A Lenda de Espírito Protetor Parte2 escrita por ladyroll


Capítulo 1
Capítulo 2




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Meu pai chegou até o local onde a luz tocava o solo. Ela incidia na água de um rio que corria calmamente, a água era pura e Sokta surgiu de dentro dela, envolta por um manto de estrelas que irradiava uma luz levemente prateada.

-Vim atender a teu chamado, grandioso guerreiro. Ela disse sorrindo, enquanto estendia sua mão para que meu pai pudesse ajudá-la a sair do leito do rio.

Ele a puxou para junto de sí e a abraçou.

Mas essa parte da história são relatos que ouví por meu povo. Afinal ninguém estava presente naquele momento e mesmo os corvos, que sempre são sorrateiros não se aproximaram deles. Mesmo a coruja, que tudo vê, nunca abriu seu bico para dizer nada pois havia prometido não o fazer.

Porém, quando retornou de seu encontro com Luna, o ferimento em seu peito ainda estava aberto e expelia uma secreção escura e malcheirosa. Ele não havia notado, mas a fera que matou sozinho o havia envenenado mortalmente. Sua pureza o impediu de ser corrompido, mas sua vida estava no fim. Ele apertou o ferimento quente e pulsante que ardia. Passou a neve pura no ferimento, mas a dor não cessava. Ele caiu alí mesmo e só foi encontrado pelos companheiros na manhã seguinte, ardendo em febre e tomado pela infecção.

Eles o levaram para uma cabana e iniciaram os rituais de cura.
Meu pai ainda viveu por três dias, com a febre aumentando gradativamente até o momento de sua morte. Alguns dizem ter visto que Luna fixou-se no céu exatamente sobre a cabana e permaneceu sem se mover durante os dias em que meu pai convalescia, dizem que nesses três dias a neve caiu sem parar pois Luna chorava por causa dele; outros dizem que ela permaneceu todo o tempo junto de Macaco Assustado e Águia Caçadora, tentando curá-lo naquele leito mas que já era tarde demais; outros já dizem que ele adoeceu por não suportar viver longe de Luna depois daquela noite e que a prória Luna veio buscá-lo no seu momento final. Eu prefiro acreditar nessa última, pois sinto que meu pai sempre está ao lado de minha mãe.

Seja como for, todos sabem dessa lenda sobre o corajoso guerreiro e a dádiva que recebera dos Deuses.



Passaram-se nove meses. Numa noite especialmente bela e fria de primavera Luna retornou ao mesmo rio de onde se encontrara meses antes com meu pai. De seu reflexo nas águas límpidas ela surgiu coberta por seu manto de estrelas e carregava em seus braços um pequeno bebê. Os animais se aproximaram dela e o urso, seu filho mais dedicado, retirou parte de sua própria pele usando suas garras fortes para rasgá-la e deu a Luna para servir-lhe de cobertor para sua filha.

-Obrigada, meu filho, você é dedicado e honrado. Darei a tí a tarefa de protegê-la e patroná-la quando chegar o momento certo. Disse ela enquanto cobria o bebê com a pelagem macia e quente.

Os outros animais começaram a falar entre sí que o urso não era um animal honrado e que não merecia a responsabilidade.
Luna apenas dirigiu seu olhar a eles e eles se calaram.

-Mesmo que ele perca seu posto - ela disse em tom firme - pois essa hora chegará, ele sempre viverá nela, pois seus poderes nunca deixarão de protegê-la, saibam disso, meus filhos.
Antes que o urso se retirasse, Luna tocou sua pele ferida e esta se regenerou novamente. Então ela caminhou até o acampamento dos índios e pediu à coruja que trouxesse os membros da matilha de Vento que Ruge para lhes entregar a criança. Logo eles estavam de pé e silenciosamente seguiram até onde a coruja os levou.

A pequena criança dormia profundamente e Luna entregou-a a Macaco Assustado assim que esse se aproximou delas.

-Você sabe meus segredos, Macaco Assustado. Eu lhe guiei até Pangéia para que você lesse as escrituras sagradas que falam do nascimento de minha filha e é você que cuidará dela e a ensinará sobre meus mistérios quando o momento chegar. Até Lá, você, Águia Caçadora, será como o pai que ela precisa ter.

Eles ouviam tudo atentamente. Então ela falou mais uma vez antes de partir:

-Avisem a Vento que Ruge que sua filha nasceu e que ela carregará a minha aparência mas herdará sua força, meus amigos.

-Certamente o faremos, Luna. Falou Águia Caçadora.

Não entendo bem essa história. Como poderiam falar com meu pai que já estava morto? Que já estava ao lado dela no céu? Esse é o problema das lendas, às vezes não as entendemos bem.

Depois que Luna se retirou, Macaco Assustado me olhou atentamente. Eu tão pequena e frágil, uma criança em seus braços.

-Os outros não a aceitarão, Macaco. Deve fazer o batismo de fogo e iremos entregá-la aos brancos que vivem próximos daquí até o momento de sua volta. Disse Águia Caçadora.

Macaco Assustado o olhou profundamente nos olhos. Ele não queria isso, mas, sua aparência não seria aceita pelos costumes da tribo. Todas as crianças que nasciam diferentes deviam ser mortas essa era a lei. E a lei seria aplicada. Só lhes restava entregar a criança aos wassixú até o momento dela retornar como garou.

O ritual foi iniciado. Os dois theurges uniram seus poderes e realizaram o batismo de fogo. Às cinzas da fogueira foram misturadas gotas sangue dos dois garous e a criança foi pintada com a mistura nas orelhas, em sua língua e em seu nariz. Um espírito campeador de parentes foi invocado pelos dois para olhar por ela e os avisar sobre seu desenvolvimento e quando seria o momento de sua primeira mudança. A criança então foi erguida na direção de Luna, para apresentá-la ao seu augúrio, seria uma Ahroun, como o pai.

Não foi necessário farejar a forma verdadeira para saber se ela viria a passar pela primeira mudança. A palavra de Luna bastava.

Então levaram a pequena dádiva até um lugar próximo ao que os wassixú sempre passavam e a deixaram alí. Na manhã seguinte uma mulher branca que passava para buscar água no rio ouviu o choro do bebê e levou-o consigo para sua casa.


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