uma certeza. – Limpou o rosto. – Exclua meu número. – E, por fim, ela sorriu de lábios selados.

Me levantei, pondo as mãos nos bolsos da calça e passando pela porta, fechando-a logo em seguida. Pela última vez, vi Anne através das frestas da persiana.

E foi realmente a última vez que a vi.


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Notas finais do capítulo

Caraaaa, postei! Aleluiaaaaa! :3 Não me matem, pls aksjdhasd
É o penúltimo cap da fic DD': D.E é meu chuchu :c Aliááás, eu fiz um teaser pro final da D.E, porque simplesmente não tinha nada de melhor para fazer. Fiz o trailer da nova fic também, cuja tô ansiosa pra começar a escrever :D :
Teaser: http://youtu.be/M0Kab0OG7DE
Trailer da nova fic: http://youtu.be/NmCahEa2E9A
Beijoooss! Espero os reviews :v Ah, e agradeço à Aylla, pelos elogios e reviews c: Visitem o blog dela, gente u-u http://mlivrosmmundo.blogspot.com.br/ c: