– E então doutor? - repetiu a pergunta ao perceber o silêncio dele

– Felizmente a queda da escada não ocasionou nenhuma fratura grave, o tiro atingiu o braço e foi bem superficial, fizemos uma pequena cirurgia para a retirada da bala e tudo correu dentro do esperado. - o médico sorriu ao ver a expressão de alívio feita por Carlos Daniel– Mas... - dizia quando foi interrompido

– O que foi? Por favor, não me esconda nada! - disse Carlos Daniel exasperado, seu alívio havia se tornado novamente uma grande angústia apenas com esse "mas" pronunciado pelo doutor.

– Sua noiva sofreu uma ameaça de aborto e por isso perdeu muito sangue. Ela está um pouco fraca, mas conseguimos controlar a hemorragia. - disse sério

Carlos Daniel demorou alguns segundos para assimilar as palavras do médico, mas logo lágrimas de felicidade e um sorriso emocionado surgiram em seu rosto.

– Está me dizendo que... - o doutor o interrompeu

– Sim, Paulina está grávida. Parabéns! - confirmou

Logo Vovó Piedade e Rodrigo se aproximaram e o abraçaram, contentes pela notícia.

– Paulina e o bebê estão fora de perigo? - perguntou Piedade após cessar o abraço com o neto

– Sim, porém precisará de muito repouso e cuidado redobrado com a gravidez.– afirmou- E tendo em vista todos os fatores que trouxeram Paulina até aqui, devo dizer-lhes que isso é um verdadeiro milagre.

– Posso vê-la? - perguntou Carlos Daniel, ansioso por ver a amada

– Para evitar fortes dores no corpo por conta da queda, ela está sedada. Deve dormir a noite toda. Aconselho que vocês voltem para casa, e venham vê-la pela manhã quando com certeza já estará desperta. - indicou

– Jamais a deixaria sozinha. Preciso estar ao lado seu lado mesmo que ela não perceba minha presença. Entenda! - insistiu Carlos Daniel

– Está bem senhor Bracho, vou abrir uma exceção. Só peço que evite fazer muito barulho, pois é muito importante para sua recuperação que ela tenha um sono tranquilo.

– Obrigado! - agradeceu sorrindo

Vovó Piedade e Rodrigo decidiram ir para a mansão Bracho, para que assim pudessem tranquilizar a todos que estavam lá ansiando por notícias de Paulina.

Carlos Daniel foi guiado até o quarto onde Paulina estava. Ao vê-la, seu sentimento de culpa cresceu mais ainda: Estava pálida, com hematomas no braço esquerdo e na testa. O braço direito estava enfaixado, devido ao tiro.

Ele se aproximou, e com cuidado para não despertá-la, começou a acariciar levemente seu rosto.

– Perdão, amor meu! - murmurou, com os olhos marejados

Após um certo tempo admirando o rosto da amada, que mesmo estando mais claro que o normal e um pouco machucado, tinha a mesma expressão angelical de sempre, Carlos Daniel dedicou-se a afagar, por cima do lençol, o ventre de Paulina.

– Na primeira vez, eu fiz tudo errado. Agora vai ser diferente, juro! - um sorriso surgiu em seus lábios ao imaginar como estaria o ventre da amada dentro de uns meses.

Ali, perdido em seus devaneios, Carlos Daniel passou horas a fio. Não se cansava de admirar Paulina, e tinha o firme propósito de estar com ela durante todo o tempo. Por isso, mesmo com os vários pedidos do médico para que ele fosse para casa, não moveu-se um só momento do lado da amada.

Ele sentou-se em uma poltrona ao lado da cama, e velou seu sono até acabar adormecendo também, em algum momento durante a madrugada.

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– Carlos Daniel... - uma voz que parecia distante o chamou, fazendo com que ele acordasse

Os primeiros raios de sol do dia já adentravam o quarto. Carlos Daniel abriu os olhos e deparou-se com Paulina sentada na cama, com as costas apoiadas na cabeceira.

– Onde está nossa filha? - foi a primeira coisa que Paulina perguntou, ainda com voz fraca, quando seus olhares se encontraram

– Está em casa, e todos estão cuidando dela. Um médico a examinou, e Carolina está perfeitamente bem. Não se preocupe meu amor! - respondeu olhando diretamente nos olhos da amada

Um breve silêncio surgiu naquele quarto, e os olhares de ambos que o tempo todo estavam fixos um no outro, se encheram de lágrimas.

Em um impulso, Carlos Daniel levantou-se da poltrona e abraçou Paulina o mais forte que pôde, com cuidado para não machucar seu braço enfaixado. Com o rosto enterrado no pescoço do amado, Paulina chorou.

Todas as lágrimas de medo e angústia que ela conteve durante o sequestro, foram derramadas durante aquele abraço.

Carlos Daniel a consolou em silêncio, sabia que seria bom que ela desabafasse. Aos poucos, seu choro foi cessando.

– Tive tanto medo de não te ver nunca mais... - disse Paulina, com voz embargada– Paola nos enganou, esteve perto o tempo todo, queria acabar com todos nós... e quase conseguiu. - Sentindo-se protegida e segura nos braços do amado, Paulina foi sincera

– Me perdoa, vida minha!– ele a puxou mais para si- Por não ter te protegido antes, por não ter te impedido de ir até ela, e principalmente pelo tiro... me perdoa! - agora era ele quem chorava, a culpa era inevitável para Carlos Daniel

Paulina afastou-se apenas o suficiente para olhá-lo nos olhos e então secou suas lágrimas com o polegar.

– Quando fui até lá estava consciente do que poderia acontecer, mas a vida na nossa filha estava em jogo. E quanto ao tiro... não foi sua culpa, fui eu que me coloquei na frente.

– E por que quis salvá-la? - perguntou Carlos Daniel, intrigado

– Deus é quem sabe a hora de cada um, mas não foi exatamente por salvá-la que eu fiz o que fiz.

– E então? Não entendo!

– Sou eu quem te deve desculpas, foi uma loucura minha. Mas sei muito bem o quanto é difícil estar em uma cadeia, e não suportaria te ver preso, meu coração não aguentaria ver você passar por tudo que eu passei! - afirmou enquanto algumas lágrimas voltavam a rolar por sua face

Carlos Daniel não podia acreditar no que ouvira. Paulina tinha se arriscado por ele, seria mesmo merecedor de tamanha prova de amor?

Ele não a respondeu. Se aproximou de seus lábios e assim iniciou um beijo lento, mas cheio de amor. Ambos curtiam ao máximo o sabor dos lábios um do outro, matando as saudades que sentiam.