Lucy estava agitada e confusa. Na verdade, perdida é a palavra certa para descrevê-la. Há dias começou a reparar no modo que Natsu andava agindo. Ele sempre fora muito carinhoso e engraçado, a tratava bem (na maioria das vezes), e dizia coisas constrangedoras sem perceber. Para ajudar, Mira-san sempre insinuava algo quando os viam juntos, fazendo com que até Lissana começasse a irritá-la com isso. No seu interior, Lucy sabia que o que sentia por Natsu era maior do que amizade, e que a tremedeira que sentia sempre que estava perto dele não era uma coisa completamente normal.

– Lu-chan, onde vai? –Levy, sua melhor amiga, chamou-a. Lucy estava mais apreensiva que o normal, e sabia que deveria relaxar. Ela já tinha passado por isso. Natsu havia pedido a Lucy que a encontrasse na cerejeira, como da última vez. Até hoje Lucy fica toda vermelha só de lembrar que confundiu as intenções do amigo, achando que ele fosse declarar-se, quando na verdade precisava da ajuda de Virgo.

– Ah, vou me encontrar com Natsu... Parece que ele precisa de minha ajuda em alguma coisa... –Lucy respondeu completamente desanimada à amiga, e continuou seu caminho.

Desta vez Lucy não se arrumou, e nem se deu ao trabalho de passar perfume. Com toda a certeza do mundo Natsu só devia estar querendo ajuda de seus espíritos. Talvez de Aquarius, para pescar...

“Mas e se não for nada disso? E se ele finalmente se declarar?!”– uma parte da mente de Lucy gritava tentando convencê-la a pelo menos trocar a roupa por uma mais bonitinha.

“Cale-se consciência! O amor é algo completamente psicológico!”– revidou. E achava isso mesmo, já que uma das coisas que mais gostava de fazer era negar sua paixão por Natsu. Sempre imaginou que como Mira-san ficava botando minhocas em sua cabeça, e que Natsu era um bom amigo, deve ter confundido seus sentimentos achando que estava apaixonada.

“Como você é baka Lucy... Até parece que o Natsu iria se apaixonar por você!”- Lucy caçoava de si mesma completamente sem forças até de rir da própria desgraça.

– Que foi Natsu? –Lucy indagou um pouco mais grossa do que deveria ao chegar à árvore. Surpreende-se com o fato de que seu amigo estava de um jeito diferente, mais fofo.

– Lu... Lucy... –Natsu gaguejou um pouco quando viu a amiga. Há quanto tempo ele esperava esse momento? Nem ele mesmo sabia! De todo modo tentava criar coragem para conversar com Lucy, mas sempre que chegava o momento mudava de assunto, ou desviava o olhar por não ser forte o bastante para falar sobre sentimentos. “Fala sério, eu sou um homem! Não falo sobre coisas de menininhas!”– pensava ele todo encabulado.

– Que? –a maga questionou com o olhar totalmente entediado. “Quanto mais rápido eu sair daqui melhor!”- pensava ela “Assim não volto a me iludir tão cedo...”

Vendo o estado da amiga, Natsu começou a ficar irritado. Porque ela estava com aquela cara?! Será que ela não podia nem ao menos sorrir para ele? Sua presença era tão ruim assim?

– Se não quisesse ter vindo era só falar! –Natsu bradou fazendo bico. Lá estava ele, prestes a agir como uma mulherzinha, e Lucy ficava assim, tão indiferente.

– Não é isso... –Lucy desculpou-se percebendo que deveria tratar o amigo um pouco melhor. – Me desculpe, só estou um pouco cansada... –pediu coçando a nuca desconfortável. – O que quer? Eu te ajudo! –falou com a voz um pouco mais animada e sorrindo.

– Bom... E-eu... –Natsu começou, mas parou. Ele era péssimo com palavras, como poderia dizer algo bonito para conquistar Lucy? Já ela, quando se aproximou da árvore para ajudar no que vai saber que o amigo queria, percebeu que suas bochechas estavam coradas, e seu jeito espontâneo escondido em algum lugar.

– Natsu... –começou a falar confusa. – Você está bem...? –perguntou cuidadosa. Natsu já estava ficando louco e a ponto de fugir novamente inventando qualquer outra coisa. Ela estava tão linda... Não, ele não iria fugir. Não era bom com palavras? Mas era ótimo com gestos.

– Não. –respondeu seriamente, e se aproximou da maga. Essa o encarou confusa, e quando pareceu que ia falar alguma coisa, foi impedida por Natsu. E Lucy nunca ficou tão feliz pelo amigo fazer as coisas sem pensar... Aquele foi o primeiro de muitos beijos que os dois teriam, dispensando qualquer momento desconfortável em que deveriam dizer o que sentiam um pelo outro. Afinal, um beijo vale mais que mil palavras.