Coloquei um punhado de roupas correndo dentro da minha mochila, enquanto isso o telefone chamava na companhia aérea. Consegui reservar passagens para daqui 6 horas, liguei para um táxi que me levou até a agência de veículos mais próxima, onde eu aluguei um carro e parti para Manhattan onde pegaria o voo.

O aeroporto estava pouco movimentado, eram 5h da manhã e eu estava fazendo meu check-in. O voo duraria cerca de 3:20h. Tentei ligar para Annabeth diversas vezes, mas caía sempre na caixa postal.

***

Desembarquei em São Francisco por volta das 9:30 da manhã, o dia estava nublado e mais frio que Manhattan, reclamei mentalmente por não ter vestido uma blusa de frio mais grossa. Tornei a tentar ligar para Annabeth, que dessa vez atendeu.

__ Oi Percy – ela disse com uma voz desanimada
__ Já estou em São Francisco, onde você está?
__ Você realmente veio? – perguntou com a voz incrédula
__ Óbvio – andei até próximo de um taxista – Vou passar o telefone para o taxista e você fala com ele o endereço.

Entreguei meu telefone ao senhor, que ouviu atentamente, ele me entregou o telefone de volta e entrou no carro.

__ Já estou chegando ai.

Falei e desliguei o telefone sem esperar respostas. Depois de uns 20 minutos, cheguei a casa do pai de Annabeth. Era uma casa de dois andares, pintada de bege claro, com janelas de vidro escuro e um jardim na frente. Peguei o taxista e saltei.

Toquei a campainha.

Um dos irmãos de Annabeth veio me atender, ele tinha os cabelos loiros como os dela, apesar de mais lisos e de não ter os olhos cinza como os da irmã, além dos traços um pouco orientais.

__ Olá, você deve ser o irmão de Annabeth – cumprimentei estendendo-lhe a mão
__ Percy Jackson – ele apertou minha mão – Entre, está frio do lado de fora.

Sorri e passei pela porta. Só então notei que realmente estava frio do lado de fora, pois dentro da casa havia um ar acolhedor que me fez querer um cobertor e um travesseiro para que eu me encolhesse num cantinho para dormir. Olhei ao redor e a lareira estava acesa, a casa tinha alguns detalhes rústicos, algumas estátuas gregas e também várias miniaturas de avião.

Lembrei-me do quanto o senhor Chase era apaixonado por aviação. Logo o outro irmão de Annabeth desceu as escadas, ele era idêntico ao que abriu a porta para mim, apenas tinha os cabelos mais longos, nos cumprimentamos também e os dois pediram licença já que iriam sair.

Sentei-me no sofá e a vi descendo as escadas. Estava vestindo um pijama de frio e não sorriu ao me ver, isso me preocupou ainda mais.

__ Annabeth – levantei-me e fui até ela – O que aconteceu?

Ela abaixou o olhar e andamos juntos até o sofá. Ela sentou-se na poltrona de frente para o sofá que eu me sentei. Ficamos frente a frente até que então ela me olhou.

__ Eu estou grávida!

Grávida? Ela só podia estar brincando. Comecei a gargalhar e olhando de forma zombeira para Annabeth.

Apenas senti sua mão batendo em meu rosto e seu olhar de raiva caindo sobre mim.

__ Isso não é hora de brincar, Percy. – ela se levantou da poltrona

Olhei assustado para ela e passei a mão para amenizar a dor onde ela havia dado o tapa. Parei um pouco e então a ficha caiu. Ela estava realmente grávida.

__ Meu Deus, como...
__ Quer realmente saber como você engravidou minha filha, Senhor Jackson?

O Senhor Chase saia da cozinha, bem melhor que da última vez que eu o vira no hospital, podia jurar que alguns fios de cabelo começavam a nascer em sua cabeça careca reluzente.

__ Pai... – Annabeth virou-se para ele com um olhar de advertência.
__ Não me venha com essa de “pai”, Annabeth. Vocês sabem a merda que vocês fizeram? Principalmente ele!
__ Epa lá – levantei – Eu não fiz nada que sua filha não quisesse.

Annabeth e o pai me lançaram um olhar de raiva. Que ótimo, a raiva dos Chase sobre mim. Como se o pequeno Jackson tivesse simplesmente encontrado a pequena Chase sozinho.

__ Quer dizer... – dei um passo pra trás e dei um riso de desespero – Annabeth...

Ela veio para o meu lado e me deu a mão.

__ Pai, você já deu um escândalo do hospital, não vamos repetir isso aqui, tudo bem?
__ Vocês dois são duas crianças, tem só 22 anos, mal mal conseguem se sustentar e...
__ Mas... – o interrompi, mas ele levantou a mão para que eu me calasse e eu o obedeci
__ Não venha me falar que seu pai irá lhe ajudar, Percy, não venha me falar do dinheiro que ele tem, porque o dinheiro é DELE e não seu.
__ Eu sei Senhor Chase, eu não iria dizer isso, eu posso cuidar desse... – olhe para a barriga de Annabeth – Desse filho e da sua filha também.

O aperto de mão de Annabeth cresceu, mas seu rosto continuava sério e encarando o pai.

__ Micheal – a madrasta de Annabeth descia as escadas – Vamos comigo, deixem eles conversarem.
__ Querida...
__ Vamos – ela disse impondo

Ele lançou um olhar furioso e saiu com a esposa. Olhei para ela e agradeci com um aceno de cabeça. Esperamos que eles saíssem da casa.

__ Annabeth – a abracei – Desculpa

Senti ela dando um riso abafado, a soltei e a vi sorrindo com os olhos cheios de lágrimas.

__ Maldita bebida – ela falou – Tem um mês e pouco...

Lembrei-me do dia em que bebemos e fizemos as pazes. O Deus foi aquele dia. Me ajoelhei e abracei a barriga dela, em seguida levantei a blusa de pijama e dei-lhe um beijo ali.

__ Minha mãe vai me matar – Annabeth me deu a mão para que eu me levantasse – Estamos ferrados Percy
__ Sim, estados – admiti – Mas daremos um jeito, espero que antes de seu pai querer me castrar.
__ Desculpe não querer te contar por telefone, fiz você gastar horrores, mas é que meu pai fez o maior escândalo no hospital – ela sentou-se no sofá e me puxou para o lado dela – Nem parece que esse velho acabou de sair do hospital.
__ Tudo bem, tinha que enfrentar a fera uma hora ou outra mesmo, ok que eu preferia numa situação menos agressiva, onde uma criança não estivesse envolvida, mas já que estamos aqui, porque não enfrentar a batalha de frente.
__ Vendo você falar assim podia jurar que estou namorando um cara super maduro – ela cruzou os braços sobre o peito
__ Está me chamando de imaturo, Annabeth? – fiz uma cara ruim
__ Ás vezes você é imaturo mesmo, ora...

Balancei a cabeça negativamente, ignorando-a. Encostei no sofá, passei a mão por meus cabelos e encarei o teto. Senhor, isso estava acontecendo comigo.

__ Eu estou com medo – admiti, olhando para o teto.

Annabeth continuou em silêncio. Lancei um olhar de relance e a vi desenhando bolinhas em seu próprio joelho com o dedo. Os cabelos estavam soltos e cobriam suas expressões. Se estava sendo ruim para mim, imagine para ela; Ela que carregaria essa criança por nove meses, ela que amamentaria e cuidaria, abrindo mão de um tempo precioso em sua carreira, enquanto eu poderia seguir com o trabalho apenas cuidando dela e dessa criança. Abracei-a e reparei que ela estava chorando.

__ Annabeth... Eu estou com medo sim, mas eu estou com você, sempre estarei – sequei seu rosto – Ei, nenhum de nós esperava isso, mas acontece...
__ Eu não estou pronta pra ser mãe Percy... – as lágrimas caíram com mais frequência – Nenhum dos meus pais me apoia, acho que meu pai tem toda razão, somos duas crianças que fizeram uma grande merda.
__ Não fale assim do nosso filho – repousei a mão em sua barriga – Não quero que ele seja uma merda de olhos cinza.

Sorri para ela e isso arrancou-lhe um sorriso de volta.

__ Prefiro ele de olhos verdes, como os seus – ela me puxou para um beijo e nos afastamos – O que faremos agora?
__ Não sei... Na verdade não sei nem como contar aos meus pais...
__ Que tal começar por Sally? – ela sugeriu – Acho que ela será menos radical.
__ Tudo bem...

Peguei o telefone e liguei para minha mãe. Devia ser meio dia lá. O telefone chamou umas 5 vezes até que ela atendeu.

__ Filho... Como você está? – disse ela com a mesma voz amável de sempre
__ Mãe... Eu estou bem, mas...
__ Aconteceu alguma coisa?
__ Mais ou menos isso
__ Grave? – o tom de preocupação assumiu o amável
__ Depende do seu ponto de vista...
__ O que você fez Percy?
__ Engravidei Annabeth...

Minha mãe ficou muda, olhei a tela do telefone para ver se ela ainda estava na linha.

__ Mãe? – disse apreensivo
__ Percy... Como isso foi acontecer? Eu não disse para você se cuidar seu Cabeça de Vento?
__ Sim mãe, mas...
__ Sem mas, Percy! Como Annabeth está? Está enjoando muito, está passando bem?
__ Ela está bem mãe, só o pai dela que quer me matar, mas fora isso...
__ Ele tem razão de querer te matar, porque EU quero te matar, vou pra sua casa e conversamos melhor...
__ Eu estou em São Francisco mãe – afastei o telefone do ouvido esperando que ela gritasse
__ Quando você voltar conversamos direito.

Essa frase sempre me assustou desde que eu era criança. Engoli a seco.

__ Sim senhora, até mais mãe.

Desliguei o telefone e Annabeth me olhava ansiosa.

__ Ela está com raiva de mim, mas ficou preocupada com você, ou seja, no dia que eu for conversar com ela, você irá junto para evitar que ela me mate.
__ Até sua mãe Percy... Se até ela ficou assim, minha mãe vai arrancar meu coro...

A porta da rua tornou a abrir e o Senhor Chase estava de volta com a esposa, trazendo coisas que pareciam ser para o almoço.

__ Conversaram? – ele perguntou no tom cínico.

Nunca pensei que diria isso daquele senhor que foi tão gentil comigo enquanto estava acamado e ao menos pensava que eu poderia engravidar sua filha, que cara pé no saco.

__ Sim senhor – respondi sem abaixar a cabeça – Mas ainda não sabemos o que fazer direito, nós... Estamos assentando a ideia na cabeça ainda...
__ Como assim não sabem o que fazer? – ele colocou as coisas em cima do sofá – É tão óbvio...
__ Não entendi pai... – Annabeth o olhava confusa do sofá
__ Vocês irão se casar! – ele enfim sorriu

Olhei alarmado para Annabeth, um buraco tinha sido aberto sobre meus pés. Annabeth parecia tão assustada quanto eu, ou até mais.

__ Pai... Não...
__ Como não, como meus amigos irão me ver depois que minha única filha, grávida, vai morar com um rapaz sem casar? Isso é contra as leis da Igreja Annabeth e você sabe disso...
__ Seus amigos nem irão saber... – ela rebateu
__ Mas EU irei – ele gritou, assustando a nós dois – Não quero minha filha vivendo em pecado, muito menos um neto nascendo nesse meio.

O velho é obcecado por Igreja, pensei. Ele começou a respirar com dificuldade e se apoiou no sofá, fui rápido ajuda-lo e ele aceitou minha ajuda até sentar-se.

__ Senhor Chase, eu me caso com ela, se esse é o seu desejo – olhei nos olhos dele, virei-me para Annabeth – Está de acordo?

Ela desviou o olhar do meu, parecendo relutante ao meu pedido de casamento aos avessos. Batia o pé freneticamente no chão, voltou a olhar para mim, mordendo o lábio inferior, nitidamente com raiva e concordou com a cabeça. Concordei levemente com a cabeça e voltei a me virar para o Sr. Chase, que parecia menos nervoso.

__ Ótimo, veremos isso com mais calma depois – ele sorriu satisfeito.

Velho idiota. Annabeth levantou com brutalidade e agarrou minha mão, me puxando até seu quarto. Subimos as escadas juntos e suas pisadas pareciam aço no solado de madeira. Entramos no quarto e ela bateu a porta com força.

__ Que história é essa de casamento? – ela apontou o dedo na minha cara – Você está louco?
__ Qual o problema Annabeth? – abaixei sua mão
__ Eu não quero me casar!
__ Mas você disse que adorava quando eu dizia isso e já que você está grávida, casemos de uma vez.
__ Eu disse que queria, mas não agora... Não tão cedo, na verdade.
__ O que você tem contra casamentos? – aumentei o tom de voz – Não é tão mais terrível que morarmos juntos e você viu que deu certo! A única diferença é que agora teríamos alianças e você o meu nome.
__ NÃO QUERO ME CASAR! – ela gritou – AGORA SAIA DAQUI!

Fiquei olhando seu chilique sem entender. Ela ficou ainda mais irritada ao ver minha expressão que começou a me empurrar até eu encostar na parede, ela abriu a porta e me empurrou porta a fora, batendo-a com força na minha cara. A ouvi chorando do outro lado.

Peguei o telefone e disquei o número de Thalia. Chamou, chamou e ela atendeu.

__ O que foi Percy? – perguntou desanimada
__ Annabeth, liga pra ela e conversa com ela, por favor – implorei
__ Que merda você fez dessa vez?
__ Eu a engravidei...
__ COMO É QUE É? – ela deu um berro – Mas que p*rra é essa Jackson!
__ Tchau Thalia!

E desliguei o telefone. Sentei-me no chão e encostei-me na porta, esperando que ela se acalmasse e pudéssemos conversar.