Dark Lands Capitulo 2 escrita por ladyroll


Capítulo 1
Capítulo 2




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Dark Lands capítulo 2

A cabana ao sopé da montanha estava abandonada a muito tempo.
A velha porta carcomida foi aberta com um rangido sinistro revelando um piso de pedras irregular e a madeira mofada das paredes ainda resistia devido ao verniz de boa qualidade, que impedia a chuva de avançar demais.
Embora houvesse algumas goteiras no teto, a maioria do interior embolorado daquele local permanecia menos molhada que o exterior. Por entre as frestas das pedras crescia alguma espécie de musgo muito escuro, quase negro e que já tomara conta de metade do assoalho. Alguns insetos procuravam o abrigo de suas tocas sob as rochas assim que notaram a presença dos três.

Teias de aranha pendiam do teto, cobrindo os poucos móveis abandonados em seu interior; uma mesa comprida,  improvisada com metade de um tronco, uma espécie de cama coberta com palha sobre uma rocha maciça da própria montanha, onde tranqüilamente poderiam dormir duas pessoas e uma pequena fenda esculpida no chão, contendo restos de lenha e cinzas com uma pequena abertura na parede logo acima, como algum tipo de fogão. Possivelmente alguma família, ou talvez um viajante morava a pouco tempo ali pois era uma construção sólida e muito bem feita e ainda bastante conservada.

janus foi o primeiro a entrar. Ele tratou de empilhar logo alguns pedaços de madeira e se curvou sobre eles, pegando duas pedras no chão, que chocou uma contra a outra formando uma única faísca que rapidamente se ergueu em uma labareda, o que lhes possibilitou ver melhor o interior da cabana. A luz terminou de afugentar as criaturas rastejantes para longe dali, assim eles poderiam descansar com menores preocupações. Alba se aproximou do jovem.
-Impressionante sua facilidade para acender esta fogueira, Janus.
Eleonor sentando-se na cama, olha com desdém e fala para a jovem mulher:
-É o dom dele.

Estranhamente o fogo começa a ficar mais forte, as labaredas agitadas, como se estivessem vivas, quase alcançando o teto da cabana.
-DOM? Isso é uma maldição, uma MALDICÃO, ESTÁ OUVINDO? -grita Janus enfurecido, seus olhos pareciam as brasas da fogueira. Alba deu alguns passos para trás e Eleonor, ainda sentado, continuou, sorrindo maliciosamente para Janus:
-Se o seu desejo é destruir o único abrigo que temos devo alertá-lo que conseguirá muito em breve, mago.
Alba, percebendo o risco daquela situação voltou a falar.
-Janus, acalme-se. Conte o que aconteceu. Sei que passou por coisas terríveis e por tanto tempo lhe mandei minhas cartas sem que ao menos me lembrar que você tem suas próprias histórias para contar. Fui muito egoísta. Me perdoe, por favor.
E assim ela se aproximou, os olhos voltados para o chão e tocou o braço dele levemente.
As chamas voltaram ao normal quase imediatamente, enquanto Janus olhava fixamente para seu anjo de cabelos vermelhos sem conseguir falar uma só palavra.
-É melhor eu procurar comida. - disse Eleonor, saindo de sobressalto em direção à escuridão da floresta. Logo depois uma tempestade desabou dos céus sem piedade alguma.
-Venha Janus.
Alba se senta na cama de pedra e com um gesto de sua mão pede a presença dele ao seu lado. Ele se aproxima envergonhado; o rosto corado. suas palavras vacilam mas Alba o acalma com um sorriso.
-Está tudo bem, Janus. Vamos, é sua vez de falar. Eu imagino a quanto tempo está esperando alguém para desabafar. Por favor Janus, confie em mim.
Janus levantou os olhos, que encontraram os de Alba. Ele respirou profundamente, tentando acalmar seu nervosismo, ele tremia por dentro como uma criança, mas viu naquele momento a oportunidade de falar com alguém igual a ele, alguém que o ouviria sem críticas, sem ataques, que seria capaz de compreender todos os medos e dores que ele sofreu em sua vida até ali.
Janus precisava de coragem. Seu peito parecia arder e ele chegou a achar que seu coração pararia de bater a qualquer minuto. Ele fechou os olhos e sorriu, retribuindo a Alba. Ele precisava falar e o faria naquela noite, naquela cabana e para a única pessoa na qual ele ainda confiava, Alba.
-Alba, eu... Preciso te falar. Mas não sei como começar.

Droga, pensou Janus consigo mesmo. Ele mal conseguia pronunciar meia dúzia de palavras, quanto mais agir normalmente perto dela. Mas era sua chance, logo aquele ser asqueroso e irritante voltaria e ele não teria uma oportunidade como aquela outra vez. Novamente ele respirou fundo, estava nervoso, seus olhos finalmente alcançaram o chão.
Com algum receio, ele começou a contar sua história, a dor pela aversão das pessoas da vila onde nascera e das inverdades espalhadas por seu irmão mais velho.
Janus percebeu que finalmente aquela terrível sensação de pânico havia desaparecido e voltou-se para Alba, que permanecia ao seu lado, ouvindo tudo com paciência e atenção.
Janus virou seu rosto ao continuar. A morte de sua mãe por causa de seu nascimento o atormentava mais do que qualquer outro acontecimento de sua vida. Era a primeira vez que falava daquilo com alguém e certamente jamais voltaria a fazê-lo. Mais tarde ele viria a saber que aquele legado de assassino que tanto odiava era compartilhado por todos os herdeiros de Enteais.
Seu irmão fazia questão de mostrar o quanto o odiava; não só a ele, mas a todos que moravam perto dali.
Quando a mãe morreu o mais velho tinha dez anos e já entendia as sutilezas da vida. Achava que Janus era o culpado por separá-lo dela e merecia pagar por isso.
O padrasto de Janus era um homem muito severo. Punira o jovem diversas vezes, violentamente, quando ele se aproximava do fogo. Precisou abandonar a profissão de ferreiro por causa dele, ao descobrir que era; diferente. Janus desconhecia suas intenções até o dia fatídico, no vilarejo onde nasceu.
Era seu aniversário de quinze anos e naquele dia ele havia acordado sentindo-se diferente por dentro. Ele percebeu no reflexo da água enquanto lavava o rosto, que seus olhos brilhavam de um jeito estranho.
Dentro dele ardia uma estranha vontade de libertar-se de tudo e de todos e num erro seu irmão o atormentou naquela mesma manhã.
Chamou Janus mais uma vez de assassino, mas ele não aceitou o insulto de bom grado. Os dois começaram uma briga e o pai se aproximou para apartar, mas era tarde.
Com os olhos arregalados ele viu as mãos de Janus queimando o rosto do irmão que gritava desesperado. Em seguida, ainda tomado pelo ódio acumulado de anos e anos, o jovem deixou seu corpo ser tomado pelas chamas, que vieram avassaladoras desde seu interior e que a partir daquela cabana se espalharam por toda a vila, destruindo completamente todos os vestígios do mal que ele havia sofrido. Tudo estava terminado e ele, caído em meio aos poucos restos chamuscados do lugar finalmente descansava; não havia mais dor; não havia mais nada.
Na verdade aquele acontecimento iria torturá-lo a cada dia mas ele aprenderia a superá-lo pois agora estava livre.
Alba o abraçou com ternura. A ternura de uma mãe que Janus não veio a conhecer, mas que sempre lhe fez falta. Ele chorou. Um desabafo merecido do qual precisava a muito tempo e depois dormiu, exausto e aliviado; observado por Alba, que usou seu manto para aquecê-lo um pouco mais naquela noite congelante.
Ela se sentou à beira do fogo enquanto esperava por Eleonor, porém ele demorou tanto que ela também adormeceu com o calor reconfortante do fogo próximo de si.


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