POV Raphael Gost

Onde estou? É a primeira pergunta que vem a minha cabeça. Abro os olhos bem devagar, ainda com um pequeno esforço, e percebo que estou numa sala totalmente branca. Será que estou morto? Novamente me pergunto. As minhas últimas lembranças me vem á cabeça embaralhadas. Me lembro de ter levado um tiro e ter sido ascendido por um aerodeslizador, mas ainda não tenho certeza disso. Minha cabeça dói um pouco, e algumas vozes, provavelmente do tempo que estive “dormindo” aparacem em minha mente. Muitas vozes familiares, outras estranhas, mas eu ainda não sei onde estou.

Me desligo dos fios que me cercam e me sinto mais fraco, mas ainda posso andar. Levanto da cama com uma dor nas costas e levo um baita susto com o homem nu que está a minha frente. O engraçado é que quando me assusto, ele também se assusta, e depois de um tempo percebo que sou eu mesmo. Estranho, muito estranho! penso

Eu cresci bastante. Meus cabelos agora estão azuis, e não se encontra cabelo em nenhuma parte de meu corpo a não ser pela cabeça: Típico da Capital. Mas e os Jogos? Será que eu ganhei? Porque ainda estou vivo? E será que estou mesmo vivo?

Eu não entendendo nada, e começo a me desesperar quando vejo que ao lado da cama que eu dormia a pouco, se encontra: Uma cueca, uma blusa, uma calça jeans, e um tênis. Todos são extremamente coloridos, e mesmo que ninguém vá ver minha cueca - pelo ao menos eu espero - ela também tem várias cores diferentes e que quando visto me deixa até engraçado.

Depois de vestido, caminho até a porta também branca, que fico sabendo que ela está ali apenas por causa de uma marca preta em volta dela. Eu me aproximo e ela se abre, mas não há ninguém do outro lado, apenas um corredor bem grande. Começo a caminhar pelo corredor. Me sinto um pouco estranho, por...não ser mais eu. Quando passo por uma porta paro imediatamente: A voz de Kather e Matthew adentram meus ouvidos. A voz de Kather está um tanto mais adulta, e a de Matthew engrossou bastante. Os dois estão conversando muito quando me aproximo mais da porta e então ela se abre. Os dois primeiro olham assustados, acho que por me verem tão diferente - somos três, porque eles também estão bem diferente: Kather está com os cabelos de cor roxa e alguma mechas rosa. Matthew tem o cabelo verde-azul. Além de os dois conterem tatuagens e estarem bem mais pálidos que o normal.

– Raphael…- primeiro diz Kather sussurrando em um tom de pergunta, mas que logo se transforma num grito feliz e alto de certeza: - Raphael!! É você mesmo!

– Sou eu..Kather! - respondo. Levo um susto quando minha própria voz também está bem mais grossa do que de costume, o que me deixa um pouco confuso. - Oi também Matthew! - ele levanta e me cumprimenta com um aperto de mão e um abraço rápido. - Por que estamos assim tão diferentes?

– Bem Raphael… - Kather quer escolher as palavras certas, e tentar ser um tanto delicada. - É porque nós...dormimos por um longo tempo e…

– Nós ficamos em coma Raphael. - interrompe naturalmente Matthew. - Durante um tempo bem grande mesmo. Na verdade você foi o que mais demorou pra acordar. Eu e Kather acordamos juntos a dois anos, estávamos até desistindo de você e.. - Kather olha pra ele com um olhar de reprovação enquanto tenta me enganar fingindo limpar a garganta.

– Por quanto tempo EU fiquei em coma? - pergunto já meio impaciente.

– Veja você mesmo… - Kather me oferece uma cadeira e aponta com a cabeça para televisão. Letícia Flickerman está em cima do podium. Ela não mudou quase nada. Na TV aparecem os tributos em suas carruagens já enfileirados, quando Letícia Flickerman então anuncia bem alto no microfone:

– Bem-vindos á Centésima Vigésima Terceira edição dos Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor!

Quase caio da cadeira. CENTÉSIMA VIGÉSIMA TERCEIRA EDIÇÃO??? penso, e penso tão alto que parece que realmente estou gritando. Se é assim, isso significa que agora eu tenho… Vinte e cinco anos. Matthew está com 22 anos. E Kather, a mais nova de nós, está com 21. Se passaram exatamente 7 anos desde que…

– Kather, por que diabos estamos aqui? - pergunto agora sem entender nada ainda mais - Quem foi o ganhador na 116ª edição e…

– Ninguém foi o ganhador Raphael! - Kather me interrompe - Edward Snow queria nos matar, mas os idealizadores não permitiram.

– Então eles nos deixaram em coma não é? - grita ele - Muito legal isso! Eles não nos mataram, mas nos meio-mataram!

– Então você queria morrer? - grita Kather, agora voltando com aquele jeito rebelde e ignorante de ser. - Você preferiria estar abaixo da terra dentro de um caixão? Ou abaixo da terra vivo onde você está?!

Calo a boca, pois percebo que estou mesmo errado e não tenho do que reclamar.

Enquanto Kather e eu vemos o reprise do desfile deste ano, Matthew vai avisar que já acordei do coma, o que faz os idealizadores rebeldes felizes, mas preocupados. Estamos tomando um pouco de café e falando sobre a roupa ridícula do 12 neste ano quando Adele Blanchard (uma das idealizadoras rebeldes) aparece e me vê. Ela me abraça e me beija, e eu digo obrigado, mesmo não a conhecendo. Eu entendo que não só ela está feliz como os outros também estão, além do mais foi algo difícil nos manter “vivos”, e eles conseguiram. Provavelmente quando Kather e Matthew acordaram juntos (uma grande coincidência) eles também receberam abraços e beijos. Infelizmente a alegria dura muito pouco, porque Jade Cavalier (a idealizadora da idéia de nos manter em coma) aparece, mas quando me vê, sua face não é de felicidade.

– A gente foi descoberto! - diz ela quase chorando, mas com uma face de meia-tranquilidade, que dá pra saber que é falsa. Novos idealizadores surgem nas portas e nos carregam correndo para vários corredores. Mal “cheguei” aqui e já estou indo embora, eu e meus pensamentos negativos.

Depois de subir em alguns elevadores diferentes, finalmente chegamos á porta de liberdade. Kather e Matthew estão preocupados, mas mesmo assim felizes, já faz um tempo que não veêm o sol, eu também não vejo há um tempo, mas estive em coma durante 7 anos, então ligava nada para o sol.

A porta de ferro a nossa frente se abre antes que os idealizadores queiram, e então surge a nossa frente primeiro uma luz horrivelmente forte, que demora pra se ajustar ao nossos olhos. E então vem a segunda surpresa: Edward Snow está a nossa frente com uma cara nada legal dizendo:

– Olá meus três fantasminhas!