Gerard passou pelo porteiro dando boa noite e sorrindo. Depois percebeu que sua atitude daria uma boa fofoca no dia seguinte, como Lorraine havia dito.

Caminhando solitário e sem rumo, Gerard imaginava como sua vida mudaria dali pra frente, com um novo coração. Uma chuva fina começou a cair, típica do tempo frio de inverno em New York, e automaticamente ele cobriu sua cabeça com o capuz do seu casaco. Pegou um táxi que o levou até New Jersey, parando próximo à casa onde já vivia há alguns anos. Uma multidão se aglomerava em frente a porta de entrada e de longe era possível ver seu irmão, Mikey, conversando com a polícia. Como ele pensou, a imprensa também estava lá e não daria sossego se Gerard entrasse pela porta da frente. Pensando em outra alternativa, ele saltou do táxi e, cobrindo bem seu rosto com o capuz, conseguiu passar despercebido até dar a volta em torno de sua casa e chegar até os fundos, onde por sorte não havia ninguém.

Antes de entrar, ouviu vozes vindo da cozinha. Parou quando ouviu seu nome.

- mas o Gerard não me disse nada. Ele escondeu isso de todos, inclusive de mim que sou seu melhor amigo. – a voz era de Frank e soava triste.

- meu filho... onde ele estará agora? Sozinho e atordoado, ele deve estar com frio. – Donna, a mãe de Gerard chorava de soluçar.

Sem enrolar mais, Gerard destrancou a porta e entrou, tirando o capuz da cabeça ao entrar na cozinha onde Frank e sua mãe estavam.

- eu nunca fui de sentir tanto frio, mãe. – ele disse abrindo um longo sorriso ao ver a surpresa estampada nos olhos de Donna.

- Arthur! Ah meu Deus! – Donna o abraçou forte sem lembrar que ele ainda era um recém-operado. – onde você estava, menino?? Quase nos mata de preocupação!!

- eu... – ele pensou por um momento e decidiu por omitir toda a história de ter conhecido uma moça bonita e legal pelo caminho. – eu estava caminhando por aí. Precisava de ar fresco.

- você ta maluco, Gerard?? – o responsável pelo escândalo só podia ser Frank. – sua mãe já tava achando que eu era o culpado por você ter sumido! Que eu tinha facilitado sua fuga, ou coisa assim. Vocês não sabem como eu fiquei nervoso com meu melhor amigo desaparecido pelas ruas perigosas de NJ!

- calma, Frank. Eu estou bem, não ta vendo? – ele riu e ficou feliz em ver que seu peito não doía mais nem um pouco. Parecia curado. – o Mikey ainda está lá fora?

- o Mikey!! Ele vai enlouquecer ao ver você aqui! – antes de chegar na porta, ele se virou e fez uma careta. – mas... como você sabe onde ele está?

- Frank, eu tive que chegar até aqui não foi?? Por onde você acha que eu vim? De avião, por acaso? – com isso, até Donna estava rindo. Seu filho estava com o humor muito melhor.

- você é tão sem graça, Gerard... – de cara emburrada, Frank saiu e foi procurar por Mikey para dar a boa notícia.

Gerard e sua mãe continuaram na cozinha matando as saudades e as preocupações.

- filho, me conte. Onde você estava esse tempo todo? Tivemos que chamar a polícia e olha só a multidão de fãs que se formou aí fora. Tem meninas se descabelando e fazendo orações pra você aparecer. – Gerard viu sua mãe dar um sorrisinho de incredulidade. Aquilo o fez rir também, mas apenas por dentro. Apesar da loucura, era bom ainda ter fãs de verdade.

- mãe, eu precisava sair daquele hospital antes que enlouquecesse. Você sabe tanto quanto eu que eu detesto hospitais.

- eu sei, mas você não podia ter sumido assim sem avisar! Quase me matou de susto! Seu irmão estava louco atrás de você.

- eu avisei que eu estava saindo. O Frank que não acreditou. – Gerard fazia cara de inocente enquanto mexia no cabelo.

- mas como você está? Se sente melhor?

- sim, mãe.

- mesmo?

- muito melhor. – ele sorriu deixando transparecer que aquilo não era tudo.

- Arthur... o que há por trás desse sorriso, hein?

Gerard não precisou responder. Mikey entrou correndo na cozinha com o pequeno Frank em seus calcanhares. Com lágrimas nos olhos, Mikey abraçou o irmão.

- seu maluco!!!!!! Não faça mais isso, ok? Nunca mais!

- Mikey... está tudo bem... você está me enforcando...

- ops, desculpe...

Todos caíram na gargalhada. O policial apareceu algum tempo depois e pediu que Gerard fosse até o lado de fora falar algumas palavras para que seus fãs (a maioria mulher, é claro) acreditassem que ele estava bem, já que da boca do policial era a mesma coisa que nada. Eles queriam a prova real de que o ídolo não havia desaparecido como um fantasma.

Mesmo contrariando os apelos da família para que não se preocupasse com isso e fosse descansar, Gerard resolveu aceitar o pedido da polícia e se pronunciar. Ele não se sentia cansado, pelo contrário. Se sentia tão bem como nunca havia estado antes. A razão de sua alegria e bom humor estava gravada em sua memória, através de um par de olhos azuis e cabelos dourados...

Caminhando até a porta da frente, Gerard respirou fundo antes de encarar a multidão ensandecida. Ao abrir a porta, se deu conta de que ainda não tinha sido esquecido. Fãs se debatiam para conseguirem um melhor ângulo e verem seu ídolo de perto. Alguns policiais faziam a segurança e cercavam a entrada da casa dos Way para que ninguém ultrapassasse a barreira.

Gerard fez sinal com as mãos para que o pessoal se acalmasse e ele pudesse falar, e depois de alguns minutos perdidos ele conseguiu. O pessoal conseguiu entender o recado e muitos se calaram, fixando os olhares no vocalista da banda de sucesso da atualidade.

Ele pigarreou algumas vezes até tomar a coragem necessária e começar seu discurso. “Se todos soubessem o quanto eu morro de vergonha de falar no meio deste silêncio...” – ele pensava.

Enfim, em meio aos olhares atentos de seus fãs, ele falou:

“Boa noite, pessoal. Obrigada por estarem aqui, agradeço mesmo pelo carinho. Vocês são os melhores fãs do mundo. – uma pausa para os gritinhos das fãs. – Como vocês devem saber, eu estive hospitalizado algum tempo após um transplante de coração. Eu estive doente sem ninguém saber, pois não queria preocupar ninguém com a minha saúde. Mas eu estive errado, e se eu soubesse que a minha família seria tão importante eu nunca esconderia isso deles. – Gerard olhou pro lado e viu Donna chorando baixinho. – Felizmente, eu estou bem. Muito bem. Deu tudo certo e espero em breve estar de volta aos palcos cantando novas músicas pra vocês! – um som ensurdecedor dos fãs dava pra ser ouvido. A imprensa filmava tudo sem perder nenhum detalhe. – Mais uma vez, obrigado pelo apoio. E... obrigado a uma pessoa especial que conheci hoje à noite. Até breve.”

Em meio aos gritos, com o rosto vermelho de vergonha, Gerard entrou em casa protegido pelos policiais que tentavam de todas as formas impedir que fãs mais obcecados chegassem perto dele.

Dentro de casa, ele foi novamente abraçado por todos e sorrindo, agradeceu por estarem ali.

Por dentro, Gerard sorria muito mais, pois sua idéia estava dando certo. Agora não havia mais jeito, Lorraine saberia quem ele era de verdade e onde encontrá-lo.