Ninguém jamais me amaria. Eu fui capaz de entender isso vendo o filme de Tim Burton, Edward mãos de tesoura.

Ele sempre foi o bicho raro, e porque eu  seria diferente?

Eu sou a típica garota feia que lê livros românticos e me imagino neles como uma garota idiota. Porque eu deveria negar?

Pensei saindo do meu PC e vendo pela janela que chovia lá fora.  Eu sempre gostei da chuva. Incluso já cheguei a passar a noite inteira sem dormir escutando-la.

E foi então que vi que um estranho com jaqueta de couro estava sentado no banco em frente da minha casa sem se importar se a chuva o molhava por inteiro.

“Ele parecia tão triste quanto eu”. Pensei saindo do meu quarto e indo até a porta de entrada da minha casa para observá-lo melhor.

E o estranho olhou diretamente na minha porta, e eu soube que ele sabia que eu estava ali.

Assim que a abri cuidadosamente, rezando pra não fazer muito barulho e assim despertar meus pais no segundo andar.

-Ola!- Falei olhando ao desconhecido. - Porque você  esta ai fora com essa chuva?

Ele me olhou por um momento, e eu vi que seus olhos eram verdes claros.

-Não me importa a chuva - Ele falou sem deixar de me olhar. – É um milagre da natureza. - Me respondeu levantando seus olhos ao céu. E eu soube naquele momento que jamais esqueceria aquela pose.

Seus braços estavam apoiados no banco ao igual que os braços de Jesus na cruz. As suas pernas estavam esticadas comodamente, e seus olhos brilhavam sem deixar de apreciar o nublado céu. A roupa se pegava no seu corpo, e qualquer ser vivente babaria ao ver tanta perfeição. Mas o que o fazia tão perfeito dos demais  seres mortais como eu, era sua expressão.

Ele parecia ser de um anjo triste por haverem arrancado suas asas celestiais.   

Pensei caminhando hipnotizada até ele.

Se alguém me perguntasse por que eu fiz isso, eu não saberia responder. Acho que eu diria “Eu só segui meu coração.” Ou outra besteira das minhas.

-Você deveria estar dentro de casa. - O estranho falou sem deixar  de olhar ao céu.- Lá é seguro.

-Eu cansei de estar segura.- Falei sentindo a chuva cair por todo meu corpo, e desfazer minha chapinha do cabelo.- Talvez eu deva ser um pouco mais liberal.

Falei sem pensar, e o estranho sorriu deixando de olhar ao céu  me encarando profundamente.

Então de repente vi como mudava seus olhos  de um verde claro a um preto vazio e sem vida. E quando me dei conta do meu erro, ele já estava atrás de mim tocando seus lábios no meu pescoço.

-Resposta errada garotinha aventureira. - ele falou no meu ouvido sem deixar de acariciar meu pescoço. -  A segurança sempre vem em primeiro lugar.

Ele falou passando algo afiado no meu pescoço sem chegar a me machucar.

-Eu não sou boa dizendo as palavras certas. – Falei sem me mover um centímetro.

-É uma pena que não sejamos parecidos nisso. - Ele falou sem se apartar de mim, ou deixar de passar aquela coisa afiada no meu pescoço. E logo mais tarde eu descobrira que era seu dente.

-Você quer dinheiro?- Perguntei ao ver que ele não me soltava. - Eu tenho algo guardado e posso te dar.

Ele riu.

-Eu não necessito dinheiro doçura.- Ele falou no meu ouvido.- Eu necessito algo mais valioso  que isso.

-Então fazemos um trato! -  falei imediatamente.

-Porque um trato se eu posso conseguir o que eu quero num piscar de olhos?- Ele falou se afastando de mim.

E vi então que seus olhos que não deixavam de ser pretos. Descobrindo também que seus dentes eram afiados, enquanto gotejava água da chuva na sua boca meio aberta..

-Você não seria capaz. -  Eu falei assustada.

-Você não poderia saber-lo. - Ele respondeu chegando mais perto.

-Isso é verdade.- Eu concordei.- Mas eu gostaria  arriscar.

-Bem.- Ele me olhou sorrindo com seus dentes afiados aparecendo.- Eu acho que temos um trato.

-Sim.

-Pelo menos não vou me sentir culpável depois de te haver drenado- Ele falou me pegando pela cintura e pondo de lado minha cabeça.- porque temos um trato.

-Espera!-  falei sem entender a onde ele queria chegar com isso. Mas eu também tinha minhas regras - Eu quero algo em troca.

E ele levantou seu rosto imediatamente me olhando profundamente.

-E isso o que seria?-  perguntou sem deixar de segurar minha cintura. Mas tirou sua mão do meu pescoço.

-Me amaras de mentira. – Eu falei um pouco envergonhada. - E dirás que sem mim não poderia sequer respirar nesse mundo indigno e cruel.

-Eu não necessito respirar.- Ele revidou

-E me beijara na testa.-  falei sem escutar sua resposta.

-Porque na testa?- Ele perguntou me olhando sem entender.

E dessa vez quem sorriu fui eu.

-Um homem que sente respeito pela  mulher que ama faria isso.- respondi sentindo a chuva cair nos meus olhos e os embaçando por um momento.- Ou pelo menos  é o que eu penso isso depois de haver visto a série os miseráveis.

E ele me sorriu.

-Você é uma garotinha estranha. – ele me falou chegando  perto da minha cara.- E é por isso que eu te amo.

E  sorri ao escutar isso. Ele era um bom mentiroso.

-Essa chuva...todo esse vento,  ou os milênios que nos separarão com a velhice do nosso corpo mas não da nossa alma, jamais fará que eu deixe de sorrir quando veja essa mesma chuva serena cair no céu. – Ele falou realmente parecendo apaixonado por mim. – Porque o nosso amor, o meu amor será eterno. Será imortal.

-Obrigada...- Eu falei sentindo sair lágrimas dos meus olhos sendo disfarçadas com a chuva amena do céu. -  Eu tampouco seria capaz de te esquecer..-Falei ensinando mais meu pescoço a ele. Mesmo sem saber seu  nome.

-Ainda falta o beijo.- Ele me respondeu segurando meu rosto com suas duas mãos.- Eu não poderia seguir em frente sem saber que eu não pude te beijar por  uma ultima vez.

 Ele me  falou de um jeito que eu até cheguei a acreditar que sentia algo por mim. Ele era um bom mentiroso.Pensei vendo que a chuva lavava minhas lágrimas.

Então, seus lábios se foram lentamente até a minha testa e eu senti que plantou um beijo casto ali. Mas quando pensei em afastar-me, ele voltou a olhar-me  com seus olhos verdes outra vez.

E fez o que eu não poderia imaginar....Beijou-me nos lábios tão delicadamente e amorosamente que eu senti que voava ao paraíso.

Foi mágico, e eu quis abrir meus olhos imediatamente sem entender porque ele fizera isso.

-Fecha os olhos, pequena. - Ele falou com sua boca ainda tocando meus lábios.

E antes que  eu pudesse descumprir sua ordem, senti que alguém me beijava no pescoço rapidamente.

Mas quando abri meus olhos, não havia ninguém ao meu lado.

-Onde esta você?- Eu perguntei, mas ninguém me escutou. Foi como se o desconhecido não existisse.

Fiquei olhando ao redor durante um bom tempo, mas não vi  ninguém mais que a chuva caindo no céu.

Ele desapareceu, dizia meu coração.

Ele não existe, gritava minha consciência.

Ele não voltara, minha alma chorava  de desesperação.

Mas eu não deixei de esperar-lo cada dia naquele mesmo banco.

Esperando naquela mesmo chuva de verão.

-E como ele se chamava vovó?- Bianca, minha neta me fez deixar de sonhar acordada e voltar para a realidade.

-Eu não sei querida.- Falei sorrindo pra ela.- Talvez um anjo fugindo do paraíso.

-Mas você  me falou que ele parecia triste.- Bianca falou comovida. – Você nunca soube o motivo da sua tristeza?

-Todo anjo entristece ao ser obrigado a abandonar a quem se ama querida. - a respondi.

-E  a quem ele amava?- Bianca perguntou curiosa.

-Talvez  alguém que não o amou o suficiente.- Falei.- Eu não sei querida, eu não sei.

-Eu não gosto dessa história!- Bianca falou triste.

-Porque não?- Perguntei curiosa.

-Porque ele deveria ter ficado com você. – Ela me respondeu sorrindo - Eu tenho certeza de que ele encontraria a felicidade do seu lado.

-Ou talvez não querida. - respondi triste.

-Algumas vezes o “talvez”, pode ser o nosso pior inimigo avozinha. - Bianca  me explicou parecendo mais adulta.

- O talvez não deve ditar nosso futuro... E aquele desconhecido perdeu o “talvez” de ter um final feliz com você.