Tentei esfregar os olhos, para limpar um pouco as lágrimas que desciam impetuosamente, apesar da minha falha tentativa de conte-las.

Olhei para o rapaz que estava me confortando, e vi Jade me olhando com compaixão. Ele não me fez nenhuma pergunta, apenas ficou ali, abraçado comigo, me deixando desabafar em forma de lágrimas, toda a minha frustração. Depois de um tempo indeterminado, acabei pegando no sono, de tamanho cansaço que tudo aquilo havia me trazido.

Acordei na sala da enfermaria, que é uma sala próxima do laboratório, deitada em uma maca. Olhei em volta, mas não importa como visse, eu estava completamente sozinha.

Ao olhar pela janela, notei que o céu já estava escurecendo, e eu sabia que se começasse a ficar muito tarde, eu correria riscos ao voltar sozinha para casa.

Levantei e arrumei o uniforme no meu corpo, indo até a porta daquele lugar, porém ao tentar abrir, eu constatei que estava trancada.

Olhei em volta, procurando alguma coisa, para abrir aquela porta, e vi alguns instrumentos de enfermagem que seriam uteis. Colocando alguns deles no buraco da fechadura, fui mexendo-os até descobrir um que destravou a tranca.

Abri a porta, pronta para sair, mas tomei um susto, quando vi Alexy encostado na parede, dormindo, e pude notar que talvez ele estivesse guardando a porta e me esperando. Senti pena, porque sabia que eu devia estar ali dentro há horas, e sabe-se lá quanto tempo ele tinha ficado me esperando.

Me sentei ao seu lado, e decidi observa-lo dormir, vendo seu rosto assim, tão tranquilo, me atrevo a dizer que ele é realmente atraente, e é um pouco triste ele ser gay... Se eu pudesse escolher que eu gostaria que fosse o rapaz do baile, eu gostaria que tivesse sido Alexy.

Acabei hipnotizada por meus próprios pensamentos, e quase inconscientemente eu me aproximei de forma lenta, ficando a centímetros de seu rosto. Eu sentia um súbito desejo de beija-lo, e talvez tivesse feito isso, se ele não tivesse se movido, o que me deu um susto e fez com que eu me afastasse.

Decidi acorda-lo, porque já havia escurecido, então comecei a chacoalhar ele. Mas ele acabou me puxando, ficando abraçado comigo, o que me deixou realmente envergonhada. Me senti tentada a ficar ali e dormir com ele, mas voltei a tentar acorda-lo, até que por fim ele abriu os olhos.

–Hm? Mie? Você acordou? Você está bem? – Ele perguntou com a voz lenta e arrastada devido ao sono.

–Estou bem sim, me desculpe por ter feito você esperar, mas agora já escureceu, você podia ter ido pra casa mais cedo, não precisava me esperar. – Falei um pouco preocupada com ele.

–Eu precisava sim, além daquele maluco estar atrás de você, Armin decidiu passar a noite fora com uns amigos do colégio, meus pais não estão em casa e eu esqueci a chave, e meu irmão trancou a porta, não tem como eu voltar pra casa mesmo! – Disse Alexy, sendo bem claro.

–E onde você vai dormir? – Eu perguntei, ainda mais preocupada com ele.

–Na sua casa! E sim eu estou me convidando pra dormir na sua casa, tem algum problema? – Disse Alexy com um sorriso travesso.

–Que? Que folgado... E se eu não te quiser na minha casa? – Disse brincalhona, apenas para ver qual seria a reação dele.

–Não me preocupo com isso! É claro que você vai me querer, quem recusaria um cara tão gostoso que nem eu? – Disse ele rindo, e fazendo uma pose.

–Tudo bem, tudo bem, é melhor nos apresar- mos, já está bem tarde.

Saímos do colégio, como sempre rindo e nos divertindo, e decidimos tomar o ônibus, afinal ir a pé no escuro era um pouco perigoso.

Assim que cheguei em casa, abri a porta e gritei:

– TIAAAA, CHEGUEI! EU TROUXE UM AMIGO PRA DORMIR EM CASA, SE PRECISAR VAMOS ESTAR NO MEU QUARTO. – Falei resumindo tudo, afinal ela não se importaria mesmo.

–Tudo bem avisar ela desse jeito? Ela não vai ficar brava? – Perguntou ele um pouco receoso.

– Claro que não, ela não liga. – Disse já indo até o meu quarto enquanto ele me seguia.

Ele entrou no meu quarto e olhou em volta, notando que na minha parede haviam vária fotos coladas, e foi olha-las, enquanto eu organizava as coisas espalhadas, e arrumava a cama.

– Alexy, aqui em casa só tem o meu colchão, então você dorme aqui e eu durmo na sala, ok?

– O que? Eu me ofereço pra dormir na sua casa, roubo sua cama e ainda faço você dormir na sala? Não posso! Você fica aqui e eu fico na sala. – Disse ele autoritário.

–Não adianta bancar o machão orgulhoso agora, eu não vou deixar você dormir na sala! – Afirmei

– E eu não vou deixar VOCÊ dormir na sala! Então... A gente pode dormir junto, prometo que não mordo. – Disse ele, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Pra ele que não vai sentir nenhuma atração por mim é até fácil falar, mas pra mim a coisa complica.

–Acho que é melhor não e... – Tentei falar

– Qual é? Qual a pior coisa que eu poderia fazer? Não vai matar você, dormir comigo só uma noite. – Disse ele, me olhando com cara de cachorrinho abandonado, e eu acabei cedendo.

–Certo, mas não quero nenhuma gracinha, e nada de me maquiar, ouviu? – Falei olhando de forma séria, apesar de que por dentro eu queria muito poder rir.

– Não prometo nada! – Disse ele por fim, com um sorriso no rosto.

Depois disso eu decidi ir tomar banho, peguei a toalha, e entrei no banheiro. Tomei um banho revigorante, mas quando acabei...

–Ah não! Eu esqueci de pegar a roupa! – Me xingava, e me estrangulava mentalmente, por cometer um erro desses. Bem... Que mal há? Ele é gay, não é como se fosse fazer alguma coisa.

Me enrolei na toalha, e fui caminhando na ponta dos pés até meu quarto, quem sabe Alexy estivesse distraído e não me visse entrar.

Cheguei no quarto e não vi ninguém, suspirei de alívio, e fui até meu guarda-roupa pegar alguma coisa para vestir, coloquei a roupa intima, e deixei a toalha sobre a cama, mas nesse momento Alexy entrou no quarto.

–Mie sua tia é muito legal sabia? Já é minha vez de tomar... – Ele parou antes de terminar a frase, ao ver que eu estava de toalha.

–A-Alexy, eu esqueci a roupa aqui , e vim pegar,d-desculpe eu pensei que você não ia voltar tão rápido. – Eu falei, querendo sumir depois deste momento tão embaraçoso.

– Vista alguma coisa rápido, ou... Se cubra! – Alexy disse atônito, jogando a toalha para mim, com a qual eu me enrolei.

Remexi nas minhas roupas e peguei um pijama qualquer, e o vesti.

Alexy estava de costas pra mim e parecia inquieto. Chamei-o e ele somento olhou pra mim, sem virar o corpo.

– Eu... vou pegar uma toalha e procurar algum pijama velho do meu tio pra você usar! – Falei, saindo do quarto em seguida, para pedir um pijama para minha tia. Ela já até havia separado algumas roupas, uma camiseta preta lisa e uma bermuda azul clara xadrez, como eram roupas velhas do meu tio que se divorciou faz muito tempo dela, ela não se importou em me em da-las para Alexy e me entregou elas, junto com uma toalha, que eu peguei e voltei apressada para o quarto, para entregar aquilo para Alexy.

Ele estava sentado na minha cama, segurando uma almofada, e parecia muito corado. Quando lhe entreguei, ele pareceu ainda mais sem jeito, então perguntei:

– O que foi? - Olhando ele, que ainda não tinha nem mesmo levantado.

–Nada, é só que... Esquece, não é nada. – Disse ele, claramente envergonhado.

– Então deixe de enrolar, levanta logo e vá tomar banho. – Falei, puxando-o da cama e arrancando a almofada da mão dele. Foi aí que eu entendi a razão do constrangimento do meu amigo. Ele havia ficado excitado, e como estava na minha casa, não sabia o que fazer.

–Caramba! É por isso que você... HAHAHAHAHA – Não consegui terminar a frase, pois comecei a rir muito, deixando ele ainda mais sem graça.

–Isso não tem graça Mie, não tem mesmo, foi completamente sem querer, é sério! – Disse ele um pouco bravo.

–HAHAHAHA... Eu sei... HAHAHA... Mas a sua cara... HAHAHA Tava muito engraçada! – Eu disse entre risos, tentando dizer uma frase completa.

–Deixa de ser chata! Quer saber? Eu vou tomar banho. – Ele saiu quase correndo para o banheiro, enquanto eu tentava controlar os risos.

Fiquei ali deitada na minha cama, olhando para o teto, tentando não pensar em nada ruim, enquanto esperava Alexy voltar.

Ele chegou, dessa vez sem nenhuma surpresa, segurando suas roupas, e as deixou sobre o criado-mudo, apagou a luz e veio em minha direção, deitando ao meu lado.

– Mie, sobre o que acabou de acontecer, espero que você não esqueça que independente dos meus gostos e preferências, isso não faz de mim menos homens, por isso que aconteceu aquilo, ok? – Ele falou, sem me encarar nos olhos.

–Não tem problema nenhum, é mais que normal Alexy, até porque, minha sedução deve ser irresistível! – Falei brincando com ele.

–Ah tá! – Ele disse irônico, me dando um tapa fraco na testa.

– Ei?! – Eu disse rindo.

–Bem Mie, agora vou falar sobre um caso sério! Sobre o que aconteceu hoje de manhã... Eu sinto muito, se eu não tivesse sido fraco, eu poderia ter mandado aquele cara embora. Eu podia ter levantado, e socado ele até que os ossos ficassem expostos mas... – eu cortei a frase dele no meio.

–Alexy, não se meta em confusões e brigas por mim, isso só me deixaria mais preocupada com você. E a respeito do Viktor, não tem muito o que fazer, nós vamos ter que esperar pela próxima aparição dele. – Falei, tentando amenizar a situação, por saber que ela também estava envolvendo e afetando fortemente Alexy.

–Mas eu não posso simplesmente sentar e esperar que esse cara volte e tente te atacar, ou fazer sei lá mais o que! Eu não ia aguentar isso Mie, você é realmente muito importante pra mim. – Ele disse me olhando profundamente, seus olhos podiam ver através de mim, eu tive quase certeza disso.

Nosso assunto foi interrompido por uma batida na porta.

– Fala tia! – Eu disse um pouco impaciente.

– Tem uma visita pra você, ele disse que é urgente. – Falou ela.

– Tá, já vou, mas que horas são? – Perguntei, um pouco incomodada de não conseguir terminar aquela conversa com Alexy.

–22:00 horas, ele está esperando na sala! – Disse ela, aparentemente voltando para o próprio quarto.

Levantei, e vesti um sobretudo por cima da roupa, por preguiça de colocar alguma coisa mais descente, e junto com Alexy descemos para ver quem era.

– Uau, que surpresa agradável... Então parece que minhas suspeitas estavam certas, o idiota que estava te defendendo é o seu namoradinho atual. – Disse Viktor, com um sorriso sarcástico, ao ver Alexy e eu descendo juntos.

– O que você está fazendo aqui? Você quer que a gente ligue pra polícia? Vou te denunciar por perseguição! – Eu falei irritada.

– Calma princesinha, eu vim em paz apenas te visitar. É um prazer enorme confirmar que esse cara aí é o namoradinho que te aguenta. Sabe azulzinho, cuidado, ela é uma piranha! – Ele falou de forma tão maldosa, que quase pude ver veneno escorrendo de sua boca.

– Se você continuar falando assim dela, eu vou matar você, não se atreva a tocar na minha garota. – Disse Alexy entre dentes tentando ir até Viktor para começar uma nova briga, mas eu o segurei. Não queria que a cena que vi hoje de manhã se repetisse.

Viktor riu e disse:

–Bem eu ia vir aqui, para dar uma notícia interessante para a Mieko,mas como você está aqui, vou deixar isso por conta de vocês. Descubram sozinhos. – Disse ele, saindo do apartamento.

Sentia o sangue ferver, como aquele cara me irritava.

Alexy e eu voltamos para o quarto. Eu estava tentando me acalmar, então ele começou a puxar assunto.

– Ei Mie, sabia que eu fui no baile sim? – Disse ele, tentando desviar minha atenção do ocorrido.

–Sim, você disse, mas você não me contou como você estava vestido. – Eu falei, me lembrando que nossa conversa havia sido interrompida.

–Você nem sabe! Eu fiz um aplique no cabelo, e deixei ele mega cumprido. Sem querer me exibir nem nada, mas quando eu coloco aplique, eu viro o cara mais lindo que tem naquele colégio, eu já sou o mais lindo, mas... Ah você entendeu! Aí eu decidi colocar um sobretudo, bem parecido com aqueles do Lysandre, só que preto com detalhes azuis, para combinar com o meu cabelo. E eu tava usando Camisa branca com risca giz preto, por baixo! Você tinha que ver como era engraçado o numero de meninas que vieram falar comigo, e nem olham na minha cara nos dias normais. – Disse Alexy me contando em detalhes como ele estava.

Acho que eu pareci um pouco decepcionada com a noticia, porque ele me olhou e me perguntou porque aquela cara de enterro.

–Não é nada, estou meio chateada por ter perdido a oportunidade de te ver assim, você tem alguma foto? – Eu falei, tentando disfarçar, para que não ficasse um clima estranho.

–Tenho sim, o Armin tirou algumas fotos minhas com as meninas, para eu te mostrar! – Ele falou feliz, tirando o celular do bolso e me mostrando duas fotos, uma delas ele estava meio curvado, beijando a mão de alguém que não aparecia na foto.

E na outra era ele rodeado de um monte de meninas interesseiras que só estavam na foto por causa da aparência dele, mas eu admito, que ele parecia um príncipe, e eu não me importaria que tivesse sido ele meu príncipe, mas pelo visto, eu vou ter que continuar procurando.

Ficamos mais um tempo conversando, eu acabei contando para ele meu passado com Viktor em detalhes, afinal ele não sabia realmente o que havia acontecido, e também contei pra ele sobre a noite do baile, e então ele riu e disse:

–Não se preocupe, aposto que você vai achar o cara,se precisar eu te ajudo. Tudo pra fazer essa menina fofa sorrir.

Depois disso deitamos.

–Sabe Mie, eu prefiro dormir com você, do que dormir sozinho ou com o Armin! – Ele falou fazendo cafuné em mim, que estava meio abraçada nele, e lentamente eu dormi em seus braços.