–Então_diz o Castiel,deixando-se cair no lugar a meu lado.Já voltou para a equipa de hóquei do Lysandre e tem um fantástico olho negro para o provar.-Nada de Íris hoje?

–Bem observado_respondo.

A Íris foi ao dentista.Temos arte e estava desejosa de uma tarde calma a desenhar naturezas mortas.Em vez disso apanho com o Castiel.Sorte a minha.

A Prof. Cristina está a falar-nos sobre giz e carvão,sobre procurar a forma,o padrão e a textura.Olho para o monte de rodas de bicicleta ferrugentas que estão montadas à minha frente,em cima da mesa,mas por mais que tente,não passa de um monte de rodas de bicicleta ferrugentas.

–Daqui temos uma visão ótima_diz um certo ruivo.-Não te importas que eu me sente no lugar da Íris durante esta aula,pois não?

–Estou delirante_digo impaciente.

–Bem me parecia!

Suspiro,pego num pedaço de giz e faço dois ou três traços sem grande entusiasmo.

–Bom,estava com esperança de ter uma oportunidade de falar contigo.Queria saber se gostarias de ir até ao rinque de patinagem uma tarde destas?_diz o Castiel.

–Preferia comer meu próprio sapato_riposto.

–Ah?_o ele franze a testa e olha para meus pés à procura de pistas possíveis.-Isso significa…não?

–Significa não.

O Castiel parece surpreendido,como se esta fosse uma hipótese que ele não tivesse considerado.

–Ok,não.Talvez a patinagem não seja a tua onda.

–Castiel,a patinagem também não é a tua onda_saliento.-Tu não tens remédio.

–Estou a melhorar!

–Não não estás.Porque é que não o admites e desistes?

Ele sorri-me por detrás do cabelo liso,cor das chamas.

–Eu não sou do género de desistir,Soraia_diz-me ele.-Ainda não reparaste?

–Sim,já reparei.

–Chama-se determinação.

–Chama-se estupidez_corrijo-o.

–Adoro quando estás furiosa comigo_ele sorri.-Mas estás enganada,não sou estúpido.

Levanto uma sobrancelha e abano a cabeça.

–Não é estúpido ter esperança pois não?_pergunta o Castiel.

Oh céus! É sim,seriamente estúpido,perigosamente estúpido.Principalmente no caso dele.E não vou nunca,sair com aquele ruivo irritante.Como se isso fosse possível.

A Ambre atravessa a sala,balançando-se em cima de umas botas pretas de salto alto.Vê o Castiel ao meu lado e franze a testa.

–Porque estás sentado ao lado dela Cast?_quer ela saber.-Vem sentar-te comigo e com o Ken!

–Nã,estou bem aqui,obrigada_responde ele encolhendo os ombros.

–Porquê,ela está a fazer o teu TPC de matemática,ou coisa do género?

–Vai-te embora Ambre_diz o Castiel.

–Ai! Estava só a perguntar! Quero dizer,ela não é exatamente o teu género,pois não?_troça a loirinha.-Não é do género de ninguém na verdade!

O Castiel limita-se a mandá-la embora com o olhar,mas eu deixo meu cabelo comprido,também ruivo avermelhado,cair para a frente e escondo-me atrás dele,corada.Odeio aquela Ambre,odeio mesmo.

–Ela tem ciúmes_diz-me o Castiel.-É óbvio não achas?

–Eh,não acho que seja isso!_digo,mas o Castiel limita-se a sorrir para si próprio.

–Porque é que entraste na equipa de hóquei,de qualquer forma?_pergunto mudando de assunto.-Tu não és bom naquilo e sabes disso.Até o Lysandre sabe!

–É um jogo duro,mas eu aguento_diz ele heroicamente.

–Estou a ver isso_replico.-Imagino que esse olho negro não tenha doído?

–Aqueles tacos de hóquei podem ser mortais.

–Principalmente quando tu estás por perto.Enfrenta a realidade,Castiel,não és coordenado.

–Tretas!_protesta ele.

–A sério,idiota,acaba com isso antes que vás parar ao hospital!

–Se eu estivesse no hospital,iria visitar-me? Podias dar-me uvas e chocolates na boca_ele sorri maliciosamente.

–Em sonhos_respondo-lhe.

–Pois,em sonhos.Então,que dizes a irmos almoçar fora?

–Deixa-me adivinhar…na cantina do hospital?

O Castiel parece magoado.

–Ok,esquece…O que fazes depois da escola?

–Aula de piano.

–Outra?_ele parece horrorizado.

–Tenho um exame daqui a pouco,já te tinha dito_resmungo.-Olha,Castiel,esta conversa não vai dar a lado nenhum,esquece.

–Não estás a falar comigo?_pergunta ele.

Acrescento algumas coisas ao meu desenho,fingindo estar fascinada.

–A sério?_ele continua.-Estás a ignorar-me? Nem penses! Soraia? Fala comigo por favor! Estávamos a planear o nosso primeiro encontro.Não podes deixar as coisas assim!

Ai isso é que posso.

–Soraia?

***

Estou a folhear o eu livro de música quando um minúsculo avião de papel aterra no eu colo.Sacudo-o para o chão,mas em poucos segundos ele está de volta.

–Abre-o_sussurra o Castiel.-É verdadeiramente importante.

Abro-o e vejo a mensagem que está lá dentro:"Preferes creme de ervilha ou molho de caril?" Tento manter um ar sério e proibitivo,mas uma gargalhada escapa-me antes de eu a conseguir parar.Sempre que o tento,encontro os olhos do Castiel e desmanchamo-nos novamente.

–Vejam,os pombinhos_diz a Ambre.-Qual é a piada? Oh,desculpem,esqueci-me.São vocês mesmos!

–Decididamente ciumenta_diz o Castiel.

–Não,decididamente molho de caril_digo.

Mais tarde,depois de a campainha tocar,uma certa pessoa aproxima-se de mim,assustadoramente perto.

–Não vou desistir_murmura ele e desta vez eu sorrio.

CONTINUA…