Inexplicável escrita por Pear Phone


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Clima tenso. Algumas enrolações nesse capítulo, algumas revelações no próximo.



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"É possível amar mais de um alguém simultaneamente, mas não é possível amar de mesma forma ou pela mesma razão. É possível sentir um amor que já se foi, mas nem sempre é possível fazê-lo voltar para sempre. Olhares se encontram e caminhos se cruzam."

[...]

— Quem é?

— É um loiro alto que se chama Harold.

— Por favor, diga que não estou e que a serviçal atendeu.

— Então devo mandá-lo se retirar?

— Sim, por favor.

— Tudo bem.

Após a ligação encerrada, uma lágrima involuntária caíra de um dos olhos da morena, que andara tão afligida com seus próprios sentimentos. Largou o telefone e levou uma de suas mãos ao seu coro cabeludo, querendo se ver longe de tudo aquilo. Seus olhos encaravam a janela, onde a mesma figura de tal homem saía desamparada, com um objeto sobre as mãos. E a sombra originada de seu corpo formava-se sobre as calçadas conforme o mesmo distanciava-se do condomínio. Neste momento, a jovem virou-se, e por um impulso derramou-se o vinho da taça.

Carly indagava para si mesma algo como "não devia ter voltado à essa cidade", ao mesmo tempo em que observava o desastre que a bebida havia feito em seus pertences. Para sua sorte a empregada já estava a caminho de sua moradia.

Passado certo tempo de distração, após um toque sobre a porta, voltou suas atenções até o que realmente precisava de importância. Andou em direção frontal e girou a maçaneta.

[...]

O fim de tarde já havia deixado Seattle há tempos e logo a escuridão dominou os céus.

A loira estava em seu quarto, revirando seu guarda-roupa que não lhe agradava muito. Nunca foi o tipo de mulher vaidosa, mas gostava de ver-se elegante em compromissos à noite. Não seria tão trabalhoso combinar peças que realmente valorizassem sua aparência apenas para um pequeno jantar.

Quase milagrosamente, encontrou um vestido razoavelmente curto sobre a pilha de roupas completamente desorganizadas mediante seus olhos. O experimentou e olhou-se ao espelho, achando que estava até mesmo apresentável. Não precisou de horas e nem mesmo de muitos minutos para finalmente estar satisfeita consigo.

Ela não havia pensado em tudo.

— Precisa mesmo se arrumar tanto apenas para visitar detentos?

— Nem toda a minha família está detida. Não preciso me vestir como uma mendiga por essa razão, querido.

— Ainda não consegui entender por quê.

— Então espere até eu voltar, e explico.

— Volte aqui. Eu vou acreditar em você.

— Obrigada.

— Mas ainda não aceitei o fato de ter me trocado por isso.

Ela o encarou e riu logo após vê-lo tão decepcionado.

— E eu ganho um beijo antes de sair?

— Talvez.

Seus lábios se encostaram por um tempo, e ela deixou a mansão.

Já eram quase sete horas, tudo sairia perfeitamente em seus planos. Finalmente tiraria suas infinitas dúvidas em relação à morena.

Pensou mais uma vez se estava realmente fazendo a coisa certa. Depois de várias premeditações tudo que conseguia era ainda mais preocupação, para seu azar. Tentou mandar todos aqueles pensamentos para longe, mas só conseguiu trazê-los para mais perto de si. Nunca haveria de ter orgulho de suas atitudes, mas não podia desconsiderar o fato de esclarecer finalmente o que, desde o passado, devia inúmeras explicações.

Insegurança. Angústia. Medo. Desconfiança. Se não estivesse sentindo tudo isso, dormiria bem naquela noite.

Dirigia em uma velocidade não muito alta, observando as pessoas e paisagens com que deparava-se. Um vento não muito forte vinha em sua direção, invadinho sua face lentamente e lhe aproximando uma sensação de leveza. Queria não desejar que seus problemas também fossem levados junto ao vento, o que, porventura, seria quase impossível. Sabia que aquela noite renderia muitas dores de cabeça no futuro, seu pessimismo apenas aumentaria essa possibilidade.

Era errado pensar que estava fazendo tudo aquilo por ciúme. Haviam outros motivos. Essa ligação apenas recuperou a minha memória.

O condomínio estava à sua frente. Alguns passos e finalmente chegaria ao apartamento de Carly. Mas fazia questão de entrar como uma surpresa, apenas ela.

[...]

Toques sobre a porta e logo a figura feminina de cabelos negros aparecia não muito atenta ao mundo em sua volta.

— Pois não? — falou sem mesmo lhe trocar olhares, de início. Sam já havia percebido sua mudança de comportamento em relação ao seu último encontro com a mesma.

— Sou eu, Sam.

— Sam? Bem vinda! — Abriu um sorriso momentâneo, porém ele logo se desfez ao vê-la entrar sozinha.

— Eu mesma. E antes que pergunte-me, Freddie não veio — disse antes que sua ex amiga fechasse a porta.

— Por quê? Não me diga que ele passou o dia inteiro trabalhando outra vez!

— Não foi isso. Ele está viajando.

— Viajando? Mas o celular dele estava com você e ainda disse-me que não queria acordá-lo.

— Acha mesmo que ele só tem um celular? E além disso ele viajou depois.

— Mas quando ele volta? Sabe?

— Ainda hoje, pela madrugada. Seria impossível que ele viesse, mas eu juro que insisti ao máximo.

— Tudo bem, eu entendo. Vamos se sentar?

— Claro.

— Bom, não sou tão sofisticada quanto você, então...

— Eu entendo, Carly. É óbvio que não precisava preparar uma lagosta apenas porque eu vinha.

— Ótimo! Mas pizza ainda é um de seus pratos favoritos, não é mesmo?

— Claro!

— Eu mesma preparei uma. O recheio é bem diferente, talvez aprove. Aprendi essa receita com um amigo.

A morena andou até a cozinha e levou à mesa duas fatias de pizza direto de seu forno. Estavam bem feitas e tinham uma ótima aparência, para ambas. Mas algo na consistência da massa, no sabor daquele recheio, impressionava a convidada. Ela já havia provado algo parecido.

— Nossa, está deliciosa!

— Obrigada.

Certo tempo depois, elas já haviam terminado aquele jantar. Por sua parte, a loira não havia aceitado nenhum tipo de bebida alcoólica, e não aceitaria. Ela continuava pensando no porquê de sua mente estar tão confusa em relação ao jeito daquela pizza.

Ela lhe lembrava alguém.

Por fim, finalmente sua mente esclarecia-se. E a pergunta lhe veio de maneira inoportuna:

— Carly, você e o Harold se conhecem?

Os olhos de tal arregalaram-se, buscando uma forma de a responder algo conveniente.

— Como soube? Conheci ele em um certo período.

— A receita dessa pizza... Foi ele que lhe deu?

— Sim. Nem eu mesma sei como pude me recordar. Vocês dois foram amigos na faculdade?

— Exatamente. Ele é muito generoso, legal, compreensivo. Um ótimo amigo. Que bom que se conhecem!

— Perfeito. Não aconteceu realmente nada entre vocês, além de amizade, durante a faculdade, Sam?

— Não.

Ela revirou os olhos diante da resposta.

— Nossa!

— É verdade, Carly. Mas como se conheceram? — perguntou, objetiva.

— Bom, eu visitei o restaurante e nos vimos lá. Nada além disso. Me pareceu educado e acabamos conversando depois.

— E pegou a receita da pizza?

— Isso mesmo.

Alguns segundos de silêncio passaram-se.

— Ainda se sente mal em relação à morte de Ted e seu filho, Carly?

— Talvez eu tenha superado, mas seu rosto me vem à memória quase sempre. É muito difícil.

— Entendo.

— E quanto ao meu filho... Eu o amava muito.

— Sinto muito.

— Nada pode reverter o que já aconteceu, infelizmente. Se você não fosse estéril, Sam, com certeza entenderia isso. — Ao término de sua afirmação, tentava transparecer inocência.

Em seguida, o telefone da jovem de cabelos negros tocou, fazendo-a pedir licença para atendê-lo. Alegrava-se pela expressão que havia deixado em sua amiga, antes de retirar-se do cômodo.

Tudo isso fazia parte da estratégia de fazê-la sofrer um pouco mais, e estava apenas em seu início.


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Notas finais do capítulo

Apenas o início de uma longa conversa. Será que algumas dúvidas serão esclarecidas?

Se querem matar a Carly, eu entendo. Por favor não me matem!

Kisses :3