Pov. Autora

– "Passei a maior parte da minha vida tentando não chorar na frente das pessoas que me amavam. Você trinca os dentes. Você olha para cima. Você diz a si mesmo que se eles o virem chorando, aquilo vai magoá-los, e você não vai ser nada mais que uma tristeza na vida deles."

Ally praticamente sussurrava as palavras no escuro do seu quarto enquanto lia o livro. Tinha apenas o seu abajur ligado,e a luz que irradiava dali,não era muito forte. Mas a garota pouco se importava com isso.

Pegou seu celular em cima do criado-mudo que ficava bem ao lado da sua cama e olhou as horas. 02:34. No outro dia,ela teria aula. Só que Ally não conseguia dormir. Por isso mesmo havia pegado o livro para ler. Seu cérebro estava ocupado demais pensando em Austin.

Ela passava as imagens do encontro em sua cabeça. A garota estava nas nuvens. Sim,era algo novo para ela. Um sorriso. Foi isso que escapou dos lábios de Ally assim que ela se lembrava de cada detalhe da noite passada.

A garota sempre lia romances quais ela sempre amou,mas não conseguia imaginar coisas assim na vida real. Ou pelo menos com ela. Ela fechou o livro e o colocou em cima do criado-mudo. Se ajeitou na cama, e se cobriu quase até a cabeça. Mesmo estando um pouco quente, ela gostava de se tapar.

Fechou seus olhos e em vez de finalmente conseguir dormir. Uma coisa passou pela sua cabeça : O que ela estava sentindo era realmente amor ? Com essa pergunta na cabeça,ela enfim,adormeceu.

~~~~~

Austin se virava em sua cama. Também não havia pegado no sono ainda. Algumas cochiladas,talvez. Mas sempre acordava,e a primeira coisa que vinha a sua cabeça era Ally.

Assim como a garota,ele também pensava no encontro da noite passada. Obviamente tinha sido mágico para os dois. O loiro se virou para cima,e fitou o teto. Em sua cabeça,via Ally sorrindo.

Aquilo o deixava feliz,o deixava com vontade de sorrir também. Ele considerava totalmente certa ideia de que gostava dela. Mas agora,enquanto de alguma maneira,ele refletia sobre isso,percebeu que talvez seja algo mais forte.

Pov. Ally

Acordei com o barulho do despertador. Rapidamente o desliguei e me levantei da cama. Me vesti ainda pensando na mesma pergunta dessa madrugada. Seria mesmo isso ? O pensamento me paralisou por um breve momento. Finalmente terminei de me vestir quando já ouvi minha mãe me chamando.

– Ally ? Já acordou ? - ela perguntava enquanto dava leves batidas na porta do meu quarto.

– Sim - respondi - Já estou acordada.

Ouvi o leve ruído da porta sendo aberta e minha mãe logo apareceu com um sorriso reconfortante bem á minha frente. Difícil pensar que a pouco tempo atrás não éramos nem um pouco próximas. Parecia outro tempo agora,sabe ? Nem parecia que foi á tão poucas semanas. -

Acho que precisamos arrumar essa porta - mamãe comentou enquanto se sentava na minha cama - O barulho está realmente insuportável.

– Acho que nem tinha notado isso antes - disse enquanto ia até meu roupeiro pegar minha mochila.

Assim que a peguei,coloquei em cima da cadeira da escrivania. Notei que minha mãe me observava. A olhei meia curiosa,e também um tanto confusa.

– O que foi ?

– Nada - ela disse rapidamente.

Ela passou uma das mãos delicadamente sobre meu edredom,como se estivesse sentindo a textura.

– Aposto que quer me dizer algo não é ? - perguntei.

Não sabia se era mesmo isso,mas não tinha muitos motivos mais para ela estar me olhando constantemente enquanto eu arrumava minhas coisas para ir a aula.

– Talvez - ela sorriu enquanto ainda passava a mãe pelo meu edredom - Mas tenho que confessar que não sei direito como fazer isso.

Franzi a testa. Ela não sabia como me dizer algo ? Fui até a cama,e me sentei de modo com que ficasse bem na frente dela. Ela sorria desconfortavelmente olhando para o chão.

– O que quiser falar ... - comecei tentando escolher as palavras - Bom,se for uma daquelas conversas de mãe e filha,de qualquer maneira,vai ser estranho pra mim.

– Pra mim também - ela riu nervosa - Não fique aflita,nem pense que é algo muito grandioso - ela começou - Mas eu ainda acho que sua tia se sairia melhor nisso,do que eu entende ? As vezes me sinto culpada por não conseguir nem conversar com você ...

– Mas isso não é tudo não é ? - ela assentiu.

– Sua tia costumava a ter conversas sobre amizades,escola,namoros ou coisas assim com você ? Pois saiba que eu tive conversas assim com Jason,mas claramente não é o mesmo com você,filha.

– Sim,a gente conversava sobre muitas coisas ... E nunca vai ser a mesma coisa comigo e Jason.

– É,eu sei - ela suspirou

– Sabe,eu acho que eu nunca tive muitas chances de te dar um conselho ... E parece que eu perdi boa parte da sua vida. De qualquer maneira,agora,eu só queria que você tomasse cuidado com o amor,ok ? Esse é meu conselho.

Ela sorriu desconfortável mais uma vez. A encarei por o que pareceu um longo minuto. É claro que eu não podia deixar de associar esse seu "conselho" á sua história com meu pai. Ela devia ter sofrido não é ? Acho que passei tempo demais vendo o lado errado da história.

Ou talvez,não fosse o errado. Mas cada um tem a sua versão,e eu deveria ter escutado a dela antes de julgar. Penny e eu já tínhamos tido essa conversa algumas semanas atrás,quando enfim,fizemos as pazes.

Mas,ela falar sobre amor ou coisa assim,me faz lembrar. Talvez eu não tenha sido uma boa filha na época.

– Esse é seu conselho ? - ela assentiu.

– O amor pode ser algo maravilhoso,Ally. Mas as pessoas não sabem cuidar bem dele. Sei que está pensando no seu pai,agora - sorri fraco - Eu tenho certeza que foi isso que aconteceu conosco,e sabe,não quero que isso se repita com você. Não sei se você já se apaixonou antes,e me sinto péssima por ter sido tão ausente ... Mas acho que isso se aplica a esse momento.

Ela sorriu reconfortante. Devolvi o sorriso e ela passou os braços pelos meus ombros,me dando um abraço de lado.

– Eu te amo, filha - ela disse me dando um beijo na testa.

– Também te amo,mãe.

Nos separamos e ela logo se levantou da cama e me fitou.

– Você ainda tem que ir pra escola,lembra ?

– Ah,claro,a escola - me levantei da cama - Já estou indo.

Terminei de enfiar as coisas na minha mochila e fui correndo descendo as escadas. Passei por Jason que estava esticado no sofá assistindo o que parecia ser o jornal da manhã. Dei um tapa na cabeça dele.

– Ai ! Por que fez isso ?

– Isso foi bom dia - disse ainda correndo para a cozinha.

Peguei uma maçã e a mordisquei rapidamente. Voltei para á sala ainda com a maçã nas mãos.

– Por que tá vendo isso ? - perguntei apontando para a televisão.

Ele me olhou confuso mas logo olhou para a televisão,e deu de ombros.

– Ah,nem vi que tava nesse canal. Já podemos ir ?

– Claro.

Ele se levantou desligando a tv. Resmungou alguma coisa sobre o noticiário ser estúpido. Nem liguei,era de manhã,Jason deveria estar de mau humor. Ainda mais por ser segunda.

– Já estão indo ? - mamãe perguntou descendo as escadas. Assentimos e ela nos deu um beijo na bochecha.

– Não acha que somos meio velhos pra isso ? - Jason perguntou ainda com aquela cara de sono dele.

– Não,eu não acho - Penny respondeu séria

– Agora vão,já estão quase atrasados.

Saímos de casa em direção ao carro. Meu celular vibrou com alguma mensagem. Sorri ao ver que era de Austin.

– Ei - Jason me chamou - Cuidado com o amor,lembra ? Mamãe gosta muito de falar isso. Ele disse quase com um ar de deboche.

– Ela falou com você ? - perguntei,nada surpresa.

– Claro - ele bocejou - Ontem antes de dormir,ela me fez ter insônia - ri.

– Acho que ela tem razão não é ?

– Mas não o bastante pra não me deixar dormir.

Olhei para seus olhos cheios de olheiras. Aposto que ele tinha ficado acordado á noite só de imaginar estar apaixonado.

– Só não bate o carro,tá ?

Seguimos o caminho até a escola. Mesmo Jason tendo que estar infeliz por causa do seu sono,concordou que mamãe tinha razão. E é,ela escolheu uma boa hora para dar esse conselho. Cuidado com o amor,ok ? Só de lembrar do tom de voz da minha mãe enquanto falava,dava vontade de rir. Fiquei feliz quando finalmente chegamos a escola. Não necessariamente por causa das aulas,mas avistei Austin enfrente á escola,sorri e depois de apenas acenar para meu irmão desci do carro indo em direção ao loiro,que agora,me olhava sorridente.