Hope escrita por Killjoy Fun Girl


Capítulo 1
Hope


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente ^^
Podem me bater por que eu não tenho atualizado as minhas outras histórias mas esta eu fiz dedicada á uma amiga muito especial pra mim...
Pra quem está lendo este é o primeiro yaoi levíssimo que eu escrevo, falando apenas sobre sentimentos...
A minha amiga nem é do Nyah, mas vale ressaltar que eu a amo muito e que mais importante é que ela goste...
Te amo, Nívea Maria-chan ^^
Ao leitor, Boa leitura ^^



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Ciel sentou-se na cama espaçosa e demasiada grande para seu tamanho, sentindo o tecido fofo se contrair com seu pouco peso. Fechou brevemente os olhos quando sentiu as mãos afáveis do mordomo desfazerem o laço em seu tapa-olho retirando-o e servindo-lhe a última xícara de chá do dia. A àquela hora da noite Sebastian já havia fechado as cortinas e o quarto era preenchido apenas pelo breu, quão mais tarde era mais escuro ficava. Tateou pelo escuro buscando a xícara de porcelana escocesa mas não a achou.

                - Aqui está, boochan.

Aquelas mesmas mãos guiaram as suas pequenas até o objeto e pela primeira vez em tempo Ciel permitiu á si mesmo fitar aqueles olhos. Aqueles dois pontos vermelho vivo eram o único brilho que se destacava na escuridão completa e Ciel deixou a xícara já fazia cair aonde atingiu o chão. Percebeu os olhos do mordomo fitando-o longamente e estreitando-se antes de recolher cuidadosamente os cacos da porcelana quebrada.

- Seja mais cuidadoso, boochan. Essas peças são muito caras, foram um presente da rainha, receio que se lembre.

- Sinceramente não.

Foi tudo o que o pequeno disse antes que se acomodasse na cama espaçosa e fechasse com força os olhos de modo a que não mais precisasse olhar naqueles olhos. É claro que por trás daquele conde imponente, representante da Phantom Company, ainda havia um menino de treze anos. Por trás daquela máscara de inimitável orgulho havia uma criança, com medo e de certo modo, sozinha. Suspirou pesadamente quando os cobertores tocaram seu corpo e logo o aqueceram extinguindo o frio daquela noite, não só a temperatura que perturbava seu corpo como também o frio que assolava seu peito, trazendo consigo aquele medo, aqueles olhos...

 O desejo de boa noite do mordomo foi cortado pelas mãos do jovem mestre, que seguraram sua mão entre as suas um pouco trêmulas. Ciel nem mesmo conseguia pensar por que o havia feito, sua cabeça latejava de modo a que até mesmo abrir os olhos era incômodo e doloroso. Nenhuma palavra precisou ser dita visto que Sebastian sabia bem o que aquele gesto significava, embora fosse simples demais para se compreender. De qualquer maneira Sebastian sabia melhor que ninguém que após a morte de Madame Red o jovem mestre não tinha muito á quem recorrer como família. Não que ele a considerasse como tal mas era uma referência, agora o mais curioso de tudo, Ciel tinha apenas á ele.

Pensou consigo mesmo como deveria ser confuso ter apenas á um demônio á quem amar. Ele o amava com certeza, e Sebastian tinha perfeita consciência desse fato. Também riu internamente quando perguntou-se á quanto tempo tinha começado á entregar-se á esses pensamentos, ele era um demônio, afinal. Ele não tinha sentimentos. Sentou-se ao lado de seu mestre entrelaçando seus dedos nos dele intencionalmente, por que sabia que o pequeno gostava disso e abriu os lábios naquele sorriso singelo, dizendo com uma voz suave mas cheia de pesar:

- O meu Boochan tem deixado que esse medo se torne uma fraqueza.

- Eu não sou seu, insolente.

- É sim – A voz de Sebastian lhe soara um pouco mais grave, num tom mais sério – Você se tornou meu á partir do momento em que me permitiu tomar a sua alma.

Ciel calou-se instantaneamente encolhendo-se nos cobertores e apertando um pouco mais os dedos de Sebastian nos seus. Murmurou algo inaudível que Sebastian não se deu o menor trabalho de tentar entender. Seus olhos cintilavam novamente tendo em vista a imagem daquela alma tão frágil e pequena diante de seus olhos e novamente se viu carregado por aqueles pensamentos. Agora estava realmente assustado, por que se importava com ele. Percebeu que os olhos dele estavam marejados, como se estivessem realmente magoados com algo.

Não poderia se dar ao luxo de continuar com isso. Aquele não era o demônio que... que sempre fora? Já nem sabia mais. Talvez mais um comentário cruel o tornasse o mesmo que era antes, não custava a tentar.

- Ciel...

- Não te dei permissão para me chamar pelo meu nome, bastardo.

                - Ciel – Sebastian insistiu – Você sabe que eu não vou estar aqui pra sempre, não sabe?

                Ciel nada respondeu.

                - Sou apenas fruto da sua imaginação – Ele tocou o rosto quente do jovem mestre constatando que estava com febre – E quando seu tempo tiver acabado e a sua alma se for para aonde você sabe, Sebastian Michaelis irá contigo.

                - É só o que tem para me dizer? Quando vai parar de me lembrar dessas coisas?

                Sebastian percebeu que agora os olhos do jovem mestre, mesmo não enxergando muito na escuridão fitavam os seus intensamente. Sentado sobre a cama ele fazia um esforço que mesmo simples era demais para seu corpo semidoente, apoiando-se no outro braço para que não precisasse soltar-se da mão de Sebastian. Ele sentiu uma pequena lágrima solitária escorrer-lhe o rosto e as mãos enluvadas em tecido branco de linho a ampararam prontamente.

                - Não desperdice suas lágrimas. Faz muito tempo desde a última vez que eu as vi.

                - Maldito – ele tirou as mãos do mordomo de seu rosto com um tapa fraco e afastou sua mão da dele caindo na cama com um suspiro rouco – Me deixe dormir.

                Sebastian cobriu-o novamente saindo dali a passos curtos e lentos. Correu os dedos pela face do jovem mestre que o afastou novamente, era aquele tipo de coisa desprezível pela qual um demônio era responsável, magoar, tirar esperanças, afogar sentimentos. Aquela coisinha tão delicada no quarto que acabara de deixar o fizera finalmente sentir-se como si mesmo de novo.

                Mas então... por que ele estava se sentindo tão mal?

                Abandonou á parta que os separava e abriu a primeira janela que viu subindo no telhado na mansão e ali encontrando nada mais nada menos que Sutcliff Grell, deus da morte. Sebastian suspirou vendo a presença indesejável na mansão e preparava-se para descer quando ele manifestou-se, sem a voz irritante, sem nenhuma cantada ou perversão. Apenas tranquilo, com um sorriso no rosto e olhar vago.

                - Por que não se junta a mim, Sebas-chan?

                - O jovem mestre não gostaria de encontrá-lo nas imediações.

                - Que é isso, o pirralho está quase dormindo – Ele disse, despreocupado prendendo os longos cabelos vermelhos e retirando o casaco cor de carmim – Eu posso ouvir os soluços dele daqui de onde estou. Você o fez chorar de novo, hun?

                De novo. A palavra soou como chicote aos ouvidos de Sebastian, que sentiu a garganta fechar e um aperto no peito que não tinha. Conteve-se ao sentar-se ao lado de Grell e retirar também o seu casaco, podendo sentir nos braços mesmo que cobertos pela camisa de um pouco da boa sensação dos ventos de Londres, excepcionalmente agradáveis naquela noite especificamente.  Suspirou, sentindo novamente o peso daquela culpa, era horrível.

                - Você gosta dele, não é demônio?

                - Não sei do que está falando.

                - Não minta pra mim, a única coisa que você vai conseguir com isso é uma tentativa frustrada e mais uma mentira pra carregar nas costas – Grell abaixou os óculos – Eu não precisaria fazer uso dos meus olhos pra perceber isso.

                Sebastian riu com um pouco de pesar. Ele reconhecia seus sentimentos. Grell era uma boa companhia com quem um demônio pudesse conversar abertamente, claro, quando não dava seus ataques de perversão. Ele bem que poderia ser assim pra sempre, pensou ele. Gostar? Gostava de Ciel? O que significaria gostar?

                - Eu sei como é isso – disse o ruivo com uma sacudidela de cabeça para o lado – Eu já amei uma vez, Sebastian.

                - Deixe-me adivinhar, um homem alto, bonito e forte?

                - Não... Não mesmo. Era uma criança – ele fitou-o. – Eu não quis entregar á alma dela. Claro que eu fui severamente punido por isso, ainda tenho as minhas marcas mas... – ele tocou as marcas de suas costas com a ponta dos dedos por cima do tecido – William foi bem compreensivo.

                - Por que sabia que você não estava mentindo.

                - Do mesmo jeito que eu sei que você está.

                O mordomo deitou-se sobre o telhado observando a imensidão do céu cheio de estrelas. Alguns milênios atrás lembrava-se de um céu mais claro, mais belo e vasto. Vivera muito tempo, o suficiente para que fosse tão velho quanto este mundo, e também já fora criança, mas não tivera pais, simplesmente existira. Também já houveram vezes em que precisou de alguém que o confortasse e não tinha ninguém á quem recorrer, assim como o pequeno que chorava pela crueldade de suas palavras apenas alguns metros abaixo de si. O crescimento de um demônio é lento, de modo que a mente amadurece mais rápido que o corpo, ele sempre estivera acostumado com a solidão. Desde muito pequeno, sempre. Sempre.

                Este sempre muitas vezes fora esmagador para si, mas desde sempre também fora obrigado a esquecer o que eram sentimentos. Ele não poderia gostar de alguém, demônios não gostam, demônios não amam. Mas ele tinha se apegado á algo em Ciel que fazia com que pela primeira vez ele sentisse a garganta apertada daquele jeito. Afinal, do que Grell estaria falando.

                - Pra você é fácil demais, dizer assim. Nunca lhe foram restringidos sentimentos.

                - Shinigamis sentem, demônios também sentem.

                - Errado.

                - Esta mentindo de novo por quê?

                Sebastian calou-se novamente. Era horrível ter de admitir as coisas daquele jeito, até por que elas não se encaixavam muito bem em sua cabeça, a cada minuto que se passava da conversa estranha no telhado dos Phantomhive mas ele tentava esticar os ouvidos, tentando em vão buscar os soluços de seu boochan, sentir se ele já havia dormido, esquecido.

                Ele era um demônio como qualquer outro, mais rápido, mais forte e melhor, e como tal ele gostava de ser um demônio. Só que não sentia medo, não sentia afeto, não sentia. Nesse ponto ele invejava os seres humanos, como Ciel mesmo lhe dissera uma vez amor é algo patético, os humanos sacrificando-se por alguém que se ama, ser aquela pessoa, proteger e cuidar. Do mesmo jeito não deixara de ser interessante.

                Mas ser, proteger, cuidar... Não era exatamente isso que estava fazendo?

                Errado, estava tendo pena de si mesmo. Nunca tivera pena de ninguém, muito menos de si mesmo, mas aquilo era demais. Ele desconhecia algo que receava estar sentindo. Como sentir algo sem um coração? Ele não tinha, aquele órgão batendo no peito, simplesmente nada pulsava. Checou descansando a mão direita sobre o peito como fazia quando pronunciava seu famoso Yes, my lord, chegando até mesmo á murmurar a frase para si mesmo. Grell sorriu percebendo que ele divagava.

                - No que está pensando, Sebastian?

                - Em nada. Literalmente em nada.

                Ainda pensando que ele mentia, Grell levantou-se sacudindo a poeira das calças e tomando em mãos sua foice da morte e abrindo um sorriso mais largo.

                - Agora eu tenho que ir. Tem uma almasinha precisando de mim, Sebby.

                - Então vá.

                Ele se preparava para saltar quando lembrou-se de algo e virou-se novamente para o mordomo.

                - Não faça isso consigo mesmo. Você, melhor que ninguém sabe que eu não gosto do garoto, mas você sim. Não cometa o mesmo erro que eu, por que até hoje não tenho paz. E outra, eu não sou imortal, você é. Seja pelo menos egoísta e pense que você não vai ter paz se não der á ele o que ele precisa.

                - E o que você sugere?

                Grell sorriu, olhando pra baixo. Era bem alto, mas nada que não pudesse encarar. A alma a ser ceifada estava do outro lado de Londres e seria uma viagem bem longa. Lamentou-se por ter lembrado daquela única que amara, a criança de muitos anos atrás. Poderia muito bem ter se livrado daquelas marcas mas gostava delas. Era bom por que mantinha viva a lembrança, a única coisa que pudera dar á ela a única coisa que Sebastian poderia dar ao jovem mestre.

                - Esperança.

                E despencou telhado á baixo.  

                Sebastian também desceu do telhado entrando pela mesma janela que havia entrado. Ponderou uns segundos enquanto caminhava á passos vagarosos até o quarto de Ciel. Apoiou-se na parede do lado de fora vestindo novamente o casaco e procurando aquecer o corpo de modo á não causar frio em Ciel caso resolvesse tocá-lo. Voltou ao quarto descansando a mão sobre a maçaneta e relembrando as palavras do shinigami no telhado. Infelizmente, nada mudaria o fato de que não poderia nunca amar alguém, Sebastian era um demônio, e ainda sim não poderia simplesmente deixar de sê-lo. Mas ao menos tentaria dar á ele a Esperança que Grell mencionara, talvez ele ao menos fosse feliz, um pouco.

                Sentiu uma vontade súbita de vê-lo sorrir.

                Abriu a porta. Sentiu o suspiro do jovem mestre quando percebeu que ele entrara, fingindo estar dormindo. Sebastian aproximou-se tocando seu rosto e percebendo o quanto sua febre aumentara, cancelaria os compromissos do dia seguinte apenas para cuidar do jovem mestre. Atrás daquela máscara realmente havia um garoto sem o seio de sua mãe a quem recorrer. Querendo ou não, Sebastian era tudo que ele tinha.

                Atrás daquela máscara havia alguém com quem Sebastian se importava. Alguém que queria por perto. Sebastian gostava de Ciel de seu modo, não como um objeto ou como um homem ama ao outro, mas como a criança que era, e apenas isso.

                Fez uma última caricia nas bochechas do jovem mestre, deixando um beijo singelo em sua testa febril e desentalando de sua garganta todo o tipo de sentimento que um demônio poderia demonstrar, que era quase nenhum , mas levando em conta todo o esforço que Sebastian estava fazendo era como se todo o amor do mundo pudesse ser canalizado em apenas duas palavras :

                - Me desculpe.

                - Tudo bem – O pequeno gaguejou, pegando Sebastian de surpresa por ter se esquecido que Ciel estava apenas fingindo dormir. – Só fica aqui...

                Com aquele mesmo sorriso singelo e os olhos brilhando na escuridão ele voltou á mesma cena de instantes atrás, sentado á beira da cama, seus dedos entrelaçados nos dele, e a voz suave e característica dizendo com gosto seu bordão habitual :

                - Yes, My Lord. Pra sempre.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler ^^
Mandem reviews, mas não me xinguem =/ isso é feio