EUA – Apartamento de Itachi. 3 horas da manhã.

A situação havia chegado a um ponto que Itachi se via obrigado a explicar o passado para justificar, mais uma vez, o presente.

– Maya... Naquela época eu não podia deixar que ninguém ligasse você a mim. Eu só te atraio coisas ruins. Olha o que aconteceu com meu pai só porque Orochimaru não me queria perto de você. Eu queria que você vivesse em paz. Feliz. Por favor, entenda!

A garota balançava a cabeça de um lado para o outro enquanto tentava controlar o choro. Odiava chorar na frente de Itachi.

– Eu juro pra você que nos primeiros anos eu até tentei investigar sobre o caso – ele continuou – mas Madara logo estranhou meu súbito interesse pela delegacia e começou a me vigiar.

– Isso não justifica nada, Itachi. Você nunca teve medo de ninguém, muito menos do seu tio.

– Nesse caso é diferente. Por que você se recusa a entender?

Maya andava de um lado para o outro, passando as mãos pelos cabelos, impaciente. Ela não estava gostando do rumo que a conversa havia tomado. Seu peito já doía e a respiração faltava, de maneira desesperada ela tentava se controlar.

– Você não pode ir lá sozinho! – ela gritava sem parar – Não pode ir lá. Não pode me deixar aqui.

Itachi tentou se aproximar dela, mas Maya o afastou.

– É o único modo! – ele argumentava – Você precisa entender! Por que esta agindo assim agora? Você sabia que seria dessa forma!

Eles vinham investigando juntos todas e quaisquer evidencias que levassem ao Sasuke. Finalmente estavam na pista certa, mas Maya não concordava com o plano de Itachi. Ela não queria dizer aquelas palavras, porem, algo dentro dela dizia que aquilo não iria acabar bem.

– May-chan, se acalme! – Itachi ficou preocupado quando viu Maya apertar a garganta em busca de ar.

Rapidamente ele correu em direção à bolsa dela e, com um único movimento, virou tudo o que havia lá dentro, procurando pela bombinha que a garota carregava sempre com ela.

Maya tinha asma.

Ele a ajudou a respirar normalmente e logo depois a abraçou forte.

– Não faça mais isso – Itachi sussurrou pra ela.

– Não precisa ser assim, você sabe disso... – Maya começou a soluçar em meio ao choro – Não me deixe, Itachi. Você prometeu. Não pode me deixar de novo.

Sem saber o que responder devido à situação, o Uchiha simplesmente manteve o silencio e afundou seu rosto no cabelo da garota, inalando o perfume doce que dele vinha.

Alguns minutos depois o momento inevitável chegou.

– Eu preciso ir – ele quebrou o silencio já se afastando de Maya.

– Me deixe ir com você, por favor – ela suplicou.

Mas o moreno apenas lhe lançou um último olhar antes de fechar a porta atrás de si.

O que mais ele poderia dizer? “Estou indo salvar meu irmão das mãos de um maníaco, volto pro jantar”.

Claro que não.

Até porque Itachi não pretendia voltar.

.

Enquanto isso, na mansão de Orochimaru.

Passos lentos eram ouvidos do lado de fora do quarto de Suigetsu.

O garoto de cabelos brancos já sabia quem era e o que queria, por isso se levantou com dificuldade e destrancou a porta. Assim que Sasuke a abriu Suigetsu cambaleou para trás, batendo com as costas na parede.

Sua doença o estava consumindo cada vez mais naquele lugar horrível.

– Você está pior do que da última vez – Analisou o Uchiha.

– Obrigado – Respondeu irônico – Sabe... Você também não está muito melhor.

Era visível que ambos pioravam a cada tentativa de fuga.

Os hematomas no corpo de Sasuke eram muitos, debaixo de seus olhos brotaram duas olheiras que cresciam a cada noite e a marca em seu ombro só fazia doer cada vez mais, proporcionando a ele dias e noites de cansaço físico e mental. Suigetsu não estava muito melhor, seus sintomas pioravam toda vez que fracassavam em sair de lá, seu corpo estava cada vez mais fraco e Orochimaru diminuía gradativamente suas dosagens diárias de remédios e água.

– Não sei se tenho forças para tentar novamente se falharmos hoje – revelou Suigetsu enquanto Sasuke o apoiava para se manter de pé.

– Não temos outra escolha.

Ambos começaram a caminhar para fora do quarto com cautela.

Sasuke não estava convencido de que daria certo daquela vez, as chances eram as mesmas de sempre, mas não podia dizer isso ao amigo, também não poderia deixar de tentar. No fundo ainda havia sobrado um fio de esperança vivo em seu peito. Apesar de seu semblante serio, Sasuke esperava um dia voltar a ter motivos pra sorrir.

– Conseguiu conversar com ele? – Suigetsu perguntou baixinho, dando ênfase na última palavra.

– Sim.

– Conseguiu convencê-lo a ajudar?

– Não.

Suigetsu bufou.

– Ele seria de grande ajuda – Comentou desapontado.

– Abaixe-se! – Sasuke avisou de repente.

Uma voz conhecida vinha do final do corredor mal iluminado:

– O que você quer com o Orochimaru-sama, Karin? Ele não tem tempo para suas conversas fiadas. Há muito trabalho aqui... – Kabuto passava falando ao telefone.

– Karin? – Suigetsu questionou confuso.

Quando tiveram certeza que Kabuto já estava longe o suficiente, os garotos voltaram a caminhar, agora com mais urgência.

– Vamos tentar um caminho diferente hoje – disse Sasuke, soltando o amigo e o ajudando a sentar no chão. – Espere aqui, não vou demorar, só preciso buscar uma coisa.

Quando voltou, o moreno estava com a katana preferida de Orochimaru em mãos, explicando que era só um pequeno presente que o homem cobra devia a ele.

Ao alcançar o portal principal o garoto de cabelos brancos se assustou.

– Vamos sair pela porta de frente – Explicou Sasuke. – Exatamente por onde entramos. Percebi que Orochimaru não espera que a gente faça o óbvio, ele colocou um de seus homens em cada ponto da área dos fundos da casa, mas ninguém no portão principal.

– E como você espera passar por isso? – disse Suigetsu analisando o enorme portal de ferro alguns metros à frente – Vamos simplesmente bater e esperar que ele se abra?

Antes que Sasuke pudesse responder o portão rangeu, abrindo-se como se tivesse entendido o pedido de Suigetsu.

– Vamos apenas esperar que ELE abra pra gente – Sasuke sorriu satisfeito, encarando a sobra que entrava.

Até agora tudo estava saindo como o planejado.

– ELE quem? – perguntou Suigetsu.

A sobra se aproximou até ficar visível aos seus olhos.

– Olá, Sasuke-kun.

– Você!? – Suigetsu se assustou ao reconhecê-lo – Mas, mas... Kimimaro?

– Olá, Suigetsu – Kimimaro respondeu gentil.

– Não temos tempo pra formalidades – Sasuke os cortou – temos que ir antes que...

O som rasteiro de passos atrás deles interrompeu Sasuke, o fazendo arrepiar no mesmo instante.

– Antes que o que, Sasuke-kun? Onde meu pupilo preferido pretendia ir... Novamente?

Era Orochimaru, vindo acompanhado de perto por Kabuto.

Mas como?, Sasuke se perguntou mentalmente. Como ele nos ouviu? Fomos tão cuidadosos o tempo todo e mesmo assim...

– Não importa o quão cauteloso você seja, eu sempre vou saber onde você está, Sasuke-kun – O homem cobra parou de se aproximar e os encarou. – Vejo que esta com a minha katana... Que garoto petulante você se tornou. Vai precisar de uma punição mais severa esta noite.

O tom de voz de Orochimaru irritava profundamente os ouvidos de Sasuke. Automaticamente seus punhos se fecharam e seus dentes rangeram de raiva.

Kimimaro se colocou relutante ao lado de Sasuke. Ele ainda não sabia se o que estava fazendo era certo ou errado, estava apenas seguindo seu coração.

Orochimaru olhou com curiosidade aquela cena, levantando os cantos dos lábios como quem presencia uma miragem.

– Kimimaro – O homem o chamou com convicção – Venha até aqui e me explique o que esta acontecendo, meu rapaz.

Mas Kimimaro não se mexeu.

O clima estava pesando sobre os ombros de todos ali, dava pra sentir a tensão no ar. Era quase sufocante.

Aguente firme, Sasuke!, gritou uma voz familiar em na cabeça do Uchiha. Aguente mais um pouco!