Era uma bela noite na visão de Tiffany. Tudo bem que ela odiava ver Savannah feliz e aquele era provavelmente o dia mais feliz da vida da morena. Mas era apenas um dia de redenção que Tiffany estava dando para ela. Um dia para que ela acreditasse que poderia ser feliz, que poderia ter o mundo em suas mãos.

A loira sorria ao pensar nisso durante a cerimônia de casamento de Susan e Mike, amigos de seus pais. Ela sorriu docemente para Savannah quando a mesma passou por Tiffany, mas percebeu que a morena não a notou, encarando seriamente outra pessoa. Quando Tiffany seguiu o olhar de Savannah, encontrou Peter.

Seu sorriso ficou mais largo. O jogo estava só começando.

***

— Ah, querido, é tão bom vê-lo depois de tantos dias! – Tiffany correu na direção de Peter, na intenção de abraçá-lo. Ele percebeu a intenção dela e a parou antes que o fizesse, segurando-a pelos pulsos – O que é isso agora, Petty? Você sumiu e agora está me tratando assim? – ela choramingou.

— Não se faça de idiota, Tiffany – ele respondeu secamente. Soltou os punhos da loira, empurrando-a para longe dele – Nós dois sabemos muito bem o que você fez. Você me usou da maneira mais baixa possível, destruiu meu relacionamento com Savannah e agora vem com essa cara de filhotinho perdido?

— Para o seu governo, eu não estou interpretando nenhum papel aqui, Peter – ela soltou, num tom ressentido – Eu realmente me apaixonei por você e fiz o que estava ao meu alcance para ficar com você. Os meus meios… Não foram os melhores. – suspirou, como se fosse chorar – Mas fiz o que pude para ter você só pra mim. Isso é tão errado assim?

Peter não conseguiu soltar uma palavra. Tiffany agora chorava, se abraçando, seus cabelos ligeiramente bagunçados pela brisa do mar, que ficava mais forte com o avançar da noite. Ele se surpreendeu por ver verdade no olhar dela. Ela realmente gostava dele e aparentava estar disposta a tudo por ele.

— Então… - ele finalmente conseguiu dizer – Por que usou esse meio? Por que destruir Savannah?

Tiffany suspirou.

— Eu nunca quis destruí-la, Peter. Só queria que você a deixasse para ficar comigo. Vamos lá, estávamos conversando há semanas e você sempre falava dela. Sua vida se resumia a Savannah. Eu tive que fazer um esforço gigante para te mostrar que você podia ser mais… – ela sorriu, olhando com ternura para Peter – Que você podia ser você.

Tiffany tinha se aproximado enquanto falava. Peter apenas a encarava, ainda desconfiado com a atitude da garota. Ela segurou a mão direita dele, trazendo-a para o seu rosto.

— Tudo o que eu mais queria era que você fosse apenas você. E assim, acabei me apaixonando e querendo que você fosse meu. – ela praticamente sussurrava – Você nunca me deu espaço até aquela noite. Mas quando o deu, fez com que fosse a melhor noite da minha vida.

— Mas então por que soltou aquele vídeo? – ele questionou – Por que expor a nós três? – ele acariciava o rosto de Tiffany, quando ela suspirou e fechou os olhos.

— Não fui eu, Peter – ela declarou, abrindo os olhos e encarando os de Peter – Foi Derek. Ele colocou uma câmera no quarto porque era para lá que íamos em todas as festas na casa de Victor, então sabia que se eu estivesse com alguém, iria para lá.

Peter apenas a encarava, chocado.

— Fui atrás dele quando aquele vídeo saiu, porque sabia que só ele poderia ter feito aquilo. Confrontei e ele admitiu.

— Mas e o meu vídeo com Savannah? – Peter perguntou – Como ele conseguiu? Eu apaguei há muitos anos atrás.

— Você sabe que ele era só um nerd de computadores antes de entrar para o time, certo? – Tiffany disse e Peter concordou com a cabeça – Então, naquela época, ele estava obcecado com Savannah e queria saber o que você havia feito para conquistá-la. Então hackeou o computador dela e o seu. Infelizmente, ele acabou encontrando aquele vídeo e o guardou. Ela sabia do valor daquilo.

— Aquele… - Peter ficou extremamente nervoso e se soltou de Tiffany, se voltando para o mar – Bastardo maldito! Eu não acredito! Tantos anos depois? Ele estava com você, por que atacar Savannah?

— O que importa agora, Peter? – Tiffany choramingou – Era uma vingança tripla: com Savannah, por não ter dado uma chance a ele antes e conosco, pelo que fizemos… Eu só aproveitei a situação. Eu fui horrível, Peter, sei disso. Mas fiz isso porque amo você.

Peter voltou a encarar Tiffany. Ela parecia… Devastada. Não queria aquela situação tanto quanto ele e Savannah. Ao mesmo tempo, ela só desejava estar com ele. Só agora ele percebeu que os cometários maldosos dela eram para protegê-lo, para afastá-lo do escândalo. Ela realmente o amava. Mas ele não sentiu nada ao ouvir isso. Estava… Vazio.

— Eu não posso dizer o mesmo, Tiffany… - ele admitiu – Não posso dizer que te amo, porque não amo. Sinto muito que tenha feito o que fez para ficar comigo…

Ela correu e o abraçou.

— Por favor, não diga nada. – ela chorava – Eu não preciso que me ame, Peter, tenho amor suficiente para nós dois. Só não… Não me deixe, Peter. Uma chance… Por favor.

Peter percebeu que ela seria capaz de se arrastar pelas areias, implorando que ele não fosse embora. Era uma cena improvável, afinal, ela ainda era Tiffany Pianto, a garota mais poderosa da cidade, aquela que tinha quem desejasse ter. Mas ali estavam, abraçados, Tiffany às lágrimas. E ele se sentia muito mal com isso.

— Eu não… Não vou, Tiffany. – ele declarou, suspirando – Mas preciso de tempo, tudo bem?

Ela o soltou e o encarou. Seu lindo rosto ainda estava vermelho pelo choro, mas agora um sorriso brotava em seus lábios. Ela acariciou o rosto de Peter e colocou-se na ponta dos pés para beijá-lo na bochecha.

— Eu posso esperar, Petty. O tempo que precisar.

Ele a abraçou, agradecido por esclarecerem tudo o que aconteceu. Tiffany respondeu o abraço, apertando-o ainda mais contra seu corpo e postando seu rosto no ombro direito dele, de olhos fechados, como se amasse cada pedacinho de Peter.

Abriu os olhos e sorriu, encarando o mar. Mas não fora o mesmo sorriso que dirigira a Peter. Ela sorria malignamente.

“Primeira missão: completa”.

***

— Quer dizer que ele comprou a ideia tão fácil assim? – Derek ria, enquanto deitava-se na cama de Tiffany. Ele chegou pouco depois que ela o ligou.

— Olha, eu não sei o que foi melhor: a minha atuação ou a falta de esperteza de Peter. Sério, ele pode ser muito inteligente na escola, ter entrado em Stanford, mas ao mesmo tempo é estúpido ao ponto de cair nessa história. – Tiffany ria enquanto tirava os sapatos e se sentava ao lado de Derek – Tudo bem que nem tudo é mentira…

— Ei, não precisa me lembrar do stalker ridículo que eu era. – Derek protestou, apoiando-se nos cotovelos para olhar a garota – Mas devo admitir que foi uma boa ter guardado aquele vídeo por tanto tempo… - ele sorria, enquanto voltava a se deitar completamente, com as mãos servindo de travesseiro – Não sabia o quanto aquilo podia render.

— E você só sabe o quanto precisou de mim para ter sua tão desejada vingança, não é querido? – Tiffany falava mansamente, como um gato manhoso. Engatinhou até Derek, colocando-se em cima dele.

— Eu não sei o que seria da minha vingança sem você, meu anjo – ele riu, puxando-a para a beijar.

Eles tinham uma boa química e Tiffany adorava isso. Adorava porque Derek era o melhor de dois mundos: extremamente inteligente, mas também tinha se tornado um homem completamente desejável. Era o tipo de Tiffany. E isso tudo só melhorou quando ela descobriu que o ruivo odiava Savannah tanto quanto ela.

Enquanto o beijava intensamente, como sempre faziam, Tiffany pensava em quanto aquela aliança era valiosa, mas ao mesmo tempo, perigosa. Derek era explosivo e poderia entregar os dois a qualquer momento, abrindo o jogo em qualquer briga que tivesse com Peter ou com Andrew, apenas para se exibir. Assim como Peter, Derek era inteligente demais, mas não tinha um emocional estável para suportar o poder intelectual que tinha.

Por isso, certificou-se de passar na casa dele algumas horas antes. Derek morava apenas com o pai, o sr. Buchmann, engenheiro da empresa do pai de Tiffany. Então, a garota sabia que o sogro trabalhava o dia todo e que Derek estava o acompanhando agora que as aulas acabaram, pois seguiria a profissão do pai. Não seria muito difícil entrar numa casa que ficava vazia o dia todo.

Assim que entrou, foi diretamente na geladeira. Sabia que Derek deixava a comida pronta para ele e o pai, devidamente etiquetadas, pois era o responsável por cozinhar desde que a mãe dele fora embora. Como Derek e o pai nem sempre comiam juntos, ele separava para que ficasse mais fácil diferenciar. Ela agradeceu mentalmente a ele por facilitar seu trabalho. Tirou um pequeno frasco do bolso e pingou algumas gotas sobre a comida do rapaz. Sorriu, satisfeita com o sucesso da missão.

E agora também sorria. Sorria como sorrira ao abraçar Peter na praia quanto percebeu a falta de ar que tomara conta de Derek, fazendo-o se afastar dela. Ele estava tossindo e engasgando. Contorcia-se na cama. Ele tentava pedir ajuda para Tiffany, mas sua voz não saía.

A garota estava deitada ao seu lado, como se nada estivesse acontecendo. Esperou pacientemente que o ataque de Derek terminasse e então, antes de gritar e pedir ajuda como havia planejado, ela se aproximou dele.

— Não posso dizer que estou arrependida, querido. – ela sussurrava – Apenas considero que você sabia demais. E eu não podia correr riscos, não é? Obrigada por tudo, Dekkie. – terminou, depositando um beijo nos lábios, agora não tão quentes, do ex-amante.

Colocou-se de pé. Ajeitou a roupa, mas bagunçou os cabelos. Precisava ser convincente. Em seguida, gritou com toda a força que tinha. E antes que seus pais viessem até seu quarto socorrê-la, ela já soluçava e chorava com toda a dor que deveria sentir, mas não sentia. Manteve a pose quando os bombeiros chegaram para levar o defunto que jazia em sua cama. Arrumou sua bolsa com tamanho desespero que ninguém jamais desconfiaria que aquela era a responsável pelo fim de Derek. Abriu a gaveta e pegou uma foto de Andrew, colocando junto aos seus pertences.

E enquanto descia as escadas rumo ao hospital, pensou em Derek e na foto que levava consigo. Sorriu. O mesmo sorriso de antes: maligno.

“Segunda missão: completa.” Pensou “E você, Andrew, é o próximo alvo.”