Caminharam até a portaria do apartamento de Lorraine. Era tarde da noite e o porteiro olhou para os dois com um sorrisinho estampado no rosto enrugado. Era óbvio demais o que se passava em seus pensamentos ao vê-la junto a um rapaz no fim da noite, subindo para o seu apartamento.

Lorraine se encolheu de vergonha e segurando o braço machucado, entrou com Gerard no elevador.

- ufa... – ela suspirou baixinho. – velho fofoqueiro...

- o que foi?

- amanhã é bem capaz de você está sendo detalhado para 90% do prédio. Todos vão saber que eu cheguei tarde da noite com um rapaz.

- e qual o problema nisso??

Lorraine encarou Gerard com olhos arregalados.

- o problema?? Eu não faço isso.

- isso o quê? Namorar?

- eu não namoro.

- sério?? Mas... você é tão bonita e... – “Ôpa, já estou falando demais”, ele pensou.

- não desde que... – Lorraine se calou e sentiu sua garganta fechar com a triste lembrança. – eu não quero falar sobre isso, me desculpe.

Mesmo curioso e intrigado com a descoberta, Gerard concordou e calou-se também. Saíram do elevador no 11º andar, logo em frente ao apartamento onde Lorraine morava. Gerard a ajudou a abrir a porta e como um bom cavalheiro abriu espaço para que ela entrasse primeiro. Em seguida, fechou a porta e olhou ao redor.

A sala era pequena, porém aconchegante. Um sofá branco, uma pequena cômoda e uma mesa de centro ocupavam o espaço. Não havia TV, apenas alguns quadros pelas paredes.

Lorraine deixou sua bolsa no sofá e sumiu em algum cômodo próximo.  Gerard continuou parado no meio da sala examinando os porta-retratos em cima da cômoda. Ao ver algumas fotos de Lorraine abraçada a um rapaz, seu coração acelerou. Ele não entendeu o porquê, mas alguma coisa o deixava aflito ao olhar aquela imagem. Desviou o olhar ao ouvir seu nome vindo de onde Lorraine estava. Ele seguiu a voz e a encontrou no banheiro, segurando um kit de primeiros socorros e lavando o arranhão com um pouco de dificuldade.

- deixe que eu te ajude. Me dê seu braço. – Gerard molhou uma bandagem em água quente e tocou de leve o braço de Lorraine, que fez uma cara de dor. – fique calma, não vai doer tanto assim.

- por que não é o seu braço... – ela resmungou ao mesmo tempo sorrindo.

Gerard mostrou um sorriso no canto dos lábios enquanto cuidava do arranhão, se divertindo das reações dramáticas de Lorraine. Ele colocou remédio e por último envolveu o braço dela com um curativo.

- pronto. Terminado e sem tanto sofrimento. – ele riu e ela o imitou.

Os dois ficaram se olhando por um tempo sem ter o que dizer. Gerard ainda segurava o braço enfaixado de Lorraine e apoiava a outra mão no ombro dela, sentindo a aproximação de seus corpos a cada respiração.

Quando estavam bem próximos, Lorraine piscou algumas vezes e saiu de seu transe enigmático. Gerard também ‘acordou’ e a soltou sem graça, sentindo o rosto arder.

- está tarde... – ela deu a dica que ele precisava para reconhecer que devia ir embora. Logo.

- você ficará bem? – ele perguntou preocupado.

- acho que sim. – as palavras saíram tremidas e Lorraine engasgou algumas vezes antes de continuar. – obrigada por tudo.

- não precisa agradecer. Foi uma honra ajudá-la, moça. – eles riram.

- se não fosse por você, quem sabe o que aqueles homens fariam... – seu olhar baixou em direção ao chão e Gerard levantou seu queixo com o dedo indicador, olhando fundo em seus olhos azuis.

- não fique pensando em coisas ruins. Eles não te fizeram nada e você está a salvo agora. Eu só estava no lugar certo, na hora certa. Isso acontece. – ele riu.

- e como acontece... – ela disse irônica.

- bom... eu já vou indo. Não fica bem uma donzela sozinha com um desconhecido tão tarde da noite em seu apartamento. – eles riram juntos.

- é verdade. O que falariam amanhã? – ela assumiu o bom humor e até fez piada.

Lorraine abriu a porta e Gerard ficou do lado de fora, ainda de frente pra ela.

- obrigada mesmo. Por ter me salvado e pelo curativo. Por tudo. – seu rosto ficou em um tom rosado que dava vontade de apertar.

- mais uma vez... não tem de quê, senhorita.

Gerard fez uma referência com as mãos e entrou no elevador, deixando Lorraine rindo sozinha na entrada no apartamento. Como não fazia há muito tempo...