Pai escrita por AnyBnight


Capítulo 1
Pai


Notas iniciais do capítulo

Tem umas coisinhas aí que são referentes ao RP. Como eu disse antes, foi um carinha do RP que me ajudou e tal. Tentem não se incomodar com isso.

Partes em itálico são falas, mas destacadas por mero capricho do co-autor.



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Azin houvera estado ausente do QG havia algum tempo. O motivo? Uma viagem de última hora até a Terra de Prata.


Como esperado da estação, estava fazendo bastante frio. Ainda faltava um mês para o início da primavera, e aquele parte isolada da Terra de Prata era agraciada com a luz solar atipicamente gélida e bastante vento.

Ignorando os arrepios constantes, Azin rumava à um certo lugar tendo como único agasalho um cachecol velho. Era uma trilha que o vulpino não se esqueceria mesmo se quisesse, e era óbvio que não queria. Afinal, ele estava ali.

Dentre a vegetação rasteira e alguns poucos bambuzais, uma pedra retangular talhada com uma cruz em seu topo. Uma lápide sem nome.

Assim que pôde avistá-la o olhar rubro caiu ao chão, permitindo-se ser escondido por parte da franja lilás. Azin caminhava a passos pesados e silenciosos; apertava bem as mãos em punho e tinha o cachecol o abrigando dos ombros até a ponta do nariz avermelhado por causa do frio. Ele parecia não se importar com o vento forte diretamente contra si, como se tentasse empurrá-lo para longe da lápide.

Eu voltei, mestre. – Finalmente disse, pondo-se de joelhos ante à pedra que representava o túmulo, embora não houvesse corpo enterrado ali. No máximo haveriam cinzas espalhadas por todo aquele terreno agora coberto de mato e dentes de leão. Mas fazia muito tempo desde aquele dia, então realmente não havia nada ali se não a pedra e as memórias do garoto.

Ele se manteve com a cabeça abaixada diante da pedra como se esperasse por autorização para se mover. Não se sabe quanto tempo ele ficou daquela forma até que um sorriso irônico brotasse em seu rosto pálido, só assim ele ergueu o olhar à lápide.

Eu sou tão estúpido.

Logo Azin se pôs de pé, encarando aquele pedaço de pedra com certo afeto e melancolia. Aquele pedaço de pedra representava a pessoa que houvera sido tudo para o vulpino.

Seu mentor, seu mestre, seu pai.

Era certo que Azin jamais conhecera a verdadeira família, e desde novo sofria discriminação por isso, pela cor de seus olhos, pela personalidade deturpada que formou afim de se proteger. Nunca tinha existido alguém por ele até aquela pessoa aparecer. Talvez a única pessoa que já tenha demonstrado afeto pelo garoto até recentemente quando se uniu à Caçada. Inegável que ele lhe seria alguém muito especial.

Mestre, eu... ainda não pude superá-lo – referia-se ao rival - Sei que o senhor não aprovaria minhas razões, mas eu preciso disso.

"O senhor só falava daquele ruivo estúpido, mesmo sendo eu à sua frente, aqueles olhares afetuosos e palavras gentis não eram para mim. O senhor o via em mim, mesmo que não haja mera semelhança entre nós, era sempre "o melhor pupilo" para o senhor.

Me perdoe mas eu não posso me permitir aceitar aquele seu carinho enquanto EU não for o "melhor pupilo". Será que o senhor pode me entender? Eu realmente espero que sim."

Ele passou mais algum tempo falando com a lápide, arrancando o mato que crescia ao redor da pedra e tirando as folhas secas que o vento trazia. No final, Azin amarrara uma fita vermelha junto a cruz, um pedaço da faixa de seu mestre que havia encontrado por acaso em uma rápida olhada pelas ruínas de prata no caminho para o túmulo. Tinha certeza que pertencia à ele.

E, sabe, tem um garota lá no quartel general... – Ainda falava com a lápide. Agora mostrava-se um pouco envergonhado com o assunto. Eu gostaria de tê-la trazido aqui, mas do jeito que ela se veste ia acabar virando um cubo de gelo. – riu ao lembrar-se da sacerdotisa. A verdade é que ela me lembra um pouco o senhor. Ela é gentil mas sabe reclamar muito bem, e é muito forte em combate. Eu realmente quero gostar dela. – Seu olhar voltou ao chão enquanto dava um meio sorriso.

"É só que eu desaprendi a confiar nos outros. Não quero que ela se afaste de mim, mas inconscientemente eu acabo assustando-a. Eu acho que tenho medo de ela me trocar também ou preferir outra pessoa. Talvez eu estivesse esperando que o senhor pudesse me dar algum conselho tipo... De pai pra filho e essas coisas."

Mas eu sou só um idiota falando com uma pedra.

Azin deixou-se sentar no chão e apoiar as costas naquela pedra que de tão fria quase grudava em sua pele. Vir só com o cachecol agora lhe parecia a pior das ideias. O frio o castigava, mesmo que a pedra estivesse contra o vento oferecendo ao vulpino um singelo abrigo, aquilo não bastava para aquecê-lo.

Ele fechou os olhos, começando a respirar com leveza. Imergia nas memórias que aquele lugar lhe trazia. Se lembrava claramente do timbre de voz, do brilho azulado de seu olhar e do calor das mãos de seu amado mestre. Apenas não se permitia chorar por essas lembranças. Não se permitia chorar por nada.

Ficou por lá enquanto o sol permanecesse no céu, movendo-se apenas ao perceber que a escuridão chegaria logo trazendo ainda mais frio. Com isso, Azin se levantou e ajoelhou-se diante da pedra uma última vez.

Eu tinha trazido um buquê de flores brancas para o senhor, mas o vento as desfez no caminho. Então eu acho que este ano não poderei presenteá-lo com nada.

Silêncio total. Até mesmo o vento havia se calado.

É, é isso. – se levantava Eu ainda farei o senhor se orgulhar de mim, mestre. Eu serei o melhor, serei melhor que ele. E então talvez eu possa dizer que tive um pai de verdade alguma vez.

Azin uniu brevemente as palmas diante da pedra, fazendo uma prece comum já que não era nada religioso. Esse gesto não passava de uma imitação de uma cena que havia visto seu mestre fazer algumas vezes, mas que agora achava que ele merecia isso.

Quando eu vier vê-lo outra vez, mestre, eu terei-o superado. Conte com isso.

Um último aceno com a cabeça e ele partiu, diferente de como veio, ligeiro deixando para trás somente a impressão de um rastro azul e a promessa de retorno.


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Notas finais do capítulo

Azrel, você é um amor de pessoa ♥