Vidas Perdidas escrita por Devon Van Pelt


Capítulo 5
CAPÍTULO 5: AS EVIDÊNCIAS DE UM NADA




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Quando voltei para casa corria pela casa e cheirava as almofadas e dava gargalhadas com motivo. Mas o telefone tocou e interrompeu a minha concentração, era Robert, antigo amigo de infância, talvez um dos primeiros, mudou-se para Burtington antes de mim, era três ou quatro anos mais velho do que eu e tornara-se um policial exemplar e competente:

– Quanto tempo cara! – exclamei eufórico.

– Pois é mano.

– Como vai a vida?

– Muito atribulada, já estou trabalhando na polícia.

– Belo!

– Queria poder jogar conversa fora mas preciso de sua ajuda.

– Como eu posso te ajudar?

– Ainda lembra daquelas aulas que te dei?

– Sim. Perfeitamente.

– Pois, sei que você tem habilidade e preciso da sua experiência em uma caso, o detetive superior liberou, não aceito um “não” como resposta.

– Mas...

– Ótimo, passe amanhã no departamento, terceiro andar, a última sala do corredor principal. Boa noite.

O telefone ficou mudo, e mais essa agora.

Liguei para a Júlia e fiquei com medo de aborrecê-la, mas ela foi muito compreensível. Depois ligou de volta querendo ir também. Peguei o carro de Bob emprestado para chegar mais rápido de manhã, o transito estava um verdadeiro inferno.

Chegamos atrasados uns trinta e Robert já estava na sala à minha espera:

– Bom dia Robert.

– Bom dia grande amigo.

– Robert, quero lhe apresentar a Júlia, minha namorada.

– Prazer Júlia...

– De que se trata o caso?

– Bom, a alguns meses, quatro para ser mais exato, venho desenvolvendo uma investigação de cerca de 13 assassinatos, à primeira vista não tinham nada que os ligava, mas ao decorrer dos dias eu fui conectando uma coisa à outra e percebendo que todos os homicídios foram sobre pessoas extremamente ricas, somente homens, que eram induzidos à overdose forçada e após isso tinham alguma parte do corpo esquartejada.

– Nossa, que horror!

– O que eu não consigo concluir é: quem, onde e o porquê.

De súbito fomos interrompidos por Júlia, havia esquecido da presença dela, mas como pude? Ela começou a tagarelar:

– Quero ajudar também! Eu curto essas coisas!

Robert e eu nos olhamos assustados:

– Como que é? Nem pensar!

– Eu vou e pronto! Também sou boa nisso!

– Por que nunca me contou?

– Você nunca me perguntou.

– Já conseguiu alguma vez descobrir alguma coisa?

– Sim... quer dizer... mais ou menos. Certa feita descobri quem alterou os resultados das provas de química do colégio.

– Ah! Fala sério!

– Falei sério...

– Tá legal, depois não reclama.

– Chato.

– Insuportável.

Robert assistia a cena com os olhos arregalados, fiz sinal para ele continuar:

– Muito bem, tenho aqui uma evidências. Nestas fotos a maioria das partes mutiladas dos cadáveres eram o pulso e o tornozelo.

– Você tem alguma palpite?

– Não.

– Ideia?

– Nenhuma.

– Desconfiança?

– Talvez.

– Nadica?

– De nada.

– Mas tá difícil.

Eu passei as fotos e fiquei curioso com um objeto metálico que pendia para fora da mão do indivíduo que não foi cortada:

– Olha isso aqui. Você tem esta imagem no computador?

– Amplia por favor – ressaltou Júlia.

Ao passo que aproximava e reduzia o ruído pude perceber um pequeno dente de ouro:

– Isso pode ser importante Robert.

– Extremamente.

– Talvez ele quisesse deixar isso como uma pista.

– A mão está ferida, acho que ele apertou firmemente na palma da mão na hora do surto de dor, ou de raiva.

– Era algo que ele não queria que o assassino visse.

– Isso mesmo.

– A equipe forense coletou isso?

– Sem sombra de dúvidas, depois da análise eu te ligo, agora vá para casa e tome um chá, descanse.

– Ok. Vamos baixinha.

Aproveitamos a localização do departamento para passar no Shopping e almoçar. A comida estava uma delícia. Ainda deu tempo de saborear um sorvete e assistir um filme que estava em cartaz. Depois de tudo nos pomos a caminho da livraria, quando de repente um grito surdo ecoou do banheiro masculino, todas as pessoas pararam de medo e um estampido forte que pareceu uma arma que ricocheteou em algo de vidro e atingiu alguém, as atenções se voltaram para o corredor quando um homem vestido em um paletó saiu correndo atordoado com o braço sangrando, não aguentou a dor e caiu, corri para verificar o pulso e ele não respirava mais. Entrei no banheiro e o chão estava vermelho de sangue, a torneira ainda estava aberta, fiquei atento para qualquer movimento suspeito, mas depois constatei que estava sozinho.

Fiquei a raciocinar nervoso – “se alguém esteve aqui por onde entrou e por onde saiu se ninguém mais passou pelo corredor?” – então me bateu a ideia da entrada de ventilação, dito e certo, estava destampada, na porta estava pendurado uma pedaço de um tecido branco sujo de sangue, com um pedaço de papel recolhi e guardei.

Quando voltei ao corredor os paramédicos já haviam levado o corpo, e Júlia era uma das únicas pessoas que não demonstravam terror nos olhos:

– Ele também foi mutilado, é um dos nossos, ou pelo menos era, não suportou.

– Quem quer que seja é um acrobata formidável, saiu pela entrada de ventilação.

– Só saiu?

– Não tenho certeza se entrou.

– Precisamos das gravações.

– Já entrou em contato com Robert?

– Ele está a caminho... Ah! Ali vem ele.

Robert vinha correndo com a sua equipe, usava seu velho casaco marrom, e estava com o rosto apreensivo:

– Mais um presunto?

– Sim senhor.

– Caramba... Você é incrível, não tem nem 24 horas que saiu do escritório... E veja só.

– Pois é. Escute, deixe-me ir até a administração do shopping para pedir as gravações daquela câmera ali.

– Você já averiguou algo lá dentro?

– Sim, usaram o duto de ventilação, encontrei este tecido na porta.

– Vou entregar ao Andrew para uma análise mais precisa. Toma aqui um distintivo vai precisar.

Subi junto com Júlia até a administração, olhei para o rosto dela e perguntei:

– Já está assustada?

– Nem um pouco.

– Você é mais durona do que eu pensei.

– E você ainda não viu nada.

O gerente estava aflito pois o seu shopping era considerado um dos mais seguros e agora a sua reputação estava manchada, pegamos as gravações e enviamos para o departamento para a apuração dos fatos. E voltei para casa. Na mesma noite Andrew me ligou:

– Senhor Carlos?

– Ele mesmo.

– No vídeo que nos mandou só há a presença da vítima e de ninguém mais.

– Então minhas suspeitas estavam certas, o assassino tanto entrou como saiu pela ventilação.

– Provavelmente.

– Me mantenha informado.

– Sim senhor.

Larguei o corpo no sofá e fiquei olhando para o teto, olha só em que eu fui me meter. Mas no fundo eu gostava de toda essa agitação, era bom estar na ativa. Eu sempre fui muito interessado nesse tipo de coisa. Alguém bateu a porta, era minha pequena ruiva. Ela trouxe uma torta de morango que ela mesma fez, e disse que passaria a noite comigo e que sabia que eu estava cansado. Afinal era bom ter companhia, ainda mais a de Júlia, depois de comermos a torta, ela se sentou comigo no carpete e espalhou umas folhas de papel enormes que eu usava para desenhar e pegou umas canetas, repetimos todas as informações que tínhamos para organizá-las:

– 13 vítimas mutiladas.

– 14 com o de hoje.

– Exato.

– Todos mutilados, mãos ou pés.

– Não se esqueça da overdose.

– Pare de me corrigir, estou pensando.

– Chato.

– Garota insuportável.

Ficamos calados olhando para os papeis, quando o comentário de Júlia me chamou a atenção:

– Parece um ritual, sei lá.

– Como assim?

– Sei lá, é tipo um ritual de alguma organização ou coisa do tipo, um grupo.

– Entendo, eu acho que já li em algum lugar sobre esse tipo de coisa, é um leitura cansativa.

– Também já li sobre isso.

– Mas os grupos que realizavam esse tipo de coisas eram todos do século XIX, acho que não é válido que ainda estejam em atividade.

– Realmente, mas mesmo assim é legal pesquisar.

O resto da noite foi na frente dos livros e do computador. Mas em vão, não conseguimos nenhuma informação útil, pela primeira vez o Tio Google não me ajudou, era como se fosse algo assombroso, oculto e sem explicação:

– Amor, não encontrei nada.... Amor?

Ela dormiu em cima dos livros, já estava tarde e ela estava cansada, peguei-a nos braços a levei para o meu quarto, deitei-a na cama e fiquei observando-a dormir, até adormecer também.


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