Eustass corria. Corria e corria, sem nem sequer pensar em olhar para trás. Suas pernas latejavam, porém ainda o mandavam para frente. Os cabelos ruivos esvoaçavam. Estava ofegante. A corrida era longa, e parecia não ter fim. O barulho de passos ressoava, vindo por detrás dele. Kid correu ainda mais rápido, não chegando a lugar nenhum. Correu, correu, sem nunca parar. Não tinha tal intenção. Talvez nunca tivesse. É, realmente, não tinha. Os galhos das árvores castigavam seu rosto como chicotes e as pedras de tudo faziam para derrubá-lo, no entanto ele não se permitia cair, muito menos dar uma pausa. Oh, não, sua mente estava agitada demais para pensar em outra coisa. Os passos chegaram ainda mais perto. Droga. Droga, droga, droga! Medo corria pelas suas veias junto com o sangue. Quem diria que justo ele sentiria medo? Mas, no caso, quem não teria medo? A lua alta era rubra como seus lábios temerosos. Rubra, escarlate, vermelha, sangrenta. E apenas ela estava no vasto céu negro. Apenas aquele olho carmesim diabolicamente belo. Entretanto, Kid não tinha tempo para apreciar a deliciosa crueldade estampada na face serena do céu, pois algo pior se encontrava muito perto. Muito, muito perto. Extremamente perto. O suficiente para ouvir sua respiração ruidosa e os baforados quentes que, provavelmente, saíam de uma boca sedenta. Então algo segurou seu tornozelo e o homem tombou. Maldição.

- Não pode fugir de mim, Eustass Kid. – Uma voz rouca se fez ouvir na escuridão perturbadora. Eustass se virou e viu, praticamente apavorado, uma pessoa... Se é que aquilo poderia ser chamado de pessoa.

Os longos cabelos negros flutuavam pelo ar como fios de seda. Os pés descalços tocavam o chão com assombrosa suavidade. O corpo esquelético erguia-se com soberania assustadora e se opunha ao brilho intenso da lua de sangue. O ruivo abriu e fechou a boca uma, duas, três vezes. Nenhum som saiu. Tudo que Kid pôde fazer foi fitar o que segurava seu pé. Uma raiz. A floresta parecia estar do lado daquele ser. Aliás, desde quando estava numa floresta? Ele não fazia ideia. A curiosa figura deu apenas um passo em direção a ele, deixando seus olhos à mostra. Olhos totalmente brancos, sem vida, sem pupila, sem íris, sem nada. E sangravam. As unhar do ser sangravam também. Aquilo sorriu, e os dentes pontiagudos também estavam tingidos de sangue, que escorreu, em cascata, pelos lábios, queixo, peito e só pararam quando finalmente tocaram o chão.

- Dê seu sangue para mim. – Ordenou ainda sorrindo. A poça escarlate, fétida, ficou cada vez maior, conforme os dedos e olhos dele deixavam pingos rubros escaparem. A criatura se aproximou, um passo de cada vez. Um passo. Dois. Três. Quatro. Levantou a perna, que era apenas pele e osso, para dar o quinto e último passo, mas não chegou a dá-lo.

Eustass Kid abriu os olhos rapidamente. Estava completamente suado. Fora um sonho? Não, fora um pesadelo. Saiu da cama, andou por seu navio e chegou ao convés. Ficou lá por uma ou duas horas, sentindo a brisa e o cheiro do mar. Até resolver ir para dentro novamente e tentar dormir.

- Dê seu sangue para mim. – Ouviu alguém dizer num sussurro rouco um pouco antes de entrar, e podia jurar que viu dois olhos alvos como uma roupa de noiva. Roger...

Fora mesmo um sonho?