O ano letivo de 2006 havia acabado bem. Angeles havia passado para o seu terceiro e último ano direto, dado o fato de que era um excelente aluna. Estava satisfeita consigo mesma e seus pais orgulhavam-se da filha que tinham. Era uma garota bela e meiga, capaz de iluminar o dia de qualquer um com o seu sorriso. Tinha 16 anos, morava e estudava em São Paulo. Possuía dois únicos amigos. Diego era seu braço esquerdo e Marco era o direito. Era como ela costumava referir-se aos dois. Haviam crescido juntos e ela os adorava mais do que tudo em sua vida, só não mais do que a seus pais. Angélica e Antônio eram sua única família, não tinha tios, avós, irmãos, nem nada, apenas eles, o que dificultava ainda mais o que estava por vir...

Na noite do dia 25 de Dezembro, quando Angélica e Antônio voltavam da casa de uma amiga, foram atingidos por um caminhão em alta velocidade. Angélica morreu na hora, Antônio chegou a ir para o hospital, passou por um cirurgia mas não resistiu. Quando Angeles soube estava com os amigos, e que bom que estava com eles, pois na hora sua visão ficou escura e suas pernas perderam completamente as forças, se os meninos não a tivessem segurado, ela teria caído com tudo no chão. Acordou uma hora depois na cama dos pais de Marco e começou a chorar, disse o que havia acontecido enquanto soluçava. Eles a abraçaram e a consolaram.

Durante a semana seguinte Angeles apenas chorou, chorou até não poder mais, até secar. Estava na casa de Diego e nem a companhia de seus amigos fora capaz de preencher o vazio que ela sentia. Não havia mais perspectivas em sua vida, não havia mais felicidade, não teria mais o conforto e a segurança que seu pai proporcionava e nem poderia mais usufruir dos abraços acolhedores de sua mãe. Quando, por fim, Angeles parou de chorar, começou a pensar sobre o seu futuro, queria saber o que aconteceria com ela mas não sabia nem em quais mãos estavam o seu futuro. Como por telepatia, a advogada de seu pai, Esmeralda, apareceu e jogou mais uma bomba em cima de Angeles.

Quando Angeles tinha apenas dois anos, Angélica fugira com Antônio de Buenos Aires para São Paulo, pois era agredida constantemente por seu ex-marido, um homem bastante violento. Quando conheceu Antônio, viu nele a oportunidade perfeita para fugir e ser feliz, não podia deixar que sua filha crescesse com a presença de um pai violento, queria o melhor para Angeles, e então ela fugiu. Angeles cresceu pensando que Antônio era seu pai, foi por ele quem nutriu todo o carinho que uma filha pode nutrir, o amava muito. Mas com a morte de seus pais, ela não podia ficar sozinha e Esmeralda, sabendo de toda a história, foi em busca de seu pai biológico, José. Ele também fora para o Brasil, atrás de Angélica, ele não ligava muito para Angeles. Nunca conseguiu encontrar Angélica. Ainda que fosse um crápula, era o pai de Angeles, a única pessoa que ela tinha, e com ele deveria ficar. Ele aceitou ficar com sua filha mas com a condição de que ela fosse para um internato, alegando que não tinha tempo para ficar com ela.

Angeles não entendia o porquê deles não terem contado a verdade, eles a conheciam e sabiam muito bem que ela teria preferido saber a verdade saindo da boca deles do que da boca de outra pessoa e que isso não faria com que ela os amasse menos. Mas mesmo assim não ficou chateada, pois ainda que soubesse a verdade, daria tudo para que eles voltassem. Sentia falta e precisava deles. Agora não tinha ninguém e sua vida se resumiria a um internato. Se ela estava preparada? Nem um pouco, mas ela tinha que seguir em frente...