Dor escrita por Asty Greco


Capítulo 1
Você me prometeu a eternidade.




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A chuva caia forte em Nova York. Ninguém se atrevia a sair naquela tempestade, e os que estavam nas ruas procuravam desesperadamente um abrigo. Porém, havia uma pessoa que parecia ser indiferente as grossas gotas que batiam em sua pele, que lhe encharcavam. Ela apenas corria. Corria na chuva e entre as poucas pessoas que se encontravam, sem opção, debaixo daquele temporal. Ela não ligava para o fato de possivelmente estar parecendo uma louca correndo naquela chuva, sua dor não deixava que se importasse. Ela só tinha que chegar a um lugar.

Não sabia se já corria havia segundos, minutos ou horas, apesar de talvez ter a leve consciência que fosse horas. Suas pernas doíam. Seus pulmões pediam por ar. Seus músculos imploravam para que parasse. Mas ela seguia correndo, ignorando qualquer apelo de seu corpo, qualquer vestígio de cansaço. Na sua cabeça, um turbilhão de coisas se passava, no entanto, um nome e um local se sobressaíam na confusão de sua mente. Ela tinha que correr. Ela precisava extravasar sua dor, sua angustia, seu sofrimento. Correr. Ela necessitava chegar logo.

Seus passos, conforme ia se conscientizando que estava chegando, começaram a diminuir, até cessarem por completo. A morena se encontrava em frente a um enorme portão preto de grades, que possuía um elaborado artesanato em ferro. Seu coração batia aceleradamente, dolorosamente. Estava ofegante devido a corrida. Fechou os olhos, respirou fundo, uma tentativa de normalizar sua respiração. O céu ainda estava desabando, o vento frio fazia com que seu corpo se arrepiasse, mas nada disso importava. Ela tinha chegado.

Com mais uma respiração profunda, ela abriu os olhos e encarou novamente o grande portão a sua frente. Pela primeira vez se permitia ir aquele lugar, o sofrimento começava a aumentar, a dor ameaçava lhe sufocar, entretanto, ela não podia mais fugir, não depois de hoje. Seus passos eram lentos em direção ao portão, porém firmes. Era hora de entrar, de rever sua amada.

Empurrou o portão, que se abriu sem nenhuma dificuldade. Cada passo mais para dentro do cemitério Mount Hope, a dor se intensificava, levou a mão ao peito, em uma tentava inútil de conte-la. Passou por inúmeras lápides até chegar a que lhe interessava. Um relâmpago cortou o céu iluminando mais o ambiente, era tarde, fazendo com que por segundos um brilho estranho envolvesse o pequeno túmulo. A sua frente estava o local onde jazia a pessoa que mais amou em toda sua vida.


Lucy Quinn Fabray

1993-2019

Filha. Irmã. Amiga. Namorada.

“Um novo anjo povoa o céu... Para sempre em nossos corações!”


A morena estava se sentindo sufocada, fraca, tremia por inteiro e isso nada tinha a ver com o vento gelado lhe açoitando. As lágrimas já escorriam por seu rosto sem controle, misturando-se a água da chuva.

– Oi, meu amor... Eu... Eu vim te ver. Desculpa não ter vindo antes, é só que... que... – As palavras saiam com dificuldade, seu coração já quebrado, estava partindo-se ainda mais. – Tá doendo tanto, Quinn! Perdão por não estar aqui no dia do seu enterro e nem no outro dia, e nos outros que se seguiram. Mas eu não suportaria. Não suportaria te ver partindo. Não agüentaria te dizer adeus. – Seu choro se intensificava. – Por favor, não pense que eu havia esquecido de você. Saiba que isso jamais acontecerá. Eu te amo! Te amo muito! – Apertava seus punhos com uma força enorme. – Você me prometeu a eternidade e depois partiu com tudo. Porque você me deixou e não cumpriu com sua promessa, meu amor? Me diga! – Disse a última parte alto, sabia que não ouviria uma resposta. Que não escutaria a voz da sua loira. Não agüentou e caiu de joelhos no chão. Explodiu em um choro dolorido. Estava sucumbindo ao desespero, à aflição.

– Vo... Você foi embora e cada pedaço do meu coração sente a sua falta. Meu corpo anseia por seus toques. Minha boca deseja a sua. Meu ser por inteiro necessita de você. Então, por favor, volta pra mim... Volta e me faz sentir viva de novo. Por favor.... – Era um pedido que não se realizaria. E tal constatação a dilacerava. – Eu morri junto com você Quinn. Agora eu sou apenas uma casca vazia. Os nossos amigos falam que eu tenho que continuar, que tenho que seguir em frente e realizar o resto dos meus sonhos, sair do escuro em que me meti, que você não ia gostar de me ver definhando dentro daquele apartamento. Mas o que eles não entendem, é que todos os meus sonhos e luzes significam nada sem você para me guiar para eles. Então mais uma vez eu peço, volta e me tira dessa escuridão. Eu preciso que me salve! Eu já não suporto mais ficar aqui sem te ter ao meu lado. Eu não vou agüentar. Não vou...

Rachel sentia que a qualquer hora desabaria e não levantaria mais. O peso de viver sem Quinn era demais pra ela. A loira havia se tornado tudo em sua vida. O seu amor por ela era algo inexplicável, nem ela sabia por em palavras, ela só sentia. Ela era a mulher mais feliz do mundo por ter o amor de Quinn, por tê-la todos os dias a amando e sendo amada. Porém, de repente, em um estúpido acidente, seu mundo foi lhe tirado.


Era a festa de comemoração do espetáculo Funny Girl. Havia sido um sucesso total e todos os que participaram receberam grandes elogios, principalmente a protagonista, Rachel Berry. Ela tinha conseguido colocar seu nome na história da Broadway, e isso com apenas três espetáculos. A pequena diva não poderia estar mais contente, e assim como o resto do pessoal, se encontrava na festa promovida pelos patrocinadores da peça em homenagem a maravilhosa repercussão da mesma.

Rachel estava de costas para a entrada do salão pegando uma bebida para si, quando sente braços rodeando sua cintura e uma voz rouca e sexy sussurrar em seu ouvido, fazendo com que cada pelo do seu corpo se eriçasse – Você estava magnífica naquele palco, meu amor. Achei que era impossível eu me apaixonar mais por você, mas vi que estava enganada. Se você já não fosse minha, com certeza eu faria ser. – A última parte foi dita de forma totalmente sedutora.

– Quinn.... – Disse de forma derretida. - Assim você me faz querer fazer coisas que não seriam apropriadas neste momento e neste local.

A loira deu uma gargalhada, girando a pequena em seus braços, fazendo com que ambas ficassem de frente e com seus rostos bem próximos. – Eu te amo, meu amor. Você estava esplendida, como sempre, porém, hoje você se superou. Parabéns, minha pequena diva. E obrigada por me fazer a pessoa mais feliz desse planeta.

Rachel se perguntava se podia existir mulher mais perfeita que sua namorada. E a resposta era obvia, claro que não havia. Quinn era linda, inteligente, meiga. Era dona de um par de olhos avelã que lhe fascinavam. E possuía um sorriso único, que iluminava sua alma. Um sorriso que era só seu, e que estava sendo direcionado a ela neste instante.

Aproximando mais seus rostos, fazendo com suas respirações se confundissem, a morena falou . – Obrigada, meu amor. Obrigada por estar aqui, por me amar. Eu te amo! Te amo mais do que você possa imaginar. – Dito isso, ela fechou o mínimo espaço que separava suas bocas e a beijou profundamente, sem se importar com o resto ao seu redor. No momento ela só queria sentir os doces lábios de sua amada sobre os seus. Sentir a língua da loira com a sua. Porque quando isso acontecia, fogos de artifício explodiam dentro dela, uma felicidade absurda lhe invadia.

As duas ficaram mais uma hora na festa. Rachel estava um pouco alta pela bebida, e como Quinn estava sem carteira de habilitação por um erro em um de seus dados e a morena estava sem a mínima condição de dirigir o carro delas, a loira achou melhor pegar um táxi e deixar o carro guardado no estacionamento, no dia seguinte diria a Rachel para pega-lo.

– Vamos Quinn. Quero logo chegar em casa para poder arrancar toda sua roupa. - Deu um sorriso malicioso. Estavam na calçada em frente ao local da festa.

– Calma Rach. Estou tentando fazer com que algum táxi pare pra gente. Mas tá difícil.

– Eu poderia muito bem dirigir. – Protestou.

– Você bebeu Rachel.

– Eu estou sóbria. – Contestou novamente.

– Não o suficiente para dirigir.

– Mas o suficiente para fazer você gozar. – Falou um pouco alto.

– Rachel! Nós estamos na rua! . –Repreendeu.

– O que foi? - Fez uma cara de inocente.

Quinn apenas balançou a cabeça e sorriu. Não conseguia se irritar com a morena. Andou em sua direção e colocou seus braços no ombro da diva. – Você sabe que eu não gosto que dirija quando bebi, não me importa se foi só um pouco, eu não gosto. É perigoso, e eu não quero que nada de ruim aconteça com você. Então, por favor, agüente mais uns minutinhos até eu consegui pegar um táxi pra gente. E ai, quando nós estivermos em casa eu sou toda sua. E eu espero, realmente, que você esteja sóbria o suficiente para me fazer chegar ao céu. – Deu uma piscadinha marota e se afastou.

– Com certeza, meu amor. Com certeza.

– Que bom!

Uns dez minutos depois conseguiram um taxi. Eram só caricias dentro do carro. Trocavam palavras e olhares amorosos. Era visível o amor entre elas. Era bonito de se ver. O taxi parou em um sinal vermelho, enquanto aguardavam ele abrir, continuaram a conversar. Até Quinn interromper uma das falas da morena.

– Eu te amo tanto, Rachel! Saiba que eu daria minha vida por você, sem hesitar. – Foi totalmente intenso a forma como falou.

– Porque você está falando isso? Não gosto quando fala assim. Parece que vou te perder quando diz essas coisas.

– Só quero que tenha noção do tamanho do meu amor por você.

– Eu tenho. Porém, não gosto quando fala dessa forma.

– Ok. Me desculpe. Mas eu te amo muito.

– Eu também te amo muito, minha loira gostosa. – Causou risos na maior. – Só quero chegar em casa e poder te amar.

– Compartilhamos do mesmo pensamento, meu amor. – Deu um breve beijo na pequena.

Todavia, elas não puderam chegar em seus destinos, não se amaram como queriam. Assim que o sinal ficou verde e o carro avançou, uma caminhonete que estava em alta velocidade e que vinha na pista que fazia cruzamento, não respeitou o sinal e se chocou no lado esquerdo do carro. O lado de Quinn. Foi tudo muito rápido, só o que Rachel sentiu foi os braços de Quinn a envolvendo fortemente, um grito, barulho de vidro se estilhaçando e depois tudo ficou escuro.

Acordou algumas horas depois em uma cama no hospital. Estava meio confusa, mas lembrava que tinha sofrido um acidente. Sua cabeça doía um pouco, a vista estava meio embaçada, mas reconheceu Santana ao seu lado.

– San... Santana...

A latina que estava sentada em uma cadeira ao seu lado, tinha o olhar vago e mirava a sua frente, sem um ponto fixo. Assim que ouviu seu nome, virou-se rapidamente para a baixinha.

– Hey Rachel – Deu um sorriso doce, que não era algo típico da morena mais alta. – Você está se sentindo bem? Quer que eu chame o médico?

Ignorando o que latina disse, perguntou. – Cadê a Quinn? Eu quero falar com ela. Quero vê-la.

Santana desviou o olhar. Isso não foi tido como um bom sinal pela pequena. Uma angústia começou a se apossar dela. – Santana, eu quero ver a Quinn. - Disse de forma decidida.

Quando Santana voltou a encará-la, estava com os olhos marejados. Algo se partiu dentro de Rachel. Não. Não podia ser o que pensava. Definitivamente não podia ser.

Sentou na cama, arrancando os fios de seus braços. E quando preparava-se para levantar, Santana a segurou. – O que pensa que está fazendo? Não pode fazer isso! Você tem...

– Dane-se se eu não posso! Eu quero ver a Quinn. E se você não me diz onde ela está, então eu mesma irei procurá-la. – Mais uma vez foi tentar se levantar, porém a latina a impediu novamente. – Mais que droga, Santana! Se não vai me deixar sair, então me diga onde está a Quinn.

– Rachel eu...

– CADÊ A QUINN, SANTANA?! – Gritou.

O desespero já tinha tomado conta da morena, ela precisava ver seu amor e confirmar que seus pensamentos estavam errados. Eles tinham que estar. – Apenas me diga onde ela esta, por favor. Eu preciso ver se ela está bem.

Foi abraçada pela latina. Rachel sentiu as lágrimas da amiga na sua pele. – Me diga que ela...

– Eu sinto muito Rachel.

E essa frase levou todo o ar da morena, de repente tudo ficou em silêncio, apenas aquelas palavras rondando em sua cabeça “Eu sinto muito Rachel... Eu sinto muito Rachel...”. Era mentira. Tinha que ser! Saindo de seu torpor, levantou com tudo, empurrando a latina e indo em direção a porta. Foi agarrada por Santana.

– Me larga!Eu tenho que ver a Quinn! Me solta, Lopez! – Debatia-se nos braços da latina, que só a apertava mais. Continuou a tentar sair, mas Santana estava decidida em não deixar, até que uma hora a pequena parou. E com lágrimas escorrendo por seu rosto, sussurrou de forma sôfrega – Fala que é mentira, que é apenas uma brincadeira de mau gosto sua. Diz que não é o que estou pensando. Diz que a Quinn ta bem, por favor...

Santana sentiu seu peito ser comprimido, ele já estava dolorido pela notícia que recebera mais cedo, e agora só piorava ao ver a diva naquele estado. Como dar aquela noticia a Rachel? Apertando ainda mais a baixinha, disse. – Ela era minha melhor amiga, e eu queria muito que fosse mentira, queria mesmo. Mas infelizmente não é. A Quinn se foi Rach. Você precisa ser forte agora.

E todo o mundo de Rachel ruiu naquele momento. Suas pernas perderam as força, e ela só não caiu porque Santana a segurou. Naquele instante, uma parte da alma da pequena era arrancada.


Aquelas lembranças assombravam a cabeça de Rachel todo dia após o acidente. Ela se perguntava por que havia saído ilesa, apenas com um corte na cabeça e um braço quebrado, enquanto Quinn não teve a mesma sorte. Era tão injusto. E agora só o que podia fazer era olhar para as fotos da loira e se lamentar dia após dia. Ainda ajoelhada, levantou seus braços e tocou na foto ali gravada, contornando suas laterais.

– Eu me pergunto por que não morri junto com você, literalmente... Mas eu já sei a resposta. Você me protegeu. Quando me abraçou forte antes do impacto, você me protegeu levando toda dor sozinha. Você não deveria ter feito isso, meu amor, talvez assim você tivesse uma chance, ou eu simplesmente teria morrido com você.... – Trovões soaram forte, como se estivessem brigando com alguém, a chuva, se é que é possível, se tornava mais forte, junto com o vento. As folhas das árvores balançavam violentamente. Rachel olhou ao seu redor e depois novamente para frente. – Você está me repreendendo por dizer essas coisas, não é? Mas é só a verdade. A verdade clara que eu não posso seguir em frente sem você para segurar minhas mãos.

“A cada dia que passa eu desejo ouvir sua voz nem que seja só por um segundo. Eu desejo não está dormindo sozinha naquela cama que era tão nossa, que presenciou todas as nossas noites de amor. Mas são apenas desejos, e isso faz meu coração sangrar. – Lágrimas quentes escorriam por sua face, contrastando com a frieza da chuva, ela estava chegando ao seu limite emocional. – Como eu fico melhor depois que tive o melhor? Você foi meu melhor Quinn, e você partiu levando ele consigo, não restando nada pra mim. – Se arrastou mais para perto da lápide e deu um casto beijo na foto ali presente, depois se deitou, abraçando seu próprio corpo e fechando os lhos. A chuva que tocava sua pele era tão congelante, mas ao mesmo tempo lhe agradava aquela sensação fria.

– Hoje nós fazemos quatro anos de namoro, meu amor. É por isso que estou aqui, não podia passar longe de você. Então enfrentei minha dor e vim. – A razão dava sinal de falhas, o sofrimento era demais para aguentar lúcido. – No dia do acidente, há cinco meses atrás, eu planejava te pedir em casamento hoje, no dia do nosso aniversario. Tenho certeza que você se espantaria, até porque vivia dizendo que o pedido seria feito por você. Acho que sua cara de surpresa seria impagável. - Deu uma risada, que logo se transformou em um choro desesperado e agoniante. – Mais...Mais alguns meses e você seria minha esposa, eu teria uma aliança para comprovar isso. Porque você não ficou? Porque me abandonou? Agora eu estou só e cansei de tentar. Não existe mais sentindo sem você...

Rachel sentia que estava apagando aos poucos, a inconsciência já dava seus sinais. – Eu estou com sono, meu amor. Irei dormir agora, ok. E só vou acordar se você estiver ao meu lado, se eu sentir seus braços ao meu redor, se não, continuarei a dormir. – Antes que fosse totalmente levada para o mais profundo de seus sonos, sussurrou. – Obrigada por ter me amado, meu amor. Você fez isso perfeitamente. Eu te amei no passado, te amo hoje, e te amarei para sempre. – E dito isso, caiu no mundo dos sonhos, onde lá encontraria sua Quinn e seria feliz novamente.


Em uma outra vida, eu seria sua garota

Nós manteríamos todas as nossas promessas

Seriamos nós contra o mundo

Em uma outra vida, faria você ficar

Então, não teria que dizer que você foi

Aquele que se foi

Aquele que se foi...


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro. Esperem que gostem :)



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