Pov. Ally

              "Querido Diário,

    Eu sei que prometi ao meu irmão que ia fazer as pazes com a minha mãe,e eu não quero que fiquemos brigadas,mas,eu não consigo. Eu tinha acabado de acordar,na verdade eu acordei porque ouvi uns barulhos estranhos vindo do corredor,eu não sabia direito o que era.Não eram gritos,nem apenas passos,era mais como alguém que estava se sentindo mal,muito mal pelo visto. Acabou que eu abri a porta do meu quarto pra ver o que era,e era Penny,ela estava quase desmaiando,ela estava totalmente bêbada,estava caindo pelo chão. Isso me irritou,mas não podia negar que de alguma forma,era até engraçado. Jason também acordou e a levamos para o quarto dela. Ela iria acordar com uma tremenda dor de cabeça. Enfim diário,isso me deixou brava,porque várias vezes,depois que ela foi embora de casa,ela falou que seria uma mãe melhor. E eu acreditei nela,obviamente não foi verdade,aconteceram várias coisas depois disso,e só minha tia mesmo pra me convencer a vir morar com ela. Mas,eu realmente não aguento mais ficar aqui,quero toda a bagunça e brincadeiras que era viver com meus tios e meus primos. Parecia que fazíamos parte de um filme de comédia,todo o dia era outra loucura. E eu gostava disso,era animado e engraçado. Sinto falta disso. Desde o dia em que vim morar em Miami,tudo começou a virar um filme de drama.  Daqueles bem chatos não é ? Eu não quero viver assim. Diário,você deve estar se perguntando o por que de eu estar escrevendo tanto não é ? Bom,deixa eu explicar,eu estou na escola,mas necessariamente no porão da escola. Sim,eu estou matando aula. Meus primeiros períodos são um tanto chatos,e eu queria poder ficar sozinha algum tempo. Acho que só vou para a aula depois do almoço. Bom,por enquanto é isso diário,acho que estou ficando melhor em escrever e você não é ? Até logo. "

    Fechei meu diário,e suspirei. Eu queria poder falar com alguém. Mas,não era qualquer pessoa. Eu queria poder falar com a minha mãe. Queria poder ter todo essa ligação de mãe e filha,nunca tivemos isso. E por um tempo,eu não me importava. Via algumas amigas discutirem com as mães diariamente e ficava feliz,porque minha mãe estava apenas longe de mim. Evitando qualquer tipo de problema.

    E talvez fosse esse um dos motivos por eu não querer ter vindo. Eu sabia que em algum momento acabaríamos brigando. E é por causa dessas brigas que eu queira ir embora daqui.

    Abri minha mochila e peguei um livro que eu tinha trazido. O nome era "A Cabana" . Era sobre um homem que tem sua filha de seis anos raptada durante um acampamento de fim de semana. Eu estava quase na metade do livro,tinha lido ainda quando estava em Nova York,mas nem tinha encostado nele desde que me mudei para cá.

    Escutei o sinal tocar indicando o início do segundo período.

    - Ally ? 

    - Elliot ? Por que está aqui ? -perguntei para o moreno parado em minha frente. Eu nem tinha reparado que ele tinha entrado.

    - Eu tinha uma prova de matemática nesse período,então vim pra cá. Afinal,eu não estudei nem um pouco pra isso -ele disse e eu sorri.

    Elliot sentou em uma poltrona,mais para o canto da sala. Eu estava sentada em cima de uma mesa um pouco mais perto da porta.

    - Achou melhor fugir da prova ? -perguntei descontraída.

    - Depois eu invento uma desculpa,até lá já vou ter estudado e vou poder fazer a prova outro dia -ele disso sorrindo e um pouco orgulhoso da sua lógica.

    Voltei a ler meu livro e Elliot pareceu se entreter com seu celular.

    - Esse livro é bom não é ? -ele perguntou depois de um tempo em silêncio.

    - Parece ser -sorri

    - Está em que parte ? -Elliot perguntou

    - Já estou quase na metade -disse

    - Eu já li esse livro uma vez,eu gostei -ele disse sorrindo

    Sorri também e voltei a ler meu livro. Era mesmo muito bom,pelo menos até agora. Senti meu celular vibrar e era uma mensagem da Trish. Esse período eu teria aula com ela.

    "Ally,o que aconteceu ? Não vai vir pra escola ? "

    Logo respondi,ela deveria estar preocupada comigo.

    "Eu estou na escola,só não estava afim de ir pra aula agora,talvez eu vá depois do almoço."

    Depois de um cinco minutos,ela respondeu. Devia estar na aula,e por isso não respondeu mais rápido. Afinal,não pode usar aparelhos eletrônicos na sala.

    "Tudo bem,depois nos falamos"

    Não respondi mais. Não iria querer causar problemas pra ela.

    Voltei a prestar atenção no livro. Mas logo fui tirada de dentro desse mundo pelos meus próprios pensamentos. Eu queria poder ler o livro em paz,mas minha mente pensava apenas na minha mãe,na saudade que sinto do meu pai,e na possibilidade de eu voltar a morar em Nova York.

    - As vezes,esse lugar é como um refúgio -Elliot disse - Podemos ficar aqui quando não queremos enfrentar as pessoas,ou apenas ficar sozinho .

    - Verdade,é por isso que eu estou aqui.

    - Eu também vinha aqui quando precisava descansar - ele disse e sorriu rapidamente - mas,as vezes tudo que queremos é ficar um tempo com nós mesmos não é ? 

    - É,em alguns momentos precisamos apenas de nós mesmos. Esse lugar é perfeito pra isso.

    Ele assentiu e voltou a mexer no seu celular. Talvez fosse disso que eu precisasse. Um refúgio. Um lugar para eu pensar e refletir sobre qualquer coisa. Aonde ninguém me atrapalhasse,aonde eu ficasse totalmente sozinha e perdida em pensamentos. 

    Eu não havia visto minha mãe esta manhã também. Ela deveria estar dormindo,se recuperando da bebedeira. Em algum momento,eu conversaria com ela. Mas até lá,eu vou ter que estar decidida se eu quero ficar em Miami ou voltar para Nova York.

    - Ally, quando você chegou aqui,a porta estava aberta ? -Elliot perguntou

    - Sim,mas quando eu entrei eu fechei ela pra que ninguém visse. 

    - Nunca fica aberto aqui. Não pela manhã. Só se alguém estivesse aqui dentro,alguém que tivesse a chave. 

    - Quem tem a chave daqui ? -perguntei

    - Só a direção,que eu saiba -ele disse

    - Será que tinha alguém da direção aqui antes ?

    - Talvez.

    Ficamos em silêncio por alguns minutos,até que a porta se abriu,bateu na parede com muita força causando um estrondo.

    - Quem está aí ? -perguntou aquela voz desconhecida.