Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 29
Cara noite




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O céu estava nublado e ameaçava chover enquanto voltávamos do hospital. No carro, tio Philip afirmara que estava com bronquite e que deveria tomar um medicamento de nome acetilsalicílico.

– Não é nada muito grave – completou.

– É por isso que você estava com febre, afinal – disse minha tia, do banco do passageiro.

Dias depois, a crise de hemoptise – tosse com sangue, para ser mais simples – do meu tio parou e ele já se tratava tomando o remédio de nome difícil. Brandon e eu saíamos quase todos os dias e já poderíamos dizer que namorávamos, porém o mesmo ainda não havia feito o pedido; eu não me importava com isso, aliás.

Faltavam apenas algumas horas até Brandon ir embora para Rutland, Vermont. Depois de algumas compras para a decoração do baile de primavera, deitei em minha cama e fechei os olhos, pensando o que aconteceria dali em diante. Olhei ao meu lado, para a janela, e vi alguns pingos de chuva batendo contra o vidro. Eu já tinha me despedido dele, no entanto, naquele momento, percebi que não fora o suficiente.

Vesti um cardigã e fui até à sala de estar. Por sorte, ninguém estava por perto. Apanhei um guarda-chuva e pus a mão livre na maçaneta.

– Aonde pensa que vai, nessa chuva? – indagou meu tio, surgindo da cozinha e se sentando no sofá. – Está muito frio lá fora.

– Eu sei. Não me importo. – Abri a porta e pus um pé para fora.

– Mas eu me importo. Feche isto e entre. Eu sei que está indo ver o Cooper.

Em um gancho na parede, vi a chave do carro dele. Não seria tão difícil dirigir, afinal, Brandon já tinha me ensinado. A peguei e saí porta afora, antes mesmo de dar tempo para que dissesse algo.

Estava anoitecendo. Na chuva, esperei abrir a garagem, e então entrei no carro e dei marcha à ré. Com o controle, abri o portão e parei no meio da rua, tomando coragem e convencendo a mim mesma de que daria tudo certo. Acelerei gradativamente até conseguir controlar a velocidade. Por causa da neblina, a minha visão estava escassa, mas, ao ligar o limpador de para-brisa, a poucos metros pude ver Brandon caminhando em direção oposta à minha, com um guarda-chuva. Em um movimento rápido, estacionei o carro e atravessei a rua, as minúsculas poças encharcando meus pés.

– U... au – ele apenas disse isso, desviando o olhar para o carro. – Você está louca? Poderia ter batido! – Me abraçou de lado, pondo-me sob o guarda-chuva. – Está fria...

– E-Eu tinha de me despedir de você... de novo – gaguejei, abraçando-o.

Ele balançou a cabeça negativamente.

– O voo foi adiado para daqui a alguns dias por conta das tempestades que estão por vir. Estava indo até sua casa para falar com você. – Sorriu.

Cruzamos a rua novamente. Ele abriu a porta para mim, fechou-a e entrou no carro, ligando-o logo em seguida.

– Vou te levar pra casa.

– Não, não quero voltar lá. Eu... meio que desobedeci meu tio e agora ele deve estar muito, muito bravo.

– Ah, entendo muito bem por quê – sinalizou a minha roupa molhada e o carro. – Ok, vamos para a minha casa.

Brandon acelerou e, aproximadamente três minutos depois, estávamos em frente à sua casa. Ele segurou minha mão e fomos correndo até à varanda por conta dos pingos; eu me perguntava qual seria a necessidade do guarda-chuva naquele momento.

– Mãe, preciso de duas toalhas e dois copos de chocolate quente, urgentemente – afirmou, enquanto entrávamos na casa.

Sorri com aquela situação.

– Meu Deus, vocês entraram no mar, é? – pasma, perguntou a mãe do Brandon, enrolando uma toalha em mim e nele. – Venha, Anne.

A segui e sentei-me ao redor da mesa. Instantes depois, Brandon fez o mesmo enquanto esperávamos sua mãe fazer os chocolates quentes. De repente, ela começou a me fazer perguntas e eu apenas respondia com “sim” e “não”; Brandon me encarava sorrindo de lado e uma vez rolou os olhos, por conta da curiosidade da mãe. Eu retribuía com risadas baixas.

Depois dos chocolates, Brandon e eu fomos até o sótão. Perto da pequena janela, ele segurou uma de minhas mãos e subiu no telhado. Fiz o mesmo, posteriormente, como na primeira vez. Nos sentamos à beira, como na primeira vez, e nos beijamos, como na primeira vez. Ele enlaçou a mão na minha e coloquei o meu cardigã sob nossas cabeças, para nos deitarmos. Alguns pingos de chuva quase caíam em meus olhos, mas eu não me importava com isso. Eu não me importava com mais nada, na verdade. Por um momento, esqueci que era humana.

– Vem – disse, levantando-me tranquilamente, ainda segurando a mão dele. Passei pela janela e Brandon também, com meu cardigã em uma das mãos.

– Quais são seus planos agora, senhorita Anne? – perguntou, com um sorriso estampado.

– Deite-se – ordenei, também sorrindo, até que Brandon deita-se na cama velha que havia ali sem hesitar, porém desconfiado.

Calmamente, desabotoei a calça jeans e a tirei, fazendo o mesmo com a blusa. Coloquei o cabelo para o lado e uma mecha atrás da orelha, fitando-o.

– Striptease? – indagou, rindo.

– Bobo – arremessei a blusa nele, reprovando. Logo após, deitei-me sobre ele e o mesmo me abraçou.

– Tenho que fazer isso também?

Ainda não – respondi, beijando-o imediatamente.

Brandon inverteu nossas posições e ficou por cima de mim, me encarando por alguns segundos.

– Você é a garota mais bonita que eu já vi na minha vida. E da minha próxima também – ele balbuciou, formando uma linha de beijos do meu ombro até o pescoço.

– Agora você pode... – murmurei em seu ouvido.

– Eu faria isso de qualquer jeito. – E então tirou a camisa, abaixando calmamente as alças do meu sutiã e abrindo-o, enquanto me beijava.

– Eu preciso de você, Brandon – sussurrei e suspirei, enlaçando minhas mãos nas dele, sobre a cama.

~~~~ ♣ ~~~~

Acordei às sete da manhã e fiquei observando Anne dormir sobre mim. Enquanto isso, eu a estudava: seus cabelos espalhados, os cílios naturalmente grandes, sardas quase invisíveis nas maçãs do rosto e uma pequena pinta no canto da boca. Eu nunca a tinha visto daquele jeito.

Calmamente, para não acordá-la, me levantei e vesti uma bermuda. Apanhei as roupas da Anne do chão e as pus sobre a cômoda. Fui ao banheiro e mirei meu reflexo no espelho, antes de escovar os dentes.

– Martin, preciso que leve sua irmã até à aula de piano. Tenho que sair agora e já estou atrasadís... – forçou para conseguir colocar o calçado – sima – disse minha mãe, calçando as botas enquanto sentava-se em um dos degraus da escada, cujo ficava próximo ao banheiro.

– Beleza, vou avisar a Anne – respondi. Ou pelo menos achei ter respondido; eu estava com muita pasta de dente na boca e duvidei sobre ela ter entendido.

– Ela dormiu aqui? – indagou, espantada. É, ela tinha ouvido. Em seguida, rolou os olhos e me jogou um olhar como quem diz “tenha juízo”, ou algo do tipo. – Até daqui a pouco, querido.

– Até. – Cuspi a água sobre o ralo da pia.

Subi as escadas correndo e passei novamente pela minúscula porta do sótão, quando vi Anne vestindo apenas o casaco fino dela, porém ainda com as roupas íntimas.

– Ah, você já acordou. – Sorri e então a vi sorrir também. – Eu tenho que levar a Deisy na aula de piano daqui a pouco. É a primeira aula dela. Quer tomar café?

– Não acho que seja uma boa ideia. Meus tios vão me matar quando eu chegar em casa, então não quero me atrasar para receber broncas. Sabe como é divertido ouvir meu tio reclamando, não é?

– Sei. – Ri.

Fui até à cômoda ajudá-la a arrumar as coisas. Contudo, escutei um estrondo vindo de trás de mim e, ao olhar, vi Anne sentada no chão, apoiando-se na estante de livros. Corri até lá, sentando-me ao lado dela e a segurando.

– Você está bem? – Pensei melhor depois que fiz a pergunta. É lógico que ela não estava. – Trouxe algum remédio seu?

– Eu... estou bem. Isso geralmente acontece. Não se... preocupe – afirmou, arfante e com a voz um tanto gorada.

– Está com falta de ar e tontura, não é? Vou te levar ao hospital.

– Não, Brandon, não é... necessário. Ficarei bem – teimou.

– Tem certeza?

A vi mexendo a cabeça positivamente, olhando para cima, me fitando. O dia havia amanhecido chuvoso novamente e o clima continuara frio, então fiz com que se sentasse na cama e a vesti. Anne parecia um pouco desorientada.

Após ir ao meu quarto e recolher uma blusa de lã, me agachei para vesti-la nela.

– Use isto.

E então a vi sorrir com ternura antes de me abraçar.


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Notas finais do capítulo

Oe, gente! Até que enfim um capítulo novo, não? O que acharam? u3u
Bom, como sempre, espero que tenham gostado :) E eu cumpri o/ Postei num domingo, milagrosamente! Estarei aqui, esperando pelo review de vocês :v E me perdoem se houver algum erro no capítulo; eu não reli, e tal.
Kisses 4 u!



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