O Corvo Negro escrita por V M Gonsalez


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Um tanto confuso, mas fará mais sentido depois.



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Uma pena negra caiu no quintal.

Era um fim de tarde frio de outono, no interior de Chicago. Uma casa simples de madeira, pintada de um azul desbotado, ficava no centro de uma pequena propriedade familiar. A família Leussen tocava aquele local a mais de seis gerações. Naquela época do ano, as árvores ao redor da casa deixavam suas folhas caírem em um oceano dourado de folhas secas, uma linda, porem assustadora, paisagem de outono.

A casa velha era conhecida na região como “Casa dos Gritos” devido ao grande número de gritos daquela região. Eram assustadores, violentos, e por este motivo ninguém tinha coragem de investigar. Muitos atribuíam-nos a fantasmas, outros a monstros, alguns ignoravam, dizendo que era uma casa de loucos.

A verdade, porém, era mais amarga e verdadeira do que qualquer um poderia pensar.

Na casa azul, aos pedaços, com várias partes em madeira crua, viviam os três Leussen. O pai, Bernardo Leussen, um carpinteiro aposentado que ainda realizava pequenos serviços. A mãe, uma ex-professora que havia sido demitida por, supostamente, agredir seus alunos. Seu nome era Helma e era prima de Bernardo. E por fim, o jovem Heitor, um garoto de apenas onze anos, que não tinha muitos amigos.

Heitor fora à escola apenas até os cinco anos de idade, depois disso, ao mesmo passo que sua mãe foi demitida, começou a ter aulas em casa e deixou de ter contato com outras crianças. Raramente, quando ia ao mercado junto à sua mãe na cidade mais próxima, as crianças caçoavam dele, pois era magro e pálido demais, e era estranho, alguns diziam que falava sozinho, outros, que falava com o demônio. 

Mas a vida do jovem garoto era mais complexa do que simples xingamentos dos vizinhos. Depois que foi forçado pela mãe a abandonar a escola, Heitor começou a passar grande parte de seu dia se dedicando a brincar com pássaros. Conhecia todos os pássaros que passavam por ali, em principal os corvos, sua paixão.

Seu pai não gostava disso. Ele acreditava que o filho, aos sete anos, já devia ter idade o suficiente para realizar “trabalhos de homem” ao invés de brincar com pássaros. Então começou a violência. Contra Heitor e contra Helma. 

Começou de forma “inocente”. Bernando empurrava o filho e batia nele quando o via brincando com os pássaros. A mãe tentou proteger a cria, mas teve o mesmo destino. Logo, em pouco mais de dois anos, Bernardo já havia se tornado um verdadeiro demônio.

Ninguém pode dizer o que realmente aconteceu. Quem sabe não tem coragem de dizer e quem não sabe não tem coragem de perguntar, mas as teorias são muitas. O fato era que, tanto Heitor quanto Helma tinham hematomas por todo o corpo, e tremiam diante do seu agressor como quem está sem roupa em uma tempestade de inverno. No ar, pesado como chumbo, pairava a seguinte ameaça:

- Se vocês fugirem, ou me denunciarem, eu mato vocês!

Isso bastava para manter esposa e filho sob seu tirânico controle. No futuro, muitos teriam se arrependido de Bernardo não ter matado Heitor... Tudo poderia ter sido impedido com este simples ato.

Ou pelo menos, se tivessem impedido a visita do corvo...

O jovem Heitor, de onze anos, cabelos negros e olhos estranhamente azuis, pele pálida, corpo franzino, estava parado, encostado na lateral esquerda da casa. Suas olheiras eram tão profundas que chegavam a doer à quem olhava. Sua pele cheia de hematomas e cortes, eram sinal de anos de abuso, mas nada lhe importava agora, ele estava de frente para o corvo mais belo que já vira.

Era um corvo grande, bem maior do que os outros, tinha brilhantes olhos vermelhos, lustrosas penas negras. Um bico afiado e voava com uma graça mortal singular. Ele estava repouso em uma estaca de madeira de uma antiga mesa que já não existia mais, olhando fixamente para o jovem garoto abusado. Se alguma alma viva ousasse passar por lá, diria que era apenas um garoto olhando um pássaro, mas não era bem isso, ao menos para Heitor.

- Você quer se livrar de seu pai? – Perguntou o pássaro, na mente do garoto

- Sim – respondeu o menino, ainda com o olhar vazio

- Então eu posso lhe ajudar... Posso fazer qualquer coisa... Eu só preciso de uma garantia... 

- O que você quer? Eu lhe darei qualquer coisa, apenas se livre desse demônio! – Gritou o menino, já começando a chorar pelas lembranças de seu pai

- Eu não farei nada... Você é que fará! Eu apenas vou lhe ensinar... Mas você sabe não é? Neste mundo, é olho por olho...

Como um relâmpago negro, o corvo avançou contra o garoto, contra seu rosto. Heitor gritou, chorou de dor, a dor de ter uma parte de seu corpo sendo arrancada com você ainda vivo, mas depois ele riu, riu com gosto, riu com insanidade. Agora ele podia, agora ele ia se livrar do pai.

E esse simples encontro, é o começo desta história.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, comentem o que acharam