Na Linha Da Vida escrita por Humphrey


Capítulo 2
Caro anônimo


Notas iniciais do capítulo

No primeiro capítulo eu disse que postaria o segundo somente quando acabar a outra fic. Pois é, eu não cumpri. A ansiedade falou mais alto. Então, eu amei a quantidade de leitores que eu consegui apenas com o primeiro capítulo, sério. Isso me incentivou muito.
Boa leitura.



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Por incrível que pareça, as aulas passaram voando – graças aos deuses. Ao chegar em casa, Deisy me cumprimentou novamente com um abraço.

Larguei a mochila em qualquer canto da sala e fui ao meu quarto, onde resolvi tirar a camisa e ficar assim mesmo enquanto ligava o computador. O dia que começara nublado tinha ficado caloroso e parecia que eu tinha adentrado uma sauna.

– Martin, por que não me contou que recebeu seis advertências em somente um mês? Aliás, que machucado é esse no seu rosto? – perguntou minha mãe, no batente da porta e com os braços cruzados.

– Ah, mãe, longas histórias... – afirmei, jogado na cama e com os olhos fechados.

– "Longas histórias" – repetiu. – Como você pode me dizer uma coisa dessas? Eu pago uma fortuna para aquela escola e você me agradece deste jeito? – gritou, tentando começar uma discussão.

– Prometo evitar as advertências, tá bom? – menti, mas era o único jeito de fazê-la parar. – E o machucado nem está doendo.

Ela cerrou os olhos, desconfiada. Contudo, virou-se e foi para outro cômodo da casa.

Após perceber que o computador estava ligado em vão, me sentei na cadeira à frente e resolvi checar meu perfil. Nada de interessante até o momento de eu receber uma mensagem no celular. Olhei para a tela: David.

Na mensagem, dizia que era para adicioná-lo no Skype, cujo nickname era Bailey, em homenagem ao Recruta Zero, segundo ele.

~~~~ ♣ ~~~~

Minha avó e eu assistíamos à uma novela; às vezes, que eram raras, eu tinha de cuidar dela. Aliás, nem era tão ruim ficar com a mesma, pois ela era uma das únicas pessoas no mundo que realmente se importava comigo. Pouco tempo depois, minha tia passou pela porta. Era notório que não estava feliz, e, sim, ao invés disso.

– Anne, não acha que precisamos conversar?

Revirei os olhos e fui até ela, que me guiara até à cozinha completamente vazia.

– Soube que você recebeu uma advertência hoje. É verdade? – indaga novamente, fitando meus olhos.

– Sim, tia, é verdade. Mas não foi minha culpa.

– Ah, não? – pergunta, parecendo ironizar.

– Um idiota da minha classe chamado Brandon. – Prolongo um suspiro. – Isso nunca mais acontecerá, eu juro.

Ela assente, ainda com a expressão séria no rosto, mas, então, sorri.

– Cuide bem da sua avó. Eu vou sair – disse ela, pegando a bolsa e a chave do carro.

– Certo.

Apanhei o notebook para ler um pouco sobre notícias, apesar de ser entediante e um pouco desnecessário. Vi um anúncio e resolvi segui-lo; era sobre o Skype, uma rede social da qual já tinha ouvido falar por diversas vezes, mas que nunca tivera curiosidade para criar um perfil em tal – até aquele momento.

Após cria-lo com o nome “Bailey”, o mesmo da minha antiga cadela de estimação, um ponto alaranjado aparecera na tela, indicando que eu recebera um convite de amizade de Martin. Mas quem seria Martin? Um convite repentino seria suspeito. Resolvi aceitar, afinal, até o indivíduo me enviar a seguinte mensagem no chat:

"Estou sem nada para fazer, quer vir aqui na minha casa?"

Pervertido ou burro, estava em dúvida entre qual desses adjetivos usaria para descrevê-lo. Eu nem o conhecia, tampouco sabia onde morava.

"Mas... Oi?", respondi.

Ele demorou um pouco para dizer algo, o que me deixou ainda mais indignada.

"Cara, isso foi hilário. Não, espera. Não foi, não."

"Quem você pensa que eu sou?", protesto.

"David Morgan, o comediante. Vá fazer stand up no inferno, cara."

"Se drogou? Não conheço você!"

Estava prestes a excluir a conta, porque não havia ninguém do qual poderia adicionar como amigo e conversar ali, além dos acéfalos da minha escola. Contudo, subitamente, ele me chamou.

"Ah, tudo bem. Devo ter me enganado", digitou. "Eu juro que não sou o tipo de pessoa da qual você está pensando, hahaha".

"Oh, é? Então me diga: quem é você?"

"Não respondo à sua pergunta se não me disser primeiro", respondeu, segundos depois. "Não me entenda mal, pois sou prevenido."

– Anne, eu vou descansar um pouco – afirmou minha avó enquanto se dirigia ao seu quarto.

Assinto.

Vejo que não tinha outra saída.

"Tudo bem. Eu não direi quem eu sou, pois também 'sou prevenida', e você também não me revelará a sua identidade", proponho.

"Você que sabe."

Na tela, dizia: “Martin está digitando...”

"Você é sempre assim? Agressiva, e tal."

"Só quando me chamam de cara."

~~~~ ♣ ~~~~

Eu sorria enquanto conversávamos. A garota cuja identidade não quis divulgar parecia ser legal, mas, ao mesmo tempo, misteriosa. Conversamos por horas, e nunca tinha imaginado que uma amizade virtual poderia me prender tão facilmente, ainda mais por culpa de uma garota que sequer conhecia.

"Então, Bailey, você mora onde?", interroguei.

"Bom, sou de Nova Iorque."

Certo, aquilo estava me assustando: primeiramente, eu havia acabado de adicionar uma garota, por engano, no lugar do meu melhor amigo, e, agora, descoberto que ela era de Nova Iorque.

"Estado ou cidade?", perguntei.

"Hum... cidade. Por quê? :-D."

"Que coincidência, Bailey! Também sou da cidade de Nova Iorque!"

Eu cogitava em perguntar onde estudava, qual bairro morava e em como aquilo podia ser uma grande coincidência, é sério. Eu poderia contar isso para os meus filhos.

Quando percebi que já estava anoitecendo, desliguei o computador para tomar banho, onde não parava de pensar na tal anônima e no quanto pude ser sortudo.

No dia seguinte, acordei absurdamente feliz. Tudo parecia perfeito, até sair de casa e perceber o quanto nossa mente é traiçoeira.

Ao chegar à escola, David foi até mim, queixando-se.

– O que aconteceu ontem? Eu falei para você me adicionar naquela porra. Fiquei esperando pelo seu convite o dia todo.

Não tinha coisa pior do que escutar as reclamações do meu amigo esquisitinho.

– Eu não sei explicar o que aconteceu. – Fechei o armário. – Aliás, ninguém conseguiria.

Ele cerrou os olhos.

– Hã?

Contei tudo a ele, desde os mínimos detalhes, enquanto andávamos pelo corredor. A garota, as coisas em comum entre ela e eu e quando eu planejava encontrá-la.

– Cara, como você pode chama-la de perfeita, sendo que nem a conhece pessoalmente? – me perguntou ao entrarmos na sala de literatura; a professora ainda não tinha chegado. – Afinal, quem dirá que ela realmente existe? Também, pode ser uma garota-Chokito, que se isola virtualmente, sem peitos e amigos. E, o mais importante, novamente: sem peitos!

Bufei.

– Tirei essa conclusão pelo jeito que conversamos. Ela parecia tão espontânea... – Pausamos a fala por uns poucos segundos.

– Você não sabe o que significa ser espontâneo, né?

– Não, mas todos os bons adjetivos servem.

Caminhamos, passando por diversas mesas, as mochilas batendo nas mesmas a cada passo.

– E aí, Brandon, brincou de boneca com a irmãzinha ontem? – Trevor, o baixinho loiro do time de atletas, caçoou.

– Calma, não vale a pena – David se intrometeu em minha frente enquanto eu me aproximava mais do oxigenado.

– Saia da minha frente – sussurro a ele. – Aposto que o zoado não será eu quando a sua namoradinha souber que ficou transando com a prima dela, né?

Os outros uivaram, debochando dele.

– Ao menos não uso brinquedos da minha irmã para me masturbar e sei o que significa transar com alguém além de si mesmo – Sorriu ironicamente. – Que vergonha!

Aprendi que, se um dia você quiser assustar as outras pessoas, não pode deixá-los vê-lo aderindo aos caprichos de sua irmã. Fui obrigado a brincar com ela, certo dia, e tive que suportar as consequências de deixar outras pessoas verem isto.

– Tanto que precisa pagá-la para isso, não é?

A tal garota era minha vizinha, e por conta disso, pude ver tudo enquanto andava pelo bairro. Não que eu fosse fofoqueiro, mas porque ambos falavam tão alto que até Deus poderia ouvir.

– Cara, se contratasse uma prostituta não pagaria tanto vexame – continuei.

Trevor desceu da mesa, ficando cara a cara comigo. Aliás, cara a peito, porque o imbecil era quase menor do que a mesa ao lado.

– Ah, por favor... – Anne surgiu, tentando nos interromper – Eu posso falarpara o diretor, e você, Brandon, recebe suspensão. Mas ficar sem te ver por alguns dias não seria uma má ideia...

Me perguntava o que Anne tinha na cabeça. Suspensão era a única coisa da qual eu não precisava no momento, e eu poderia muito bem afasta-la do local e continuar o que planejava, mas não faria isso, afinal, eu prometi a minha mãe sobre tentar evitar advertências.

É, tentar, obviamente, não é uma certeza.


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Notas finais do capítulo

Opiniões?
Espero que tenham gostado.
Beijos,
M