Renji estava demorando demais no "banheiro"! Eu fiquei sem saber o que fazer após dar um leve soco na cara de Ichigo. Ah, ele merecia apanhar um dia inteiro por tudo o que eu estava passando, com certeza merecia! Como se soubesse exatamente sua volta de voltar em cena, Renji reapareceu e ficou de pé, já que eu havia roubado o lugar dele ao lado do morango. Perguntou-me sobre minha estadia em Karakura, eu ainda não tinha resolvido... até que ele disse que iria sair de perto de nós de novo. O que era tudo aquilo? Ah, claro. O trio maravilha tinha resurgido das cinzas... só me lembrava de ter visto Riruka, não sabia que as outras duas também estavam por aí... vi Ichigo soltando um suspiro quase inconsciente e, sem saber o que fazer no meio de tudo aquilo, apenas fiquei olhando para o celular que Inoue me emprestara. 

- Que celular é esse, Rukia?

- Da Inoue. Você não vai devolver o meu? - minhas agendas e anotações... tudo confiscado...tsc.

- Não. - eu estava abrindo a boca para responder-lhe como merecia, até que..

- Ichigo, porque não qiuis falar comigo? É por causa dessa aí, não é? 

Ela até disse mais coisas, mas não achei que valia a pena prestar a atenção... não acreditava que ela tinha vindo mesmo falar com a gente.. com o Ichigo, na verdade. Que ridículo! Eu iria levantar-me e sair dali o mais rápido que poderia, mas senti uma mão em meu ombro, que me levou até o peito de Ichigo. Como se não bastasse... a sensação de estar tocando Ichigo como há cinco anos... o seu cheiro não havia mudado. E sempre fora o que mais me chamava a atenção - de olhos fechados e sem o cabelo fluorescente, talvez - quando estava com ele. Eu não consegui sequer esboçar qualquer movimento. 

- Sim, é por ela. Algum problema? Eu e você nunca tivemos nada, Riruka. 

TODOS OS PROBLEMAS!! Eu queria gritar em plenos pulmões. Ele dizer que nunca teve nada com ela em minha frente cheirava quase a encenação. Sabia que não era pelas reações exageradas de Riruka - que atuava muito mal.

- O-O-O quê? E o que me diz da nossa noite... - eu realmente quis sair do "abraço" e correr, mas Ichigo apenas segurou mais forte.

- Não tem noite nenhuma. Vamos encontrar o Renji ali, né, Rukia?

Eu não pude fazer mais nada além de gaguejar qualquer coisa que provavelmente ele nem entendeu. Ichigo segurou minha mão com a força de um mamute e saiu me arrastando pelo shopping até onde Renji poderia estar. Apenas esperei afastarmos um pouquinho..

Ela, como sempre, me deu um soco e ficou quieta, olhando para o outro lado. A baixinha de olhos azuis parecia estar cedendo aos poucos às minhas discretas investidas - eu não sabia ainda o que fazer com ela - e eu estava particularmente feliz com o progresso. Renji, que provavelmente (e muito provavelmente) estava apenas em algum lugar olhando a gente conversar, voltou dizendo qualquer coisa sobre Rukia ficar em Karakura no feriado. Eu queria muito saber, mas um grupo que chegava perto de onde estávamos fazia muito barulho.. e eram elas. Riruka e suas duas amiguinhas Loly e Menoly. 

Renji disse que iria buscar um refrigerante quando as viu chegando. Iria fugir de novo... Rukia também percebeu, com certeza, mas ela apenas pareceu ignorar e voltou o olhar ao celular que estava em suas mãos. Já tinha arrumado outro..?

- Que celular é esse, Rukia?

- Da Inoue. Você não vai devolver o meu?

- Não. 

- Ichigo, porque não quis falar comigo? É por causa dessa aí, não é? Você está me traindo?

Mas o que era aquilo? Eu estava com a Rukia do lado e mesmo assim aquela.... aquela marmota veio encher a porra do saco! Olhei pra Rukia que fazia menção de levantar e ir atrás de Renji - ou simplesmente sair da situação - e a segurei pelo ombro antes que se mexesse.. aproveitando a força que fiz para não deixá-la ir, ainda aproximei-a ainda mais de mim.

Os olhos. 

Desde que a conheci, dizia que ela tinha olhos de demônio. Eles sempre demonstraram tão facilmente qualquer tipo de emoção que ela sentia... se você olhasse com mais atenção, poderia dizer que eles mudavam de cor. Sempre com um roxo profundo na íris, era preocupante quando via a cor azulada e escura no seu olhar. Como naquela hora. Ela estava furiosa... e eu esperava que não fosse comigo. 

- Sim, é por ela. Algum problema? Eu e você nunca tivemos nada, Riruka.

- O-O-O quê? E o que me diz da nossa noite... - senti a morena tremer em meus braços.. Loly e Menoly apenas escutavam... se eu não me engano, o problema delas era mais com Inoue do que com Rukia. Pura perseguição.

- Não tem noite nenhuma. Vamos encontrar o Renji ali né, Rukia?

- É-É... sim.. sim.. claro.. 

Segurei Rukia pela mão ~quase gentilmente~ e nós saímos com pressa de perto daquelas três. Ela não fez nenhum tipo de objeção, mas provavelmente eu iria apanhar em breve.

- Seu retardado, está esmagando minha mão!! 

Estava tão tenso e nervoso que sequer percebi a força que coloquei ao segurá-la! Por Deus... quando a soltei, ela massageou o pulso que estava sob minha mão, estava vermelho. A mãozinha dela era tão pequena que eu acabava segurando o braço também.. 

Os olhos.

Estavam bem mais calmos do que antes, mas ainda assim me intimidavam. Como poderia? Simples bolinhas coloridas em um rosto de criança me faziam sentir medo, achar graça... sentir amor. Só podia ser coisa do demônio mesmo!

Encontramos Renji e conversamos por mais um tempo. Rukia me perguntou sobre Senna e eu havia me esquecido COMPLETAMENTE dela. Precisava voltar pra casa... Rukia, com os olhos de demônio bem mais roxos que o habitual, me disse que voltaria no dia seguinte para Tóquio. Sem desespero, já que ela voltaria. "Sobre o celular..", ela disse, "...depois você devolve. Não tem nada de importante lá." 

Essa mudança repentina me fez ficar confuso, de novo. Uma hora ela queria alguma coisa, na outra hora ela parecia totalmente fria e mal olhava para mim.. em outra, já estava me espancando como sempre fez. Renji saiu andando na frente, dizendo que não ia esperar por nós. Eu seguiria por outro caminho... de novo... então eu peguei ela pelo braço e puxei para bem perto. Dei um passo para trás e acabei de encontro com uma parede - sorte. E os olhos me viram de novo. Talvez por reflexo do céu que estava inacreditavelmente azul, pude compará-los de perto. Aqueles olhos de demônio... eram como olhar o céu bonito após uma longa temporada nublada e com chuvas. 

A beijei.

Rukia não fez nada. Não gritou, não me bateu... depois de alguns segundos subiu com a mão que eu não segurava e apertou a manga da minha camisa. Apenas interpretei como se ela estivesse gostando e aprofundei-me nos movimentos. Após um tempo no qual eu não poderia contar - mesmo se pudesse não ia conseguir - nos separamos. Os olhos azuis... mal pude vê-los, já que a mãozinha que me segurava o braço anteriormente com tanto carinho se fechava e ia de encontro com meu nariz. Rukia apenas saiu correndo como uma adolescente. Como a adolescente que era quando me apaixonei pela primeira vez pelos olhos de demônio. 

Vendo-a indo embora, averiguei o rosto para ver se estava tudo ok, e estava sangrando. Tentando estancar o sangue e me lembrando do beijo que tecnicamente foi roubado, me lembrei do porquê de serem olhos de demônio.

Ela era um.

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Rukia não disse nada durante a volta para casa. A caminhada não era curta, e já estava entardecendo... Ichigo tinha mesmo agarrado a si. Renji, que tinha olhado para trás para ver o que ambos estavam demorando, deu um sorriso e esperou sentado num banco. Rukia veio correndo, olhou para a direção de Ichigo que segurava o nariz. Não era difícil interpretar a cena... 

Logo chegaram em casa e Rukia também não se dirigiu a Inoue, que estava vendo televisão na sala.

- Abarai-kun.. aconteceu alguma coisa?

- Acho que a Rukia vai querer te contar isso.. vai lá conversar com ela.

- Certo! É algo sério?

- Talvez.. 

Inoue subiu o mais rápido que pôde. Renji não parecia tão preocupado como suas palavras tentavam mostrar. Ela bateu na porta e entrou, viu Rukia fazendo as malas.

- K-Kuchiki-san, algo errado?

- Tudo errado, Inoue... tudo errado... - Rukia jogou seu corpinho na cama de uma vez, mas se recompôs e ficou apenas sentada. - Encontramos o Ichigo no shopping. Ele disse.. que uma garota que ele namorou está grávida. 

- Grávida, Kuchiki-san?!?! Mas o filho é dele?

- Ele não sabe. - Rukia deu um sorriso sarcástico - E ainda assim fez a maior cerimônia pra contar, maldito... - ela fez uma pausa e continou - e aí Riruka chegou lá. Com a Loly e a Menoly... 

Inoue apenas contorceu o rosto, como alguém que está com nojo de algo. E estava mesmo. Ao escutar o diálogo pela boca de Rukia, esboçava várias reações numa mesma frase. Até que Rukia finalmente disse...

- ... e então, ele me beijou. - Inoue quis soltar um grito, mas Rukia se previniu - E eu estou voltando para Tóquio.