Clarity - Primeira Temporada escrita por Petrova


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Este é um pouco triste e filosófico, é uma parte de Nathalie que não terá mais volta. É quando ela acha que seus tormentos terminarão, mas nem suspeita que só estarão começando escavatura



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Você está bem? – Suzanna pergunta numa segunda tentativa desde meu silêncio.

– Estou bem.

Nós duas sabiámos que eu estava mentindo, não precisava ouvir minha voz abalada para descobrir que eu não estava bem, embora ela soubesse que não se podia fazer nada com essa situação, só tinhámos que se conformar.

Hoje é o dia do enterro!

Desde que cheguei à mansão de Maison, há três dias atrás, eu não venho pensando em mais nada a não ser na conclusão do caso do meu pai. Billy apareceu sexta-feira em casa, estava desconfiado com a minha presença, mas não tinha como eles me colocarem fora disso, eu estava sofrendo sim, mas não tanto quanto ser livrada da verdade. A verdade foi o que me restou.

Pelo arquivo do meu pai, o ultimo telefonema que deu e a utópsia, Jeffrey tinha saído no tardar da meia-noite, pego o carro em direção a North Pole, enquanto as rádios comunicavam a drástica mudança do tempo na região: uma tempestade estava chegando.

Billy contou que, antes de qualquer coisa, Jeffrey tinha passado em um posto, conversado com a testemunha aparentemente animado por ir viajar. Nada estava fora do normal, a não ser o tempo. Na mesma estrada que Jeffrey pegava para North Pole, o hospital da cidade tinha registrado três acidentes pelos mesmos motivos que levaram Jeffrey a sair da estrada e bater o carro numa árvore.

Este era o caso do meu pai, não havia Adam ou qualquer dedo de um McDowell na história, meu pai estava morto por uma imprudência razoável, ele só queria ir o mais rápido possível a Anchorage, para me ver.

– Você está se culpando de novo. – Suzanna interrompe meus pensamentos ao mesmo tempo que faz uma curva perigosa para sairmos do centro da cidade.

Encolho-me no meu casaco preto e no meu acento.

– O quê?

Nós trocamos olhares, os meus são baixos e cansados, os dela são preocupados e solidarios.

– Não acredito que Maison te deixou ouvir a conclusão do caso do seu pai, Nathalie. Droga, não foi sua culpa.

Ela se desfaz de um cubo de gelo no meio do caminho.

– Eu precisava saber, você sabe disso.

Suzanna está dirigindo meu carro desde que pedi a Isobel permissão de entrar no cemitério com minhas amigas, o mais tarde que eu consegui, sem que as pessoas evitem o caminho correto para pararem e apelar o lado emocional para dizerem o quanto sentem muito. Eu sei que sentem, só não quero ouvir. E isso não é pedir muito, eu quero evitar todo aquele caminho para a igreja, de ouvir as palavras sábias do Padre ou de alguém que sente o bastante para se levantar e dizer algumas palavras, olhando nos meus olhos como se devesse algo a mim, quando meu maior desejo é voltar no tempo, ligar para meu pai e dizer: não venha para Anchorage, por favor, não venha, essa noite não.

Mas, e agora? Eu não posso.

Eu estou em uma estrada sem volta, Suzanna está mudando as musicas do rádio afim de encontrar qualquer cosia que não fale da dor de perda. A maioria estava falando sobre perder alguém, amar alguém, deixar alguém ir, o que há com as musicas de hoje em dia? Nada sobre a paz mundial, aquele gatinho em cima da arvore precisando de ajuda ou qualquer coisa remotamente estúpido sem sentido algum só para não ter uma frase legal no final que sirva de lição? Eu não entendo esse mundo.

– Droga de tempo. – Suzanna xinga olhando para além da janela.

A chuva está caindo lá fora desde a madrugada, no exato momento que despertei por causa de um trovão assustador me fazendo lembrar que dia era hoje. Depois disso, não consegui retornar aos meus sonhos.

Como se eu tivesse tido uma boa noite de sono depois da visita de Billy. Todos terminam com pesadelos confusos que me puxam para debaixo da terra como em Alice no País das Maravilhas, mas não há um coelho falante, criaturas engraçadas e outras curiosas, é apenas eu caindo por um tubo gigante embaixo da terra até chegar no fim de uma sala escura, embora eu saiba que não estou só, que tem vários olhos me vigiando, olhos rasos, olhos profundos, olhos claros, olhos escuros.

Então me desperto, suando e com o coração pulsante.

– Você telefonou para Lauren? – Suzanna me desperta.

Eu faço que sim com a cabeça.

– Ela disse que estará esperando por nós nos portões.

Ela faz um “ah” baixinho.

– Embaixo dessa chuva até eu preferia me enterrar na terra. – desabafa. – Imagina quantos graus abaixo de zero deve estar quando chegarmos, tudo rodeado por essa floresta sinistra?

– Eu sei.

Suzanna me observa pelo canto do olho enquanto eu tento manter contato na estrada, só para não ter que pensar em nada além disso. Gotas de água, estrada, caminho e só.

– Nathalie, nós podemos dar a volta se você quiser, você não precisa ir e ninguém ficará furioso por causa disso.

Nós passamos por mais uma curva estreita, até que conseguimos enxergar uma fileira de carros perto do cemitério.

Eu olho para Suzanna assim que estamos a vista de todo mundo.

– Tarde demais!

Lauren está aonde disse que estaria, perto dos portões com um sombrinho de cor champagne protegendo-a da chuva que ainda aterroriza todos os “convidados” da manhã. Eu estou dentro do carro, Suzanna está procurando sua bolsa jeans onde ela enfiou uma touca vermelha antes de entrarmos, os nossos guarda-chuvas estão guardados embaixo dos meus pés, enquanto eu ainda não consegui me movi. Eu não sei se quero ir, agora, não sei se é uma boa ideia ver meu pai ser enterrado, não sei, não sei.

– Ainda está de pé ir embora? – eu pergunto para Suzanna.

Ela para rapidamente de vasculhar sua bolsa grande e me olha nos olhos.

– Claro, mas teremos que resgatar Lauren primeiro, você sabe como ela fica quando algo estraga sua chapinha matinal.

Eu quase consigo sorrir pela piada, embora eu tenha olhado para Lauren e observado o quanto ela odiava tudo isso, morar no Alaska, estar aqui neste exato momento, como eu, como Suzanna. É por isso que somos amigas a tanto tempo, quando uma está em apuros, nós vamos lá e nos oferecemos ao caso, quando uma de nós está triste, todas nós estamos prontos para fazê-la sorrir. É o nosso lema.

– Quer saber? Eu tenho que enfrentar isso uma hora ou outra, vocês estarão lá, minha família também, é a minha ultima chance de dizer adeus.

Suzanna puxa a toca vermelha para cima da cabeça e ajeita suas medeixas ruivas e onduladas.

– É isso que eu estou querendo dizer, amiga. É esse o espirito. Desistir não consta no nosso refinado vocabulário.

Eu estendo seu sombrinho e pego o meu. Nós trocamos olhares por alguns segundos antes de abrirmos a porta do carro e fechá-la logo em seguida. Aqui é frio, mas não está tão desesperador quanto as batidas do meu coração. Nós seguimos até Lauren, presa num casaco de botões redondos e grande na cor preta, um olhar tristonho pronta para se jogar nos meus braços, mas ela se segura até que eu chegue no limite certo.

– Pensei que não viriam. – ela disse, enxugando algumas gotas da sua roupa.

– Nem nós. – Suzanna confessa por nós.

Nós três formamos um circulo silencioso por cinco segundos, damos olhadas pelo lugar, vejo carros, vejo a floresta e me nego temporariamente olhar para dentro daqueles portões, só por esses segundos libertadores, eu sei que se eu o fizesse eu me derramaria em lágrimas num piscar de olhos.

Eu vejo aquelas duas garotas presas nos seus casacos escuros protegendo-se da chuva por minha causa, por estarem gritando: estamos juntos nessa; é por isso que não me aguento no meu lugar e agarro os ombros que vejo na minha frente, segurando as duas garotas em um abraço forte, cheio de pano, gotas de agua e guarda-chuva com guarda-chuva.

– Ainda bem que vocês estão aqui. – eu sussurro, marejando os olhos fechados sentindo um calor diferente.

Calor de uma amizade verdadeira.

Nós somos despertadas pela realizader, sabemos que devemos estar em outro lugar, mesmo que nosso coração grite para dar o pé daqui e ir o mais longe o possível.

– Melhor irmos. – Suzanna avisa e é quando começamos a nos mover.

Os portões molhados espalham gotas no chão quando eu o empurro e sinto o gelo atravessar o meu tecido, a parede celular e entrar em contato com meu consciente. Tudo por aqui é gelado, todo mundo sabe disso, é quase como um portal para os mortos, quando os vivos entram aqui, não é para celebrar nada além da morte. Só os mortos permanecem, enquanto os vivos tem a liberdade de ir e vir, ficar e ir novamente, a liberdade de pensar, errar, ter a chance de se redimir, chorar, enquanto os mortos aqui entram em um estado de inércia em um periodo mais longo que o próprio para sempre, pelo menos é assim no mundo dos vivos. Enquanto nós estamos aqui, eles estão vagando paralelamente a nós, quando somos presos a qualquer faísca de sensibilidade, de pavor, de emoção, de não inércia, de pode estar e ficar, de poder dar adeus e partir, até mesmo quando somos ignorantes para querer ficar. Temos um proposito tão curto quanto damos valor, aqui é onde nosso fim para os vivos acabam, é onde viveremos nossa própria inércia para os vivos, é aqui onde o mundo termina, é essa a razão para o fim do mundo, é aqui onde a palavra final, fim, terminal ou qualquer outra derivação é formada. Palavras se formam e terminam aqui, que engraçado. Aqui também pode ser uma derivação de infelicidade (para os vivos pelo menos). Para os vivos. É isso, tudo que tem depois desses portões é nada mais do que uma expressão exagerada feita pelos vivos por causa de uma fraqueza humana que é a ansiedade de não saber sobre o que há depois do adeus, do final, do terminal, do fim. Fim do mundo. Aqui é nada mais nada menos do que uma explicação plausível para interesses humanos em explicar que, para ondes os mortos vão, os vivos sempre terão a capacidade de ir e vir, sair do portal e voltar, até com um certo limite. Aqui não é o lar dos mortos, aqui é o lar que os vivos deram aos mortos, é diferente.

– Segure meu braço. – Suzanna me disse, erguendo a mão para mim.

Eu olhei para ela e depois para a Lauren, nós estávamos no meio do caminho, eu estava parada perto de um tumulo desconhecido por tanto tempo que as pessoas que se encontravam de costas para mim olharam de repente para onde eu me encontrava. Eu estive aqui lamentando pelo termo “morte” e “cemitério” dado pelos vivos que esqueci de voltar ao mundo real, na qual eu já estava me derramando em lágrimas.

– Desculpe.

– Por chorar? Fique tranquila Nath, nós estamos aqui, ok? – Lauren se encaminha para o meu outro lado.

– Vamos agora. – Suzanna diz.

Nós voltamos a caminhar novamente pelo caminho de pedras umidas onde cadeiras brancas estão vazias agora em volta do tumulo, todos estão de preto ou azul escuro, menos o padre, os guarda-chuvas invadem todo o cenário obscuro, rostos miram nós três como se fossemos o centro das atenções, entre eles, além de alguns meramente conhecidos (como Samantha da loja de CDs) eu vejo Adam sem farda, seu terno preto e caro cai muito bem no seu físcio atraente e dominador, seu cabelo dourado não está tão brilhante por causa do tempo estupidamente negro, logo de manhã, mas é sem duvida o primeiro a chamar atenção. Seus olhos castanhos bem mais claros que os de Andrew (qualquer um é mais claro que os de Andrew) estão me observando com cautela, embora eu tenha rotulado aquele homem de suspeito, de criminoso, eu vejo a dor que lhe carrega a feição, vejos suas sobrancelhas se juntando num sinal de perdão, perdão pelo o que? Foi este maldito tempo que cometera o assassinato, Adam, se você pudesse me ouvir da mesma forma como tio Maison consegue me desvendar, quero que saiba que sinto muito por tê-lo acusado tanto por algo que não cometeu como pelo segredo ainda não descoberto de sua família.

Depois de Adam, eu vi rostos complacentes com a minha triste, Sr. e Sra. Miller olham para mim ao mesmo tempo que segura a mão de um e do outro olhando para Lauren também, sua filha. Eu vejo alguns colegas do meu pai, vejo alguns professores, colegas da escola inclusive o namorado bastardo de Lauren, que está até muito bem vestido no seu terno, tentando não parecer com o idiota que ele normalmente é.

Olhando bem, mais profundamente, perto do padre estão os O’Connel, tia Isobel está dividindo o abraço com Megan e tio Rick, Maison está com os olhos vidrados no chão, o rosto desvatado, seu terno todo respingado, ele é o único que não usa guarda-chuva, parece um tipo de masoquismo, ele não pode querer acobertar a dor de perda com a dor da chuva gelada, ele não pode, porque eu não me sinto bem em ver tanto ele como Isobel, Rick e Megan chorando e devastados pela dor. Eu só não quero.

Quando nos aproximamos, quatro pessoas deram abertura para passarmos, eu estou quase me desprendendo de Suzanna e Lauren após perceber que elas se juntariam a suas familias e eu a minha.

– Fiquem comigo. – eu imploro.

Meu desejo é realizado, eu não me conformaria ficar sozinha, mesmo com a minha familia perto. Eu quero elas comigo até o final, quero um vinculo diferente. Quero minha mãe também, mas ela não está, está tão longe quanto a distância que se prossegue entre a minha vida e a do meu pai.

Nós nos aproximamos dos meus tios que é quando Isobel solta os braços de Megan para puxar-me para o caloroso abraço dela. Eu sinto nossas lágrimas se misturando com o tempo, sinto Rick me segurando por trás e beijando o topo da minha cabeça, observo Megan com sua estrutura pequena se aproximando do meu corpo e estendendo sua mão protegida com uma luva para segurar a minha por alguns segundos. Quando nos soltamos, eu me viro e alcanço Lauren e Suzanna, onde seguravam meu guarda-chuva e esperavam por mim. Eu dou uma olhada rápida para a escavatura onde o caixão será depositado, sinto-me esmorecer aos poucos, sinto-me perder a ligação, até que a voz de Isobel me desperta.

– Você está bem, querida?

Eu pisco várias vezes para depois dizer:

– Vou ficar... – acho.

É assim que tudo termina. O Padre começa a falar, o tempo começa a mudar, a chuva resolve nos dar um tempo, as pessoas mal respiram, minhas mãos tremem e eu não consigo ficar ali por muito tempo.

Eu me desperto no exato momento em que Maison dá um passo para frente e levanta seu rosto para todos nós.

– Eu passei muitas noites descacordado olhando para o alto e imaginando o que dizer, quando esse dia chegasse. No fim das contas, descobri que não há um jeito para tornar isso diferente, uma hora diremos adeus e isso ficará preso nas nossas lembranças, no ar que sopra, no fundo de memórias que se apagarão do cotidiano para ocupar o passado. Se houvesse um jeito diferente, não trancariamos as portas, não fechariamos as janelas, não esconderíamos de nós mesmo o nascer do dia, o por do sol da tarde, o crepusculo da quase noite ou as badaladas da meia noite. Se houvesse uma maneira para transformar isso, não despediriamos jurando para sempre, não parariamos de sorrir, de lembrar, não esconderiamos porta-retratos nas gavetas, nas caixas jogadas no sótão. Se, e se... Se houvesse uma maneira diferente, nunca teriamos força para destrancar as portas, abrir as janelas, assistir o nascer do sol depois de anos, ver o por dol sol esperando a hora certa para o crepusculo. Não iriamos escutar o silencio da meia noite, nunca mais. Não seria mais “e se”, seria apenas “nunca”. Partir é um ponto comum e sempre sobreviveremos a ele. Nós prometemos muitas coisas, nós nos preocupamos por muitas coisas, nós sempre estamos sendo muitos ou poucos demais. É essa minha teoria do Adeus, quando não queremos tudo, nós queremos nada. Queria um final diferente, mas não tenho nada, queria um nada, agora tenho um final. Os portões podem terem se fechado, mas você, mesmo tão longe, ainda continuará em nossas lembranças, Jeffrey.

Maison recruta um miosotis de dentro do seu terno, o balança levemente até soltar dedo por dedo até a flor se desprender e se arrastar pelo ar, pelo poder do atrito, chegando aos ultimos centimetros, até tombar nas paredes do caixão, sem nenhum ruido, sem nenhum principio de som. Ela está ali, mas é como se não estivesse chegado. É este o ultimo adeus, Maison tem razão, não sabemos como mudar o caminho das coisas, elas acontecem, as vezes obrigamos a nós mesmo a fechar os olhos, trancar as portas, as vezes somos quem somos e as vezes ela nos tranforma em algo que sempre prometemos não nos transformar.

Eu queria poder ter dito um adeus para ele, ter recebido um abraço ou uma palavra de consolação, de que ele estaria orgulhoso de mim qualquer que seja meu futuro, que ele estaria feliz só por me ver sorrir, que ele estaria me observando mesmo nossos mundos não se encontrando mais. Que ele estaria, aonde estiver, olhando por mim. É esse o problema da perda, nós não sabemos como enfrentá-la (se houver uma maneira para isso) ou seguir em frente, são caminhos diferentes embora carreguem o mesmo som (enfrente ou em frente). É esse o problema da perda, nunca estamos fortes e preparados para ela, mesmo quando sabemos que no fim ela será recebida (e não bem vinda) por todos nós. É o mal de perder alguém, é nunca mais ver alguém que você costumava ver.

Se me perguntassem do que eu mais tenho medo, seria sem sombra de duvidas: esquecer alguém que significou tudo para mim.


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Notas finais do capítulo

wow! O próximo capitulo é onde começa o contato direto com a criatura principal da história: Vampiros.Nathalie além de estar cara a cara com o perigo, vai começar a se interligar ainda mais com os McDowell.



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